segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

FESTA DO SENHOR SANTO CRISTO DE IPOJUCA 2010 - 2011

A BANDEIRA - no dia 22 de dezembro deste ano de 2010, teve início em Ipojuca (na Mata Sul de Pernambuc), em plena área do Complexo de SUAPE, com a noite da BANDEIRA, o novenário em preparação para a festa do SENHOR SANTO CRISTO OU O SENHOR BOM JESUS do santuário franciscano do Convento de Santo Antônio. É tal a popularidade da devoção ao SENHOR SANTO CRISTO, que seus devotos estenderam o nome também ao Convento: Convento do SENHOR SANTO CRISTO. Devoção quase quatro vezes centenária como o seu Convento que já passa disto (1606 -2011). O que pouca gente sabe (até msmo entre os frades) é que essa devoção vem sem interrupção desde o seu início no ano de 1663. Certamente a segunda mais antiga devoção ao BOM JESUS de todo o Brasil, já que a do Senhor Santo Cristo ou Bom Jesus de Iguape (São Paulo) teve o seu culto público aberto a 2 de novembro de 1647 (veja na Internet, pesquisa Google). No entanto, a origem das imagem é lendária, ao passo que a história do Senhor Santo Cristo de Ipopjuca tem um núcleo histórico garantido por documentos inda hoje preservados.
Para prosseguirmos, uma transcrição feita por Frei Venâncio do historiador Padre Manuel Barbosa [1] sobre as numerosas invocações do Crucificado entre nós:
Como enternece a alma católica procurar um bálsamo para mitigar as dores físicas e morais, invocando o Senhor Bom Jesus da Agonia, da Esperança, da Consolação, da Boa Sentença, do Bonfim, dos Navegantes, do Bom Caminho, dos Milagres, dos Pobres, dos Necessitados, dos Agonizantes, dos Perdões, dos Remédios, da Cana Verde...
E Frei Venâncio prossegue com a transcrição:
Os mais célebres santuários brasileiros dedicados a N. Senhor Jesus Cristo são: Sr. do Bonfim e Sr. Bom Jesus da lapa, Bahia; Sr. Santo Cristo de Ipojuca, Pernambuco; Sr. Bom Jesus de Matosinhos e Sr. Bom Jesus de Congonhas, Minas; Sr. Bom Jesus de Pirapora e Sr. Bom Jesus dos Perdões, São Paulo; Sr. Bom Jesus de Iguape em Santa Catarina. O santuário de Ipojuca é dos mais antigos. [2]
Poderíamos acrescentar muitos outros, entre eles a imagem milagrosa de Cristo das Necessidades, venerada numa capela laterai da igreja do convento franciscano de Sirinhaém: “intronizada em seu altar em 1775”, 100 anos depois da do Senhor Santo Cristo de Ipojuca. [3]
" Os jansenistas não conseguiram tirar da alma de nosso povo a ternura e a compaixão pelo Cristo Crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1Cor 1. 23).
Podemos dizer, sem sombra de erro, que a imagem do SENHOR SANTO CRISTO DE IPOJUCA é a segunda mais antiga de todo o Brasil.
[1] BARBOSA, Padre Manuel -, A Igreja no Brasil, p. 263.
[2] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Santo Cristo de Ipojuca, Rio de Janeiro,1956, nota 7 ao Cap. XI, p. 88.
[3] Id. Ibd. p. 40.
Agoran vejamos o que escreve Guy de Ridder:
Não há no mundo de fala portuguesa quem não conheça a invocação de O Senhor Bom Jesus. Somente no Brasil, ele é o Titular de mais de 200 igrejas, algumas delas basílicas ou santuários nacionalmente famosos, como a do Bom Jesus da Lapa, Bahia, e a do Bom Jesus de Pirapora, São Paulo. Sob essa comovedora invocação veneram- se imagens de nosso Divino Redentor especialmente em episódios de sua Paixão [...]
Pe. Carlos Antônio da Silva é grande estudioso dos Santuários do Bom Jesus
existentes no Brasil, com um manto de púrpura e a coroa de espinhos, ou pregado na Cruz. Mas há também numerosas imagens do Bom Jesus do Horto representando Nosso Senhor em sua agonia no Jardim das Oliveiras. Bom Jesus dos Passos, em sua subida ao Monte Calvário. Bom Jesus da Coluna, no momento da flagelação do Senhor. E assim por diante. A imagem venerada na Basílica do Senhor Bom Jesus na cidade paulista de Tremembé, é certamente a mais antiga de que se tem conhecimento. Ela foi benta pelo vigário da igreja de Nossa Senhora da Conceição em 1663, mais de 50 anos antes de ser encontrada no Rio Paraíba a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Além disso, é uma das mais piedosas e de maior valor artístico.
Discordamos dos ilustres pesquiosadores, comenta Frei José Milton: a imagem do Bom Jesus de Tremembé foi exposta ao culto público somente em 1672, quando se construiu a sua Capela no local onde se encontra a atual Basílica. Da antiga capela nada restou, ao passo que a imagem do Bom Jesus de ipojuca foi entronizada em 1665 em sua Capela que ainda hoje se conserva dentro da igreja do Convento, tendo sofrido apenas pequenas alterações em quase quatro séculos de existência.
"Ipojuca tornou-se a terra de Santo Cristo em 1663, ano em que a imagem milagrosa deve ter vindo de Portugal", escreve Frei Venâncio Willeke ("Convento de Santo Antõnio de ipojuca, Rio de Janeiro, 1956 p. 33).
O mesmo historiador franciscano cita Frei Jaboatão e o Livro dos Guardiães de Ipojuca que serviu de fonte a este para afirmar que o Santuário do Senhor Bom Jesus de ipojuca (Santo Cristo) teve o lançamento de sua primeira pedra em 1663 (a 04 de novembro). Mas a entronização da imagem só aconteceu no dia 14 de setembro de 1665, Festa da Exaltação da Santa Cruz (festa que, no calendário litúrgico, ainda hoje é nesta data). Certamente não se quis esperar até 1º de janeiro, dia em que há séculos se festeja o Senhor Bom Jesus. Provavelmente em 1º de janeiro de 1665 se celebrou a Primeira Festa do Senhor Bom Jesus do Convento de Ipojuca (o Santo Cristo).
Por fim, colocamos um questionamento a respeito da imagem e do culto do Senhor Santo Cristo ou Bom Jesus de Iguape: será que a documentação de sua história tem o peso da relacionada com a imagem e o culto do Senhor Bom Jesus ou Santo Cristo de Ipojuca? Se aquela documentação não resiste à critica abalisada, ousaria afirmar a precedência cronológica da veneração ao Senhor Santo Cristo de Ipojuca.
O PORQUÊ DA FESTA A PRIMEIRO DE JANEIRO -
Em consonância com a tradição franciscana da devoção ao Santissimo Nome de Jesus, devoção que remonta à Idade Média e mesmo ao tempo de São Francisco, de Santo Antônio, do Beaventurado João Duns Scotus, de São Boaventura, de São Bernardino de Sena, de São João Capistrano e de muitos outros, os primeiros franciscanos de Ipojuca celebravam a festa do SENHOR SANTO CRISTO a 1º de janeiro, dia do Santíssimo Nome de Jesus, festa que, no calendártio da Igreja se conservou naquela data, até o Concílio Vaticano II, quando a reforma litúgica, a substituiu pela Solenidade da Santa Mãe de Deus Maria.
Mas em Ipojuca, continua de pé a tradicional festa do SENHOR SANTO CRISTO NO DIA PRIMEIRO DE JANEIRO. No tempo do Vigário Frei Humberto Wallschlag foi alterada a tradição do novenário, pois o Vigário não aprovava a novena do SENHOR SANTO CRISTO no tempo da Novena do Natal. Achou por bem, sem consultar os paroquianos e sem prepará-los para a mudança, reduzir a reparação para a festa do Bom Jesus de ipojucva a um simples Tríduo. Foi grande o desgosto dos paroquianos; a participação dos mesmos na festa foi grandemente prejudicada, de tal forma que se voltou à tradição da novena.
Nota: Em 1979 (31 de janeiro) – Frei Humberto Wallschlag, OFM, Vigário até janeiro de 1982. Sua Provisão de Vigário da Paróquia de S. Miguel de Ipojuca é passada pelo Sr. Arcebispo Metropolitano Dom Helder Câmara e subscrita pelo Vigário Geral Dom José Lamartine aos 31 de janeiro de 1979.
Em janeiro do mesmo ano o Congresso Provincial o nomeou Guardião da Casa de Noviciaso de Ipojuca. Fica como Vigário e Guardião até 13 de fevereiro de 1982.
Consta no Livro dos Guardiães (Arquivo do Convento de ipojuca e da Província Franciscana) que a tradicional festa do SERNHOR SANTO CRISTO só veio a ser interrompida durante a Revolta Praieira (1848 - 1849), anos em que não foi possível se realizar a festa, uma vez que, por determinação do Sr. José Francisco do Rego Barros, opositor dos Praieiros, o Convento estava servindo de quartel às tropas da legaliodade e de prisão aos praieros, e houve tiroteio. Consta em documentos que frei José Milton teve em mãos no Arquivom Público de Pernambuco, que, num desses tiroteios, os praieiros atingiram com suas balas o Santo Cristo do Côro do Convernto. O fato serviu, aos inimigos do Partido Praiero, de libelo contra a Praia: foi acusada de atentado contra a religião católica e de total falta de respeito ao sagrado. O comentarista do Livro dos Guardiães escreve a respeito da supressão da festa: "O cancelamento da festa tradicional [...] parece constituir um fato único nos anais do Santuário e uma ocorrência inaudita para os romeiros."

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

OITEIRO DE MARACAÍPE

GAMELEIRA SECULAR


CEMITÉRIO EM RUÍNAS



CAPELA RESTAURADA INTERNAMENTE PELO ATUAL VIGÁRIO FREI FRANCISCO ROBÉRIO




Volta às páginas dos jornais o descalabro em que se encontra o Patrimônio Natural de Maracaípe. Veja o que estampa, com grandes fotos, o JC de ontem, em sua secção "Cidades", pg. 4, da autoria de Verônica Falcão, admiradora do carisma ecológico franciscano:









"MÃE NATUREZA

DEVASTAÇÃO AMEAÇA RESERVA EM MARACAÍPE





Pontal de Maracaíope

Publicado em 19.12.2010, no Jornal do Commercio Cinco anos depois de tomar dos franciscanos uma reserva de 76,21 hectares em Maracaípe, Ipojuca, na Região Metropolitana da capital, a Arquidiocese de Olinda e Recife devolveu, mês passado, a propriedade sem cerca, sem porteira e com mais de 20 casas construídas irregularmente. O lugar, única unidade de conservação particular do Estado que reúne Mata Atlântica, restinga e manguezal, é ainda alvo de queimadas, desmatamento e passeios turísticos de buggy e cavalo. Sem manutenção, a estrada que dá acesso à igrejinha localizada na parte mais alta da área, de onde se avista a vegetação nativa, o mar e rio, encontra-se intrafegável. Uma das laterais do templo, devotado a Nossa Senhora da Conceição, está desmoronando. Na outra, há um cemitério onde a comunidade do entorno ainda enterra seus mortos, mas o muro que separava os túmulos da mata desmoronou. O único vigia que fiscaliza os 130 hectares da propriedade diz que não tem controle sobre os sepultamentos. Um dia desses a prefeitura veio aqui e me disse para informar ao povo que só é para enterrar se tiver atestado de óbito. Mas se chegar um bandido para enterrar alguém aí de noite, não vai encontrar dificuldades. A propriedade não tem nem porteira, alerta José Francisco da Silva, que toma conta do lugar há 15 anos. O impasse entre a arquidiocese e os franciscanos, hoje desfeito, teve início em 2005, quando o então arcebispo, dom José Cardoso Sobrinho, instituiu a Paróquia de Nossa Senhora do Ó, em Ipojuca. Ele definiu que todas as terras da igreja da PE-60 em direção ao litoral, inclusive a reserva, passassem a ser da nova paróquia, pertencente à diocese. Já os imóveis religiosos existentes da rodovia estadual em direção ao continente, continuariam sendo dos franciscanos. Com isso, a reserva dos frades passou para a Paróquia de Nossa Senhora do Ó. Nesses cinco anos, três padres se revezaram à frente da paróquia, sem que nenhum tomasse conta da unidade de conservação. Eles não deram atenção ao lugar, constata o franciscano Robério Ferreira da Silva, responsável pela Paróquia de São Miguel, no mesmo município. Os frades criaram a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Nossa Senhora do Oiteiro de Maracaípe em setembro de 2000. A portaria do Ministério do Meio Ambiente foi publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de setembro. A unidade de conservação teve origem no ideário do santo italiano São Francisco de Assis (1182-1226), considerado o patrono da ecologia. Estávamos usando o local para formar, através de educação ambiental, uma geração de frades comprometidos com a conservação. Quase 20 frades chegaram a fazer cursos lá. Infelizmente, o projeto foi interrompido quando perdemos a gestão do lugar, relata frei Sinésio Araújo, idealizador da RPPN. Como esse tipo de reserva, por lei, tem caráter perpétuo e irrevogável, os franciscanos deixaram de gerenciar a área, mas a reserva não deixou de existir. O imbróglio teve fim em setembro, qu..."



NOSSO COMENTÁRIO

Votamos ao tema por um questão de compromisso com a verdade. De parabéns está o JC pela atualidade e qualidade da reportagem. Poucas vezes um tema ligado à Igreja é tratado com tanto esmero e, tecnicamente, impecável. Mas achamos por bem completar o artigo com alguns comentários que ajudarão os leitores a avaliar a quem cabem as responsabilidades na devastação da reserva de Nossa Senhora do Oiteiro.



Segundo Frei Sinésio Araújo, o descaso com a área teve início com o afastamento de Frei Sinésio, idealizador e gestor da RPPM. Frei Sinésio e de seus colaboradores Frei Gilton Rezende, Frei João Pereira e os Noviços Franciscanos de Ipojuca, deixaram a reserva em situação invejáveçl. Com a criação da Paróquia de Nossa Senhora do Ó e seu desmembramento da Paróquia- mãe (São Miguel de Ipojuca), tanto os Currais de São Miguel, como Nossa Senhora do Oiteiro caíram em completo abandono.

Não valeram as preces que Frei Sinésio dirigia a Nossa Senhora do Oiteiro em seu santuário quatro vezes secular, para que defendesse a reserva. Onde falta o humano, pouco vale o divino. Videant consules.
Hoje, a administração do patrimônio constituído pelos Currais de São Miguel e Nossa Senhora do Oiteiro voltou aos franciscanos, sinal do reconhecimento do Governo Arquidiocesano da validade do trabalho dos frades nessas áreas.
Também os limites das Paróquias de São Miguel de Ipojuca e de Nossa Senhora do Ó serão reestudados.
O Vigário Frei Francisco Robério já concluíu a restauração da Capela do Oiteiro e junto a D. Fernando Saburido procura uma solução para os patrimônios ameaçados dos Currais de São Miguel e de Nossa Semnhora do Oiteiro de Maracaípe.