quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

RECORDAR É VIVER

Hoje meu pensamento se volta para meu saudoso Pai (+ 21-03-1994). Abro a Imitação de Cristo, o célebre livro de Tomás de Kempis (Alemanha, 1380 – 1471), obra que através de tantos séculos tem derramado por toda parte inefáveis consolações, como leio no prefácio desta edição que Papai me ofereceu, por ocasião da despedida de minhas últimas férias, antes de entrar no Noviciado Franciscano.
Ele adquiriu em Maceió um exemplar da última edição das VOZES DE PETRÓPOLIS para presentear-me. Que delicadeza de Papai! Ele tinha gestos assim na hora certa.
Vejam a riqueza do oferecimento, escrito na hora da despedia, me lembro bem:
Ao nosso querido Miltinho, com os corações traspassados de saudades, uma lembrança das últimas férias que passaste ao nosso lado. que Deus recompense o sacrfício da dura separação, fazendo de ti um santo sacerdote franciscano. Neste livro tão pequeno, encontrarás lenitivo nas horas de sofrimentos. Receba com nossas bênçãos os corações saudosos de teus pais
Heriberto e Inês.
Fernão Velho, 5-2-1955.

Na página em branco, ao lado, escrevi:
Entrada no noviciado: 14-08-55
1ª Profissão: 15-o8-56
Profissão solene: 15-08-59
Presbiterato: 22-07-61
Bodas de Prata de religioso: 15-07-80
Bodas de prata sacerdotais: 22-07-86
Bodas de Prata de casamento de meus pais: 20-12-58
Bodas de Ouro de casamento de meus pais: 20-12-83
+ Papai: 21-03-94
+ Mamãe: 31-12-99
Poderia ter acrescentado:
Bodas de Diamante de casamento de meus pais: 20-12-1993. Celebrei em Bezerros, mas sem festa, pois papai se achava muito doente.
UMA PERDA IRREPARÁVEL - Nunca cesso de lamentar ter perdido o precioso devocionário que Papai me ofereceu (juntamente com Mamãe) no dia de minha partido para o Colégio Seráfico de Ipuarana, 27 de janeiro de 1946. Eu havia completado 11 anos em outubro! Aquela despedida foi a mais dura de minha vida e sei também que da vida deles. A dedicatória de Papai refletia essa dor, mas, ao mesmo tampo, a esperança de ver um dia o filho frade franciscano e sacerdote. Que livrinho precioso aquele que Papai guardava para aquela hora! Era uma edição portuguesa (do Porto), de uma delicadeza extraordinária: um livrinho que só podia ter sido editado para presente: em encadernação luxuosa, cujas capas se fechavam como que guardando um segredo. Em papel finíssimo, em arte primorosa. Tudo leva a crer que fora adquirido numa dessas passagens por Bezerros de um agente da Boa Imprensa de Portugal. Foi nesse livrinho que eu trazia aos domingos no bolso do palitó e todos os dia levava para a missa, que, pela primeira vez, descobri o drama da Paixão de Cristo no Salmo 21 (“Meus Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” ). Lia-o muitas e muitas vezes com os olhos rasos dágua. Foi, através desse livrinho, o meu primeiro contacto com a Bíblia. Foi através dele também que descobri a riqueza da Missa, a beleza da devoção a Nossa Senhora e aos Santos, coisa que eu já sabia e o devocionário me ajudou a compreender melhor. Até que um dia... Após a oração da noite no sábado, eu o deixei no banco, no lugar que eu ocupava, não sabendo que, no domingo de madrugada a igreja ficava cheia com o povo da Paróquia de Lagoa Seca. Quando nos dirigimos à igreja para a missa dos alunos, às 06:00 h, e que procurei meu devocionário... o canto mais limpo! Em 1962, já sacerdote, fui transferido para o Seminário de Ipuarana. Em contacto permanente com os paroquianos na sede e nas capelas, nunca deixei de indagar pelo livrinho de estimação. Quem sabe se não teria ido parar em alguma família que freqüentava a igreja do Convento? No próprio Convento eu busquei em todos os lugares onde ele poderia estar, sem resultado, desde a sacristia até a biblioteca, pois me informaram que talvez o sacristão tivesse recolhido antes da missa com o povo o que pertencia aos alunos.
Só me resta agora buscar, nos Sebos de Portugal, pela internet, o que hoje não deixaria de ser uma raridade bibliogáfica. Mas esqueci o nome do devocionário, o que dificulta a pesquisa mas não a torna impossível. Algumas característica do livrinho são inconfundíveis: por exemplo, a sua riqueza bíblica. O Salmo 21. Mas a internet jamais me devolverá a a dedicatória de Papai!!!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

FREI MATIAS TEVES E A CLASSE MÉDICA

OS 170 ANOS DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE PERNAMBUCO FAZ-ME PENSAR EM FREI MATIAS TEVES, UM NOME QUE ENGRANDECE A ORDEM FRANCIOSCANA E A CULTURA NORDESTINA, SOBRETUDO PERNAMBUCANA. NO RECIFE, JÁ EM 1907, O JOVEM FREI MATIAS SE DESTACAVA JUNTO ÀS LIDERANÇAS ESTUDFANTIS DA ÉPOCA, QUE SE REUNIAM COM ELE NO CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO, NA RUA DO IMPERADOR, NÃO SÓ PARA APRENDER ALEMÃO, MAS TAMBÉM PARA DEBATEREM IMPORTANTES TEMAS RELIGIOSOS E ROBLEMAS QUE AFETAVAM A VIDA SOCIAL DO RECIFE. FOI ASSIM QUE SURGIU O CENTRO CATÓLICO E A ESCOLA DE BELAS ARTES. NÃO QUE FOSSE ELE O ÚNICO FUNDADOR DESTAS INSTITUIÇÕES; MAS SEM ELE , TALVEZ NÃO TIVESSEM NASCIDO TÃO CEDO NEM TIVESSEM O DESENVOLVIMENTO QUE ALCANÇARAM.
UM DE SEUS CARISMAS ERA O QUE O LEVAVA A APROXIMAR-SE DOS MÉDICOS PARA AJUDÁ-LOS A SE POSICIONAR CRISTÃMENTE DIANTE DOS DESAFIOS QUE A PROFISSÃO ENCONTRAVA. FOI ASSIM QUE SURGIU A ASSOCIAÇÃO MÉDICA SÃO LUCAS, CUJA HISTÓRIA AINDA ESTÁ PARA SER CONTADA. FOSSE NO RECIFE , FOSSE EM CAMPINA GRANDE, FOSE NA BAHIA , VEMOS FREI MATIAS TEVES BRILHAR COMO CONFERENCISTA, FOCALIZANDO TEMAS DE PRIMEIRA GRANDEZA NA SOCIEDADE DE ENTÃO.
TRANSCREVO ALGUMA COISA DO QUE OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA VÊM PUBLICANDO SOPBRE OS 170 ANOS DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE PERNAMBUCO, POIS QUERO CRER QUE FREI MATIAS NÃO PODE TER FICADO INDIFERENTE A ELA.
QUEM SABE SE NOS ANAIS DA ASSOCIAÇÃO NÃO VAMOS ENCONTRAR O NOME DE FREI MATIAS COMO CONFERENCISTA OU CONSULTOR EM QUESTÕES ÉTICAS?
O FATO DE SE ACHAREM SEDIADOS NA ILHA DO LEITE, ONDE SE ENCONTRA A RUA OU AVENIDA FREI MATIAS TEVES, O EMPRESARIAL ALBERT EINSTEIN, A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DE SPINELLI PACHECO JÚNIOR, HOSPITAIS E POSTOS DE SAÚDE, ANÁLISES PATOLÓGICAS, E SSOS MÉDICOS, HOSPITAL ALBERT SABIN, HOSPITAL DE OLHOS, HOSPITAL ESPERANÇA, QUEM SABE, REPETIMOS, SE NOS LEVAM A PENSAR QUE ISTO NÃO ACONTECE POR PURA COINCIDÊNCIA. ANTIGAMENTE A RUA FREI MATIAS TEVES FICAVA NAS IMADIAÇÕES DO CAMPO DO ESPORTE, SEM NENHUM RELEVO. MERECE ENCÔMIOS A INICIATIVA DE A TRANSFERIREM PARA A ILHA DO LEITE. E FRE MATIAS BEM QUE O MERECIA, POIS BOA PARTE DE SUA VIDA FOI DEDICADA À CAUSA MÉDICA.
Rua Oswaldo Cruz, 393 - Boa Vista - Cep: 50.050-220 - Recife / PE
Fone: 0XX-81-3423-5473 - Fax: 0XX-81-3423-6186 - E-mail: somepe.ampe@hotmail.com ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE PERNAMBUCO
Filiada à AMB
170 anos da Associação Médica de Pernambuco
Pernambuco tem história. Não só a história da resistência ao estrangeiro no século 17. Ou a história da insubmissão pelo ideal republicano no século 18. Ou a história da revolução pela tese federalista no século 19.
Pernambuco tem história também por suas instituições científicas e sociais. O Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano – IAHGP foi fundado em 1862. O Diário de Pernambuco é mais que sesquicentenário. E a Associação Médica de Pernambuco funcionou a partir de 1841.
Na medicina, por exemplo, Pernambuco tem o que contar. Porque produziu, desde aquela época, e continua a produzir contribuições expressivas a sua gente. Desde as políticas sanitárias e de infraestrutura, com Otávio de Freitas, até a política antecipatória de psiquiatria social de Ulysses Pernambucano. Passando pela vocação de pesquisa nutricional de Nelson Chaves e o espírito empreendedor com Fernando Figueira.
É uma história rica do ponto de vista de visão científica em avanços que foram feitos nas políticas de saúde por Amaury de Medeiros. Como também de prática terapêutica em medicina tropical por Ruy João Marques. O conjunto dessas contribuições forma um painel que projeta a ciência para destino socialmente legítimo.
Esta construção está contada na edição da Associação Médica de Pernambuco, 170 anos de História e Contribuição Social, pela Editora Universitária. São doze textos de profissionais da medicina que descrevem os Primórdios, por Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque; o desempenho da antiga Sociedade de Medicina, por Miguel Doherty e Waldenio Porto; o roteiro dos Congressos Médicos, por Claudio Renato Pina Moreira; a entrega da medalha Maciel Monteiro, fundador da Associação, por Gildo Benício; o registro da Sociedade dos Internos por Gilson Edmar Gonçalves e Silva e Nair Cristina de Almeida; a imprensa médica por Geraldo Pereira; a Associação no cenário nacional por José Luiz do Amaral; a Sociedade de Medicina, em tempos recentes, por Jane Lemos, José Falcão e Sílvia Costa Carvalho; a relação com o CREMEPE por Helena Maria Carneiro Leão; a relação com o sindicalismo médico por Silvio Sandro Rodrigues; e a interface com instituições médicas no Estado por Assuero Gomes.
O livro, que será lançado em dezembro de 2011, é um documento que olha o passado e lança o futuro. Pelas lições de fazer que ele contém. Escrita por profissionais que souberam e que sabem o que cuidar das pessoas.
Luiz Otávio Cavalcanti
Rua Oswaldo Cruz, 393 - Boa Vista - Cep: 50.050-220 - Recife / PE
Fone: 0XX-81-3423-5473 - Fax: 0XX-81-3423-6186 - E-mail: somepe.ampe@hotmail.com

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

GENEALOGIA BEZERRENSE

FRANCISCO XAVIER DE LIMA E A ÍNDIA - POR QUE NÃO?
Continuação, 21-12-2011.

O PRECONCEITO RACIAL E SOCIAL CONTRA O ÍNDIO

Estive, na década de 60, em Algodão, município de Remígio (PB), para conhecer a Pedra do Caboclo. Foi lá que a polícia de Areia provocou um genocídio que ficou esquecido dos historiadores. Os remanescentes indígenas (em sua reserva!) foram massacrados pela polícia do brejo de Areia: os que escaparam dos tiros, morreram de fome dentro da Pedra. Para as autoridades eram ladrões, pois tiravam o que não era seu. Na verdade, para não morrer de fome, recorriam, às escondas, ao “furto”.
Conversei com um senhor de lá que, na juventude, conseguiu penetrar na loca onde encontrou, na areia, cerca de umas 60 rótulas dos joelhos daqueles que morreram à míngua.
Peço vênia à Prof.ª Dr.ª. Carla Mary S. Oliveira, Coordenadora do PPGH-UFPB (biênio 2011 / 2013), Departamento de História, Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa / PB, que tive o prazer de conhecer em visita a nosso Convento de Ipojuca em companhia de seu namorado, o Prof. Antônio Carlos, para registrar nesta postagem o que me disseram sobre a Pedra do Caboclo: também estiveram lá e confirmam o que acabei de dizer sobre o genocídio daquele remanescente indígena. Seu namorado disse-me ter conseguido descer pela abertura da Pedra, confirmando a versão que ouvi do senhor sobre o qual falei anteriormente.
Pergunto eu agora: se, ao invés de terem sido caboclos as vítimas do genocídio, fossem quilombolas, teriam caído no ostracismo? Creio que não. Teria acontecido o mesmo que se dá em Alagoas com os negros de Zumbi dos Palmares na Serra da Barriga, em União dos Palmares: estariam imortalizados, passariam ao calendário nacional com dia próprio: o Dia da Consciência Negra.
Já dos remanescentes indígenas de Alagoas, pouco se fala.
Vejamos o mais conhecido, em Palmeira dos Índios / AL,
nome: Xucuru-Kariri - Fazenda Canto
etnia: kariri
língua falada: tupi guarani
cacique: não consta ((!)
reconhecida desde: não consta (!)
população: 499 indivíduos (Censo Funai 2000 !)
endereço: Zona Rural de Palmeira dos Índios
contato: não consta (!)
localização: Palmeira dos Índios - Alagoas - Região do Sertão.
histórico: Os Geripancó são da etnia kariri, como a maioria das tribos indígenas em Alagoas. Possuem 1 escola com 144 alunos e 5 professores que ensina a cultura da tribo para os mais novos.
Pensemos em Jorge de Lima, um dos maiores poetas do Brasil, autor de “Essa negra Fulô”: quais das jovens brasileiras não gostariam de ser “Essa negra Fulô” ?

E o nosso Gonçalves Dias? Já universalmente conhecido como poeta e homem público, volltou do Rio a sua terra, Caxias, no Maranhão, para rever a jovenzinha Ana Amélia, pela qual se apáixonara há anos atrás, encontrando-a, desta vez, em, 1852, mais bela ainda, em pleno viço da juventude, um encanto de mulher, a quem dedica os mais lindos poemas (uma destas poesia ela gravou com o próprio sangue em cartão especial!). Resolve pedi-la em casamento. O que ambos temiam aconteceu: malgrado toda a consideração que aquela família lhe dedicava, venceu o preconceito de raça e de casta: a família dela, graças à ascendência mestiça do escritor, rejeitou com vigor o pedido.
O poeta e a amada sofreram a vida toda as conseqüências daquela refutação. Ele morreu solteiro; ela casou, mas sempre lhe lançava em rosto o que consioderava uma covardia.
Sabemos quie Gonçalves Dias era fruto de uma união não oficializada de um português e de uma cafusa brasileira. Ele se gloriava de ter em suas veias o sangue das três raças produtoras do povo brasileiro: branca, indígena e negra.

Um dos grandes poemas da literatura de Língua Portuguesa é o “I-Juca-Pirama” (aquele que deve morrer) de Gonçalves Dias.
O negro, o africano, não deviam morrer. A nação precisava deles.

A raça indígena há muito fora condenada à morte. Hoje, com que dificuldades não se luta para preservar o espaço aos remanescentes indígenas! Basta darmos uma olhada na Internet para nos convencermos de quanto estamos longe de chegar àquela terra sem males sonhada pelos indos das Américas?

Em minha família existe, camuflado, o preconceito de cor contra os negros. No que toca à nossa ascendência indígena, vem preservada com orgulho pelos cavalcanti, albuquerque, arcoverde ... Minha avó materna se gloriava
de ser parenta do Cardeal Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

Já em se tratando de algum ascendente negro... Minha saudosa tia Marieta, vendo-me pesquisar a genealogia da família disse-me certa vez: - Miltinho pensa quie vai encontrar algum antepassado nosso negro. Pode ficar certo que os morenos da família vêm dos índios.
Foi ai que meu primo Geraldo Amorim se saiu com esta:
- Agora sei de onde vem essa minha preguiça!
Então perguntei a Mamãe: - A senhora gostaria que eu encontrasse sangue negro em nossa família?
Ao que Mamãe foi logo respondendo:
- Eu preferia que fosse sangue indígena!

Por volta de 1960, os frades de Triunfo / PE estavam preparando um menino índio que aparecera na cidade, vindo talvez da tribo dos fulni -ô de Águas Belas / PE.
Houve na cidade quem fizesse medo ao garoto, dizendo que, na hora do batismo, ele seria obrigado a comer um quilo de sal. O menino fugiu, ninguém sabe para onde.
Será que teriam feito isso se ele fosse negro? Não, pois sempre havia batizado de negros.
Em Gravatá do Cumbe, Paróquia de Lagoa Seca / PB, descobri um cemitério de índios. Eram vários montículos de barro tão duro que nem de picareta conseguimos quebrar. Vi logo que não eram formigueiros como alguns pensavam. Não sofre dúvida de que eram sambaquis, guardando no seu interior os potes com as múmias ou os ossos dos falecidos. Quando falei nisso, pareceu-me que não me deram crédito. Não estava vendo que aquilo não era terra de índios?
Encontrei restos de cerâmica, alguns com pintura. Disseram-me logo que eram louças dos antigos escravos.
Na África já havia a escravdão. As tribos competiam entre si, procurando se avantajar nesse comérci0. A escravidão era vista aqui no Brasil como coisa muito natural. Isso não fazia vergonha.
Uma das obras de Vito Hugo "Os Trabalhadores do Mar" foi traduzida por Machado de Assis. Basta isso para atestar a importância do livro. Na apresentação que redigiu em 1866, escreve Vito Hugo: "A religião, a sociedade, a natureza: tais são as três lutas do homem. Estas tyrês lutas são ao mesmop tempo as suas três necessidades: precisa crer (...), precisa criar (...). precisa viver (...). Mas há três guerras nestas três soluções. (...) Tríplice fatalidade pesa sobre nós: a fatalidade dos dogmas, a fatalidadfe das leis, a fatalidde das coisas.
.
“Na Notre-Dame de Paris, o autor denunciou a primeira; nos Miseráveis, mostrou a segunda; neste livro (Os Trabalhadpores do Mar), indica a terceira. A estas três fatalidades que envolvem o homem, junta-se a fatalidade interior, a fatalidade suprema, o coração humano.”
Isto quer dizer que a vida é um grande desafio, ou como diz muitas vezes um dos personagens de Grande Sertão - Veredas, de Guimarães Ross, viver é perigoso.
Mas voltemos a Vito Hugo no mesmo livro.
Quando o velho Reverendo Dr. Jaquemin Herodes comparece no escritório da Durande com o fito de apresentar aos notáveis, especialmente a Mess Lethierry, seu sucessor na paróquia, o Reverendo jovem Padre Ebenezer Caudray, estabelece-se uma conversa entre o empresário da Durande e dois Reverendos Padres que representavam a Alta Igreja “que é mais ou menos um papismo sem papa”. “O Dr. Jaquemin Herodes era desse matiz anglicano, que é quase uma variação romana”. Aferrado à letra da Bíblia, o Reverendo Herodes manifesta pesar pela tragédia do naufrágio que destruíra, como pensavam, o navio a vapor Durande, apontando, ao mesmo tempo, para os desígnios da Providência Divina que sabe tirar o bem do que nos parece um mal. Ao mesmo tempo, sugere se empregue o capital restante da Durande num negócio que ele, o Dr. Reverendo abrira: “empregara capitais em uma magnífica operação que se realizava em Sheffield; se Mess Lethierry, com os fundos que lhe restavam, quisesse entrar nesse negócio, podia fazer a fortuna; era um grande fornecimento de armas ao czar pra reprimir a Polônia. Ganharia 300 por cento.
Estamos agora chegando ao âmago da questão:
“ A palavra czar pareceu despertar Lethierry, que interrompeu o Dr. Herodes:
- Não quero nada com o czar.
- Mess Letjhierry, os príncipes são aceitos por Deus. Deus escreveu: Dai a César o que é de César.
Lethierry, meio absorto na cisma, murmurou:
- Quem é César? Não conheço.
O Reverendo Herodes continuou a exortação. Não insistiu por Sheffield. Não aceitar César era ser republicano. O Reverendo compreendia que um homem fosse republicano. Nesse caso, compreendia que Mess Lethierry se voltasse para uma república. Mess Lethierry podia estabelecer a fortuna nos Estados Unidos, melhor do que na Inglaterra. Se quisesse decuplicar o que lhe restava, bastava-lhe tomar ações na grande campanha de exploração das plantações do Texas, que empregava mais de 20000 negros.
- Não quero nada com a escravidão, disse Lethierry.
- A escravidão - replicou o Reverendo Herodes – é de instituição sagrada. Está escrito: “Se o senhor bater o escravo, nada lhe será feito, porque bate o seu dinheiro”.
“(...) o Reverendo Ebenezer aproximou imperceptivelmente a sua cadeira da cadeira do Reverendo Jaquemin, e disse-lhe de modo que não fosse ouvido senão por ele::
- O que este homem diz é-lhe ditado..
-Por quem? – perguntou no mesmo tom o Reverendo Herdes.
- Pela consciência.
O Reverendo Herodes meteu a mão no bolso, tirou um grosso volume em 18.º, encadernado com fechos, pô-lo na mesa e disse em voz alta:
- A consciência é isto.
O livro era a Bíblia.”

E vai por aí...

Com esta postagem encerramos a assunto do silêncio testamentário de Dona Theresa de Jesus sobre a adoção da filha de um índia na família.
São muitas as questões que surgem em torno disto, todas elas merecedoras de consideração.
Chegamos quase a esgotar o assunto, colocando-nos favorável à tese da adoção.
O testemunho da tradição oral não pode mentir.
Apelamos para a fatalidade suprema do coração humano (Vito Hugo).
O coração tem razões que a razão desconhece (Pascal: Penssées).


Os grifos são nossos.



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

GENEALOGIA BEZERRENSE

VOLTANDO ÀS RAÍZES


Em meu livro “Em Busca das Raízes – Genealogia de Famílias Bezerrenses” (Livro Rápido, Olinda – PE, 2011),
Sustentei a tese de que várias famílias de Bezerros e do Agreste pernambucano descendem da união do Comandante Francisco Xavier de Lima com a índia a quem ele deu o seu nome: Francisca Xavier de Lima .

Resumidamnte, temos p o seguinte quadro:

FRANCISCO XAVIER DE LIMA E FRANCISCCA XAVIER DE LIMA (ÍNDIA DA CAMARATUBA)

Pais biológicos de:

F1 (ÙNICA) – Maria Francisca Lima ou Maria Conceição Lima. Nasceu cerca de 1813. Casou, em data anterior a 1638, pois neste ano é testemunha de casamento da cunhada Teresa, com o Alferes Joaquim José Bezerra da Silva.Maria Francisca faleceu a 11.10.1880, com 67 anos. Em 1842 é batizado escravo do Tenente Joaquim José Bezerra da Silva, sendo padrinho Francisco Xavier de Lima, da Sapucaia. O major Joaquim faleceu em 1877, com 68 anos. No inventário de Francisco Xavier de Lima, de 1879, ambos eram falecidos, sendo representados por 9 filhos:
1. Rufina Francisca Pais de Lira.
2. Maria Francisca, casada com Manoel Francisco Paes de Mello.
3. Joaquim José Bezerra e Silva, Coronel Quincas Joça.
4. Major Francisco Apolinário Bezerra e Silva, casado com Maria Nazaré Bezerra e Silva.
5. Major Miguel Arcanjo Bezerra e Silva.
6. Antonia Maria Bezerra e Silva, casada com Francisco Coelho.
7. Ana Bezerra da Silva, casada com José Francisco da Silva Vieira.
8. Joaquina Bezerra e Silva, casada com José Pantaleão Xavier de Lima.
9. Maria Laurinda (seg. Yony, Lourença) Bezerra da Silva , solteira, de maior, por ocasião do Inventário. A mesma Tia Quina,Tia Lô de Socorro laurentino, casadfa com José Fautino Paes de Lira (Tio Zumba), pais de Zumbinha (José Fautino) e de Dionísio Pantealeão,
Pais de:
N1 – Rufina Francisca Pais de Lira. Casou com José Faustino Pais de Lira.
N2 – Joaquim José Bezerra da Silva Júnior (Quincas Jaca). Nasceu cerca de 1839. Em 1872 era Tenente Quarte – Mestre do Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional de Bezerros. Ainda como Tenente era proprietário do Engenho Sapucaia, com 100 escravos, em 1882. Primeiro prefeito de Bezerros. Faleceu a 5.8.1918, com 87 anos. Casou com Joaquina Francisca Bezerra e Silva. Faleceu a 15.3.1881.
N3– Manoel. Batizado com 15 dias, a 25 de março de 1840, sendo padrinhos José Rodrigues Leão e Antonia Marcella da Silva, moradores no Riachão. Deve ter falecido criança.
N4 – Maria Francisca. Casou com Manoel Francisco Paes de Mello.

N5 – Antonia Maria Bezerra e Silva. Batizada a 9.10.1842, na matriz de Bezerros, com 10 dias, filha de Joaquim José Bezerra da Silva e Maria Francisca Lima, moradores na Sapucaia, sendo padrinhos Manoel Bezerra dos Santos e Rufina Josefa de Freitas Lima. Casou com o Capitão José Francisco Coelho, Cazuza, filho de João Francisco Vieira de Mello Coelho.

N6 – Major Miguel Arcanjo Bezerra e Silva. Batizado a 28.12.1843, com 8 dias, filho do Major Joaquim José Bezerra da Silva e Maria Francisca Lima moradores na Sapucaia, sendo padrinhos .... Xavier dos Santos, morador na ..., e Delfina Maria, solteira. Faleceu a 21.4.1912. Casou com Olímpia Pulcidônia da Silva Lima, filha de João Antônio Pinheiro Paes de Lyra e Theotônia Francisca Lima. Pais de:
Bn1– Arcemina Olympia Bezerra da Silva. Faleceu a 31.10.1919. Casou com Manoel Francisco Coelho, nascido a 18.5.1872 e falecido a 11.1.1934. Avós de Frei José Milton

N7 – Major Francisco Apolônio Bezerra e Silva. Faleceu a 21.2.1894. Casou com Maria Nazaré Bezerra e Silva. Dele diz Nelson Barbalho;” agricultor-proprietário em Bezerros, e tão habilidoso que naqueles tempos brabos sem médicos e dentistas na região, receitava a matutada ao redor e arrancava dentes do povo com incrível habilidade”. (Barbalho, 10 Famílias de Caruaru). Pais de filhos e filhas, dos quais Nelson cita dois:
- Umbelina Bezerra da Silva. Casou com Valdevino Xavier de Lima, de São Caetano da Raposa.
– Dorival Xavier de Lima. Foi gerente de campo da Usina Lajinha, em União dos Palmares, Alagoas. Casou com Edilia Espósito de Lima, havendo muitos filhos do casal, inclusive:
– Genésio Espósito de Lima. Poeta, solteiro, residente em Caruaru, amigo de Nelson Barbalho.

N8 – Ana Bezerra da Silva. Casou com José Francisco da Silva Vieira.
N9 – Joaquina Bezerra e Silva. Casou com José Pantaleão Xavier de Lima.
N10 – Maria Lourença da Silva. Solteira. CITADA POR YONY.

NOTE BEM: MARIA FRANCISCA LIMA, CONFORME HIPÓTESE DE FREI JOSÉ MILTON, TERIA SIDO ADOTADA COMO FILHA POR THEREZA MARIA DE JESUS, ESPOSA DE FRANCISCO XAVIER DE LIMA.


Vejmos o que diz o primo Yony, após tratar dos troncos remotos Pedro Pais de Lira e João Pais de Lira:

"Frei José Milton desdobra parte da descendência destes Sargento-mor Pedro Pais de Lira e Capitão-comandante João Pais de Lira, acima citados, a qual forma parte do núcleo central povoador de São José dos Bezerros.
Assim, a história que se conta, com franciscana paciência, obstinada fé e amor filial aos ancestrais, une os pioneiros a uma civilização agrestina que se espraia e se amplia em muitas famílias. Que molda o desenvolvimento de toda uma região, dando-lhe tessitura, engenho humano que amplia as oportunidades e faz surgir o progresso.
Frei José Milton busca as origens, esclarece parentescos, identifica as muitas contribuições no definir as feições da Bezerros de hoje, ou talvez mais propriamente da religiosa São José dos Bezerros, nascida e crescida em volta da primitiva capela que se torna Curato no distante 1768.
Com paciência franciscana traz à luz registros perdidos em livros de batismo, casamento e óbito iniciados no século XVIII. Acresce notas de inventários e de outros processos amarelecidos em arquivo cartorial. Mas também com amor ouve os mais velhos, anota histórias e lendas nunca escritas, mas guardadas na tradição oral. Algumas não confirmadas pelos documentos mas acaso reveladoras de fatos próximos, aproximações ou tradições de ainda maior antiguidade, pois onde há fumaça há fogo. Aos poucos vai-se descortinando um panorama social e político que dá continuidade a essa gente que aqui se estabeleceu com propósitos duradouros e que mantém vivo o sangue dos pioneiros ao longo dos séculos XVIII ao atual XXI que se inicia.
Mas, como povo acolhedor, sempre ampliando os laços, torna antigos, pelo entrelaçamento, os novos emigrados que aqui vêm para trabalhar e contribuir para o avançar dessa gente e dessa terra.”
Mas o primo discorda de minha tese, baseada na tradição oral, segundo a qual grandes famílias de Bezerros e da região descendem da união do Comandante Francisco Xavier de Lima com uma índia da Serra da Camaratuba, na Sapucaia, a quem deu o seu próprio nome: Francisca Xavier de Lima.
São dignos de toda consideração os argumentos apresentados por Yony Sampaio, com vasta experiência adquirida no campo genealógico e a cultura advinda do manuseio permanente de documentos de cartórios, de igrejas, de fórum.
Vejamos o que me diz por e-mail:
Caro primo:
Encontrei este testamento de Teresa Maria de Jesus. Nele ela detalha os 12 filhos que constam do inventário, sendo 11 vivos e uma ùnica falecida.
De olhar documentos antigos sei da seriedade com que os mesmos eram encarados. Até no registro civil, filhos naturais de casais que coabitavam, viviam maritalmente ou amancebados eram registrados como naturais, mesmo quando declarados os pais; outras vezes só as mães eram identificadas.
Testamento, nos quais a pessoa se encomendava a Deus, tinham toda a solenidade de uma última declaração, pela situação já encarando a prosperidade. Assim, dificimente a verdade não seria declarada. Vi muitos testamentos nos quais os autores declaram filhos naturais, filhos nascidos em periodo de viuvez ou quando solteiros.
Assim, quando Teresa declara que "é viúva do Coronel Francisco Xavier de Lima de cujo casamento existem os filhos seguintes.... e os filhos de sua falecida filha Maria Francisca Lima, acho dificil não serem filhos do casal.
Não é uma prova definitiva mas creio ser outra forte evidência. Não acompanhei a memória oral da tradição da india da serra, para saber quais as fontes, sua extensão e antiguidade. Quanto mais espalhada a história, pelos vários ramos da família, e quanto mais antigas as primeiras versões, mais credibilidade. Nesta epoca, 1810 a 1820, restavam muito poucos indios na área, a maioria tinha entrado para o interior em epoca mesmo anterior ao quilombo dos Palmares, antes de 1700. Pouquissimos são os registros de indios nos livros eclesiasticos, embora existam pardos, já mistura de sangue. Devemos sim, ter sangue caboclo, nas nossas raizes, mas com mais certeza em meados do seculo anterior (XVIII).
Enfim, as interpretações são livres, mas segue o documento.
Grande abraço,
Yony “

Em nova edição da Genealogia, conservarei a minha tese, mas não deixarei de transcrever, a bem da verdade, a hipótse de Yony Sampaio. Merecem muita consideração os argumentos de Yony. Podería alguém perguntar: Por que não mencionar no Testamento que o marido tinha aquela filha da Índia? Por que chamar Maria Franciosca Lima " minha falecida filha"? Por que não dizer "minha filha adotiva?" Por que esconder que era filha de uma índia?

Eu poderia responder que na época era, talvez, vergonhoso dizer que alguém era índio, uma vez que os remanescentes indígenas não gozavam de nenhuma automia e viviam, como em Calcaia (CE) bêbados e jogados no lixo, ao contrário dos remanescentes negros que sabiam preservar sua idetidade quilombola.
Era praxe declarar alguém como filho natural, filho adulterino. Normalmente ninguém seria descriminado por isso. Mas dizer que era índio talvez já soasse bem diferente. Conheci no Ceará a comunidade de Uruburetama (Diocese de Itapipoca), onde se perdera totalmente a consciência de serem remanescentes indígenas. Não havia necessidade de se recorrer á história ou a etnologia para se constatar que estávamos diante de uma povoação indígena; via-se na fisionomia dos habitantes, nos seus hábitos e costumes. Quando me referi a isto em conversa com pessoas de lá, notei o desagrado ou a indiferença das mesmas. Não admira que hoje se sintam anchas se consideradas quilombolas.
A população de lagoa Seca na Paraíba vem de ancestrais indígenas. Há 30 anos atrás era mais visível este antecedente racial. Mas, culturalmente também, Lagoa seca ou Ipuarana ou Ipauarana se aproximava bastante do modelo indígena. Ainda vi nas casas a manipueira sendo espremida no tipiti de palha. O próprio nome Ipuarana ou Ipauarana (falsa lagoa) visava a traduizir para o tupi Lagoa Seca, a fim de evitar dois municipios no Brasdil com o mesmo nome (consta que por sugestão do jornalista pernambucano Mário Mello). Procurava-se também conservar a origem indígena do lugar.
Mas quem de Lagoa Seca (o nome antigo voltou) tem idéia de sua origem tupi? Creio aceitarem com mais facilidade uma origem africana que indígena. Ainda conheci em Lagoa Seca mulheres com cabelos que chegavam às ancas. Hoje certamente não faltam os cabelos à moda africana, com todos os requintes dominados pelas cabeleireiras em seus salões. As índias saem de lá anchas, com requebros africanos.
Cabelos grandes já era.


Diziam os antigos que todas as famílias da Sapucaia eram descendentes do casal Francisco Xavier de Lima e da índia da Serra da Camaratuba Francisca Xavier de Lima.
Diz ainda Socorro Laurentino que sua tataravó Maria Francisca de Lima está sepultada também na Matriz de S. José de Bezerros e que era da Sapucaia.
Trata-se da sepultura de Maria Francisca Leite e de José Joaquim Bezerra da Silva, que deram origem à grande família Bezerra e Silva de Bezerros e do Agreste pernambucano. De acordo com a tradição destas famílias, Maria Francisca Leite era a filha única da índia Dona Francisca Xavier de Lima e do Comandante Francisco Xavier de Lima que a batizou e lhe deu o próprio nome. Ainda novinha, teria sido adotada por Theresa Maria de Jesus, com quem o Comandante se casou talvez no mesmo ano do nascimento da menina. (Fr. F. M. Genealogia, Ed. Definit. III, pg. 109).
Não é preciso ser especialista em genealogia ou etnografa para perceber a importância geográfica de lugares como, por exemplo, a Sapucaia, a Serra Negra. Muitas famílas do Agreste pernambucano tiveram seu berço nessas paragens, ainda hoje muito belas e férteis. Fazem lembrar o paraíso bíblico tanto pela sua beleza como pela gênesis de tantas famílias que aí tiveram o seu berço. A Sapucaia é um berço privilegiado como demonstramos em nossa “Genealogia”, trazendo à baila personagens, de primeira grandeza uns, humildes e quase anônimos outros, dos quais descendem quase todas as famílias mais antigas de Bezerros e da região.
Voltarei ao blog com mais detalhes.