domingo, 26 de abril de 2009

UM POUCO DA HISTÓRIA DE IPOJUCA

Os engenhos de Ipojuca durante a ocupação holandesa
Capela do Engenho Gaipió - Ipojuca (PE)
(Foto recolhida do site da Fundação Joaquim Nabuco - www.fundaj.gov.br)

Introdução:

O ano de 2008 foi o ano do Quarto Centenário do lançamento da primeira pedra do Convento de Ipojuca. É preciso não esquecer que o ano de 1606 que vemos na fachada do Convento de Ipojuca, é o ano da fundação, o mesmo ano da fundação do Convento do Recife. Mas Ipojuca ainda esperou dois anos para o início da construção, fato que se deu, com toda solenidade, no dia de Reis (06 de janeiro) de 1608, com ata lavrada que Frei Venâncio transcreveu no seu conhecido livro sobre o Convento de Santo Antônio de Ipojuca, cuja segunda edição, organizada por Fr. Hugo Fragoso, OFM, e o ipojucano Josias Ribeiro Cavalcanti, estamos aguardando. Em 1637, Ipojuca foi alvo da Invasão Holandesa, os frades tiveram que fugir do Convento, transformado que foi em cavalariça das tropas batavas.

Sobre a ocupação holandesa do Convento muito já se escreveu. Mas sobre a situação do povo de Ipojuca durante a Guerra Holandesa pouca coisa se sabe. A economia de Ipojuca era toda baseada na cana de açúcar. O que sucedeu aos engenhos de Ipojuca durante o domínio holandês é o que gostaria de resumir neste pequeno artigo.

OS ENGENHOS DE IPOJUCA E OS HOLANDESES
Poluição ambiental
Problema secular

O Município de Ipojuca conta hoje com uma Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTMA). O problema não vem só do aquecimento global. Quando o Brasil estava sob o domínio espanhol, o Rei já tomava providências para que não se poluíssem os rios da Zona da Mata de Pernambuco.

Vejamos o que nos dizem alguns relatórios holandeses:

No Documento 4 (pgs. 147 – 190), estampado por Dr. José Antônio Gonçalves de Mello em sua obra "Administração da Conquista" [1] “notas do que se passou na minha viagem, desde 15 [sic] de Dezembro de 1641 até 24 de janeiro do ano seguinte de 1642”, se registra:

“A 18 do mesmo mês [dezembro] ao amanhecer, cavalguei para Ipojuca [...] (pg. 151)
“Ali também recebi queixas de que alguns engenhos lançavam o bagaço aos rios, com o que conspurcavam as águas. Soube que ao tempo do Rei de Espanha foram dadas ordens a este respeito e mesmo que alguns moradores ainda têm cópia dos editais. Determinei ao Escolteto Hol procurasse os ditos editais e no-los enviasse para ser resolvido o que conviesse ao caso [...] (pg. 152).

Dr. José Antônio nos remete à Nota 12 de fim de texto (Documento 4):
“Interessante referência ao início da poluição dos rios da zona da mata pernambucana pela indústria açucareira, que viria a agravar-se no século XIX com os engenhos centrais e as usinas. Em 4 de março de 1644 foi publicado edital proibindo lançar-se nos leitos e embocaduras dos rios quaisquer imundícies: ARA, OWIC 70, dag.notule da data acima.”

Já que o assunto é poluição, no mesmo Documento 4 (pgs. 147 – 190), na visita a Santo Antônio do Cabo [Cabo de Santo Agostinho], se registra a 17 de dezembro de 1641:

“A 17 viajei para Santo Antônio do Cabo... (pg. 148) [...] Entendi-me com Martinus de Coutre sobre prestações vencidas da compra de seu engenho (p. 149). [...] Também alguns senhores de engenho e moradores de Santo Antônio [do Cabo] se quixaram de que a água ou rio ali era conspurcado por outros senhores de engenho, que nele jogavam o bagaço [de cana], o que era causa de muitas doenças. Ordenei a [não indica] que redigisse um edital proibindo o abuso, para ser apresentado para exame a S. Ex.a e ao Alto Conselho” [2] (p. 150).

[1] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004, pp. 148 - 152).
[2] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004

ENGENHOS DE IPOJUCA NA GUERRA HOLANDESA
Ainda os engenhos da região

Engenho Velho - Santo Antônio dos Montes
Com a palavra agora o historiador Fernando Pio, em seu escrito “A Caminho da Histórica Ipojuca”, no livro Resumo Historico do Convento de Santo Antonio e do Santuario do Senhor Santo Christo de Ipojuca, edição comemorativa do Jubileu do Santuário *1663 – 1938), organizado por Frei Venâncio Willeke, Ipojuca, 1938, pp.16-17:

“Interessante a lenda que nos refere Jaboatão no seu Novo Orbe Seráfico a respeito desta igrejinha: conta-nos o cronista franciscano que a milagrosa imagem de Santo Antônio, ali venerada, fora encontrada em plena mata. Não existindo, ainda, naquela época, capela ou igreja no engenho, levaram a imagem para a capelinha de São José, nas imediações da cidade do Cabo. Qual não foi a surpresa, entretanto, no dia seguinte, ao constatarem, que a imagem já não se encontrava no altar em que fora colocada. E onde estava a imagem? Em plena mata, no mesmo local em que vivia anteriormente.... Pela segunda vez repuzeram-na em seu altar na igrejinha de São José. Novamente a imagem desapareceu. E voltou ao seu pouso primitivo. Uma terceira tentativa ainda foi experimentada. Novo insucesso. Compreenderam, assim, os moradores do engenho que o santo havia escolhido por habitação de sua imagem aquele local e, deste modo, apressaram-se a levantar, sem demora, a sua capelinha. E esta é a igrejinha que avistamos com o sugestivo título de Santo Antônio dos Montes do Engenho Velho.”

Mas vamos um pouco adiante na narrativa de Fernando Pio. Santo Antônio dos Montes do Engenho Velho é um engenho muito ligado a história do célebre Frei Cosme de São Damião, e. portanto, ao Convento de ipojuca:

“Foi neste engenho que antes de abraçar a vida franciscana viveu durante sete anos o piedoso Frei Cosme de São Damião.

Filho de colonos portugueses, dedicou-se, na mocidade, à vida agrícola e, conforme nos refere Jaboatão, do campo à casa de purgar Cosme Manuel, o mancebo, pelo seu bom gênio officioso e devoto já demonstrava a piedosa vocação religiosa que o faria amanhã o estimado frade franciscano.

Até há poucos anos, existia neste referido engenho um retrato a óleo de Fr. Cosme de São Damião.”

Falando sobre este engenho a uma paroquiana de Ipojuca, ela me contou que o tal engenho fica em Ponte dos Carvalhos, e que, quando criança, foi com seus pais visitar a Capela do Engenho, levados pela devoção a Santo tão milagroso, que escolhera aquele lugar para morar.
Segundo Josias, fica no Cabo de Santo Agostinho, após a Destilaria do Cabo, sentido Recife (lado esquerdo).

Engenho Jurissaca
Este engenho ficava no Município do Cabo. Vem do início do século XVII, conforme Fernando Pio. Num alto, mais à frente encontram-se as ruínas de uma capelinha dedicada a São Gonçalo, célebre pelo fato de alguns restauradores pernanbucanos terem promovido aí as primeiros reuniões com o fito de expulsar os invasores holandeses. Na época em que Fernando Pio redigiu este escrito, a capelinha não podia ser vista da estrada, pois se erguia no meio da mata. Será que ainda existe em nossos dias? De acordo com Sebastião Galvão, o dito engenho pertencia a João Paes Barreto, tinha uma capela sob a invocação de São João Batista instituída primitivamente em1626. João Paes Barreto foi o fidalgo português que se destacou entre os colonizadores das terras do Cabo de Santo Agostinho e da Vila de Santo Antônio do Cabo. Veio para Pernambuco ainda bem jovem e solteiro em 1557. Casou-se com Dona Inês Guardez de Andrade, filha do rico colono Francisco Carvalho de Andrade. “De posse das doações de grandes lotes de terra, fundou ele um engenho a que deu o nome de Madre de Deus, situado em uma légua de terra, - à margem do rio Arassuagipe nos brejos do Cabo de Santo Agostinho – e sucessivamente os de Jurissaca, Algodoais, Trapiche, Guerra, Ilha e Santo Estêvão. Em 28 de outubro de 1580, instituiu João Paes Barreto um morgado [...] conhecido depois por Morgado dos Paes ou do Cabo. O engenho Madre de Deus veio a chamar-se também Engenho Velho.

Engenho Algodoais
Engenho sem expressa histórica, segundo Fernando Pio merendo ser lembrado por guardar em sua capela um altar “lembrando o gótico”, (!) que pertenceu ao Santuário do Santo Cristo de Ipojuca e que, depois do incêndio deste templo, foi para ali transferido, como doação do Rev. Frei Venâncio, Guardião do Convento de ipojuca”. Deve ter sido um dos altares de madeira construído pelos frades alemães restauradores, como os que vemos na fotos da igreja incendiada. Segundo Sebastião Galvão, era um engenho “no Município do Cabo, fundado por Miguel Paes antes da invasão holandesa, fica ao Sul as sede e tem uma capela dedicada a S. Francisco”.[1] À época da referida doação aquele engenho pertececeria à Freguesia de São Miguel de Ipojuca? Outra pergunta: e como explicar o altar tipo “gótico” que ainda hoje se vê na capela restaurada do Engenho Penderama? Certamente foi para lá após o incêndio da igreja do Convento. Das duas uma: ou Fernando Pio se enganou ao dar como destino daquele altar a capela de Algodoais e não a de Penderama, ou esta última teria merecido também um dos altares da igreja do Senhor Santo Cristo. Fica, porém, um problema a ser resolvido, pois consta que todos os altares da igreja do Convento foram destruídos pelo incêndio. Defendo a hipótese que seriam os antigos altares (não mais os primitivos) que os alemães encontraram e dele se desfizeram para dar lugar aos novos, góticos, que vemos nas fotos de antes do incêndio. Mas é, de qualquer forma, estranho que fossem altares “góticos” e não barrocos como deveriam ser, e como, por sinal, o é o altar-mor da Matriz de Miguel, que fora do Convento para lá, como reza outra tradição.

Engenho Mercês
Sebastião Galvão escreve parcamente: “Mercês – Eng. do mun. de Ipojuca, tem uma cap. da inv. De N. S. das Mercês. Fica ao norte e a cinco kiloms. De N. S. do Ó”. Vale registrar o que escreve também sobre o riacho do mesmo nome: “Mercês – Riacho – Nasce no mun. de Ipojuca, no eng. de seu nome, e depois de quatro kilms. de curso despeja no rio Ipojuca. Sobre este rio está a ponte do Salgado; e as embarcações de pequena cabotagem chegam até ahi, pelo que o denominam de porto do Salgado”.[2] Já Manoel da Costa Honorato diz que o riacho das Mercês (sic) “nasce do engenho deste nome e despeja no Rio Ipojuca, depois de légua e meia de curso”.[3]

Fica a 5 km de Nossa Senhora do Ó a cuja paróquia hoje pertence, se bem que no Município de ipojuca.

Parece que o Engenho Mercês não existia ao tempo da Guerra Holandesa (1630 – 1654). Não aparece seu nome nos relatórios holandeses.
Na Revolução Pernambucana de 1817 foi um dos pontos de concentração das tropas do Governo contra os revoltosos.

O Engenho Mercês foi visitado pelo Senhor Bispo de Pernambuco, Dom João Marques Perdigão.

No dia 03 de janeiro de 1836 chegara ao Engenho Maranhão às 9 horas da manhã, vindo do Engenho Santo Antônio Grande, acompanhado de muitos cavaleiros. Celebra no Engenho Maranhão. Tensionava viajar para a Matriz de Camaragibe no mesmo dia, mas, por insistência de Bernardo de Mendonça, dono do Engenho, aí pernoitou. Pelas 8 da manhã seguiu viagem para Camaragibe. [4]

No dia 17 de janeiro de 1836, visitara o Engenho Sibiró chegando aí pelas dez e meia manhã, acompanhado de alguns padres e seculares, vindo a seu encontro o Senhor desse engenho e seu irmão; achou “mui rica” a capela desse engenho.; aí crismou 30 pessoas. [5]

Pelas 4 horas da tarde se dirigiu ao Engenho Mercês; os cavaleiros o acompanham por espaço de uma légua; às oito da noite chega ao Engenho Mercês.

No dia 18 de janeiro, na Capela do Engenho, que o Senhor bispo achou também “muito rica”, crismou 20 pessoas. Na sua despedida foi acompanhado por alguns cavaleiros até o Engenho Garapu.[6]

Estas visitas se deram na volta da grande viagem que fez a cavalo pela Mata-Sul do Estado até Maceió e Penedo (AL). Na ida para Alagoas, permaneceu dois dias em Ipojuca, participando da festa do Senhor Santo Cristo a 1° de janeiro de 1835. Pouco mais de um ano depois aconteceram as referidas visitas aos Engenhos Maranhão, Sibiró e Mercês.

Por ocasião da visita de Dom Pedro II à Província de Pernambuco (de 22 de novembro a 24 de dezembro de 1859), o Engenho Mercês entrou no itinerário das visitas do Imperador. No dia 10 de dezembro Sua Majestade Imperial encerrou a visita ao Cabo, aonde chegara, pela manhã, por via férrea. Depois de cumprido todo o cerimonial naquela Vila, partiu, pelas 5 horas da tarde, a cavalo, para Sirinhaém (a família imperial, como de costume, viajava de carruagem). Perto das 8 horas da noite chegam ao Engenho Mercês. Passam a noite na casa-grande do proprietário, o Sr, Tenente-Coronel Manuel José da Costa “que nada poupou para obsequiar o seu Augusto Hóspede e toda a sua comitiva. Dezembro, 11. Às 5 horas da manhã Sua Majestade o Imperador ouve missa na capela do engenho, seguindo depois para Serinhaem tendo primeiramernte ido ver de uma montanha em terras do mesmo engenho a vila de Nazaret”. [7]

Informações que me foram passadas, a 1° de janeiro de 2008, pelo Sr, Benjamim Souza Leão, do sítio Canoas (Nossa senhora do Ó):

O Sr. Benjamim (hoje com 84 anos) já em menino conheceu o Engenho Mercês pertencendo à Usina Salgado. O primeiro dono da usina de que ele tem conhecimento: o Sr. Joaquim Xavier. Depois foram os franceses Ponté e Vallac. Em seguida pertenceu ao Pai de Armando Carlos de Brito, da praia do Cupe, casado com Dona Carosita Arcoverde de Brito, sobrinha do Cardeal Arcoverde.

Os proprietários seguintes foram, sucessivamente, Joaquim Bandeira de Melo (no tempo da guerra), o Cardoso e seu filho Rui Cardoso e o espanhol Fernando Perez. Finalmente foi comprada pelos Queiroz da Usina Bulhões de Jaboatão. Hoje um dos donos é Marco Queiroz, irmão de Dona vera da Usina ipojuca (casada com Francisco Dourado).

Na capela do Engenho Mercês, diz o Sr. Benjamim, está sepultado o padre Salesiano Luís Marinho Falcão. Quando ele era menino, seu pai veio de Paudalho, com a família, trabalhar na Usina Salgado. Moravam no Engenho Mercês. Foi aí que nasceu a vocação religiosa do garoto. Sua mãe era Dona Nitinha e freqüentavam muito o sítio Canoas. Luís e Benjamim se tornaram amigos desde criança. Benjamim era coroinha dos frades que cuidavam de nossa Senhora do Ó. Por que o menino foi para um seminário salesiano e não franciscano é o que não sabemos. Seus restos mortais se encontram na capela das Mercês certamente a pedido da família.

Na década de 80, o Engenho Mercês contava com a assistência de Frei José Ademir. Em 1985, Frei José Milton se encarregou deste Engenho, pois com a ida de Frei Ademir para Olinda, o Engenho ficou certo tempo sem assistência certa, vindo a se extinguir totalmente a Catequese. Assim mesmo celebramos a Festa de Nossa Senhora das Mercês, de 15 a 20 de outubro de 1985.
Foi muito bem participada a reunião de preparação. A Comunidade assumiu a organização da Liturgia, sem se escorar nos noviços. A Banda Santa Cecília abrilhantou a festa. Mas não houve Primeira Comunhão. A missa da festa começou campal, mas havia tanta zoada do serviço de som da festa externa e do vozerio das pessoas certamente alcoolizadas, que o Capelão teve de interromper por várias vezes a celebração, exigindo respeito, sem nenhum resultado positivo. As palavras caíam no ar. Frei José Milton consultou a comunidade e, com a aprovação de todos, prosseguiu a missa no interior da capela. No outro dia ficou sabendo da tragédia: dois pais de família, amigos, se mataram a golpes de estrovenga, por causa de bebida. Com isto, acabou-se toda a alegria da festa. A Missa de 7º Dia Fr. José Milton celebrou pelos dois, a pedido de suas famílias , sinal que não havia espírito de vingança, pelo contrário, deram mostra de solidariedade na provação. Afirmaram as pessoas que não houve relação do caso com o barulho que prejudicou a missa. Deus o sabe.

Em 1986, Frei José Milton restabeleceu a Catequese com catequista local (Zefinha ou Finha), de forma que, pela festa de N. Senhora das Mercês (21-10-1986) houve Primeira Comunhão de 12 crianças. A Banda Santa Cecília desta vez não pôde comparecer. Tudo se realizou a contento. Parece que o exemplo negativo do ano anterior serviu de remédio.

Concluímos com uma referência ao Engenho São Francisco, por ser desconhecido da maioria dos ipojucanos, engenho, segundo ouvi dizer, da família da viúva do poeta Mauro Mota.

Engenho São Francisco
(Informações colhidas de D. Teresinha de Catonho)

Esse Engenho ficava onde hoje é um depósito de Açúcar, perto da saída de Ipojuca na direção do Recife. Pertencia ao Dr.Antônio Dourado, esposo de Lourdes Dourado, pais do atual dono da Usina Ipojuca, Francisco Dourado.

D. Teresinha se criou no Engenho S. Francisco, onde moravam os seus pais. O pai dela, Antônio Gomes Catonho, trabalhava para o Engenho.

D. Teresinha ainda se lembra dos festas de S. Antônio e S. Pedro no Engenho. As celebrações religiosas feitas com novenas eram muito participadas pelo povo.

Cantavam todos os dias da novena:

Oh! que alegria,
Oh! que prazer,
De ver Santo Antônio
(ou S. Pedro e São Paulo, se era a feasta deles)
Resplandecer.

Vinde crianças
Ao pé do altar,
Ajoelha primeiro
Para poder beijar.

Vinde moços...

Estribilho: “Oh! que alegria...”

Vinde moças...

Estribilho: Oh! que alegria...”

Poucas pessoas em Ipojuca conheceram o Engenho S. Francisco. Sua memória histórica perdeu-se com o tempo.

[1] GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos, Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, Edição fac-similar, Governo de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Recife, 2006, Volume I, 2.a Edição, p. 20.
[2] GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos, Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, Edição fac-similar, Governo de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Recife, 2006, Volume I, 2.a Edição, p.386.
[3] HONORATO, Manoel da Costa, Dicionário Topográfico, Estatístico e Histórico da Província de Pernambuco, Governo do Estado de Pernambuco, Recife, 1976, p. 70. O Dicionário de Honorato é de 1863; o de Sebastião Galvão é de 1897. Sebastião Galvão publicou o seu Dicionário “quase quarenta anos depois do Dicionário de Honorato”, como escreve José Antônio Gonçalves de Mello no Prefácio da edição de 1976.
[4] Conf. Itinerário das Visitas do Bispo de Pernambuco, Revista do Instituto Histórico Geográfico do Brasil, LV, Parte I, p. 86. Conf. também : Visita ao Engenho Maranhão: Visita a Ipojuca, p. 83
[5] Conf. Itinerário das Visitas do Bispo de Pernambuco, Revista do Instituto Histórico Geográfico do Brasil, LV, Parte I, p. 86. Conf. também : Visita ao Engenho Sibiró, p. 85.
[6] Conf. Itinerário das Visitas do Bispo de Pernambuco, Revista do Instituto Histórico Geográfico do Brasil, LV, Parte I, p. 86. Conf. também : Visita ao Engenho Maranhão: Visita a Ipojuca, pp. 27 e 28.
[7] Apud O Monitor das Famílias , Edição comemorativa à visita do Imperador Dom Pedro II a Pernambuco – 1859 – Fac-simile da 1ª Edição – Governo de Pernambuco, Recife, 1985, pg. 68.

ENGENHOS DA FREGUESIA DE IPOJUCA E DA REGIÃO
Conforme relatórios holandeses
(DO DOCUMENTO 4 DOS RELATÓRIOS HOLANDESES:
INVENTÁRIO DE TODOS OS ENGENHOS SITUADOS ENTRE O RIO DAS JANGADAS E O RIO UMA, EM PERNAMBUCO, FEITO PELO CONSELHEIRO WILLEN SCHOTT EM 1636)

[1]

Sobre o Engenho Tabatinga
“Engenho de Tabatinga, de Santa Luzia, pertencente a Cosme Dias da Fonseca, que fugiu, situado calculadamente duas milhas distante do Cabo. Mói com água e tem um belo açude. A casa de purgar e a casa das caldeiras são de alvenaria, mas muito velhas e começam a decair. Tem também cerca de uma milha e meia de terra com uma boa várzea, bem plantada com canavial, que anualmente pode produzir cerca de 5.000 a 6.000 arrobas de açúcar; as caldeiras e os tachos foram todos retirados.” [2]

Sobre o Engenho dos Salgados
“...do mesmo Cosme Dias, situado uma milha e meia distante do antes citado engenho, tem cerca de uma milha de terra, na maioria várzeas, das quais se obtêm boas canas...

Mói com bois e tem duas moendas e, pela comodidade do rio Ipojuca, que corre bem perto, pode moer o ano inteiro. Tem fornecido 5.000 arrobas e paga de recognição 30 arrobas de açúcar branco e encaixado; a casa de purgar tem paredes de taipa, mas está totalmente destruída, como também as moendas; as caldeiras foram retiradas e escondidas.” [3]

Sobre o Engenho São Paulo
“... situado um quarto de uma milha ao noroeste do acima mencionado dos Salgados. Pertence a várias pessoas, entre as quais Pedro da Grand, que como maior participante é o feitor-mor; os outros donos fugiram e alguns moram em Portugal. Em nome deles o citado da Grand obrigou-se a dar boa conta do engenho. Este mói com bois e tem 600 vaden de terra em quadra, parte da qual é plantada com cana,enquanto a outra parte consiste de pastos, mas não tem matas e por isso tem que comprar toda a amadeira, o que é muito oneroso.

Pode anualmente fornecer 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar, e paga 2 por cento de recognição.” [4]

Sobre o Engenho Bom Jesus
“... pertencente a Dona Isabela de Moura. Está situado perto do supra citado engenho e a um quarto de milha distante de São Miguel de Ipojuca. Tem uma moenda de água e uma de bois; a casa de purgar e a casa da proprietária estão totalmente desmoronadas, mas a casa na qual estão as moendas ainda é nova. Este engenho tem duas milhas de terra, com muitos vales e lindos canaviais, como também madeira pastos para os animais. Pode anualmente fazer 9.000 a 10.000 arrobas de açúcar e paga de recognição 30 arrobas de açúcar branco e encaixado. Na casa de purgar foram encontrados 172 formas, das quais alguma quebradas, as quais renderam 155 arrobas de açúcar mascavado, que foram encaixados em 14 caixas. Numa barraca cerca de uma milha e meia distante foram ainda encontradas 9 caixas de um particular que tinha fugido.” [5]

Sobre o Engenho Bertioga
“... situado a um quarto de milha distante do citado engenho Nossa Senhora da Conceição; pertence a Luís Lopes Tenório, que fugiu com Albuquerque; (...) pode anualmente fazer 3.000 a 4.000 arrobas de açúcar e paga 3 por cento de de recognição...” [6]

Sobre o Engenho Maranhão
“... situado meia milha distante do referido engenho Três Reis, pertencente a um certo castelhano João Tenório, que fugiu com Albuquerque (...). Mói com água e pode anualmente produzir 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar e paga 3 por cento de recognição...” [7]

Sobre o Engenho Pindoba
“...situado duas milhas distante de Ipojuca, pertencente aos órfãos de Gaspar da Fonseca, dos quais o filho mais velho se encontram aqui e as filhas estão num convento em Portugal. Tem uma moenda de água e outra de bois, um belo açude e cerca de meia milha de terra, na qual está uma várzea tão bem plantada que anualmente o engenho pode fornecer 3.000 a 4.000 arrobas de açúcar; paga a recognição de 50 arrobas de açúcar branco e 30 arrobas de açúcar mascavado encaixados. De uma barraca, situada em torno desse engenho, foram conduzidas para a Companhia 17 caixas de açúcar branco e mascavado,” [8]

Dia 19 do mesmo [mês de dezembro]. Antes de meio dia parti de ipojuca em direção a Sirinhaém, detendo-me na casa de Francisco Dias Delgado, e visitei o engenho Pindoba [...] À noite, por volta das 8 horas, cheguei ao engenho Sibiró de Baixo e aí pernoitei. Dia 20 do mesmo. Pela manhã, montei para continuar a viagem para Sirinhaém ...” [9]

DOC. 5 (DE 1637-1639) E DOC. 6
( de 4 de abril de 1640). [10]

1) Engenho Sibiró de Baixo, dedicado a São Paulo. Dono: Francisco Soares Canha [sic]. Mói a água.
2) Engenho Sibiró de Cima, foi de João Carneiro de Mariz passou a Manoel de Navalhas; foi confiscado e vendido a João Carneiro de Mariz. Engenho movido a água. Funcionando.
3) Engenho Cocaú. Pertenceu a Antônio Gonçalves da Paz. Foi confiscado. Acha-se destruído e ainda não foi vendido.
4) Engenho Maranhão. Confiscado. O seu dono, João Tenório, se passou para os holandeses, mas teve que compra-lo (!). É d'água e moente.
5) Engenho Coroaçu. Pertencente a Manoel Vaz Viseu que se passou para os holandeses. É movido a água, em funcionamento.
6) Engenho Bertioga, Foi confiscado e vendido a seu proprietário, João Tenório, que ficou do lado dos holandeses. Em funcionamento, movido a água.
7) Engenho Nossa Senhora do Rosário, Confiscado e vendido a João Carneiro de Mariz. É movido a água e está em funcionamento.
8) Engenho Bom Jesus, chamado também Trapiche, a água e moente. Confiscado e vendido a Duarte Saraiva.
9) Engenho Guerra (ou da Guerra), movido por bois, em funcionamento. No Doc. 5 (1637-1639) se diz que algumas partes deste engenho foram confiscadas e vendidas ao Sr. Hendrick Schilt.
Já no Doc 6 (1640) consta que o Engenho da Guerra, pertence a Jacobus Corderus e Baltasar Wijntgens.
10) Engenho São João Salgado, pertenceu a Duarte Saraiva; passou a Cosme Dias, que reside entre os inimigos dos holandeses. Confiscado e vendido a Mateus da Costa. É de bois e estava parado.
11) Engenho Pindoba. Pertenceu a Gaspar da Fonseca Carneiro e estava nas mãos de seu filho. É d´água e em funcionamento..
12) Engenho Santa Luzia, confiscado e vendido a Amador Araújo. É d´água e moente.
13) Engenho Aratangil, de Miguel Fernando de Sá, movido a água, em funcionamento.
14) Engenho Pantorra, de Nicolas D´Haen, L´Empereur & Cia, “é engenho d´água, inteiramente arruinado. Está sendo reparado e replantado para moer no ano vindouro”.

SENHOR SANTO CRISTO DE IPOJUCA



IMAGEM DO MILAGROSO SENHOR SANTO CRISTO

Origem do culto ao Senhor Santo Cristo



Ipojuca tornou-se a terra de Santo Cristo em 1663, ano em que a imagem milagrosa deve ter vindo de Portugal.



[...] A devoção nascida no Calvário e reavivado por São Francisco no Monte Alverne, encontrou um ninho caloroso na modesta igreja conventual de Ipojuca. Teatro de cenas bélicas durante a Guerra Holandesa, devia o Convento receber a recompensa pela atitude dos franciscanos "e também dos ipojucanos" na luta contra a heresia calvinista dos invasores. Enquanto os vencedores levantaram templos à Nossa Senhora dos Prazeres e a outros Santos, em Ipojuca o Senhor Santo Cristo escolheu o santuário onde seria adorado e invocado.



[...] Sobre a origem desta devoção e a vinda da imagem milagrosa, faltam-nos dados históricos. A crônica franciscana de Ipojuca limita-se a dois termos que descrevem as cerimônias de aposição da primeira pedra e de inauguração do santuário (ou capela lateral da igreja do convento).



[...] Contentemo-nos, pois, com os dados críticos e indubitáveis que Jaboatão transcreveu do cartório [arquivo] franciscano de Ipojuca:



Trata-se, primeiro, do lançamento da primeira pedra no alicerce da capela do Bom Jesus. Foi no domingo 4 de novembro de 1663, em missa cantada pelos Religiosos Franciscanos. A pedra foi benzida pelo Guardião Frei Manuel da Presentação. Os que botaram a pedra embaixo foram o mesmo guardião e o Capitão Francisco Dias Delgado, doador da imagem, doador e patrono da Capela. A pedra foi assentada pelo pedreiro Pantaleão da Silva. Participaram da celebração os Padres seculares Antônio Pereira da Cunha e Francisco Martins Pereira.[1]



Com a palavra Frei Jaboatão:

Em segundo lugar: “Decorridos 22 meses após o lançamento da primeira pedra, celebrou-se com toda a pompa a entronização da imagem milagrosa..” Era o dia 14 de setembro uma segunda-feira, de 1664), festa da Exaltação da Santa Cruz. “veiu em procissão da Matriz para este Convento, carregando o andor oito religiosos sacerdotes. Cantou a missa em a mesma Capela o Irmão Pregador Frei Bernardo da Encarnação, sendo Comissário provincial o Irmão Frei Aleixo da Madre de Deus, e pregou o Irmão Frei Daniel de São Francisco, Mestre de Teologia e padre da Província.”[2]



O Guardião do Convento não era mais Frei Mateus da Apresentação, como escreve Frei Jaboatão, mas Frei Melchior dos Anjos (19-04-1664 a 08-08-1665). Aquele foi Guadião até 19 de abril de 1664 e retornou a 08 de agosto de 1665, quando Frei Melchior lhe passou o cargo que dele recebera.[3]



AS LENDAS

A tradição oral e o folclore envolveram os fatos históricos de ricos detalhes. Difícil, porém, é a comprovação científica dos mesmos. Frei Jaboatão, criterioso como era, achou por bem relatar o que se contava de pais para filhos entre as famílias dos Albuquerques Maranhões, e, por que não dizer, do povo de Ipojuca. Deve haver na versão popular um fundo histórico, sem dúvida. Frei Venâncio afirma, com base em documentos, serem históricas as personagens relacionados com o que conta a lenda sobre a origem do culto e do Santuário (Capela) do Senhor Santo Cristo.[4]



O jovem frade leigo, Frei Antônio de Santa Maria, filho de Matias de Albuquerque Maranhão, professara neste convento de Ipojuca aos 29 de agosto de 1660. Era sobrinho do Capitão Francisco Dias Delgado, dono do Engenho Trapichre, vizinho do Convento. Fora encarregado de zelar pelo coro do Convento, onde havia, como era costume, um crucificado de frente para as estalas e de costas para o corpo da igreja (como se vê, ainda hoje, no Convento de santo Antônio do Recife e no de Salvador).



Vamos, agora, à tradição oral.



Ao espanar aquela imagem, estava ela tão estragada, que não resistiu ao espanador, desprendendo-se da cruz e espatifando-se no chão.



Receoso do castigo, Frei Antônio fugiu para a casa do tio, pedindo-lhe ajuda. Ora, Francisco Dias Delgado era e grande benfeitor dos frades. Prometeu ao Superior mandar vir do Reino uma imagem que substituísse a que ficara irrecuperável. Encarregou disto o seu procurador. Mas este, estando em Portugal, esqueceu a recomendação do Senhor do Engenho Trapiche e não cuidou de mandar fazer a imagem que lhe tinha sido pedida. Mas eis que, à véspera da viagem de volta, foi procurado por um desconhecido que lhe perguntou se não queria uma imagem do Senhor santo Cristo. Era muito comum encomendas de imagens para a colônia brasileira. O procurador caiu em si e aceitou logo aquele Santo Cristo, embora reconhecendo ser grande demais para nicho em que ia se colocado. Ficou logo com a imagem, prometendo-lhe o vendedor comparecer ao navio no outro dia, em tempo de receber o pagamento ajustado. Só que não foi mais visto, por mais que aquele procurador fizesse para localizá-lo.



A lenda vai além do referido por Jaboatão. Conta-se que os ventos desviaram o navio da rota do Recife, aportando ao Porto das Galinhas, terras do Capitão Dias Delgado. Este examinou a imagem. Como era desproporcional ao nicho que a aguardava, resolveu fazer doação dela a outra igreja da região (a de Nossa Senhora do Ó? – perguntamos nós). Preparou-se um carro–de-bois especial para transportar a imagem à igreja onde deveria ser entronizada. Mas os animais não obedeciam ao comando do carreiro. Só queriam tomar o caminho de Ipojuca. Avisado do ocorrido, Dias Delgado determinou que deixassem os bois livres para tomarem o rumo que desejassem. Os irracionais seguiram o caminho contrário, atravessando os canaviais, sem parar, até chegarem ao Convento dos frades. Dias Delgado resolve recolhe-la, provisoriamente, na matriz de São Miguel, prometendo aos frades providenciar outra imagem para o coro do convento. E toma a determinação de construir na igreja do Convento uma Capela lateral onde, de acordo com os frades, seria entronizada a imagem do Santo Cristo cuja fama de milagrosa se espalhara por toda parte. E às suas espensas logo se começa a construir o santuário que se denominou do Senhor Bom Jesus.



Escreve Fr. Venâncio: “Já que a fama dos milagres acompanha a imagem desde Portugal, interpreta-se também como maravilha o encontro da cruz”. Teria sido uma dádiva da natureza: com pouco trabalho, se pôde fazer dela a cruz inteira, servido o tronco de haste vertical e dois galhos de trave, de tal maneira tão ajustada, que, segundo Pereira da Costa, isso não se teria conseguido melhor se os braços da imagem fossem postiços, permitindo remanejamento. O que, de fato aconteceu, conforme a tradição, foi que a árvore se adaptou perfeitamente à imagem, sem que preciso fosse alterar em nada o original, que, pela sua grandeza é de uma bem disposta e perfeita imagem de homem.[5]



“Dias Delgado, o fundador da capela, não ficou como seu padroeiro, e nem constituiu para ela patrimônio algum, porque já o era do altar da Conceição da igreja do mesmo Convento, e assim permaneceu até o ano de 1700, quando em congregação dos padres foi a capela do Bom Jesus concedida a João de Novalhas, para sepultura sua e dos seus herdeiros com o ônus de cem mil réis anuais para o seu ornato, para o que encabeçou ele quatro mil cruzados no seu engenho e terras de Sibiró de Riba.” [6]



Voltando ao núcleo histórico, demos a palavra a Jaboatão: “É a cruz inteiriça, como fica dito e por novo exame ou revista que de presente se fez, por instância nossa, se acha ser assim.” [7]



De onde vem, perguntamos nós, que se tenha divulgado o mito de que a imagem do Senhor Santo Cristo de Ipojuca tenha características jansenistas, o que consideramos pura fantasia. É de estranhar que nunca tenha sido feito este reparo pelas autoridades religiosas desde o século XVII até hoje. Se o fosse, certamente teria havido alguma advertência daqueles a quem cumpria o dever de preservar a ortodoxia do culto católico, e isto nunca aconteceu. Dom João Marques Perdigão, Bispo de Pernambuco, na Visita Pastoral à freguesia de Ipojuca (de 31 de dezembro de 1834 a 04 de janeiro de 1835) , destaca em seu diário o esplendor do seu culto e a piedade dos romeiros que demandavam a Ipojuca “desta e de outras freguesias”. Ele mesmo fez sua visita ao Senhor Santo Cristo e elogia a decência da igreja do Convento que o hospedou, como veremos adiante.



Consta que os jansenistas não aprovavam imagens de Cristo com os braços abertos, pois, para eles, isto significaria uma abertura muito grande para a salvação de todos. Os braços levantados de Cristo apontavam para o céu, destino apenas dos escolhidos. Não sabemos a quem atribuir este particular da doutrina jansenista. Sabemos que o padre holandês Cornélius Jansen, a partir da França no século XVII, embora se dizendo católico, investia contra o Papa e a Igreja romana, sendo combatido pelos jesuítas que o consideravam calvinistas camuflado. Condenado como herético pelo papa Urbano VI, Jansen espalhou sua doutrina pelo mundo católico criando em várias partes igrejas independentes. Sua doutrina se caracterizava pelo rigorismo extremo em questões de moral. Este moralismo, sim, passou sorrateiramente para pastores e fiéis, está presente na literatua ascética e moral de autores portugueses que o passaram para suas colônias. Deus era visto muito mais como Juiz implacável do que como Pai misericordioso e bom.



Já vimos que em maio de 1763, escrevia Fr. Jaboatão, ter sido a cruz do Senhor Santo Cristo examinada a seu pedido e o estudo revelou que ela se conservava como era originalmente: “inteiriça”.



Frei Venâncio diz que a cruz não é mais a original: “Ao ser feita a nova encarnação da imagem, em 1937, partiu-se a trave transversal da cruz, deixando patente a emenda artificial.” [8]



A cruz primitiva que, segundo Jaboatão, era inteiriça, há muito deixou de existir.



O resplendor que realça a cabeça da imagem traz a inscrição: “ 1682 MANDOU FAZER O PADRE MARCOS GOUVEIA, S.G.” [9]



Para concluir esta parte, uma transcrição do historiador Padre Manuel Barbosa [10] sobre as numerosas invocações do Crucificado entre nós: “Como enternece a alma católica procurar um bálsamo para mitigar as dores físicas e morais, invocando o Senhor Bom Jesus da Agonia, da Esperança, da Consolação, da Boa Sentença, do Bonfim, dos Navegantes, do Bom Caminho, dos Milagres, dos Pobres, dos Necessitados, dos Agonizantes... dos Perdões, dos Remédios, da Cana Verde...”



E Frei Venâncio prossegue: “Os mais célebres santuários brasileiros dedicados a N. Senhor Jesus Cristo são: Sr. do Bonfim e Sr. Bom Jesus da lapa, Bahia; Sr. Santo Cristo de Ipojuca, Pernambuco; Sr. Bom Jesus de Matosinhos e Sr. Bom Jesus de Congonhas, Minas; Sr. Bom Jesus de Pirapora e Sr. Bom Jesus dos Perdões, São Paulo; Sr. Bom Jesus de Iguape em Santa Catarina. O santuário de Ipojuca é dos mais antigos.” [11]



Poderíamos acrescentar muitos outros, entre eles a imagem milagrosa Cristo das Necessidades, venerado numa capela laterai da igreja do convento franciscano daquela cidade: “intronizada em seu altar em 1775”, 100 anos depois da do Senhor santo Cristo de Ipojuca.[12]



Os jansenistas não conseguiram tirar da alma de nosso povo a ternura e a compaixão pelo Cristo Crucificado, “escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1Cor 1. 23).



A imagem do Senhor Santo Cristo juntamente com a cruz está sendo restaurada em Olinda. A do Senhor Morto já o foi e consta na abertura deste blog.



[1] Conf. Id. Ibd. pp. 34 a 35. Conf. também op. cit. nota 1 ao Cap. X, p. 87.

[2] Conf. Id. Ibd. p. 35

[3] Conf. Id. ibd. nota 2 ao Cap. X, p.87. Conf. também a lista dos Superiores do Convento de Ipojuca, op. cit.. p. 78, N.º 27.

[4] Id. Ibd. p. 36.

[5] COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 511.

[6] COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 512..

[7] Apud WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg. 38. Conf. também COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 511 a 112.

[8] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg. 38. Conf. também COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 94, nota 6.

[9] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg. 38. Conf. também COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 69.

[10] BARBOSA, Padre Manuel -, A Igreja no Brasil, p. 263.

[11] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, op. cit. nota 7 ao Cap. XI, p. 88.

[12] Id. Ibd. p. 40.



IMAGENS DO CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO DE IPOJUCA

Escreve Frei Venâncio: “As primitivas imagens do Convento de Santo Antônio eram de cerâmica; provavelmente tiveram como autor o franciscano português Frei Francisco dos Santos, a cuja perícia muitos Conventos antigos tiveram a planta e as imagens. A única relíquia das imagens de barro é a cabeça de um santo franciscano, não identificado, que se encontrou em 1935, ao ensejo das escavações feitas para o alicerce do altar-mor."

Sobre a procedência e época das imagens de madeira, faltam dados minuciosos, traindo o estilo barroco, a que obedecem os séculos XVII ou XVIII.”[1]

Comparando-se os bens móveis dos inventários de 1648 e 1852, “nota-se enorme perda de imagens, devido, provavelmente, ao abandono do convento em fins do século XIX.” [2]

Segundo Frei Venâncio, as imagens do convento de ipojuca “estão assim localizadas:

No altar-mor: Sr. Santo Cristo de Ipojuca, ao centro; Santo Antônio de Lisboa, à esquerda; S. Francisco de Assis, à direita.

Nos altares laterais: N. S.a da Imaculada Conceição, à esquerda; S. José e S. Miguel Arcanjo, à direita.

Na capela dos milagres: Sr. Morto e S. Benedito, o preto.

Na capela lateral (antigo Santuário): S. Roque.

Nos nichos: N. S.a das Dores e N. S.a da Piedade, em frente ao púlpito (que, lamentavelmente não existe mais!); Santa Luzia, à entrada da igreja; Santo Antônio de Lisboa, na portaria; N. S.a do Capítulo, no oratório da comunidade (atualmente na sala de Recreio).

Consta no Inventário de 1852 que tinha “1 par de brincos de ouro, 7 espadas com copos de ouro” de Nossa Senhora das Dores e “3 anéis de ouro da mesma senhora”.

No salão dos Guardiães: S. Benedito e Santo Franciscano (fragmentos).” [3]

As imagens de São Vicente, de S. Cosme, de Nossa Senhora da Soledade, de Sant'Ana , de S. Joaquim e de Nossa Senhora do Rosário já não existem. A atual imagem de Nossa Senhora da Soledade foi doada ao Santuário em 1940, sendo, como as demais antigas, de madeira.” [4]

No Inventario de 1852, consta um diadema de Nossa Senhora da Soledade.

Não sabemos de onde vieram as imagens de madeira, de S. Joaquim e de Sant'Ana com a Menina, que hoje vemos de um lado e outro da entrada da Secretaria da Paróquia (no Convento).

No mesmo Inventário consta o resplendor e cajado de S. Joaquim, os resplendores de Sant'Ana e de Nossa Senhora (Menina).

Temos uma bela imagem de S. Vicente, parecendo também muito antiga, que hoje se encontra no corredor da biblioteca ou atual Guardianato.

O Convento conserva também uma imagem de S. Cosme e outra de S. Damião, em estilo barroco, bastante danificadas pelo tempo. Apresentam traços de gêmeos, vestem-se do mesmo jeito, mas um se apresenta com pequena barba, ao passo que o outro tem a face raspada.

SANTO ANTÔNIO: imagem barroca, provavelmente do século XVII, com o Menino Deus no braço esquerdo e a cruz de prata na mão direita. É, desde a fundação, o padroeiro do Convento e da igreja. No entanto, assevera Frei Venâncio que o Patrono principal da igreja do Convento é o Senhor Santo Cristo, continuando Santo Antônio padroeiro do Convento. A partir de quando começou esta precedência do Senhor Santo Cristo? A partir de sua festa de janeiro de 1936, quando foi entronizado no centro do altar-mor. Escreve Frei Venâncio, que as imagens primitivas do Convento não existem mais. Diz também que os Restauradores alemães substituíram, em 1906, as imagens antigas por imagens nova e que as imagens de São Francisco e de S. José foram mandadas para o Engenho Arimbi, escapando, assim do incêndio de 1935..

Os jovens frades restauradores, vindos da Alemanha, não sabiam apreciar a arte barroca, substituíam imagens de madeira por estátuas de gesso importadas (muito belas, por sinal).

Acontecia, por vezes, lamentável traquinagem. Como a de transformar um santo em outro, conforme a necessidade do momento. Foi assim que um Arcanjo S. Miguel do Convento Franciscano de Olinda, perdeu azas, escudo, espada e balança, para servir de Santo Rei Gaspar junto ao Menino Jesus.

IMAGEM DE SÃO JOSÉ - “Diz a crônica do Convento que na gestão do Guardião Frei Rafael da Conceição, entre 1761 e 1764, chegou a imagem de S. José. A representação do santo com botas valeu-lhe o título de S. José dos Caminhantes. [...] Quando, em 1906, diversas imagens antigas foram substituídas por novas, seguindo as de S. José e S. Francisco para a capela de Arimbi, ninguém supunha que seria essa a maneira de fazê-las escapar de completa destruição, pois o incêndio de 1935 reduziu a cinzas as imagens novas do altar-mor, o que motivou a volta das antigas a seus lugares de honra.” [5]

No Inventário de 1852, constam um resplendor de S. José e outro do Menino.

Havia no Convento a Confraria de São José.



A IMAGEM DE S. ROQUE

Era o Patrono da Ordem Terceira de Ipojuca. Tinha a sua festa a 02 de janeiro. A imagem de S. Roque se encontrava na capela lateral do Bom Jesus, a capela do Sr. Santo Cristo, chamada também de antigo Santuário. Hoje se acha no nicho lateral, frente ao altar da Conceição.

O Inventário de 1852 lhe atribuía 2 pares de cortinas com sanefas.



IMAGEM DE S. BENEDITO

Achava-se, segundo Frei Venâncio, no salão dos Guardiães. Tinha a sua Irmandade no Convento. “O único documento que havia no arquivo franciscano de Ipojuca sobre a extinta irmandade de S. Benedito, perdeu-se no incêncio de 1935, o Inventário das alfaias pertencentes à mesma Irmandade.” [6]

Havia, pois, m Ipojuca a Irmandade de S. Benedito, com assistência espiritual dos franciscanos.

No Inventário de 1852 consta 1 resplendor e 2 pares de cortina com sanefa de S. Benedito.

Consta no Inventário de 1852 que tinha “1 par de brincos de ouro, 7 espadas com copos de ouro da mesma Senhora, 3 anéis de ouro da mesma senhora.



IMAGEM DE SANTA LUZIA

No mesmo Inventário costa 1 resplendor de Santa Luzia.



IMAGEM DO MENINO JESUS DA SACRISTIA

No Inventário de 1852 resplendor do Menino Jesus da sacristia.



IMAGEM DE SÃO BOAVENTURA

No mesmo Inventário consta um (1) resplendor de São Boaventura.

A imagem de São Boaventura foi levada para o Convento Franciscano de Olinda.



IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO SAGRADO CORAÇÃO

Encontrava-se antigamente na igreja do Convento. Hoje se acha no Refeitório da Comunidade Franciscana.

É igual à que existe na Capela de Sant´Ana do Rio Doce (Olinda) e que foi mandada restaurar em Ponte dos Carvalhos por Frei José Milton. Foi adquirida pelos frades restauradores no final do século XIX ou início do século XX e deve ter vindo da Alemanha.


IMAGEM DO SENHOR MORTO: Consta no Prieimeiro Livro de Crônica do Convento que a imagem do Senhor Morto é nova: Foi doada por ocasião da restauração da igreja, apoós o incêndio de 1935. Sempre se conservou na sala dos mliagres. Quando a 29 de agosto de 1937 foi entronizada a Imagem do Senhor Santo Cristo, foi, ao mesmo tempo, benta e inaugurada uma nova imagem: : a do Senhor Morto..



[1] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 67.

[2] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 94, nota 9.

[3] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 69.

[4] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 94, nota 3 ao cap. XXIII.

[5] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 67.

[6] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 90. nota 10 ao Cap. XIV.