quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

GENEALOGIA BEZERRENSE

FRANCISCO XAVIER DE LIMA E A ÍNDIA - POR QUE NÃO?
Continuação, 21-12-2011.

O PRECONCEITO RACIAL E SOCIAL CONTRA O ÍNDIO

Estive, na década de 60, em Algodão, município de Remígio (PB), para conhecer a Pedra do Caboclo. Foi lá que a polícia de Areia provocou um genocídio que ficou esquecido dos historiadores. Os remanescentes indígenas (em sua reserva!) foram massacrados pela polícia do brejo de Areia: os que escaparam dos tiros, morreram de fome dentro da Pedra. Para as autoridades eram ladrões, pois tiravam o que não era seu. Na verdade, para não morrer de fome, recorriam, às escondas, ao “furto”.
Conversei com um senhor de lá que, na juventude, conseguiu penetrar na loca onde encontrou, na areia, cerca de umas 60 rótulas dos joelhos daqueles que morreram à míngua.
Peço vênia à Prof.ª Dr.ª. Carla Mary S. Oliveira, Coordenadora do PPGH-UFPB (biênio 2011 / 2013), Departamento de História, Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa / PB, que tive o prazer de conhecer em visita a nosso Convento de Ipojuca em companhia de seu namorado, o Prof. Antônio Carlos, para registrar nesta postagem o que me disseram sobre a Pedra do Caboclo: também estiveram lá e confirmam o que acabei de dizer sobre o genocídio daquele remanescente indígena. Seu namorado disse-me ter conseguido descer pela abertura da Pedra, confirmando a versão que ouvi do senhor sobre o qual falei anteriormente.
Pergunto eu agora: se, ao invés de terem sido caboclos as vítimas do genocídio, fossem quilombolas, teriam caído no ostracismo? Creio que não. Teria acontecido o mesmo que se dá em Alagoas com os negros de Zumbi dos Palmares na Serra da Barriga, em União dos Palmares: estariam imortalizados, passariam ao calendário nacional com dia próprio: o Dia da Consciência Negra.
Já dos remanescentes indígenas de Alagoas, pouco se fala.
Vejamos o mais conhecido, em Palmeira dos Índios / AL,
nome: Xucuru-Kariri - Fazenda Canto
etnia: kariri
língua falada: tupi guarani
cacique: não consta ((!)
reconhecida desde: não consta (!)
população: 499 indivíduos (Censo Funai 2000 !)
endereço: Zona Rural de Palmeira dos Índios
contato: não consta (!)
localização: Palmeira dos Índios - Alagoas - Região do Sertão.
histórico: Os Geripancó são da etnia kariri, como a maioria das tribos indígenas em Alagoas. Possuem 1 escola com 144 alunos e 5 professores que ensina a cultura da tribo para os mais novos.
Pensemos em Jorge de Lima, um dos maiores poetas do Brasil, autor de “Essa negra Fulô”: quais das jovens brasileiras não gostariam de ser “Essa negra Fulô” ?

E o nosso Gonçalves Dias? Já universalmente conhecido como poeta e homem público, volltou do Rio a sua terra, Caxias, no Maranhão, para rever a jovenzinha Ana Amélia, pela qual se apáixonara há anos atrás, encontrando-a, desta vez, em, 1852, mais bela ainda, em pleno viço da juventude, um encanto de mulher, a quem dedica os mais lindos poemas (uma destas poesia ela gravou com o próprio sangue em cartão especial!). Resolve pedi-la em casamento. O que ambos temiam aconteceu: malgrado toda a consideração que aquela família lhe dedicava, venceu o preconceito de raça e de casta: a família dela, graças à ascendência mestiça do escritor, rejeitou com vigor o pedido.
O poeta e a amada sofreram a vida toda as conseqüências daquela refutação. Ele morreu solteiro; ela casou, mas sempre lhe lançava em rosto o que consioderava uma covardia.
Sabemos quie Gonçalves Dias era fruto de uma união não oficializada de um português e de uma cafusa brasileira. Ele se gloriava de ter em suas veias o sangue das três raças produtoras do povo brasileiro: branca, indígena e negra.

Um dos grandes poemas da literatura de Língua Portuguesa é o “I-Juca-Pirama” (aquele que deve morrer) de Gonçalves Dias.
O negro, o africano, não deviam morrer. A nação precisava deles.

A raça indígena há muito fora condenada à morte. Hoje, com que dificuldades não se luta para preservar o espaço aos remanescentes indígenas! Basta darmos uma olhada na Internet para nos convencermos de quanto estamos longe de chegar àquela terra sem males sonhada pelos indos das Américas?

Em minha família existe, camuflado, o preconceito de cor contra os negros. No que toca à nossa ascendência indígena, vem preservada com orgulho pelos cavalcanti, albuquerque, arcoverde ... Minha avó materna se gloriava
de ser parenta do Cardeal Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

Já em se tratando de algum ascendente negro... Minha saudosa tia Marieta, vendo-me pesquisar a genealogia da família disse-me certa vez: - Miltinho pensa quie vai encontrar algum antepassado nosso negro. Pode ficar certo que os morenos da família vêm dos índios.
Foi ai que meu primo Geraldo Amorim se saiu com esta:
- Agora sei de onde vem essa minha preguiça!
Então perguntei a Mamãe: - A senhora gostaria que eu encontrasse sangue negro em nossa família?
Ao que Mamãe foi logo respondendo:
- Eu preferia que fosse sangue indígena!

Por volta de 1960, os frades de Triunfo / PE estavam preparando um menino índio que aparecera na cidade, vindo talvez da tribo dos fulni -ô de Águas Belas / PE.
Houve na cidade quem fizesse medo ao garoto, dizendo que, na hora do batismo, ele seria obrigado a comer um quilo de sal. O menino fugiu, ninguém sabe para onde.
Será que teriam feito isso se ele fosse negro? Não, pois sempre havia batizado de negros.
Em Gravatá do Cumbe, Paróquia de Lagoa Seca / PB, descobri um cemitério de índios. Eram vários montículos de barro tão duro que nem de picareta conseguimos quebrar. Vi logo que não eram formigueiros como alguns pensavam. Não sofre dúvida de que eram sambaquis, guardando no seu interior os potes com as múmias ou os ossos dos falecidos. Quando falei nisso, pareceu-me que não me deram crédito. Não estava vendo que aquilo não era terra de índios?
Encontrei restos de cerâmica, alguns com pintura. Disseram-me logo que eram louças dos antigos escravos.
Na África já havia a escravdão. As tribos competiam entre si, procurando se avantajar nesse comérci0. A escravidão era vista aqui no Brasil como coisa muito natural. Isso não fazia vergonha.
Uma das obras de Vito Hugo "Os Trabalhadores do Mar" foi traduzida por Machado de Assis. Basta isso para atestar a importância do livro. Na apresentação que redigiu em 1866, escreve Vito Hugo: "A religião, a sociedade, a natureza: tais são as três lutas do homem. Estas tyrês lutas são ao mesmop tempo as suas três necessidades: precisa crer (...), precisa criar (...). precisa viver (...). Mas há três guerras nestas três soluções. (...) Tríplice fatalidade pesa sobre nós: a fatalidade dos dogmas, a fatalidadfe das leis, a fatalidde das coisas.
.
“Na Notre-Dame de Paris, o autor denunciou a primeira; nos Miseráveis, mostrou a segunda; neste livro (Os Trabalhadpores do Mar), indica a terceira. A estas três fatalidades que envolvem o homem, junta-se a fatalidade interior, a fatalidade suprema, o coração humano.”
Isto quer dizer que a vida é um grande desafio, ou como diz muitas vezes um dos personagens de Grande Sertão - Veredas, de Guimarães Ross, viver é perigoso.
Mas voltemos a Vito Hugo no mesmo livro.
Quando o velho Reverendo Dr. Jaquemin Herodes comparece no escritório da Durande com o fito de apresentar aos notáveis, especialmente a Mess Lethierry, seu sucessor na paróquia, o Reverendo jovem Padre Ebenezer Caudray, estabelece-se uma conversa entre o empresário da Durande e dois Reverendos Padres que representavam a Alta Igreja “que é mais ou menos um papismo sem papa”. “O Dr. Jaquemin Herodes era desse matiz anglicano, que é quase uma variação romana”. Aferrado à letra da Bíblia, o Reverendo Herodes manifesta pesar pela tragédia do naufrágio que destruíra, como pensavam, o navio a vapor Durande, apontando, ao mesmo tempo, para os desígnios da Providência Divina que sabe tirar o bem do que nos parece um mal. Ao mesmo tempo, sugere se empregue o capital restante da Durande num negócio que ele, o Dr. Reverendo abrira: “empregara capitais em uma magnífica operação que se realizava em Sheffield; se Mess Lethierry, com os fundos que lhe restavam, quisesse entrar nesse negócio, podia fazer a fortuna; era um grande fornecimento de armas ao czar pra reprimir a Polônia. Ganharia 300 por cento.
Estamos agora chegando ao âmago da questão:
“ A palavra czar pareceu despertar Lethierry, que interrompeu o Dr. Herodes:
- Não quero nada com o czar.
- Mess Letjhierry, os príncipes são aceitos por Deus. Deus escreveu: Dai a César o que é de César.
Lethierry, meio absorto na cisma, murmurou:
- Quem é César? Não conheço.
O Reverendo Herodes continuou a exortação. Não insistiu por Sheffield. Não aceitar César era ser republicano. O Reverendo compreendia que um homem fosse republicano. Nesse caso, compreendia que Mess Lethierry se voltasse para uma república. Mess Lethierry podia estabelecer a fortuna nos Estados Unidos, melhor do que na Inglaterra. Se quisesse decuplicar o que lhe restava, bastava-lhe tomar ações na grande campanha de exploração das plantações do Texas, que empregava mais de 20000 negros.
- Não quero nada com a escravidão, disse Lethierry.
- A escravidão - replicou o Reverendo Herodes – é de instituição sagrada. Está escrito: “Se o senhor bater o escravo, nada lhe será feito, porque bate o seu dinheiro”.
“(...) o Reverendo Ebenezer aproximou imperceptivelmente a sua cadeira da cadeira do Reverendo Jaquemin, e disse-lhe de modo que não fosse ouvido senão por ele::
- O que este homem diz é-lhe ditado..
-Por quem? – perguntou no mesmo tom o Reverendo Herdes.
- Pela consciência.
O Reverendo Herodes meteu a mão no bolso, tirou um grosso volume em 18.º, encadernado com fechos, pô-lo na mesa e disse em voz alta:
- A consciência é isto.
O livro era a Bíblia.”

E vai por aí...

Com esta postagem encerramos a assunto do silêncio testamentário de Dona Theresa de Jesus sobre a adoção da filha de um índia na família.
São muitas as questões que surgem em torno disto, todas elas merecedoras de consideração.
Chegamos quase a esgotar o assunto, colocando-nos favorável à tese da adoção.
O testemunho da tradição oral não pode mentir.
Apelamos para a fatalidade suprema do coração humano (Vito Hugo).
O coração tem razões que a razão desconhece (Pascal: Penssées).


Os grifos são nossos.



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