quinta-feira, 23 de julho de 2009

PADRE FRANCISCO JOSÉ - BEATIFICAÇÃO

Em Assembléia Ordinária do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas em 26 de março de 2006, o Presidente do IHGAL convidou o consócio Álvaro Queiroz da Silva para apresentação do livro A Freguesia da Ribeira do Panema de autoria do consócio Tobias Medeiros. Lembra o orador que Tobias Medeiros viveu a sua infância no Poço das Trincheiras; que é sertanejo da Ribeira do Ipanema e membro da Academia Alagoana de Letras, que "já nos brindou com a publicação de seis livros, além de diversos artigos em revistas e jornais. Exerceu ainda a docência como Professor de Direito na Universidade Federal de Alagoas. " Parabenizou ainda o consócio Tobias "pelo seu enorme senso de arguto pesquisador e abalizado historiador" (segundo a Ata da Assembléia). O consócio Tobias Medeiros agradeceu as palavras de Álvaro Queiroz." Em seguida relatou que foi lançado na Paróquia de Santana do Ipanema, para comemorar os 170 anos de fundação daquela Paróquia (1836, - 2006), o seu livro A Freguesia da Ribeira do Panema. "O importante é que foi lançada a campanha, por iniciativa do autor do livro, para a beatificação do Pe. Francisco José Correia de Albuquerque, o 1° Vigário da Paróquia de Santana do Ipanema".
O Professor Tobias Medeiros, de quem já falamos, assumiu a Cadeira Patrocinada pelo Padre Francisco José Correia de Albuquerque na Academia Penedense de Letras.


BIBLIOGRAFIA
Acrescente à Bibliografia sobre o Padre Francisco José:
MÉRO, Ernani, A Evangelização em, Alagoas (400 An0s), Maceió, 1995.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

GENEALOGIA DO AGRESTE PERNAMBUCANO

Como pretendemos tratar de alguns acontecomentos que têm como personagens figuras bem próximas dos troncos mais remotos de algumas Famílas do Agreste Pernambucano, coloquemos essas pessoas no contexto genealógico e geográfico do seu tempo ; só assim entenderemos melhor os eventos aqui focalizados. Façamos isto muito sumariamente.

OS TRONCOS MAIS REMOTOS DE ALGUMAS FAMÍLIAS DE BEZERROS E DA REGIÃO
Baseio-me principalmente em Yony Sampaio: “As Famílias Azevedo Lira, Azevedo Silva, Azevedo Caldeira e Paes de Lira, da Região de Bezerros, Recife, outubro de 2003.”

O casal Tenente Manoel de Azevedo Caldeira e Maria Pais de Castro, "é o tronco dos Azevedo Lira, Azevedo Silva, Azevedo Caldeira e Pais e Lira" do Agreste Pernambucano. Os livros de Batismo e Casamento das Paróquias de Bezerros, Altinho, Garanhuns, Brejo da Madre de Deus, além de Inventários, Arrolamentos e Registros de Terra dos Cartórios de Bezerros, Bonito, Brejo, ou dos Arquivos da Universidade Federal de Pernambuco e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, fornecem rico material à pesquisa genealógica.

O Tenente Manoel de Azevedo Caldeira já é mencionado em 1689 por Dona Maria César, viúva de João Fernandes Vieira (herói da guerra Holandesa).
Em 20 de dezembro de 1712, já tendo falecido o Capitão Lázaro Caldeira - o mais antigo tronco a que chegou Yony nos seus estudos, "aparecem como titulares da sesmaria do Brejop [da Madre de Deus] os herdeiros Manoel de Azeved0 Caldeira e o Alferes Domingos da Fonseca..." (Yony, obra citada, pg. 3).

Do casal Manoel de Azevedo Caldeira e Maria Pais de Castro, são os filhos:
F1 – Pedro Pais de Lira
F2 – José Pais de Lira
F3 -Carlos de Azevedo Caldeira
F4 – Margarida Pais de Lira
F5 – Ana Pais de Azevedo
F6 – Maria Pais do Nascimento

Só vamos detalhar o que nos interessa no momento para entendermos melhor os fatos a serem aqui relatados.

F1 – Pedro Pais de Lira, casado com Joana Maria de Jesus, filha de Manoel da Silva Ribeiro. Faleceu em 1822. Em 1790 é Sargento-mor, depois, Capitão.
Pais de:
N3 – José Pedro de Lira. Casou em 1795 com Maria Francisca Cavalcanti. Sem filhos. É o fundador de São Caetano. Depois voltaremos a este ilustre personagem do Agreste.
F4 – Margarida Pais de Lira – Em 1753 casou com José Gomes da Silva (Tenente José Gomes da Silva).
Pais de (pelo menos) 3 filhos. Vejamos o sétimo da lista:
N7 – João Paes de Lira.
O Capitão Comandante João Paes de Lira – Nasceu entre 1749 e 1754. Declara-se com 58 anos em 1812, e com 70, em 1819. Faleceu em 1831 (Confira Livro da Irmandade do SS. Sacramento de Bezerros). Era Capitão Comandante da freguesia de Bezerros (Yony, op. cit. P. 21).
Crê Yony que ele casou 2 vezes:

a) A primeira, em 1772, com Germana Francisca. É provável que Germana tenha morrido de parto em 1772. Deste casamento nasceu uma filha:
Bn1 (em Yony, Bn5) – Josefa Isabel de Santa Anna, nascida em Santo Antão em outubro de 1772, sendo batizada na Matriz de Santo Antão (conf. Yony, op cit. pg. 24 e 25).

b) A segunda vez, com Francisca Leite da Soledade, em data posterior a 1774.

Pais de:

Bn5.5 – Ignez de Santa Anna (Casada: Ignez de Santa Anna Azevedo). Batizada a 20 de março de 1791 na freguesia de Bezerros, com 11 dias de nascida, sendo seus padrinhos o Capítão Francisco Frazão (de Azevedo) e sua mulher Maria do Rosário da Encarnação. Casou a 29 de agosto de 1808, dispensados do impedimento de consangüinidade, com o primo o Tenente Coronel Manoel Francisco da Silva Azevedo, natural da freguesia de Santo , filho do Capitão Franciosco Frazão de Azevedo e de Maria do Rosário da Encarnação, neto materno de José Gomes da Silva e Margarida Pais de Lira, sendo testemunhas Manoel Monteiro Paes da Rocha Lira e João Pedro de Lira, casados.Ignez de Santa Anna faleceu a 7 de janeiro de 1882, com 90 anos de idade em São Caetano da Raposa.

“Foram herdeiros 3 filhos vivos e os netos filhos de 3 outros. Além desses, houve pelo menos 2 filhos que ou faleceram criança, ou não deixaram descendência” (Yony, op. cit. pg. 26).

A) Avós paternos de Francisca Leite da Soledade:

Salvador da Costa e Maria Lins Bernarda.

Pais de:

F1 – João Mendes Branco, casado com Catarina Monteiro da Rocha.


Obs.: O Sargento-mor João Mendes Branco, nascido em 1707, era português, “dado como natural às vezes do Porto, e outra de Lisboa” , filho de Salvador da Costa e Maria Lins Bernarda, naturais da Vila de Louriseira, sendo ela neta materna do Capitão-mor Manoel Monteiro da Rocha e Francisca Leite de Oliveira, casados possivelmente em 1715, quando recebem de dote o sítio Cachoeira, ele português, e ela filha de Bento Leite de Oliveira e Ascensa da Silva Cavalcanti. O Sargento-mor João Mendes Branco residia em Buíque.
João Mendes Branco e Catarina Monteiro da Rocha

São os Pais de
N1 – Francisca Leite da Soledade.


B) Avós maternos de Francisca Leite da Soledade:

Capitão-mor Manoel Monteiro da Rocha e
Francisca Leite de Oliveira.

Obs.: Manoel Monteiro da Rocha, português, casou com Francisca Leite de Oliveira, filha de Bento Leite de Oliveira, natural de Guimarães, radicado no vale do Rio S. Francisco, zona de Penedo (AL) e Inocência da Silva Cavalcanti (ou Ascença). Esta é filha do Capitão Manoel da Silva, de apelido “Carapuça de Onça”, e de Anna Potencia de Brito Cavalcanti, constando ser ele português e ela descendente dos Holanda e Cavalcanti (opinião de Orlando Cavalcanti). “Mas, embora Borges da Fonseca refira vários Cavalcantis e Holandas casados com filhos de Bento Leite de Oliveira, não há referência aos pais de Inocencia da Silva (Nobiliarchia, vol. I, pg. 459)”, escreve Yony (op. cit. pg. 24).

OBS.: O Sargento-mor João Mendes Branco casa segunda vez com a índia Maria José do Nascimento, filha de pais incógnitos, esse estabelece em Piripiry, freguesia do Cariri Velho, na Paraíba.
Catarina Monteiro da Rocha faleceu a 17 de agosto de 1760, deixando 4 filhos, entre eles, Francisca “com idade de mês e meio pouco mais ou menos”, diz o pai no termo de composição com o compadre Capitão Pantaleão de Siqueira Barbosa e a comadre viúva Dona Maria Madalena da Rocha. Sendo esta sua irmã e cunhada, e também por ser tia e madrinha da menina Francisca, de livre e espontânea vontade faz entrega de sua filhinha ao compadre Pantaleão e à comadre Maria Madalena, para que a adotem como filha, uma vez que ele, o pai, não tinha condições de criar a menina. Sabe que eles a amarão como filha e farão tudo pela felicidade dela. Faz o expresso pedido que, chegada a menina à idade de casar, que o casamento dela seja com pessoa digna como o pai teria a satisfação que fosse. Que lhe ensinassem a doutrina cristã e tudo o que achassem que seria para o seu bem. (Yoni, op. cit. pg. 23.)
O testamenteiro e tutor dos bens da órfã, diz que ela “se achava desde menina em poder de sua tia e madrinha Dona Maria Madalena de que segundo notifica lhe ensinou a doutrina christã, couzer e fazer renda.”(Yony, op. cit. p. 25).

“Do casal João Paes de Lira e Francisca Leite da Soledade são conhecidos 4 filhos, Bn 5.2 a Bn 5.5. Mas creio haja outros.” (Yony, op. cit. pg. 25, pg. 26).

Detalhando:

João Paes de Lira e Francisca Leite da Soledade são os Pais de (entre outros):

Bn5.4. Manoel Monteiro Paes da Rocha Lira, casou com Teresa de Jesus Lima. Capitão da Guarda Nacional. Casado com Teresa de Jesus Lima, filha de Francisco Gomes e Anna Teresa. “Já casado em 1808. Manoel monteiro obteve, a 24 de setembro de 1816, carta de sesmaria do lugar Baticaba, entre a sesmaria do gado Bravo e Riachão e terra dos herdeiros de Francisco Xavier Correia de Sá no Pé de Serra do Mendes.” (Yony, op. cit. pg. 26).
Da longa descendência, vejamos alguns filhos:
Bn5.4.6 - Antônio Monteiro Paes de Lira. “Assassinou a 13 de fevereiro de 1842, a Feliciano Thomaz d´Azevedo, comissário de polícia do distrito de São Caetano, com três tiros desfechado de emboscada na própria povoação de São Caetano. Antônio é identificado como bom moço, de 22 para 23 anos de idade, de estatura regular, cheio de corpo, barba densa, branco, casado, ... A 9 de abril de 1842 é denunciado estar foragido no Cariri velho, em casa do sogro, Manoel Gomes, na fazenda de Santo Antônio, junto a uma fazendinha denominada Zabelê, com toda a sua família” (Yony, op. cit. pg. 28).
Bn5.4.7 - José Paes de Lira. “João Pereira Calado, em sua História de Lagoa dos Gatos, o dá como filho de Manoel Monteiro Paes da Rocha Lira, senhor de terras no lugar de Gado Bravo do atual município de Lagoa dos Gatos. Teria ido com sua irmã Agostinha Joana Paes, do Gado Bravo, para Lagoa dos Gatos. Lá, José Paes de Lira casou com Carolina Soares, filha de Florêncio José Soares e Maria Francisca da Conceição, neta paterna de Francisco José Soares, português do Engenho Penom e comprador de um pedaço do s´[itio do Gato, em 1802.
Foram pais de vários filhos”, que Yony cita pelos nomes (Yony. Op. cit. pg. 28).

Bn5.5 – Ignez de Santa Anna: (Casada: Ignez de Santa Anna Azevedo). Batizada a 20 de março de 1791 na freguesia de Bezerros, com 11 dias de nascida, sendo seus padrinhos o Capítão Francisco Frazão (de Azevedo) e sua mulher Maria do Rosário da Encarnação. Casou a 29 de agosto de 1808, dispensados do impedimento de consangüinidade, com o primo o Tenente Coronel Manoel Francisco da Silva Azevedo, natural da freguesia de Santo , filho do Capitão Franciosco Frazão de Azevedo e de Maria do Rosário da Encarnação, neto materno de José Gomes da Silva e Margarida Pais de Lira, sendo testemunhas Manoel Monteiro Paes da Rocha Lira e João Pedro de Lira, casados.Ignez de Santa Anna faleceu a 7 de janeiro de 1882, com 90 anos de idade em São Caetano da Raposa.“Foram herdeiros 3 filhos vivos e os netos filhos de 3 outros. Além desses, houve pelo menos 2 filhos que ou faleceram criança, ou não deixaram descendência” (Yony, op. cit. pg. 26).

Detalhando:

Bn5.5 – Ignez de Santa Anna Azevbedo e Manoel Francisco da Silva Azevedo,

São os Pais de:

Tn5.5.1 - João Guilherme de Azevedo.
Tn5.5.2 – Manoel Francisco de Azevedo Silva
Tn5.5.3 – Maria.
Tn5.5.4 – Lucinda Maria de Azevedo ou Lucinda Francisca de Azevedo.
Tn5.5.5 – Francisca da Soledade do Amor Divino.
Tn5.5.6 – Tenente José Francisco de Azevedo Lira.
Tn5.5.7- Joana Celestina de Azevedo.
Tn5.5.8 – Francisco Santino de Azevedo (Lira)

Detalhadamente:

Tn5.5.1 – Major João Guilherme de Azevedo. Nasceu a 24 de junho de 1809, na Sapucaia (hoje Spucarana), destrito de Bezerros. Acha Ignez Guedes que o fato de ele ter nascido talvez na noite de 24 (São João) para 25 (São Guilherme) de junho explica seu nome: João Guilherme. Foram seu Padrinhos os tios José Pedro de Lira e Maria Francisca Cavalcanti, moradres em São Caetano da Raposa.
“Major João Guilherme de Azevedo foi figura polêmica no Agreste, com forte presença desde o final dos anos vinte e até sua morte em 1852. Envolveu-se em demandas, advogou causas, fez política e envolveu-se na Revolução Praeira, em 1848. Foi assassinado na Volta, no caminho entre Caruaru e São Caetano, arcabuzado, ,a 29 de outubro de 1852 (Yony, op. cit. pg. 30).

O Major João Guilherme de Azevedo casou a primeira vez antes de 1828 com Francisca Leite da Soledade ou do Amor Divino, deixando uma filha. “A segunda (diz Yony Sampaio) com Maria do Rosário Correia de S á, em casada, Maria Guilhermina de Azevedo, havendo 8 filhos” (id. Ibd. pg. 28).
Detalhando:
A) Do primeiro casamento do Major João Guilherme de Azevedo com Francisca Leite da Soledade ou do Amor Divino, uma única filha:

Qr5.5.1.1 – Maria Possidônia de Barros Silva. Casou a 22 de julho de 1840, na Capela de Nossa Senhora da Conceição de Caruaru, filial da Matriz de Bezerros, com Antônio Gomes de Barros Silva. Antônio faleceu por volta de 1865 e Maria Possidônia entre 1900 e 1905, segundo Yony Sampaio. Dos 6 filhos que deles conhecemos, provém uma longa descendência, detalhada por Yony das páginas 31 a 37 de sua Genealogia.

Voltemos a João Guilherme de Azevedo.
B) Em segundas núpcias, casou, como já vimos, com Maria Guilhermina de Azevedo (em solteira, Maria do Rosário Correia de Sá).
Esta era filha de Ignez Maria de Jesus, do Pé de Serra do Mendes (a primeira Mãe-de-Casa) e de seu segundo marido Francisco Xavier Correia de Sá.

Aqui encerramos o que tínhamos a dizer sobre os troncos mais remotos de algumas famílias de Bezerros e do Agreste.
Nos "ADENDOS" que virão a seguir, trataremos do envolvimento de alguns dos nossos personagens no processo revolucionário de Pernambuco.

sábado, 11 de julho de 2009

DUAS PLACAS COMEMORATIVAS DE IPOJUCA




No muro do átrio da igreja do Convento temos uma placa acríleca que assim reza:.

“EXÉRCITO BRASILEIRO – RM / NE 7ª DE – REGIÃO MATIAS DE ALBUQUERQUEPREFEIURA MUNICIPAL DE IPOJUCA
OMENAGEM AOS 18 PATRIOTAS QUE ASSINARAM O COMPROMISSO IMORTAL NO QUAL PELA PRIMEIRA VEZ FOI PROFERIDA A PALAVRA PÁTRIA NO CONTINENTE AMERICANO
23 DE MAIO DE 2004”
Na Portaria do Convento vemos outra, em bronze, comemorando os Trezentos Anos da restituição do Convento aos seus legitimos donos:
1645 19 DE JUNHO 1945

IPOJUCA

CELEBRA UMA DAS SUAS DATAS MAIS GLORIOSAS
HOMENAGEANDO AOS HERÓIS
QUE NESTA CIDADE
INICIARAM A INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA
CONTRA O INVASOR HOLANDEZ
DO QUAL ARRANCARAM ESTE CONVENTO,
QUE RESTITUIRAM AOS FDRANCISCANOS
NA PESSÔA DO 15º GUARDIÃO
FREI JÁCOME DA PURIFICAÇÃO

PRO DEO ET PRO PATRIA

PÁGINA DA PRESENÇA HOLANDESA EM IPOJUCA


[A placa acima se acha afixada
no muro anexo à igreja do Convento]

CARTA DE D. VAN HOOGSTRATEN
Dirigida à Companhia na Holanda,
Escrita na Fortaleza van der Dussen,
a 18 de junho de 1645, pela manhã às 7 horas.

"Agora mesmo passou aqui o rio o marinheiro Siveminen, um daqueles que estavam trabalhando num barco no porto de Salgado. Ele relata como ontem de tarde às 5 horas tinha chegado junto aos barcos uns 100 Portugueses, todos armados de fuzil e com grande alvoroço atacaram os barcos; disse mais o marinheiro não ter certeza, se mataram alguém, porque ele salvou-se.
O tenente Jacó Flemmingh, aquartelado em Ipojuca, como afirma o mesmo marinheiro, se tinha retirado de Ipojuca ontem pela manhã, sem me ter avisado da chegada do inimigo. Mas espero que ninguém do meu povo esteja ferido nem morto. V.V.S.S. saibam, que eu tenho um só um soldado de patente inferior, que está adoentado e tenho também um só arqueiro, e além disso, nem eu, nem os soldados têm coisa alguma para comer. Isso com toda a pressa, porque os marinheiros não queriam esperar. De V.V.S.S. criado submisso (assin.). D. Van Hoogstraten.
O marinheiro que relatou o sobredito, vai com esta carta.
Aviso secreto que veio no dia 13 de Junho e nos dias seguintes:
Um certo padre tinha avisado fulano de prevenir-se, porque tinha notícia certa que tropas da Bahia tinham passado o rio de S. Francisco para expulsar os holandeses, e que um grande número de portugueses se preparava para se juntar com eles. O padre foi convidado a apresentar-se para saber se tinha certeza disso. Veio e declarou ter certeza que as tropas já estavam na mata, esperando somente até que os portugueses estivessem prontos. Declarou mais que alguns levavam documentos, pelos quais prometem fidelidade ao rei de Portugal e pegarem em armas. Disse mais que tal documento já era assinado por muitos, porém forçados.
16 de junho: o mesmo padre avisou fulano ... Interrogado por que motivo ele nos denunciava tudo isso, respondeu que agora estavam satisfeitos e que ninguém foi molestado pela sua religião. E disse que mais, que ele era natural daqui mesmo e que suas irmãs, seus irmãos e todos os amigos estavam aqui morando abastadamente, e por este motim seriam prejudicados, e pediu para todos nossa proteção. Disse que devia logo ser publicado pelos padres, que cada um voltasse para casa, e que íamos nos defender todos contra os inimigos e garantir a nossa proteção para evitar uma retirada comum dos Portugueses que temem um massacre geral. O Padre Manuel disse o mesmo, oferecendo-se para tal fim. Também os padres de Ipojuca, que ontem foram conduzidos para cá, solicitaram o mesmo, para evitar a retirada coletiva [grifo nosso].
Um certo negro, livre, vem denunciar.... Perguntado, se conhecia Henrique Dias, diz sim, que o conhecia quando era escravo do Sr. Stachouwer e que ele tinha um só braço, porque o outro tinha cortado o comandante Claes Thysen.
Jan Baerenz, mestre de um barco que tinha saído daqui para o Cabo de S. Agostinho com víveres para a fortaleza de lá, relata o seguinte: no dia 20 de junho: No dia 17.... indo para o seu barco, encontrou-se com Claes, um comerciante livre que lhe disse entre outras coisas, que uns 20 Holandeses estavam presos no convento de Ipojuca [destaque nosso]. Na fortaleza van der Dussen, aos 20 de junho de 1645 (assin.) A. Van Bullerstrate. Às onze horas da noite.
(Tradução de Fr. Menandro Rutten, OFM, de nacionalidade holandesa, falecido a o1-o4-1963 em João Pessoa / PB – Doc. do Arquivo Franciscano Provincial – Recife).

sexta-feira, 10 de julho de 2009

GUERRA HOLANDESA - CALABAR

CALABAR: TRAIDOR OU HERÓI?

O historiador português Veríssimo Serrão recorda que a biografia de João Fernandes Vieira
(...) se mantém coberta de sombras e que se tornou uma personagem quase lendária da Restauração no Brasiol. Nascido ao redor de 1610 na Ilha da Madeira era mulato e de origem humilde. Tendo emigrado para Pernambuco, ali exerceu pequenos mesteres até 1635, quando a proteção dos holandeses lhe fez adquirir alguns meios de fortuna. Pouco depois era senhor de cinco engenhos, exerceu o cargo de vereador de Maurícia e obteve a contratação dos dízimos sobre o pau-brasil e o açúca. (Veríssimo Serrão. História de Portugal, v. V, p. 111). [Da Internet].
E ainda:
“Afirma-se assim que era natural da Ilha da Madeira, com ascendência africana. No dizer de Oliveira Lima, "João Fernandes Vieira, apesar de ser de cor, governou Angola e Pernambuco" [O Movimento da Independência (1821-1822), Melhoramentos, 1922].
Ainda de acordo com Veríssimo Serrão:
(...) em 1642, aumentou os seus bens, e viu-se feito capitão de um Corpo de Ordenanças, continuando a beneficiar de empréstimos da Companhia para manter seus negócios. Ser-lhe-ia, portanto, mais fácil garantir a dependência financeira, em vez de obedecer a razões de ordem religiosa para hostilizar os holandeses, como o veio a fazer desde 1644. O seu comportamento posterior, assente em actos de coragem, mostra que Vieira sentiu o ideal da Restauração e o antepôs, com todos os riscos, ao valimento social que auferia em Pernambuco." (op. cit.)
Após a partida de Nassau, em 1644, passou a se opôr aos invasores, assumindo a liderança da insurreição de 1645, vindo a receber apoio de seu amigo, o frei Manuel Calado, que do seu púlpito convocou o povo à luta contra os hereges e redigiu "O Valeroso Lucideno (Lisboa, 1648)”.
Em 1645 foi o primeiro signatário do pacto então selado - no qual figura o vocábulo pátria pela primeira vez utilizado em terras brasileiras. Na função de Mestre-de-Campo, comandou o mais poderoso Terço do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Por seus feitos, foi aclamado Chefe Supremo da Revolução e Governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de Pernambuco”. (Da Internet).
Por obra de Matias, traiçoeira e covardemente tentou enganá-lo um primo que se passou para os holandeses com este fito. Mas morreu, vítima de uma bala, antes de conseguir apunhalar Calabar. Matias tenta novamente capturar Calabar, vivo ou morto. Envia-lhe outro que pretendeu se fazer passar por traidor e se meteu nas hostes flamengas, como que atraído pelo seu “bom exemplo” de Calabar.
Após a capitulação holandesa em Porto Calvo, foi Calabar entregue a Matias de Albuquerque. Este, violando o documento com as condições de guerra assinado por ele e pelo Comando Flamengo que houvesse troca de presos nenhum prisioneiro, após uma derrota, fosse humilhado, mas devolvido honradamente aos seus, julgou e condenou sumariamente a Calabar, não atendo ao seu pedido de apelação: “Callabar entregou-se, segundo os termos da proposta de Matias de Albuquerque, até a mercê de el-rey, isto é, até que o rei se pronunciasse sobre o seu destino. Mas Matias de Albuquerque se desdisse. Submeteu-o ao Conselho de Guerra, ali mesmo. Os seus juízes eram os seus próprios inimigos. [...] Calabar, assim, indefeso e julgado sumariamente pelos seus inimigos, em pleno campo de batalha, foi acorrentado à história como infame.”
A sua integra imediata aos luso-brasileiros contrariou profundamente a Picard, comandante da forças vencida (vencida, aliás por uma cilada para a qual se serviram os nossos de um traidor, cilada que por três dias os privou de alimentação e água e os fez capitularem). Picard não aceitou a entrega; morreriam todos ali. Mas Calabar interveio:
“Aceitai! – disse ele a Picard – Aceitai! Mais vale a vossa vida e a dos vossos soldados que a minha. Ele me humilharão, eles me enforcarão, eles me insultarão até depois de morto, mas eu ficarei satisfeito com este sacrifício, e serei o primeiro brasileiro que morre pela liberdade da Pátria.
Em seguida escreveu as seguintes linhas para serem lidas pelo Conselho Superior:
Vós, os holandeses, oferecestes ao Brasil, oferecestes ao meu amado Pernambuco, a liberdade. O destino não quis que assistisse à consumação de vossa oferta, com a adesão de todos os pernambucanos, de todos os brasileiros. Eles me chamam de traidor... Vós bem sabeis que um homem que se bater como eu, que recusou honras e proventos, não é traidor; e se houve traição, foi uma traição justificada pela nobreza do motivo. E demais, um homem tem direito de derramar o seu sangue pela causa que quiser. Derramei primeiramente meu sangue defendendo o interesse de Castela; errei; morrerei agora pela liberdade, que é a promessa dos holandeses.”
O tribunal militar forjado na hora para isto, não tinha autoridade para tanto. Calabar enfrentou destemidamente a morte violenta, aceitando os sacramentos da igreja da qual ele era filho, e fazendo um ato de confiança na misericórdia de Deus. Frei Cosme de São Damião o atendeu em confissão. “Frei Manoel Calado afirma ter sido ele esse sacerdote; contesta-lhe, porém a afirmação Fr. Jaboatão.”
Documento holandês, de 13 de abril de 1636, citado por Dr. José Antônio Gonçalves de Mello, revela que o Conselho Político da Companhia, em gratidão a Calabar pelos grandes serviços prestado aos flamengos, concedeu, a pedido de sua viúva, Bárbara Cardoso, uma pensão de 8 florins por mês aos 3 filhos do falecido esposo.


BIBLIOGRAFIA

MUELLER, Fr. Bonifácio, “Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil “– Edição comemorativa do Tricentenário – 1657 – 1957”, Volume I, Provincialado Franciscano, Recife / PE, 1957.

DANTAS, Leonardo – Silva, apud caderno “Pernambuco e-história,” fascículo 12, Diário de Pernambuco, Recife, Segunda-feira, 24 de setembro de 2007.

MUELLER, Fr. Bonifácio, “Os Conventos Franciscanos de Pernambuco na Invasão Holandesa,” apud “Revista Santo Antônio”, órgão da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, Ano 7, N° 1, Recife, 1949.

JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria, “Novo Orbe Seráfico”, citado por Fr. Bonifácio Mueller, emobra citada.
MELLO, José Antônio Gonçalves de, “Tempo dos Flamengos”, Livraria JOSÉ OLYMPIO Editora, 1947.

CALADO, Fr. Manoel, “O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade”, I º Volume, Recife, 1942.

Herckmans, Elias, “Descrição Geral da Capítania da Paraíba”, transcrito e comentado por MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004, pg. 64 e pg. 110, nota 5, para o citado ano de 1585,

MELLO, José Antônio Gonçalves de, “Administração da Conquista”, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004.


COSTA, Craveiro, “História das Alagoas” (Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1983).

VERÍSSIMO, Serrão. “História de Portugal”, v. V, p. 111). [Da Internet].

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A PROVÍNCIA FRANCISCANA DE SANTO ANTÔNIO DO BRASIL

CONSPECTO HISTÓRICO

1. OS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS DO BRASIL - Foram os franciscanos os primeiros evangelizadores do Brasil. Já em 1500, o franciscano Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa na Terra de Santa Cruz. O Brasil só conheceu missionários franciscanos até a chegada do Primeiro Governador Geral com os primeiros jesuítas em 1549.
2. FUNDAÇÃO DA CUSTÓDIA DE SANTO ANTÔNIO – Mas só em 1584 foi criada a Custódia de Santo Antônio do Brasil, dependente da Província Franciscana do mesmo nome de Portugal. Os fundadores chegaram a Olinda a 12 de abril de 1585, chefiados por Frei Melquior de Santa Catarina. Tomaram posse, a 4 de outubro do mesmo ano, do Convento de Nossa Senhora das Neves, construído para eles pela terciária franciscana Maria da Rosa.
3. AS PRIMEIRASA ATIVIDAdES DOS FUNDADORES – Fundaram muitos conventos que ainda hoje são preciosas relíquias do passado e inúmeras Missões entre os índios. Fundaram obras sociais, escolas e davam atenção especial aos hospitais e leprosários. Pregavam também Missões populares.
4. CRIAÇÃO DA PROVÍNCIA – A 24 de agosto de 1657 o Papa Alexandre VII elevou a Custódia de Santo Antônio à categoria de Província autônoma.
5. PROVÍNCIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO - Em 1675, com a ajuda da Província de Santo Antônio, foi criada a Província da Imaculada Conceição, no Sul do Brasil.
6. DECADÊNCIA DAS ORDENS RELIGIOSAS NO BRASIL – Desde o século XVIII as Ordens Religiosas no Brasil sofriam grande repressão por parte do poder régio. Mas o golpe de morte foi o Decreto de D. Pedro II em 1845 proibindo a admissão de noviços. Com isto, os conventos foram fechando por falta de frades. Ao chegar a República, havia apenas 9 franciscanos no Brasil, 8 no Nordeste e 1 no Sul.
7. A RESTAURAÇÃO – a República separou a Igreja do Estado. Foi uma libertação. O último Ministro Provincial da Província de Santo Antônio, Frei Antônio de Lellis, fez inúmeros apelos ao Ministro Geral da Ordem Francisacana para que mandasse frades da Europa para restaurarem as Províncias Franciscanas do Brasil. A Província Franciscana da Saxônia (Alemanha) aceitou esta missão. A 27 de dezembro de 1892 chegavam à Bahia os primeiros restauradores. A 2 de março de 1893 foi decretado o início da reforma e restauração da Província Franciscana de Santo Antônio. Foram muitas expedições de frades jovens e velhos que vieram povoar os conventos abandonados. Das cinzas ia surgindo a vida com vigor.
8. A PROVÍNCIA RESTAURADA - Finalmente, a 14 de setembro de 1901, o Governo Geral da Ordem Franciscana publicava um decreto considerando restaurada a Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil.
Foram surgindo novos conventos. A prioridade era promover as vocações nacionais. Para isto foram fundados o Colégio Seráfico de Ipuarana (Lagoa Seca / PB) em 1940, além de Escolas Apostólicas ou Preparatórias .
Também na Alemanha foi fundado o Colégio de Bardel (1921) e a Residência de Mettingen (1960), para mandarem vocações européias para o Brasil.
O Concílio Vaticano II promoveu ma grande reforma na Igreja. A Província Franciscana de Santo Antônio achou por bem fechar o Seminário e as Escolas Apostólolicas, renovando a sua pastoral vocacional.
Temos hoje, em cada Estado do Nordeste as equipes vocacionais, empenhadas em envolver na promoção vocacional todas as Paróquias confiadas aos Franciscanos.
Uma grande esperança de que a comemoração dos 800 Anos do Carisma Franciscano impulsione mais ainda a promoção vocacional, não somente em termos de aumento numérico, mas sobretudo em termos de qualidade.
B) O BRASIL NASCEU FRANCISCANO
1- A INVASÃO PORTUGUESA - Corria o ano de 1500. A 9 de março, Lisboa em festa, assistía à misssa solene celebrada no mosteiro de Belém pedindo as bênçãos do Céu para a armada, constituída de 13 caravelas, - que, naquele dia, partia do Tejo para as Índias, como se dizia, a mando de Dom Manuel, o Venturoso, comandada pelo Almirante Pedro Álvares Cabral.
A 22 de abril armada portuguesa avistava a Serra dos Aimorés a que Cabral chamou de Monte Pascal. A 22 de abril ancoraram na enseada a que deram o nome de Porto Seguro, na atual Baía Cabrália ou Santa Cruz. Tinham ares de quem já sabia o que queria e veio para ficar. A 26 de abril, primeiro Domingo da Páscoa, Frei Henrique celebrava, em ação de graças, a primeira missa no ilhéu da Coroa Vermelha, onde Cabral fincara um pendão, marco de posse do do Reino de Portugal. E a 1 de maio, a segunda missa, esta em terra firme, às margens do Itacumirim, ao pé de uma grande cruz, sinal da religião cristã professada pelos conquistadores.
A 1º de maio, Frei Henrique de Coimbra (futuro Bispo de Ceuta) celebrou a primeira missa no continente, acompanhado de sete missionários franciscanos e de alguns padres seculares, na presença de mais de 1500 pessoas, entre tripulantes e criminosos degredados e de inúmeros selvagens da tribo dos tupiniquins, ataídos pelos presentes que lhes ofertaram e pela curiosidade de coisas nunca vistas. É a esta missa que alude o célebre quadro de Victor Meireles, conservado na Escola de Belas Artes do Rio, erroneamente chamado de “Primeira Missa mno Brasil”.
A nova terra foi batizada com o nome de “!Ilha da Vera Cruz”, depois passou a ser “Terra da Santa Cruz” e, a partir de 1510, ficou como “Brasil” até os dias de hoje.
O escrivão da armada, Pero Vás de Caminha, enviou carta ao Rei relatando pormenorizadamente todo todos os feitos do empreendimento. Sua carta ficou na história como um batistério do Brasil.
Frei Henrique teria de bom grado deixado alguns de seus irmãos frades na nova terrsa, para começarem de imediato o trabalho de evangelização. Mas Cabral não o permitiu. A ordem era de prosseguir viagem patra as Índias. A 2 de maio a armada seguia para o Cabo da Boa Esperança. Aqui ficaram dois degredados para aprenderem a língua e os costumes dos nativos e servirem de intérpretes ao missionários aos primeiros missionários e colonizadores.
2 – OS PRIMEIROS FRANCISCANOS NO BRASIL
Escreve Anchieta: “ Os primeiros religiosos que vieram ao Brasil, foram da Ordem de São Francisco, os quais aportaram a Porto Seguro, não muito depois da povoação daquela capitania e fizeram sua habitação com zelo da conversão do gentio... [...] Nunca mais vieran cá religiosos, até que veio a Companhia.” [1]Não sabia Anchieta que os filhos de São Francisco foram os únicos missionários do Brasil por quase meio século, até à chegada dos Padres da Companhia de Jesus com Martim Afonso de Sousa, o Primeiro Governador Geral em 1549. Quase meio século depois, o Pe. Manuel da Nóbrega relata ao Pe. Simão Rodrigues (1550) que ouvi de alguns tupiniquin evangelizados e batizados o relato de que tinham sido evangelizados e batizados por alguns franciscanos mandados por Dom Manuel, os quais frades foram mortos por causa dos maus exemplos dos próprioa cristãos da comunidade. Trata-se, sem dúvida, dos proto-mártires do Brasil: dois franciscanos portugueses que, com ajuda dos índios, logo construíram uma casa e uma capela dedicada a S. Francisco de Assis, mas viram logo seus esforços baldados pelos maus exemplos dos “civilizados”, os quais atraíram sobre os missionários e a população da aldeia a ira dos índios. Os missionários foram trucidados quando rezavam diante de um crucifixo.Isto é atestado pelas fontes franciscanas (documentos colecionados por Frei Apolinário da Conceição e Frei Fernando da Soledade). Isto se deu a 19 de junho de 1505. [2]
Dez anos mais tarde (1515) dois outros franciscanos italianos chegaram a Porto Seguro onde restauraram a capela de São Francisco. Pe. Nóbrega registra o admirável trabalho de evangelização destes frades anônimos, elogiando-lhes as virtude e ardor apostólico. Narra que um deles, desejoso de sofrer pela causa de Cristo e levar a outros índios o Evangelho, morreu afogado ao tentar atravessar um rio, que, por isso, ficou sendo chamado Rio do Frade. Relatam os autores antigos que, passada a enchente do rio, o corpo do religioso foi encontrado de joelhos, com as mãos elevadas ao céu. Sepultaram-no na capela de São Francisco. O outro companheiro voltou à Itália. O historiador Frei Manuel da Ilha escreve que os dois trabalharam por muito tempo em Porto Seguro. Nem ele, nem Nóbrega guardaram o ano afogamento.
Após este pioneirismo franciscano, “também na Vila Velha de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, Frei Diogo de Borba, na expedição de Martim Afonso de Sousa, exerceu uma atividade missionária ocasional, por volta do ano de 1534. E assim igualmente em Santa Catarina, na região de Laguna, embora em terras que pertenciam à espanha, pelo Tratado de Tordesilhas,m os Franciscanos epanhóis executara um trabalho missionário mais vasto , entre os índios carijó, a -partir de 1538.” [3] Frei Diogo de Borba chefiava quatro franciscanos na expedição às Índias Orientais que Martim Afonso de Sousa comandava, por ordens de Dom João III, e que, desviada pelos ventos, aportou à Bahia (à semelhança do que, segundo a tradição, teria acontecido com a esquadra de Cabral!), trazendo aquele navegador pela segunda vez ao Brasil. Foram surpreendentes os frutos espirituais colhidos aí por estes franciscanos entre os colonos e os tupinambá, conhecidos por sua ferocidade, graças a mediação de Diogo Álvares de Correia (Caramuru) que havia construído em ação de graças pela sua salvação, uma capela em honra de Nossa Senhora das Graças. [4]
Já em Santa Catarina, se tratava de franciscanos espanhóis que se dirigiam, em 1538, à Missão do Rio da Prata, mandados pelo Ministro Geral da Ordem Vicente Lunello de Balbastro (1535 – 1541). Eram eles Frei Bernardo de Armesta, da Província Bética, com quatro companheiros. Chegados que foram à foz do rio da Prata, sofreram terrível tempestade que os arrastou até o Porto de Dom Rodrigo, a atual São Francisco, pertencente então à Capitania de São Vicente, hoje ao Estado de Santa Catarina. Esta missão mereceu, em 1549 (primeiro ano de sua estadia no Brasil), grandes elogias do Pe. Nóbrega, o qual aponta como um dos frutos do trabalho daqueles franciscanos entre os guianaz e carijó a existência “de casas de recolhimento para mulheres como de freiras e outras de homens como de frades.” [5]
Vale lembrar que os missionários espanhóis receberam grande apoio de São Francisco Solano que, transferido para o Paraguai, esteve em territórios de missões franciscanas então pertencentes à Espanha e hoje ao Brasil.
Concluamos esta parte com Fr. Hugo Fragoso:
“A presença missionária franciscana em Porto Seguro, como em outras partes do Brasil. Até o ano de 1584, foi uma presença esporádica, não organizada num projeto missionário. Até o ano de 1549, quando chegaram os jesuítas à Bahia, foram os franciscanos, os únicos missionários em terras brasileiras.” [6]
A partir de 1549 “é que, juntamente com o projeto colonizador que criou o Governo geral, se elaborou também um projeto missionário, o qual o Rei de Portugal confiou aos Jesuítas. E lhes reservou a exclusividade missionária no Brasil, a qual irá vigorar até o Domínio espanhol, em 1580. Foi então que, com a ampliação das fronteiras, da colonização, ampliou-se também a 'front' missionária. E foram mobilizados, para a execução desse novo plano, os Beneditinos, os Carmelitas e os Franciscanos.” [7]
[1] Cf. ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, História dos Franciscanos no Brasil, Tip. João Haupt & CIA, Curitiba, 1940, 7.
[2] Cf. ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, História dos Franciscanos no Brasil, Tip. João Haupt & CIA, Curitiba, 1940, p. 8.
[3] FRAGOSO, Frei Hugo -, OFM, op. Cit. p. 19
[4] Cf. ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, op. Cit. p. 11..
[5] ROMAG, Frei Dagoberto -, ofm, op. Cit. p. 11.
[6] FRAGOSO, Frei Hugo -, OFM, op. Cit. p. 19..
[7] FRAGOSO, Frei Hugo -, OFM, op. Cit. p. 19-20.