sexta-feira, 25 de junho de 2010

A PASSIFLORA DE IPOJUCA


Foto de Edvaldo Medeiros (Ipojuca)




Já ouviu falar da Passiflora de Ipojuca? Se é lenda ou verdade, só Deus o sabe.



Corria o ano de 1890. A 24 de junho, falecia na Bahia o último Guardião e inquilino do Convento ipojucano Frei João de Santa Teresa. Era o dia do Santo do seu nome. O trissecular Convento de Ipojuca estava fadado ao completo abandono e desmoronamento.



A Comunidade de Ipojuca se extinguira rapidamente, o mesmo tendo acontecido com outros conventos da Província Franciscana de Santo Antônio e também com os de outras Ordens religiosas. A política imperial contra a Igreja chegara ao cúmulo de proibir a entrada de noviços. Com isso, dentro de poucos anos estariam fechados todos os conventos e mosteiros do Brasil.



Corria entre os frades de Ipojuca que Deus, na sua bondade, daria um sinal àquele que devia morrer, para que bem se preparasse para a chegada da Irmã Morte. O frade que, pela manhã, encontrasse uma flor de Passiflora na seu lugar, na estala do coro onde se rezava Ofício Divino do Breviário, seria o próximo a morrer.



E assim ia morrendo um após outro, aquele que recebera a passiflora, sem que alguém o substituísse.



Aconteceu que, um belo dia, um dos frades, encontrou a Flor-da-Paixão (Passiflora ou flor do maracujá, como também se dizia) no lugar onde costumava sentar-se para a oração comunitária. Sem que ninguém o percebesse, colocou-a no lugar do seu vizinho, bem mais velho do que ele. Encontrando-a, aquele religioso levou-a ao lábios e ao coração com muita humildade. E aguardou serenamente a sua hora, já que andava sempre preparado. Daí a alguns dias entregou a sua alma em paz nas mãos d0 Criasdor. E assim aconteceu com os demais que se deparavam com a linda flor da Passiflora que vicejava no sítio do Convento. Por fim, só restava um frade: precisamente aquele que passara adiante a flor-da-paixão.



O nome desse frade? Só poderia ter sido aquele que, segundo o historiador Frei Venâncio Willeke, morrera na Bahia aos 24 de junho de 1890, Frei João de Santa Teresa, "o último, inquilino e morador do Convento de Santo Antônio de Ipojuca".



Adoecendo gravemente, não mais voltou a Ipojuca. Mas, por desabafo de consciência, ainda chegou a lançar no papel com letra já trêmula, a história que acabei de narrar. É uma suposição minha.



E como tive conhecimento dela, já que Frei Venâncio cala completamente esta história nas muitas páginas que dedicou ao Convento e aos frades de Ipojuca? Li-a num exemplar do Almanaque do Mensageiro da Fé que tive em minhas mãos há muitos anos passados e que não existe mais. Certamente era único exemplar da preciosa publicação franciscana, da falida Editora Mensageiro da Fé que tinha sua sede na Bahia.



Parece-me que o precioso manuscrito foi encontrado em sua mesa pelos que lhe prepararam o corpo para a sepultura.



E foi assim que se salvou a memória da Passiflora de Ipojuca.






Mas Deus, na sua Providência, não deixou também fechar para sempre o Convento de Santo Antônio de Ipojuca com o Santuário do Glorioso Senhor Santo Cristo: NO FINAL DO SÉCULO XIX CHEGAVAM DA ALEMANHA OS FRADES RESTAURADORES. E UMA VIDA NOVA TOMOU CONTA DE IPOJUCA.






Creio que hoje ninguém conhece essa história fora este frade que accaba de relatá-la.



E quem a escreveu mui belamente foi a colaboradora de Fr. Venâncio em seus trabalhos de história, Maria Odete, que usava o pseudônimo "Maria de Ipojuca".



Quando do meu paroquiato em Nossa Senhora do Bom Parto, em Campo Grande (Recife), visitei-a na Encruzilhada, onde morava. Tinha esperança que ela me contasse de "viva voz" a história da Passiflora de Ipojuca. Já não se lembrava de tê-la algum dia escrito e chegou a me afirmar nuna ter ouvido falar na tal Passiflora. Seria o "mal de Alzheimer" que a afetava e essa doença degenerativa a tornava incapaz de prestar-me o socorro que lhe fora pedir?



Conformei-me, mas disse-me com os meus botões: - "Não vou deixar morrer tão preciosa tradição." E aqui estou, prezado leitor, para lhe dizer que, se vier a encontrar uma Passiflora em meu lugar no coro, espero que Deus me ajude a não passá-la adiante. Mas a história não quero que se perca comigo. Passe-a adiante, sem receio.



E uma coisa tenho feito desde que aqui cheguei: deixar que não falte em nosso pomar, chamado também Santuário Ecológico Franciscano de Ipojuca, a passiflora edulis ou a mais rica em virtudes medicinais: a passiflora quadrangularis, o nosso marcujá-açu.









Frei José Milton de Azevedo Coelho, ofm.









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terça-feira, 22 de junho de 2010

GUERRA HOLANDESA - MÁRTIRES DA PARAIBA



Maurício de Nassau
A CONQUISTA DA PARAÍBA PELOS HOLANDESES

FREI MANUEL DA PIEDADE

“Na Paraíba entraram os holandeses aos 24 de dezembro de 1634. Encontraram a cidade deserta, porque os moradores, inclusive o Governador Antônio de Albuquerque, retiraram-se por falta de meios de defesa. Acompanharam-nos os religiosos, em cuja frente estava Frei Francisco de Santo Antônio [...]. O convento passou a servir de estalagem aos holandeses; só uma vez ou outra assistiram aí alguns religiosos.”[1]
“Na Paraíba tombou o primeiro mártir desta época, Frei Manuel da Piedade, que, com todo zelo, com o crucifixo na mão, confortava os soldados que defendiam o forte de Cabedelo.” [2] Morreu na frente de combate.

TOMADA DO CONVENTO FRANCISCANO

O que diz um relatório holandês sobre a tomada do convento franciscano da Paraíba, cujo nome eles mudaram para “Frederica”. A cidade, ao ser fundada, teve o nome de Nossa Senhora das Neves, “o qual nome e título se lhe deu por causa dos incômodos que passaram, de tormentas, chuvas e ventos, até o dia em que começaram a estabelecer-se aí e a construir casas [1585].”[3] Ao tempo do Domínio Espanhol passou a ser chamada Filipéia de Nossa Senhora das Neves, por causa de Filipe, Rei da Espanha, “até que por parte de Suas Altas Potências os Srs. Estados Gerais, o Príncipe de Orange e a Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais, foi tomada pelos capitães a seu serviço no Brasil [...}, porquanto então substituiu-se a denominação que tinha pela de Frederica ou Frederikstad, em virtude do nome de Sua Alteza o Sr. Príncipe de Orange, e por deliberação de todos foi posto aí o Conselheiro político Servaes Carpentier, como Diretor das duas Capítanias da Paraíba e Rio Grande.” [4]
Relata o autor da Descrição da Capitania da Paraíba, Elias Herckmans, que em Frederika [Paraiba] havia 6 igrejas e 3 conventos, sendo o Convento de S. Francisco “o maior e o mais belo”. O dos Carmelitas não estava ainda de todo acabado, mas os frades já moravam nele. O de São Bento também ainda estava em construção; quando os neerlandeses o ocuparam faltava-lhe o telhado. Os conventos dos beneditinos e dos franciscanos foram fortificados para a defesa holandesa.[5]

FREI MANUEL DE SANTA MARIA

“No ano de 1636, os frades [franciscanos] e particularmente o guardião, Frei Manoel de Santa Maria, tendo-se metido a escrever cartas a Matias de Albuquerque, governador do rei, as quais caíram em poder dos neerlandeses, expulsou-se da terra o Guardião; e como os soldados do rei, capitaneados por Francisco Rabelo, invadiram a Capitania, os frades de São Francisco foram retirados do convento em virtude da resolução tomada pelos Conselheiros Políticos. E o convento fortificado para servir de asilo e refúgio aos mercadores neerlandeses em ocasião de necessidade.”[6]
Todos estes franciscanos certamente tiveram a mesma sorte daqueles que foram embarcados para as Ilhas de Espanha (Antilhas).
[1] MUELLER, Fr. Bonifácio, Apud Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil – Edição comemorativa do Tricentenário – 1657 – 1957”, Volume I, Provincialado Franciscano, Recife / PE, 1957, pg. 90.

[2] Id. Ibd. pg. 185 . Conf. também: Província... pg. 90 e Administração da Conquista p. 65.
[3] Da Descrição Geral da Capítania da Paraíba, de Elias Herckmans, transcrito e comentado por MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004, pg. 64 e pg. 110, nota 5, para o citado ano de 1585,
[4] MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004, pg. 64 – 65.
[5] Da Descrição Geral da Capítania da Paraíba, de Elias Herckmans, transcrito e comentado por MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004, pg. 65 – 66.
[6] Da Descrição Geral da Capítania da Paraíba, de Elias Herckmans, transcrito e comentado por MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004, pg. 65

GUERRA HOLANDESA: O MARTÍRIO SE ESTENDIA AOS MILITARES E A TODA A POPULAÇÃO

PERSEGUIÇÃO GENERALIZADA AOS CATÓLICOS
Vejamos o relato de Fr. Manoel Calado: “No tempo que veio a armada do Conde da Torre a estas costas, tendo os do Supremo dado passaportes aos Frades de Santo Antônio [franciscanos] e São Bento e do Carmo que serviram de confortar e animar a estes cativos, e por de todo os desconsolar sem respeitarem os ditos passaportes, os embarcaram dizendo que iam para as Índias [de Castela], sendo cousa certa mandá-los martirizar, lançados vivos ao mar com pedra nos pés, como fizeram aos mais dos nossos soldados prendidos do Arraial Velho, ficando alguns poucos Clérigos tão atemorizados, que por nenhuma maneira ousavam celebrar missa, nem meter-se em nenhum outro ato de Cristandade.” [1]
Note que também os soldados cristãos passaram pelo martírio.
Mas toda a população se via desprotegida da sanha dos holandeses.
Frei Calado prossegue:
Para a assolação de toda a Província [Capitania], inventaram e inovaram vária diversidade de ofícios, a saber, Escoltetos e Financeiros, que nenhum outro cargo executavam mais que argüir aos pobres moradores de tudo aquilo que lhe ditava a imaginação para condenarem para si, usando de seus poderes com os maiores insultos do mundo, até tomarem as mulheres casadas com força e violência e usarem delas por rmancebas, tendo-as e mantendo-as em suas casas, como o fez o Escolteto Alado Holl das freguesias de Ipojuca e Santo Antônio do Cabo, a uma mulher de um homem muito honrado, que tudo era patente aos do Conselho, e em nada queriam prover pelas interessadas conveniências que tinham com a maldade de seus procedimentos.” [2]
Frei Calado continua a enumerar detalhadamente os crimes que eram apadrinhados pelos Conselheiros do Recife e seus Ministros em toda a Capitania, crimes em que rivalizavam como autores “o Judaísmo e o Holandês” (Flamengos e Judeus): a exploração das dívidas dos senhores de engenho, o roubo no comércio do açúcar, privando-os daquilo a que tinham direito pelos contratos, a ponto de perderem todos os seus bens para se livrarem, em vão, das “dívidas” impagáveis... Chegou ao ponto de a Companhia das Índias Ocidentais combinar com os devedores de deixarem por conta dela a solução dos seus débitos junto aos judeus e outros mercadores; a Companhia agiu tão fraudulentamente que ficaram estes a dever mais a ela que àqueles.
Afirma Frei Calado: os Ministros Holandeses inventaram que os moradores tramavam um levante e, para impedi-lo, escolheram “o mais tirano homem [...], por nome João Blar, que com 300 soldados campeasse no sertão [Interior], aonde fez tais roubos, estupros e violências quais se não historiarão dos mais cruéis Imperadores romanos.” [3] E relata o que se passou em São Lourenço e outras freguesias: assassinato de todos os homens de uma mesma casa, defloramento de donzelas que morriam vendo os pais e irmãos mártires, debatendo-se entre a vida e a morte no próprio sangue inocente.
Acresce as profanações dos templos, os sacrilégios contra as imagens dos santos, especialmente da Santíssima Virgem.
Tudo isto provocou uma profunda dor aos luso-brasileiros. Imploraram à Mãe de Deus que ela os ajudasse a encontrar, “com armas nas mãos”, remédio e proteção contra tão grandes males.
“E assim elegemos por Governador de nossa liberdade a João Fernandes Vieira. [...] E porque [...] nos pusemos em arma com nosso Governado, [...] e nos fomos retirando de mato em mato [em guerrilha], avisando de tudo ao Governador e Capitão Geral do Brasil Antônio Teles da Silva, de quem, por sua cristandade, por seu valor e por seu sangue, esperávamos breve socorro”. [4]
[1] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, p. 296.
[2] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, pgs. 296 -297..
[3] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, p. 299.
[4] CALADO, Fr. Manoel, O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade, I º Volume, Recife, 1942, p. 300.

GUERRA HOLANDESDA - TESTEMUNHO DOS MÁRTIRES FRANCISCANOS



Convento de Igaraçu
Pintura do artista holandês Post





O cerco de Olinda em 1630




TESTEMUNHO DE FREI JOÃO DA CRUZ, DE FREI JUNÍPERO DE S. PAULO E MUITOS OUTROS

Bandeira da Nova Holanda

Na noite de 30 de abril de 1632, 1500 holandeses guiados por Calabar invadiram Igarassu. Era o dia dos Apóstolos S. Filipe e S. Tiago e havia missa festiva no convento franciscano. Uma mulher gritou que os holandeses estavam chegando. O celebrante consumiu logo a hóstia e as partículas consagradas enquanto os outros frades tratavam de esconder as alfaias os vasos e os objetos sagrados. O povo ainda estava na igreja quando os hereges a tomaram e levaram presos o celebrante e um frade velho que não pôde correr. Estes dois foram levados de canoa para Itamaracá foram desterrados para as Indias Espanholas (Antilhas).

O Guardião Frei Pedro da Purificação fugiu com os demais frades. O convento ficou abandonado até 1635, quando foi nomeado Guardião para um triênio, Frei Antônio de Sã Paulo. Terminada a sua gestão, sucedeu-lhe Frei João da Cruz. Foi quando aconteceu o caso das correspondências mandas por Frei João da Cruz pelo Irmão leigo Frei Junípero para Frei Cosme de São Damião e outros frades que se encontravam na Bahia “sem licença nem passaporte dos Senhores do Conselho”, como diz Fr. Bonifácio. Até à Bahia correu tudo em paz. Mas na volta, em princípios de 1639, o portador Frei Junípero foi descoberto com as respostas às cartas. Isto acarretou uma ordem de prisão para ele e seu Superior Frei João da Cruz. Provaram pelo conteúdo das respostas que a correspondência só tratava de assuntos internos da Ordem. De nada valeram as justificativas. Foram condenados à forca pelo Conselho. Mas, por intervenção de pessoas da simpatia do Conde Maurício de Nassau, a pena foi comutada em degredo. “Admira que, dois anos depois, alguém tivesse coragem de se dirigir a Nassau no intuito de conseguir a volta do mesmo Frei João da Cruz.” Não só dele, mas também de seu companheiro Frei Francisco de Santo André. A carta se conserva no arquivo de Aya, escrtita em Lisboa com data de 14 de março de 1642, assinada por M. de Montalvão. Fr. Bonifácio a transcreve. “Parece [poderia ter dito ´é certo´] que Frei João da Cruz voltou sempre ao Brasil, pois Frei Manoel Calado, que no Valeroso Lucideno se ocupa com o mesmo caso, conta no Iº Volume o fato acima narrado, e, no IIº Volume (pg. 45) conta o seguinte:“Este Frei João era Pregador e havia sido degredado com outros religiosos (que todos morreram no mar à mão dos holandeses) e ele escapou, porque foi para a Holand“O convento de Igarassu ficou deserto até a completa restauração em 1654.” Foi quando, nesse ano de 1639, o Conselho, em reação a benevolência de Nassau, deu expansão aos sentimentos anticlericais, recolhendo na ilha de Itamaracá franciscanos de todos os outros conventos e também religiosos de outras Ordens (beneditinos e carmelitas). “Teriam sido 37 ao todo, e dixaram-nos despidos e maltratados durante um mês. Em seguida todos, inclusive Frei João da Cruz e Frei Junípero, foram transportados para as ilhas da América Espanhola [ou Índia de Castela = Antilhas]. Neste trajeto alguns morreram à míngua, outros sucumbiram aos maus tratos e, dos que escaparam, poucos voltaram à Custódia.” Frei Calado conta como terminaram muitos deles: jogados ao mar com pedras atadas aos pés! Poderiam todos ser canonizados, como foram beatificados os do Rio Grande do Norte!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

VOLTANDO AO MARTÍRIO DE FREI COSME DE SÃO DAMIÃO

AINDA O TESTEMUNHO DE FREI COSME DE S. DAMIÃO




Manuscrito com letra de de Frei Cosme de S. Damião: Petição dirigida ao Governo da Província, renunciando ao direto de participar ativamente do Capítulo de 1657


(Original doArquivo do Provincialado franciscano)











(Veja escrito de Fr. Bonifácio Müller, em Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, 1657 - 1957, Provincialado Franciscano, Recife, 1957, páginas: 100 – 101):
Já postamos, ao tratar da Guerra Holandesa, a dramática retirada dos nossos, de Sirinhaém para Alagoa do Sul, chefiados Por Frei Cosme de São Damião.

Vejamos hoje a versão que da mesma nos dá o historiador M. de Oliveira Lima:

M. de Oliveira Lima diz como Matias de Albuquerque e sua gente prosseguiu a retirada para Alagoa do Sul, após destruir as fortificações de Porto Calvo:
“[...] o animoso chefe pernambucano continuou a sua sombria retirada com um punhado de soldados fatigados e descoroçoados e os incansáveis auxiliares de Camarão e Henrique Dias, ele próprio exausto de uma guerra cotidiana e que durava havia cinco anos. Na sua vanguarda, levava sete a oito mil pernambucanos que fugiam ao domínio estrangeiro, deixando propriedades, amigos, a quietação do lar e os suaves eflúvios do solo natal. Passaram todos torturas no doloroso caminhar do exílio, por entre as florestas densas, sob as chuvas torrenciais da estação, tendo que cruzar rios caudalosos; foram inúmeras as horas de fome, as horas de desalento, as horas de medo, enquanto lhes ia no encalço Artichofski com seus soldados bêbados de glória, farejando o roubo dos carros que comboiava Matias. O oficial polaco parou todavia em Peripueira, onde levantou uma fortaleza.
Entretanto os pernambucanos acoutavam-se na Alagoa do Sul esperando aí o tão falado auxílio da Espanha, que chegou afinal sob a forma de mil e setecentos soldados castelhanos e doze canhões, vindos numa esquadra que trazia a bordo o novo Governador Geral do Brasil D. Pedro da Silva. O reforço era comandado por D. Luiz de Rojas e Borja, das nobres casa ducais de Gandia e Lerma [...]. À Espanha era na verdade impossível mandar à America socorro mais numeroso.” [1]

É BOM CONHECERMOS ALAGOA DO SUL

(Da internet: pesquisa Google: Convento Franciscano de Marechal Deodoro / AL)

"Patrimônio Histórico
O Centro histórico de Marechal Deodoro começou a ser construído em 1660. Nele conservam-se resquícios da colonização portuguesa no Estado de Alagoas. São prédios de arquitetura religiosa, do estilo barroco, que dão valor cultural inestimável às ruas do município.

[...] A primeira capital de Alagoas guarda em todos os pontos uma mostra da forte religiosidade que imperava na época pelo considerável número de igrejas. Do ponto que vai desde a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, seguindo pela igreja de Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora do Amparo, Igreja de Santa Maria Madalena até o Convento e Ordem Terceira de São Francisco, as construções estão dispostas de tal maneira, que formam uma espécie de “polígono sacro”. No século XVIII as ruas que ligavam os templos foram consideradas como as principais da cidade, e atraíam os moradores das redondezas para as grandes festas e procissões durante a Semana Santa.
É impossível entrar em Marechal Deodoro e não sair mais rico culturalmente, a magia expressa em suas construções é tão forte, que a sensação que se tem ao vê-las, é de ter voltado ao passado.
Igreja Santa Maria Madalena / Convento de São Francisco
O início da construção da igreja e convento foi em 1684, apesar de dois anos antes dessa data já terem chegado na cidade os primeiros membros da Ordem Franciscana. Em 1689 foi terminada a capela-mor, depois disso, as obras foram paralisadas durante 30 anos, e apenas em 1723, a primeira missa celebrada nesta igreja aconteceu na Semana Santa do ano de 1662. Mas sua obra só foi totalizada em 1793.
Sua fachada apresenta adereços em formas de plantas, confeccionados em pedra calcária; pardieiras emolduradas nas janelas do coro; a janela central apresenta um óculo que favorece a ventilação. A Capela-mor, concluída em 1689 tem teto em caixotões e, a Capela profunda tem retábulo, que é uma estrutura em pedra ou talha de madeira que se eleva na parte posterior de um altar. Este trabalho é único em todo Nordeste brasileiro. Sob o coro existe um painel de Santa Clara de Assis, pintado pelo artista plástico pernambucano José Eloy, em 1817.
No altar existe uma imagem de Cristo Crucificado, um exemplar da escola Jansenista, raríssimo. Em todo o Brasil, além desse de Marechal Deodoro, existe apenas mais um, na Bahia.
A imponência da construção se destacou diante da singeleza do casario circundante. A composição do conjunto arquitetônico é impressionante mesmo depois de alguns séculos, porque apesar da ação do tempo, a beleza e suntuosidade da construção impressionam.
A Igreja da Ordem 1ª de São Francisco, ou Igreja de Santa Maria Madalena apresentava internamente uma extraordinária suntuosidade. No convento o pátio interno tem ares de tempos medievais, por conta das colunas que sustentam os arcos em alvenaria com três cantos. Na parte superior do prédio funciona o Museu de Arte Sacra de Alagoas, que reúne todo o acervo religioso do município.
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco – anexa a Igreja de Santa Maria Madalena foi construída durante o século XVIII, possui fachada de estilo Rococó. Uma porta única, feita em folha almofada, dá acesso ao templo que tem mais três janelas de adorno.
Igreja do Senhor do Bonfim."

UM POUCO DA HISTÓRIA

"Os primeiros relatos de povoação em Marechal Deodoro [nome da cidade hoje] datam de 1522, com a expedição de Cristóvão Jackes enviada por D. João III e, posteriormente, em 1535, com a expedição de Duarte Coelho. Contudo, somente em 1591 é que foi registrada a primeira doação da sesmaria. Marechal Deodoro surgiu em 1611 como Vila Madalena. Depois, teve o nome de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul e mais tarde, simplesmente, Alagoas, antiga capital da Província. Em 1663, o povoado foi atacado pelos holandeses que torturaram parte da população e incendiaram cerca de 100 casas. Na luta contra os invasores, Alagoas abrigou Matias de Albuquerque com 10 mil fugitivos e Felipe Camarão, com outros 4 mil. Em 12 de abril de 1636, foi elevada à categoria de vila, e no ano de 1706, foi elevada à comarca. Posteriormente, em 16 de setembro de 1817, foi elevada à categoria de capitania e desmembrando-se da capitania de Pernambuco, foi elevada à categoria de sede da nova capitania da qual foi o seu primeiro governador Sebastião Francisco de Mello Póvoas, passando à categoria de cidade pela lei de 8 de março de1823. Em 1838, Agostinho da Silva Neves assumiu a presidência e decidiu mudar a Tesouraria da Fazenda de Marechal Deodoro para Maceió. A decisão provocou polêmica, obrigando Silva Neves a de Pernambuco e da Bahia para garantir a ordem pública . Em 9 de renunciar. O presidente deposto seguiu para Maceió e solicitou tropas e em 9 de dezembro de 1839 foi sancionada pela Assembléia Legislativa lei, transferindo a metrópole de Alagoas para Maceió. "

VOLTANDO À GUERRA HOLANDESA

“Afinal, aos 2 de agosto de 1635, entraram na povoação de Alagoa do Sul ( chamada também, em 1656, Vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, hoje Marechal Deodoro.
“Logo o Pe. Custódio tratou de levantar um recolhimento de palha e ramagens, onde passou alguns meses com seu secretário Frei João Batista e mais alguns poucos, ao passo que os outros seguiram viagem em direção dos conventos nas partes da Bahia, visto que o lugar não comportava muitos relgiosos, já por falta de agasalho, já por falta de sustento.
Em fins de dezembro do mesmo ano de 1635 veio alojar-se na mesma localidade o General espanhol D. Luiz de Roxas com o socorro esperado de Castela e Portugal.
Resolveu o General marchar para as partes de Pernambuco no dia 6 de janeiro de 1636, em companhia do Pe. Custódio, seu secretário Frei João Batista e mais outro, Frei Manuel das Neves. Em 15 de janeiro chegaram ao Porto Calvo, onde esperavam encontrar-se com o inimigo. Não encontrando o holandês neste lugar, foram adiante. Dois dias depois apareceu o exército holandês com 1.500 soldados. O que o Pe. Custódio havia previsto e predito, aconteceu: o General Luís de Roxas foi atingido por uma bala nas costas, e caiu do cavalo, morto. Os nossos foram vencidos, e feitos prisioneiros o Pe. Custódio com os dois companheiros.” [2]
[1] LIMA, M. de Oliveira, Pernambuco - seu desenvolvimento histórico, 2ª Edição, Governo de Pernaambuco,Recife, 1975, pg. 78.
[2] MUELLER, Frei Bonifácio – ofm, apud Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, edição comemorativa do Tricentenário da criação da Província, edição do Provincialado Franciscano, Recife / PE, 1957, pp. 100 – 101.




Igreja do Convento Franciscanao de Santa Maria Madalena em Lagoa do Sul, hoje a Cidade de Marechal Deodoro / Al



Após levantar aí um Recolhimento de palha e ramagens (tipo mocambo), o Padre Custódio Frei Cosme de São Damião, seu secretário Frei João Batista e mais uns poucos passaram alguns meses nesta localidade. Os outros frades seguiram para as partes da Bahia. Em Alagoa do Sul não havia condições de permanecerem por mais tempo, por falta de acomodações e alimento. Quando em fins de dezembro de 1635, chegou à mesma localidade o General espanhol D. Luís de Roxas, com o esperado socorro de Castela e Portugal, decidiu o General marchar para Pernambuco (Recife) com o Padre Custódio, Frei João Batista e Frei Manoel das Neves. Partiram a 06 de janeiro de 1636, chegando a 15 de janeiro em Porto Calvo, onde esperavam combater o inimigo. Mas, o que Frei Cosme de São Damião havia predito aconteceu: o General Luís de Rochas foi morto pelos holandeses e os frades feitos prisioneiros.
Frei Cosme de São Damião foi preso, não podendo realizar seu desejo de visitar três Casas da Ordem que estavam situadas em regiões tomadas pelo inimigo: a da Paraíba, a de Igaraçu e a de Ipojuca ( Conf. Fr Jaboatão,m II, P. 184).
Relata Fr. Bonifácio (obra citada, página 101 – 102):
“Cabeça dos demais, o Padre Custódio devia ser julgado no Recife. No Conselho alguns votaram pela forca; algum outro, porém, lembrava o degredo para Serra Leoa na África, onde a morte seria mais certa que a vida. Este foi o parecer que prevaleceu, e achou aprovação do Supremo Conselho do Altíssimo. Mas com tal resolução começou a odisséia do Padre Custódio. Partiu uma nau de pilhagem com o padre a bordo. Mas não houve meio de atracar na Serra Leoa, nem em qualquer outra parte da África. Quase 6 meses a nau esteve balançando, à mercê das correntes e dos ventos contrários. Sobreveio o temido mal da costa, chamado de “Loanda”, atacando boca e gengiva dos navegantes. Não quis perder o Servo de Deus tão boa ocasião de praticar a caridade, servindo-lhes de enfermeiro, aplicando-lhes o remédio com suas mãos. Com isso, os próprios hereges reconheciam na pessoa do frade um amigo; sobretudo o Capitão ficou comovido, a ponto de repartir com ele sua mesa. Convencidos de que naquelas plagas o mal não curava de vez, e que os mantimentos iam-se ultimando, após 7 meses de ausência, resolveram voltar a Pernambuco.
De volta, no Recife, relataram aos do Governo tudo que havia acontecido na viagem, de modo especial a caridosa conduta do degredado Frei Cosme. Este foi chamado à presença do Conselho que lhe declarou que davam a sentença por cumprida e que, em breve, seria restituído a seus confrades. De fato, certo dia foi desembarcado na praia de Itapoá, 5 léguas distante da cidade da Bahia. (Dizem as Memórias [Diárias do Donatário Duarte de Albuqurque Coelho] em Ilhéus, o que parece engano).”
Pensam uns que o Pe. Custódio chegou à Bahia em fins de 1636; um atestado da Câmara Eclesiástica, com data de 3 de janeiro de 1637, vem justifica tal conjetura.
Podemos imaginar a surpresa geral que causou o aparecimento do padre na comunidade; parecia um morto ressuscitado. Seu substituto, Frei Manuel Batista de Óbidos, eleito na sua longa ausência, logo se prontificou a entregar o cargo a quem, por direito, pertencia. Coagido pelas circunstâncias do tempo, [Frei Cosme) reassumiu o governo da Custódia até 1639.
Antes do Capítulo de 1657 [ano da elevação da Custódia a Província] , [Frei Cosme] lavrou um Memorandum aos eleitores que bem caracteriza esse homem benemérito.”
O tal Memorandum já foi objeto de postagem em nosso Blog (“De Frei Cosme de São Damião, um manuscrito inédito” a 24 de maio de 2010)
Pediu para que o Governo da Província o dispensasse de participar ativamente do Capítulo no qual, por direito poderia votar e ser votado, em vista de sua quase invalidez, devido (sabemos nós) ao martírio pelo qual tinha passado.
A autenticidade deste documernto foi reconhecida, em 15 de outubro de 1660 pelos confrades que viram nele uma peça importante para o seu processo de canonização que deveria ser aberto. É o que concluímos pelo que escreve Frei Jaboatão, quando trata dos milagres atribuídos ao Servo de Deus Frei Cosme de São Damião. Segundo Frei Jaboatão, o processo de beatificação de Fr. Cosme foi aberto na Bahia aos 8 de julho de 1670 (Novo Orbe Seráfico, Parte II. Páginas 206 – 230). Confira o que sobre isto postamos a 24 de maio de 210.

Frei Cosme de São Damião ainda chegou a assinar as atas do Capítulo de 1657.

Veio a falecer dois anos depois, em odor de santidade a 1 de novembro de 1659.

A Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil que a ele tanto deve, não poderia levar adiante a causa de sua canonização?

E o que fazer com a de tantos outros que lavaram com o seu sangue as terras do NE brasileiro?
EM TEMPO:

Frei Jaboatão conservou umas notas deixadas por Fr. Manoel das Neves, que relatam:
“Algumas vezes assisti no Arraial de Pernambuco, estando em guerra viva entre os soldados. Depois disto, vindo com o Padre Custódio Frei Cosme de São Damião e seu secretário Frei João Batista para as partes donde assistia nossa infantaria, nos tomaram os holandeses na campanha, tratando-nos com grandes rigores, despindo-nos e ameaçando-nos de morte; perto de um mês com soldados de guarda noite e dia; depois foram enviados às fortalezas de Pernambuco, onde ficamos uns dias, padecendo fome e sede; dividiram-nos, cada qual em outro vaso de guerra, onde passamos presos 7 meses. Afinal fomos enviados para os Estados da Holanda para nos sentenciaram; para nos livrar, e voltar a Portugal, foi serviço”.

GUERRA HOLANDESA - OS FRANCISCANOS

MÁRTIRES FRANCISCANOS NA INVASÃO HOLANDESA
RELATÓRIO DE MATIAS DE ALBUQUERQUE

O historiador Fernando Pio, em seu livro O Convento de Santo Antônio do Recife e as fundações franciscanas em Pernambuco, escreve sobre os franciscanos na Invasão Holandesa:
Em 1630, quando da Invasão Holandesa em Pernambuco, era Custódio do Brasil, vivendo no Convento de Olinda, Frei Antônio dos Anjos. Desembarcado o inimigo em Pau Amarelo, Fr. Antônio dos Anjos, à frente de sua falange de religiosos, abandona o Convento de Olinda, para acompanhar o exército em combate. Não foge ao perigo, encontrando-se sempre onde a batalha se feria mais acesa. Tão grandes foram seus serviços, que o General Matias de Albuquerque, Comandante em Chefe das forças pernambucanas, em documento firmado aos 20 de agosto de 1635, narra, nas seguintes palavras, a dedicação e heroísmo desses soldados da milícia de Cristo:
Certifico que vindo no mês de fevereiro de 1630 sobre o porto e Villa desta Capitania de Pernambuco uma mui poderosa armada holandesa, O Padre Custódio de São Francisco que era então Fr. Antonio dos Anjos, com muitos religiosos de sua ordem, acudiram à praia, às trincheiras, e aos baluartes, a confessar e animar os soldados e a gente da terra, para que sustentassem as ditas trincheiras e baluartes, onde assistiram até de todo serem rendidas.
E vindo nós para o Recife, vieram também os religiosos da dita Ordem, alguns dos quais foram assistir no Forte do Mar a confessar, e, no de terra, (S. Jorge), fizeram o mesmo offício até de todo serem rendidos; e fazendo eu arrayal no sítio de Parnamirim para nelle formar uma fortificação, como formei, em que me defendesse do inimigo, os ditos religiosos se retiraram e, dentro do forte, fizeram um oratório, no qual sempre assistiram de seis religiosos para cima, dizendo missa no dito oratório e administrando os sacramentos da Confissão e Sagrada Comunhão, e fazendo sermão quando era necessário, com muita pontualidade; e três annos contínuos os ditos religiosos foram dizer missa às estâncias dos Afogados e Salinas e todas as mais, e nellas administrando os sobreditos sacramentos com a mesma pontualidade e diligência; e em todos os rebates e assaltos que tivemos com os inimigos, se acharam presentes os ditos religiosos, em companhia de nossos soldados, animando aos sãos e confessando os feridos com mui grandes trabalhos e riscos, e assistiram no seu oratorio e no arrayal, prestando os mesmos officios até o dia 9 de junho de 1635 em que se rendeu o dito arrayal!
( Fernanfo Pio, obra citada, páginas 16 a 17).
Observa Frei Bonifácio Müller, que transcreve o mesmo documento numa versão quase idêntica, tratar-se de uma “referência sumária” da certidão que se encontra na íntegra no Novo Orbe Seráfico de Frei Jaboatão (P. I, 2, p. 97 m- m100). Veja em Província Franciscana de Santo Antônio do Brsasil 1657 – 1957, Provincialado Franciscano, Recife, PE, Volume I, p. 91, nota 12.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ASSEMBLÉIA MISSIONÁRIA


Praia de Porto de Galinhas


RESPOSTAS DE IPOPJUCA







Daqui a um mês a Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, com sede no Recife, estará reunida para a realização de uma Assembleia Missionária! O desejo do Governo da Província é que todos os confrades, os leigos e leigas com quem compartilhamos a missão evangelizadora estejam bem informados sobre esse momento importantíssimo para a vida e a missão de nossa Fraternidade Provincial.
Praia de Porto de Galinhas

O Ministro Provincial Frei Marconi Lins, em carta convocatória, escreve: "Gostaria de recolocar os encaminhamentos dados até agora e o que devemos fazer ainda para participarmos ativamente da Assembeia. No início do segundo triênio de nosso serviço de animação provincial, planejamos a realização dessa Assembleia Missionária com o intuito de retomar a caminhada feita no triênio 2006-2008 e já nos preparar para o Capítulo Provincial de 2012.
Os objetivos de nossa Assembleia Missionária são:
1. Analisar a realidade da Província – vida e missão – tendo em vista o futuro de nossa presença evangelizadora nos lugares onde estamos ou em outras frentes missionária às quais nos sintamos interpelados pelo Espírito do Senhor;
2. Concretizar a Decisão nº 10 do Capítulo Geral 2009: “Que nos próximos anos (2010-2012), todas as Entidades da Ordem empreendam um processo de reflexão e discernimento. A reflexão e o discernimento sejam feitos a partir das seguintes perguntas: Onde nos encontramos? Para onde queremos caminhar? Para onde o Espírito nos impele, tendo presente a nossa realidade (fraquezas e potencialidades), as sugestões da Igreja, os últimos documentos da Ordem e os sinais dos tempos? Opções a tomar no futuro.
3. Traçar metas missionárias concretas, levando em conta: a) Os desafios e necessidades dos lugares; b) O número de confrades e a perspectiva vocacional; c) A missão evangelizadora compartilhada com os/as leigos/as; d) A formação para a missão; e e) A situação econômica da Província.

O tema da Assembleia será: Portadores do dom do Evangelho, e o lema: O Senhor me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho (Test 14).

Questionário

Discutir o texto, completar, levantar questionamentos, antes de passar para itens seguintes!

Avaliando a presença dos frades na realidade em que você vive:
1. Há quanto tempo os frades estão presentes em sua comunidade paroquial (ou outra presença pastoral-missionária)? Qual o impacto dessa presença?
2. Devem continuar aí? Que interpelações justificariam isso?
3. De que modo devem continuar? Ou se não, que outras formas de presença vocês sugerem aos frades?

4. Que questionamentos, sugestões e encaminhamentos concretos os leigos/as que compartilham a missão conosco, querem fazer à Assembleia Missionária?


Passamos para os leitorers deste blog as respostas da Paróquia de Ipojuca (Mata Sul de PE) às perguntas e aos questionamentos que lhe foram enviados a partir dos textos que servirão de estudo em preparação da Assembléia:

Ø A presença dos frades foi sempre muito significativa. O povo respondeu sempre até hoje o esforço, o zelo e dedicação dos frades com seu carinho e seu respeito por eles. Nunca deixaram de atender aos apelos dos frades, tanto na observação religiosa e participação das celebrações como nas suas ajudas materiais. Nunca deixaram faltar nada aos frades.

Ø Quando um frade não agrada muito o povo não se afasta, mas tenta compreendê-lo e tenta aos poucos gostar dele. Nunca faltaram ao povo o respeito e carinho pelos frades. Principalmente as pessoas da Igreja (pastorais, grupos, etc.) defendem os frades diante de quaisquer circunstâncias adversas na cidade.

Ø Os franciscanos sempre foram uma presença positiva na formação da consciência e na organização do povo.

Ø Há às vezes conflitos de mentalidade entre jovens e frades. Porém nota-se uma dificuldade por parte dos frades de acompanhar os jovens nas suas reuniões, orações e celebrações, onde às vezes estes jovens ultrapassam os limites tradicionais da nossa Igreja. O perigo de ficar somente no louvor e adoração, esquecendo o maior mandamento de Cristo, que é de fazer caridade. Isto vale também para outros movimentos surgidos ultimamente na Paróquia. (Queremos lembrar as Palavras de Santo Antônio: Cessem as palavras e falem as obras!).

Ø Os nossos franciscanos devem permanecer na nossa paróquia, pois fazem parte dela há muitos e muitos anos e contribuíram com a formação histórica da cidade.

Ø Vemos a Pastoral da nossa Paróquia no momento deficiente. Diante das grandes mudanças que assaltam o nosso município e toda a região é absolutamente necessária a continuação da presença dos Franciscanos para contribuir com a mensagem de São Francisco, para que o povo pobre possa acompanhar e sobreviver o progresso iniciado nesta cidade e comunidade ipojucana.

Ø A presença dos franciscanos deve continuar bem ativa no meio dos pobres da nossa Paróquia. Queremos lembrar algumas prioridades que merecem toda a atenção dos frades: os jovens, grupos de pastorais, grupos de oração, a catequese de crianças, trabalho missionário nos bairros distantes e populares e nos engenhos, a formação bíblica doutrinária e a formação litúrgica (incluindo os ministérios de música) dos que trabalham na Paróquia.

Ø Com alegria vemos que os grupos paroquiais, mesmo com dificuldades, caminhem hoje com autonomia, sem depender sempre da presença dos frades, quando estes não podem estar presentes por diversos motivos, pois aprenderam a ser responsáveis na sua Paróquia.

Que questionamentos, sugestões e encaminhamentos concretos os leigos/as que compartilham a missão conosco, querem fazer à Assembleia Missionária?
Ø Antigamente vieram na nossa Paróquia Franciscanos de outros Conventos para dar cursos de catequese, de bíblia, de música, etc. Faziam encontros de jovens, de coroinhas, etc. Também tivemos muitas "Santas Missões". Tudo isso formou a nossa Paróquia, no entanto com a mudança econômica, social e política estes esforços dos Franciscanos deve ser adaptado aos dias de hoje.

Ø Que esta Assembléia Missionária dos nossos frades renove o espírito missionário de todos e socorre a nossa Paróquia de São Miguel de Ipojuca para que a comunidade seja "sal e luz" nas terras onde a cana de açúcar convive com o Estaleiro e a Refinaria de Petróleo.



O que resta da mata atlântica?







Quem lê a postagem anterior percebe logo como em 1923, Frei Casimiro Brochtrup soube captar uma realidade que, longe de mudar para melhor, se agravou, deteriorando hoje não só a vida humana, mas também a fauna, a flora, as águas dos riachos, dos rios e dos mares. A região de Ipojuca é uma das mais ricas e belas da Mata Sul de Pernambuco. No entanto, é também aquela em que avida humana e o meio ambiente se acham mais ameaçados. Cabe também à Assembléia Missionária posicionar-se em defesa da Ecologia em nossa área e fazer valer aqui o ideal franciscano de lutar pela sustentabilidade da vida.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

E-MAIL OPORTUNO


FREI CASIMIRO BROCHTRUP DE OLHOS NA REALIDADE DA MATA SUL


SEI QUE ALGUNS LEITORES DO MEU BLOG, ATENTOS À HISTÓRIA DO CONVENTO DE IPOJUCA, GOSTARIAM DE TER ACESSO AO QUE PASSO A POSTAR:



PREZADO FR. HUGO: DESTA VEZ O E-MAIL É PARA PEDIR-LHE CÓPIA DA "CRÔNICA DE IPOJUCA" QUE SE ENCONTRA NA SECÇÃO "CRÔNICAS" NA REVISTA "SANTO ANTÔNIO", ANO1, Nº 2, PÁGINAS 60-63. CERTAMENTE É EM ALEMÃO, POIS NAQUELA ÉPOCA A REVISTA NÃO SAÍA AINDA EM PORTUGUÊS.

SEGUNDO FR. VENÂNCIO NO ARTIGO "RUÍNAS E VIDA NOVA EM IPOJUCA 1890 - 1901" (REVSTA "SANTO ANTÕNIO", ANO 10, N.º 1, RECIFE, 1952, PÁGINAS . 9-17), AQUELA CRÔNIVCA FOI ESCRITA POR FR. CASIMIRO BROCHTRUP EM 1923, DURANTE SEU BBREVE PAROQUIATO EM IPOJUCA. ESSE NÚMERO DA REVISTA NÃO CONSTA NO VOLUME QUE TEMOS COM AS REVISTAS DE 1923 A 1927. ENCADERNARAM AS REVISTAS, COMO JÁ LHE DISSE NOUTRO E-MAIL, FALTANDO OS NÚMEROS DE 1923 E 1924! O MESMO ACONTECE COM O VOLUME IDÊNTICO QUE EXISTE NO ARQUIVO PROVINCIAL. NOS CONVENTOS DE OLINDA, RECIFE, SIRINHAÉM TAMBÉM NÃO EXISTEM ESTAS REVISTAS MAIS ANTIGAS. FREI ROBERTO DESISTIU DE PROCURAR ALGUM NÚMERO AVULSO. VI QUE SÓ MESMO RECORRENDO AO SENHOR, POIS AÍ NA BAHIA O SENHOR ENCONTROU O Nº 2 JAHRGANG AUGUST 1924, COM O NECROLÓGIO DO REL. BR. PASCHALIS DE SOUZA LEÃO, QUE NÃO ME FOI POSSÍVEL ENCONTRAR AQUI PELO MOTIVO ACIMA ALEGADO. ONDE HÁ O NÚMERO DE 1924, CERTAMENTE SE ENCONTRA TAMBÉM O DE 1923.
INTRESSA-ME MUITO A MENCIONADA CRÔNICA DE IPOJUCA POR REFLETIR, NA PENA DE FREI CASIMIRO, UMA SITUAÇÃO DESESPERADORA POR QUE PASSAVA IPOJUCA, SEGUNDO O COMENTÁRIO DE FR. VENÂNCIO: "ENQUANTO EM TODO O BRASIL, A IGREJA CATÓLICA ATRAVESSAVA UMA CRISE TREMENDA, CRECIAM EM IPOJUCA AGRAVANTES PARTICULARES COMO P. EX. A VIDA DISSOLUTA DE MUITOS SENHORES DE ENGENHO, A DECADÊNCIA DA CIDADE DEVIDO À CRISE DA INDÚSTRIA AÇUCAREIRA, A QUAL, POR SUA VEZ, ERA CONSEQÜÊNCIA DA BRUSCA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA ETC. O RESULTADO QUIÇÁ OBTIDO PELOS NOSSOS PIONEIROS [RESTAURADORES] DEIXOU DE SER DURADOURO PORQUE A CRISE ECONÔMICA AUMENTOU COM A SUPRESSÃO DOS ENGENHOS PELOS LATIFUNDIÁRIOS E A CRESCENTE MISÉRIA MORAL E MATERIAL QUE INVADIU TODA A FREGUESIA. UM REFLEXO DESTA SITUAÇÃO APARECE NA CRÔNICA DESANIMADORA QUE FREI CASIMIRO BROCHTRUP ESCREVEU PARA STO. ANTÔNIO EM 1923, QUANDO DE SEU PAROQUIATO EM IPOJUCA".
E, EM NOTA DE RODAPÉ (N.31) CONSTA: “SECÇÃO DAS CRÔNICAS:”IPOJUCA”, EM STO. ANT, ANO 1 (1923) / 2, PÁGINAS 60-63”.


NÃO É CURIOSO O ENFOQUE DE FREI VENÂNCIO QUE NOS FAZ LEMBRAR OS ROMANCES DE JOSÉ LINS DO REGO? E OS REFLEXOS DISTO NA CRÔNICA DE FREI CASIMIRO!

COM UM ABRAÇO FRATERNO,
ZÉ MILTON

sexta-feira, 4 de junho de 2010

QUADROS DOS MÁRTIRES DE MARROCOS DO CONVENTO DE IPOJUCA


Entre as obras de arte do Convento de Santo Antônio de Ipojuca/ PE (fundado em 1606), contam-se os quadros - óleo sobre madeira - que se encontram no Refeitório da Comunidade Franciscana. Infelizmente se acham bastante atacados pelo mofo, o que dificulta a sua apreciação. Está em andamento um projeto para restaurá-los. Nesta postagem temos, acima, provavelmente, a representação do martírio de São João do Prado, martirizado em Marrocos nas primeiras décadas do século XVII (1631). O Bem-aventurado João do Prado, foi uma das vítimas do Marrocos, em época bem mais próxima de nós que a dos 5 Mártires de Marrocos de 1220, cujo testemunho selado pelo sangue, motivou a passagem de S. Antônio dos Monges de Santo Agostinho para a Ordem dos Frades Menores fundadada por S. Francisco de Assis.
Deve ter acontecido com esse quadro o mesmo que se deu com o dos Mártires de Marrocos de Penedo: pertencia ao acervo do Convento do Recife. Deve ser a esse painel que se refere Frei Bonifácio Müller em seu livro já citado “Convento Santo Antônio do Recife” quando diz que estava localizado no claustro superior o quadro do “martírio do Bem-aventurado João do Prado (1631)” (pg. 47).
Vejamos o que sobre João do Prado registra o Blog de Dom A. Gaspar: CELEBRAÇÕES dos Santos - dia 24 maio:

“No Marrocos, o Bem-Aventurado JOÃO DO PRADO, franciscano, sacerdote e mártir do século XVI (sic), queimado vivo após ter feito seus estudos na Universidade de Salamanca e recomeçado a evangelização do Marrocos”.
Dom A. Gaspar transcreve aí o que lemos em SANTOS e HERÓIS DO POVO, livro da autoria de Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo, lembrando-nos os santos e heróis do povo para cada dia do ano.
O quadro abaixo, representa o trucidamento dos 5 Mártires de Marrocos em 1220. Não se vê legenda. É uma versão mais realista que a do painel de Penedo em que eles aparecem como "gloriosos". Neste de Ipojuca a cena reproduz a crueldade do martírio: um está sendo decapítado, outro jaz estendido no chão, sendo arrastado por um soldado; os outros três aguadam piedosamente a sua hora. Os carrascos, de pé ezibem sua tuculência, comandados pelo sultão, ricamente vestido.
Os quadros são provavelmente da segunda metade do século XVIII. Não consta o nome do artista.
Deviam servir aos franciscanos da época de incentivo à perseverança, depois de terem passado pelo martírio dos calvinistas holandeses.
Aguardamos o estudo de Enos Omena sobre os quadros de ipojuca.









terça-feira, 1 de junho de 2010

SANTO ANTÔNIO E OS MÁRTIRES DE MARROCOS

Mártires de Marrocos, azulejos do Convento Santo Antônio do Recife. Acima, detalhe.















Aproxima-se o dia de Santo Antônio. Sabemos que antes de entrar na Ordem Franciscana, ele era religioso dos Cônegos de Santo Agostinho, primeiro em sua terra natal, Lisboa, depois em Coimbra, onde conheceu os primeiros franciscanos que foram para Portugal e que tinham um pequeno Convento em Olivais, nos arredores de Coimbra. Chamava-se Dom Fernando. Mas, a partir do testemunho dos Mártires de Marrocos que ele conheceu e que deram a sua vida por Cristo, obtendo a palma do martírio, resolveu se passar para a Ordem Franciscana, ou Ordem dos Frades Menores fundada por São Francisco de Assis. Foi aí que recebeu o nome de Frei Antônio. Antônio de Lisboa, como querem os portugueses; Antônio de Pádua, como preferem os italianos. O certo é que o Papa, a quem se dirigiram os devotos de Portugal e da Itália, para que resolvesse qual nome assentava melhor ao Santo, conforme reza uma tradição, assim se pronunciou: -Santo Antônio não é só de Padua ou de Lisboa, é Santo do Mundo Inteiro. E assim a ladainha de Santo Antônio ganhava mais uma invocação: Santo do Mundo Inteiro, rogai por nós!"


Tanto em Portugal, como no Brasil, os Mártires de Marrocos ganharam seus devotos, e a iconografia, lá e cá, se enriqueceu com obras de arte em que figuram em azulejos, telas a óleo e esculturas, os Martires de Marrocos ou Ceuta.




Mártires de Marrocos, tela a óleo do Convento de Santa Maria dos Anjos, em Penedo / Alagoas. Acima, detalhe.









MÁRTIRES DE MARROCOS



Anotações do e-mail de Enos Omena a Frei José Milton anexas às as imagens:
· 1) Painel de azulejo do conjunto de silhares do Convento Franciscano do Recife/Pernambuco - Rua do Imperador, localizado na recepção do convento, tendo como tema iconográfico "OS MÁRTIRES DE MARROCOS", conforme detalhe na tarja com as inscrições;
· Comentário de Frei José Milton: Nosso historiador Francscano Frei Bonifácio MüllEr, OFM, de saudosa memória, em seu livro: Convento Santo Antônio do Recife, 1606 - 1956, edição do Provincialado Franciscano, Recife, 1956, escreve sobre os azulejos do Convento: “Hoje em dia custa a entender que o cronista Jaboatão, descrevendo os Conventos da Província, não tenha tratado, mais por extenso, dos azulejos que emprestam tanto realce às paredes do claustro e da igreja. E deve ter sido no seu tempo, Isto é, entre 1735 e 1750 que chegaram do Reino.
· [...] Podemos tomar por certo que foram especialmente encomendados os painé de São Francisco do claustro do Convento de Olinda, assim comom os de santo Antônio da igreja do Convento do Recife e os da sacristia de ambos os lados do lavatório que se referem à história s da chamada “Coroa Setráfica” ou “Coroa Franciscana” (pgs. 35 – 36).
· [...] Na Portaria existem 3 painéis (em azulejo) que representam os Mártires de Ceuta (Marrocos) cujas relíquias, depositadas no Consistório (1220) de Sta. Cruz em Coimbra, incitaram em S. Antônio o desejo de deixar esse Convento, para ser missionário ou mártir na África. Resolveu trocar a roupeta de Agostinho Regrante pelo burel de São Francisco, passando do Convento da Sta. Cruz para o Convento dos Oilivais, perto de Coimbra.
· Os dois outros painéis da Portaria, lembram os Mártires do Japão (1597) e os de Gorcum (Holanda) em 1572; a legenda diz: Mártires de Genebra visando a procedência dos calvinistas.”
· Continua Enos Omena:
· “Origem: Portuguesa;
· Datação: século XVIII;
· Tècnica: azulejaria;
· Autoria da Obra de Pintura: desconhecida; não tenho certeza;
· Documentação fotográfica, tendo como autoria e créditos Elpídio suassuna;
· Banco de imagem pertencente à Enos Omena.”.




2) No e-mail a Fr. José Milton, diz Enos: “Painel de pintura do Convento Franciscano de Nossa Senhora dos Anjos em Penedo / Alagoas, localizado no corredor da via sacra do convento. Estarei encaminhando as fotos do amanhã, pois tenho que digitalizá-las ainda.
· Origem: provavelmente sua fatura seja de Pernambuco /Brasil.”

Comentário de Frei José Milton: No livro acima citado sobre o Convento de Santo Antônio do Recife, escreve Frei Bonifácio sobre as pinturas do Convento:
“Não nos foi possível encontrar nenhuma assinatura de artista, tão pouco conseguimos identificar algum dos autores. Apenas verificamos que de alguns quadros deste Convento encontramos cópias mais ou menos iguais, em outras Casas de nossa Província. Vez por outra aparece uma citação latina no alto do quadro, ao passo que ao pé da composição aparece, às mais das vezes, uma ligeira explicação do assunto em português, com referência à Chronica Seraphica, obra rara hoje em dia, cujo título completo é o seguinte:
Vida Del Glorioso Patriarca San Francisco y de SUS primeiros discípulos. Dedicada ao Excellentissimo Senõr Don Antonio Alvarez de Tledo y Bermont, Duque de Alva, etc. Escrita por El R. P. Fr. Damian Cornejo, Colegial que fuedel Mayor de San Pedro ye San Pablo em La Univerdidadd de Alcalá, Lector Jubilado, Ex-Custódia de La Província de Castella da regular Observancia, Examinador Synodal de este Arzeebispado. Y Cronista General de seu Ordem. Ano 1721. Com Privilégio. Em Madrid: em La Imprenta de La Viuda de Juan Garcia Infanzon.
Está dividida essa obra em 4 partes, todas impressas e Madrid, saindo do prelo a 1ª em 1721, a 2ª em 1727, a 3 ª em 1734; e a 4ª em 1698 [sic]. Encontra-se a obra completa na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Em nossos quadros, pintados a óleo sobre madeira, as citações da Crônica Seráfica são dadas em português, às vezes até cobrindo outra citação anterior. Dada a publicação da Crônica entre 1698 e 1734, os qadros seiam pintados na primeira metadade do século XVIII. É de lamentar que a inclemência do tempo, ao lado de certo descaso, tenhaprejudicado o efeito” (Frei Bonifácio Müller, obra citada, páginas 43 – 44).
Frei Bonifácio localiza e descreve brevemente cada quadro do convento. E termina assim:
“Os quadros do claustro superior são menos numerosos e mais pobres que os do térreo. O mais importante é o dos Mártires de Marros, invocados como padroeiros contra sezões [= malárias] e outras febres”.
O fato de haver hoje, no claustro do Convento de Santa Maria dos Anjos de Penedo / Alagoas, um quadro dos Mártires de Marrocos, com os mesmos dizeres invocados como padroeiros contra sezões e outras febres, leva-me a concluir que se trata do mesmo quadro do Convento do Recife, que foi mandado para o Convento de Penedo, cidade às margens do Rio São Francisco, sujeita a sezões e outra febres, com a intenção talvez de valerem os santos mártires à população atingida por alguma epidemia. E lá ficou até hoje, tendo sido restaurado por Enos Omena. Este, inteligentemente, percebeu que a origem do quadro “é provavelmente de Pernanmbuco.”
Gostaria de acrescentar que a transferência do quadro dos Mártires de Marrocos para Penedo, só pode ter acontecido depois de 1956, ano da publicação do livro de frei Bonifácio que localiza o quadro no claustro superior do Convento do Recife.
Enos Omenas continua:
"Datação: século XVIII;
· Tècnica: pintura poligromada à têmpera sobre madeira de cedro;
· Autoria da Obra de Pintura: desconhecida;
· Documentação fotográfica, tendo como autoria e créditos Enos Omena;
· Banco de Imagem pertencente à Enos Omena.
ENOS OMENA RIBEIRO (Conservador / Restaurador e Historiador de Arte Colonial/ Iconógrafo)Um grande abraço, com atenção, Enos Omena.””
Fr. José Milton acrescenta:
São Francisco tentou aproximar-se dos muçulmanos de Marrocos, mas adoeceu gravemente na Espanha e teve que voltar à Itália. Mas “não se deu por vencido. Em seu lugar, no outono de 1219, mandou [a Marrocos] cinco frades italianos: Bernardo da Calvi de Narne, que conhecia bem a língua árabe; Pietro de San Gemignano, da Toscana; Ottone de Stroncone, da Úmbria, Accursio e Adiuto. [...] No dia 16 de janeiro de 1220, foram flagelads até o sangue, arrastados por cavalos pelas ruas da cidade e, finalmente decapitados. Naquela ocasião encontrava-se em Marrakech Dom Pedro, irmão de Afonso, Rei de Portugal. Havia deixado sua terra devido a desentendimentos com o irmão e colocara-se a serviço do Sultão de Marrocos. Apesar de ser cristão, foi nomeado general do exército marroquino, porque era muito hábil. [...] Dom Pedro pediu ao Sultão, quase como graça, os corpos dilacerados dos Mártires. Tinha em mentel evá-los a Portugal para que pudessem ter um sepultamento digno. [...] Num dia não registrado, em abril de 1220, todos os sinos de Coimbra soaram festivamente: os corpos dos cinco Mártires Franciscanos chegavam para ser sepultados na igreja do Mosteoro da Sana Cruz, junto às sepulturas dos Reis de Portugal. [...] O monge Fernando convivia, então, por assim dizer, com os Santos Mártires sepultados na igreja do seu Mosteiro. [...] Queria servir a Jesus Cristo como eles, em pobreza e alegria e, até, conquistar a palma do martírio. [...] Foi assim que Fernando deixou os Agostinianos e ingressou nos Franciscano de Olivais, nos arredores de Coimbra. Ali vestiu o hábito de frade menor e recebeu o nome de Antônio.” (Veja em: Giovanni M. Colasanti, Antônio de Pádua, um Santo também para Você, Paulinas, 1998, páginas 17 – 22).












MÁRTIRES DE MARROCOS EM TRAVESSÔ - PORTUGAL


Tornou-se conhecido como um grande pregador com grande zelo e eloquência. Santo António viajou pela Itália pela sua Ordem e assumiu varias posições administrativas. De 1222 a 1224, Santo António pregou contra os Cátaros. De 1224 a 1227, confrontou-se com os hereges Albigenses. O Papa Gregório IX deu-lhe ordem para por de lado todas os seus outros deveres, continuando a sua pregação. Santo António fixou-se então em Pádua, reformou a cidade, acabou com a prisão de devedores e ajudou os pobres. Costa nos Anais da Comuna que, graças a sua intervenção, caiu por terra uma lei que tornava praticamente escravos os devedores. Em 1231 exausto, foi tentar recuperar-se em Campossanpietro. Quando voltou a Pádua, não conseguiu recuperar, acabando por vir a falecer no convento das "Pobre Clarissas" em Arcella, em 13 de Junho de 1931.Santo António foi chamado o "Trabalhador Maravilha" pelos seus inúmeros milagres. Pregava para multidões à chuva e todos os que assistiam ficavam secos a despeito do forte aguaceiro. Foi saudado como um traumatologista após ter curado a perna de um homem, que tinha sido seccionada e fez outro homem voltar a vida para testemunhar em uma audiência de assassinato, onde um inocente estava sendo considerado culpado.À hora da sua morte, aparece-lhe o Menino Jesus na sua cela de Camposampiero.Santo António é o padroeiro de Pádua, Lisboa, Split, Paderborn, Hil-Desheim e dos casais. É um santo popular para encontrar itens perdidos. Em Portugal e no Brasil é o Santo casamenteiro, sendo invocado pelas moças solteiras para encontrar um noivo. O "dia dos namorados" no Brasil é celebrado na véspera da sua festa, ou seja, no dia 12 de Junho.Faleceu no dia 13-06-1231 em Arcella, nos arredores de Pádua. Foi canonizado em 30-05-1232 pelo Papa Gregório IX em Espoleto,Úmbria, Itália.Foi indicado Doutor da Igreja em 16-01-1946 por Pio XII com o título de "Doutor Evangélico". Na arte litúrgica da igreja ele é representado como um Franciscano com com o Menino Jesus ao colo.O Milagre dos Peixes : Santo António faz um sermão aos peixes, no rio Marecchia, pois os homens heréticos de Rimini não o queriam ouvir. Ao ver Santo António pregar aos peixes, os homens arrependeram-se e dirigiram-se para junto do Santo, ouvindo o seu sermão.O Milagre do Jumento: Um herege não acreditava que Cristo, de facto, estava presente na Eucaristia, Santo António diz ao homem que o seu jumento era menos teimoso, sendo mais fácil convencê-lo. Ao ver a Hóstia, o jumento ajoelha-se.Em 1236 aconteceu a transladação do corpo de Santo António. Foi possível encontrar a língua do Santo perfeitamente rosada no corpo, já em decomposição. A sua língua ficou como relíquia, lembrando que aquela língua anunciou a palavra de Deus ao mundo.