quinta-feira, 19 de abril de 2012

PADRE ANTÔNIO MARIA IBIAPINA

PADRE IBIAPINA - Relata o Padre F. Sadoc de Araújo na obra Padre Ibiapina - Peregrino da Caridade (Paulinas, São Paulo, 1996) que redigiu para o processo de beatificação do Servo de Deus, que ele nasceu a o5 de agosto de 1806, num improvisado hospital que servia também de maternidade, e que fora construído como Lazareto do Logradouro, na ocorrência de febre epidêmica que em 1791 grassara na região de Sobral, no Ceará.
Filho de Francisco Miguel Pereira Ibiapina e de Teresa Maria de Jesus. O pai de Francisco era natural da Freguesia de Coreaú. Era neto do Sargento-mor Alexandre Pereira de Sousa, natural de Socorro do Passé (Recôncavo Baiano) e de Antônia Ribeiro de Sousa, natural do Coreaú. A mãe de Francisco (avó paterna de Ibiapina) chamava-se Teresa Maria da Assunção, natural e moradora no Sobral. Era filha do português Domingos Ferreira Gomes, natural de Cadaval (Patriarcado de Lisboa), "foi o primeiro marido de Maria Pereira, natural do Coreaú, filha do Capitão Matias Pereira de Carvalho, ex-Ouvidor Geral do Ceará, e de Micaela da Silva Medeiros. Maria Alves Pereira casou-se, em segundas núpcias, com o Coronel Félix Ribeiro da Silva, português natural da freguesia de Fojo Lobal, conselho de Ponte de Lima. A um filho de Félix, de nome Felipe, que foi um dos seus testamenteiros, Francisco Miguel chamava de meu tio.
Todos esses ascendentes próximos de Franciasco Miguel eram pessoas da melhor posição social e possuidores de muitos bens de raiz, ao contrário de biógrafos pouco esclarecidos que julgam a família de Ibiapina muito pobre, afirma o Padre Sadoc (pg. 16).
O ai de Ibiapina perdeu os seus bens, diz Sadoc, nos atropelos da Confederação do Equador.
Local do nascimento - O próprio Ibiapina, ao se matricular no Seminário de Olinda, declarou-se natural da vila de Sobral.
Desde logo, deve ser descartada a hipótese de que teria nascido na antiga povoação da Ibiapina, então pertencente à Freguesia e município de Viçosa, na serra da Ibiapaba, como se lê na chamada " Crônica das Casas de Caridade" e vem repetido no " Dicionário Histórico e Geográfico da Ibiapaba", escrito por Pedro Ferreira... A fonte desses enganos é a informação contida no Itinerário do Padre-mestre Ibiapina", manuscrito de autoria de três "beatos" que o acompanharam em algumas das suas peregrinações pelo Nordeste, publicado pela primeira vez na "Revista do Instituto Arqueológicio, Histórico e Geográfico de Pernambuco" , edição de 1911, e comentado e republicado pelo sociólogo Eduardo Hoonaert com o nome impróprio de "Crônica das Casas de Caridade" , a que acima me referi. Toda a narrativa, aliás, desse "itinerário" é bastante imprecisa e repleta de procronismo s e metacronismos, residindo seu valor unicamente no fato de ter sido escrito com uma boa intenção de salvaguardar a memória das contínuas viagens do missionário. O historiador deve ler com as devidas reservas, e qundo possível, confrontá-lo com outras fontes.
Eduardo Hoornaert teve a infelicidade de intitulá-lo "Crônica das Casas de Caridade", quando não é crônica, na definição precisa do termo, e não trata apenas e nem principalmente dessas admiráveis instituições, que a mão benfazeja do padre-mestre espalhou pelo interior de quase todo o Nordeste. O texto enquadra-se melhor no gênero de relatório de viagens, emporeendidas pelo missionário andarilho, e das múltiplas atividades que desenvolveu em favor dos pobres e da evangelização em cada localidade visitada. Desse documento servir-nos-emos somente ao tratar do exercício de seu ministério pastoral, quando o testemunho pessoal dos narradores, que o acompanharam merece todo o crédito. A crônica das Casas de Caridade ainda está muito longe de ter sido escrita (pp. 61 a 62).
(Continua)

Local e data do batismo - O menino foi batizado solenemente na fazenda Olho d´Água a 25 de agosto de 1806, dia de São José de Calasanz, com o nome de José, por devoção da família S. José de Calasanz. Ora, este santo, nascido em Aragão em 1557, ordenou-se sacerdote aos 28 anos. Mandado a Roma por seus superiores, aos cuidados do Cardeal Marco Antônio Colonna, foi nomeado Vigário Cooperador da Paróquia de Santa Dorotéia, habitada por inúmeras famílias pobres, cujos filhos não tinham onde estudar. Estudo era para gente de dinheiro. Com suas poucas economias, ajudado por muitos voluntários que não queriam pagamento, começou a fundar escolas gratuitas para as crianças. Fundou assim a Congregação dos Pobres Clérigos Regrantes da Mãe de Deus, e as Pias Escolas, que dentro de curto espaço de tempo se espalharam por toda a Europa, chegando também ao Brasil. Hoje continuam as Irmãs Paulinas e os Filhos de São Paulo a obra de S. José de Calasanz!





Mas teve que passar por grande provação quando acusado injustamente pelos Padres de sua Congregação de incapacidade de gerir a obra, se viu deposto por um falso Visitador que conseguiu do Bispo o fechamento da Congregação. Com incrível paciência, o Padre Calasanz arregaçou as mangas e restaurou a Congregação que ressurgiu das cinzas com os mesmos programas sociais a serviço dos jovens das periferias. Segundo Sadoc, ele mesmo veio a falecer a 25 de agosto de 1648 com a idade de 92 anos. Foi canonizado em 1757.





Na vida de Ibiapina, ele não passou por semelhante provação, pois não é verdade, que o Bispo do Ceará Dom Luís Antônio dos Santos, cujo primeiro aniversário de posse no dia 19 de setembro de 1862 seria celebrado com a colaboração de Ibiapina, teria reprovado algumas práticas do Missionário e até




exigido sua retirada do Ceará. Houve, de fato, quem chegou ao desplante de afirmar que em janeiro de 1863, o bispo do Ceará foi pessoalmente a Sobral e condenou, de público, as práticas instituídas por Ibiapina e, a despeito da solidariedade geral para com o Missionário, ordenou sua saída imediata da Diocese. Trata-se da afirmação de Ralf Della Cava em sua obra "Milagre em Joazeiro" (Ed. Paz e Terra, Rio, 1976, p. 30). O autor, escreve Sadoc,"brasilianist" , refere-se ao suposto processo de "romanização" do catolicismo brasileiro, hipótese aventada pelo sociólogo Roger Bastide in "Religion and the Church in Brazil" que ele aceita acriticamente. Poucas vezes se pode ler, em livro que pretende ser sério, tantas inverdades em tão poucas linhas (Sadoc, p. 371 - 372).


O nome Antônio, é uma homenagem ao Padre Antônio Mendes de Mesquita que administrou o Batismo ao pequeno José. Era português, natural de Celorico de Basto, e um dos fundadores do Seminário de Olinda em 1800 (Sadoc, p. 69). Foi ordenado sacerdote já aos 47 anos de idade, sendo viúvo. Era Vigário Coordenador da Freguesia de Sobral. Quando veio para o Brasil trouxe consigo dois filhos: Manoel Mendes de Mesquita e Teodora Maria. Ambos se casaram em Sobral. Teodora teve um filho sacerd0te: Padre João José Mendes de Melo. O Padre Antônio Mendes de Mesquita faleceu com 77 anos (Sadoc, pp. 69 -70).





A criança passou a ser chamada oificialmente José Antônio Pereira -futuro Padre ibiapina - Foi com este nome que se matriculou no Seminário de Olinda.





Os dois padrinhos de batismo de José Antônio foram o tio paterno Joaquim José de Sousa e a avó Teresa Maria da Assunção.


Por hoje é só.


Continuaremos.









quarta-feira, 18 de abril de 2012

PADRE MAZZA

NICOLA MAZZA nasceu na cidade de Verona (Itália) a 10 de março de 1790. Escreve Edilma Sabino da Silva: (...) Era o primogênito entre oito irmãos e muito desejado pelos seus pais. Batizado no dia seguinte, recebeu o nome de dois santos que faziam parte do devocionário da família: Nicola Tolentino, o santo agostiniano da austeridade e da adoração, e Felipe Neri [?], o apóstolo da juventude na cidade de Roma em 1500. Percebe-se, portanto, que este homem vem de uma família muito religiosa e fiel à Igreja. Seu pai, Luigi Nazza, era comerciante de seda e tinha boa condição financeira, tanto que comprou uma chácara num povoado chamado Marcellise a uns doze quilômetros de Verona, onde havia uma capela dedicada à Mãe de Deus.
A mãe, Rosa Paiola, era muito jovem quando Nicolla Mazza nasceu, pois tinha apenas 19 anos, mas soube educá-lo na simplicidade e na piedade.

E o menino cresceu dentro de um ambiente familiar cheio de ternura, a que não faltava toda assistência material apesar da situação de calamidade por que passava a Europa devastada pela revolução napoleônica. Isto ajundou-o a se abrir para as necessidades dos outros. Os pais e amigos de Nicola Mazza pensavam em encaminhá-lo para a vida sacerdotal. Ele mesmo se deixava empolgar pela idéia de lutar para livrar o povo do desespero e do empobrecimento crescente. Ingressou no seminário, mas sem morar nele, devido à fragilidade de sua saúde. Dotado de uma inteligência invejável, dedicou-se à Filosofia e Teologia e se aperfeiçoou nas ciências exatas e em todo o saber de que ia precisar para a sua missão evangelizadora. No segundo ano de Teologia ordenou-se Diácono a 14 de março de 1812 e a 26 de março de 1814 recebia o prebiterato. Pedia frequentemente aos amigos que rezassem para que ele fosse um sacerdote útil à Igreja de Deus.
Sua vida de agora em diante seria uma doação permanente a serviço dos excluídos. No ano em que as tropas napoleônicas desocuparam Verona, começava um trabalho ingente de reconstrução da cidade, na busca da estabilidade da ordem social e restauração da comunidade cristã devastada. Durante aproximadamente 14 anos se dedica às confissões, confortando os pobres e consolando os aflitos.
É o que nos relatam os escritos de Edilma Sabino da Silva.

Quanto aoPadre Maria Ibiapina, veremos como Deus vai preparando o seu servo em circunstâncias bem parecidas com as que envolveram o Padre Nicola Mazza.



terça-feira, 17 de abril de 2012

FELIZ COINCIDÊNCIA

O Século 19 foi um século de coincidências que podemos chamar de felizes para a Itália e para o Brasil. Estou pensando em duas figuras que engrandecem a Igreja lá e cá: a do Padre Nicola Mazza e a do Padre Antônio Maria Ibiapina. Ambos se inspiram no mesmo propósito de se colocarem a serviço do Povo de Deus, evangelizando os mais desprezados da sociedade, fazendo-os agentes de sua própria promoção e do resgate dos valores humanos e cristãos da sociedade deslumbrada com a industrialização e o consumismo desenfreado.
Uma realidade sócio-econômica, política e religiosa eivada de grandes conflitos que geraram mudança de mentalidade e transformações na vida social, cultural, política, econômica e religiosa e que perduram até aos nossos dias.
Vejamos o que escreve Edilma Sabino da Silva em "Padre Nicola Mazza e a vivência dos valores evangélicos autotrancendentes" (Universidade d´Oeste de Santa Catarina, Associação Transcender - UNOESC- São Paulo, 2007):
(...) Ganham cidadania os novos conceitos de liberdade individual, soberania popular e igualdade de todos perante a lei.
(...) A revolução inustrial trouxe ao mundo um sistema de produção que solidificou as bases do capitalismo de caracteríticas selvagens e explorador da matéria-prima da natureza. Com isso veio a necessidade da mão de obra e daí o êxodo rural. Portanto, o povo saiu do campo e passou a viver nas grandes cidades, cuja situação de vida era totalmente desprovida das condições de uma vida digna, pois submetiam-se a trabalhos incansáveis em oficinas sem ventilação e com total falta de higiene. Neste mesmo contexto trabalhavam também mulheres e crianças, já que eram presas fáceis de se
tornarem máquinas de exploração a serviço do sistema.
Esta realidade tocou profundamente a alma dos missionários Mazza, na Itália, e Ibiapina no Nordeste do Brasil.
Continua.