terça-feira, 6 de julho de 2010

MÁRTIRES DE GORKUM





Luis Berrueco (activo de 1731-1750)-Mártires del Gorkum (1731)-Óleo/tela-Templo de san Francisco, Puebla.







SANTOS MÁRTIRES DE GORCUM (hOLANDA)


No dia 9 de julho a Ordem Franciscana celebra os Santos Mártires de Gorcum.
Já que criamos várias postagens sobre os Mártires da Guerra Holandesa, voltemos agora a nossa atenção para os Mártires de Gorcum, na Holanda.
Os franciscanos do Brasil, nas primeiras décadas do século XVII, guardavam indelevlmente na memória o martírio dos seus confradses de Gorcum, quando a sanha holandesa atacava o Nordeste. Muitos dos frades foram contemporâneos daqueles mártires, pois 60 anos apenas eram passados desde que se deu o cruel trucidamento de Gorcum.
Em seu livro Santos e Heróis do Povo, o Cardel Emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, registra para o dia 9 de julho:
“Agora vamos à Holanda. Aí veneramos os mártires da Eucaristia e da fidelidade ao Papa. São conhecidos sob o nome de MÁRTIRES DE GORCUM. Um, era dinamarquês; outro alemão; cinco eram belgas; doze, irlandeses. Todos excelentes padres e religiosos. A morte deles ocorreu a 9 de julho de 1572.”
O “Missal Franciscano” dedica o dia 9 de julho a São Nicolau Pick e companheiros mártires da Ordem I. Mas poderia ter acrescentado: “e da Ordem III”, como o faz a “Liturgia da Horas” próprio da Família Franciscana do Brasil, onde lemos:
“No mês de junho de 1572, os calvinistas , comumente chamados gueusos, tendo-se apoderado da cidade de Gorcum, na Holanda, prenderam os frade Menores daquele Convento e vários outros sacerdotes. Depois, andaram com eles pelas várias ruas da cidade, expondo-os à irrisão do povo. Conduziram-nos presos a Brielle, onde o Governador Lumey tentou por todos os meios levá-los a renegar a doutrina católica sobre a Eucaristia e o Primado do Romano Pontíficem na Igreja. Mas como eles persistissem com coragem, na verdadeira fé, form sujeitos a cruéis sofrimentos. Finalmente morrem enforcados, tendo seus corpos totalmente esquartejados.
A História desse martírio foi escrita por um contemporâneo.
Transcrevemos um pequeno trecho do seu relato, omitindo os outros por serem demais escrabosos e, capazes de provocar náuseas:




Extraído de Moreau, SJ, Les Saints et Saintes de Dieu. Publicado em Uncategorized às 5:07 pm por FBMV (Pesquisa Google).






“Todos, exceto quatro, foram suspensos de uma só trave oblonga. Da outra trave, entre o guardião e um irmão leigo chamado Cornélio, pendia Godofredo Duneu; o quarto, porém, Tiago [da Ordem] Premonstratense, foi suspenso de uma escada. Os carrascos executaram com muita negligência o suplício mortal, pouco se importando de que os enforcados, bem estrangulados, morressem logo. Um mordia a corda como um freio, de outro, ela passava pelo queixo, de um terceiro, pela garganta, mas não bastante apertada. Com isso, custou-lhes perder a respiração e sofreram mais tempo o último suplício, de tal modo que alguns deles, entre os quais o venerável Nicácio, com a corda na boca, respirava ainda ao clarear do dia. Estiveram a torturá-los pelo espaço de quase duas horas. Começaram pelas duas horas da madrugada e terminaram cerca das quatro.”
Recorremos de novo à Internet para colocar o leitor a par dos trágicos acontecimentos que enlutaram a Igreja, especialmente a Ordem Franciscana.
“Em 1507, os revoltados dos Países Baixos, que tinham pegado em armas, tomando o nome de Gueux, a fim de obter de Filipe II a supressão das medidas tomadas contra os herejes, tinham sido derrotados em Austruwul, perto de Antuérpia. Um certo número de vencidos se tinha refugiado nos navios; chamados Gueux do mar, eles inquietavam diversas embarcações na saída e na entrada dos portos. Eram em geral gente de má reputação que, sob o pretexto da religião, exerciam a pirataria nos mares e, em terra, as piores violências contra os católicos e sobretudo contra os religiosos e os padres. Seu chefe era Guilherme de la Marck; um historiador protestante escreveu a respeito dele: Não havia nele nem fanatismo nem falsa concepção do dever. A crueldade simplesmente, o prazer no mal, tal foi o móvel de suas ações. Expulso das águas da Inglaterra, ele soube que a cidade de Brielle, a mais importante da ilha de Voorne, na Holanda, na embocadura do rio Mosela, se encontrava praticamente desguarnecida pelos espanhóis. Ele conseguiu então conquistá-la de surpresa no dia 1° de abril de 1572, e logo em seguida começaram as habituais perseguições.
No comando de alguns navios, um de seus lugar-tenentes, Marin Brant, subiu o rio Mosela, se apossou de Dordrecht e logo se apresentou diante de Gorcum ou Gorichem. A cidade contava 5.000 mil almas; era já influenciada pela Reforma, ainda que continuasse com maioria católica, mas sem fervor. Possuía no entanto 2 Párocos, muito zelosos e piedosos, Leonardo Véchel e Nicolau Janssen, um convento de Franciscanos, cujo Guardião se chama Nicolau Pieck, padre exemplar e chefe de 18 religiosos, quase todos muito fervorosos, um cabido de Cônegos e 2 mosteiros femininos, um de Agostinhas e outro da Ordem Terceira. Quando se soube do perigo, quase todos os Cônegos e Religiosas deixaram a cidade, pondo, segundo o seu direito, suas vidas a salvo. Os outros permaneceram, esperando sustentar a coragem e animar a resistência. Mas foi inútil. Os Gueux prometeram – isto não lhes custou nada, pois eles tinham o vício do perjúrio – que iriam respeitar, e mesmo assegurar a liberdade religiosa de todos, leigos, padres ou monges; e os cidadãos, confiando nestas promessas, lhes abriram as portas da cidade. Todavia o governador, Gaspar Turk, se retirou para o castelo, onde ele recolheu todos os que, com razão, não confiavam na palavra de Brant. Estavam ali, além de alguns leigos, muito comprometidos pelo ardor de sua Fé, suas mulheres, seus filhos, os Franciscanos, salvo 3 conversos, 2 Párocos, o Capelão das Agostinhas. Jean d’Aesterwyck, um Cônego que acabará cedendo diante da morte, e um bom velhinho, Padre que tinha sofrido um acidente que lhe alterara as faculdades, mas que lhes protegeria no perigo, e que seria um dos mais valentes, Godofredo van Duynen.
Apesar da bravura e da decisão do Governador, o castelo não poderia resistir muito tempo: ele não tinha nem tropas nem as munições necessárias. Logo se tornou evidente que uma capitulação se impunha: e assim as mulheres enchiam o ar com seus gritos e súplicas; e Brant, que percebia os perigos de uma tomada de assalto e temia a chegada de um exército, reiterava suas promessas de anistia completa e geral. Então os assediados, reunidos numa sala do castelo, se confessaram, receberam a Santa Comunhão, – pois o Pe. Nicolau Janssen, muito devoto da Eucaristia, tinha salvo as Santas Espécies do Tabernáculo de sua igreja e as transportara para lá. Depois, às 2 horas da madrugada, numa sexta-feira, dia 27 de junho, abriu-se caminho para a entrada dos Gueux.



Foto da pesquisa Google



E logo se mostrou claramente a todos a maneira como Marin Brant cumpria seus juramentos. Quando seu bando entrou dentro dos muros do castelo, eles imediatamente atacaram os assediados. Ainda não queriam atentar contra a vida destes, só queriam roubar. Os assediados foram brutalmente revistados, em meio a injúrias e golpes.. Depois se fêz a lista de seus nomes. O Governador e os leigos que tiveram a reputação de ter sempre cumprido seu dever de católicos, foram separados. Gaspard Turk, sua esposa e sua filha foram enviados a Brielle; vários deles serão enforcados poucos dias depois; alguns escaparam; os outros foram presos.. Talvez Leonardo Véchel e Nicolau Pieck pudessem ser liberados; mas eles se recusam, pois querem compartilhar o destino de seus irmãos e sustentar sua coragem. Alguns deles tinham grande necessidade desta ajuda; o mêdo natural da morte e, talvez mais ainda, dos tormentos, superava a vontade de permanecerem fiéis, e os fazia ter calafrios.
Certamente eles tinham amargas razões de temer. Desde a primeira noite, no dia 27 de junho, os tormentos começaram. Para arrancar dos prisioneiros a revelação dos lugares onde eles escondiam os seus supostos tesouros, os Gueux os fizeram comparecer diante de si. Ocuparam-se primeiro de Nicolau Janssen. tiraram a corda da cintura deste Franciscano, enrolando-a no seu pescoço, depois passaram uma ponta desta corda na porta da prisão e, alternativamente puxando-a e soltando-a, levantavam e desciam o pobre Padre, até verem-lhe perto de expirar. Depois foi a vez do Padre Guardião. Depois de várias sacudidelas espantosas, a corda terminou se partindo, o supliciado caiu e permaneceu inanimado. Estava morto? Para se assegurar disto, o carrasco passou a flama de uma vela no resto. Depois passou esta mesma flama nas suas narinas, dentro da boca, aberta violentamente, queimando sua língua e o céu-da-boca. A vítima permaneceu insensível. Então ele a repeliu com um pontapé: “É somente um monge, disse, não se pedirá conta a nós de sua vida.” E todos se afastaram.
Mas o Pe. Nicolau Pieck não tinha morrido; ele recobrou os sentidos, mas sua face ficou cheia de chagas tumores sanguinolentos aé o seu último suplício, Durante 8 dias, na prisão do castelo, se renovaram cenas análogas. Os cativos sofreram ameaças, golpes, insultos e tratamentos desumanos. Enquanto isso, Marin Brant informava Guilherme de la Marck. Este último, cheio de alegria, enviou um Padre apóstata, João de Ornal, que ele tinha feito seu ministro da justiça, a fim de trazer os prisioneiros. Este último se apressou na sua tarefa, pois ele sabia que um mensageiro tinha sido enviado a Guilherme d’Orange para lhe pedir o “perdão’ para os prisioneiros. Era necessário se antecipar ao retorno deste. De fato, o príncipe enviou uma ordem de libertação. Mas la Marck recusou obediência.
No sábado, dia 5 de julho, o grupo de confessores foi levado a Brielle. A viagem, em barcas infectas, onde eles quase morreram asfixiados, foi longa, sem comida, e durou um dia inteiro. Mas foi somente na segunda-feira de manhâ que eles desembarcaram: era preciso expôr-lhes a todos os ultrajes de uma população fanatizada. E esta não deixou por menos. Logo depois La Marck os fêz comparecer diante de seu tribunal. Numa grotesca procissão, ele lhes ordenou dar a volta em torno de um instrumento de suplício, e depois de recomeçar andando para trás, e cantando a Salve Regina e o Te Deum. Se as vozes baixassem, eles as reanimavam a golpes de bastão. E enquanto eles passavam as mulheres molhavam suas vassouras na água salgada e os aspergiam gritando: Asperges me, Domine! Os prisioneiros pensavam que era a sua última hora. Mas esta só viria no dia seguinte.
Reconduzidos à prisão, aos prisioneiros de Gorcum juntaram-se 4 novos companheiros, dois Padres e dois Premonstratenses que administravam a paróquia de Mouster. Um destes, Jacques Lacops, tinha tido outrora a infelicidade de abjurar a Fé; mas, arrependido de seu crime, ele fazia uma penitência que seria coroada pelo martírio. O Pároco de Heinenoord, André Worsters, tinha levado uma vida pouco exemplar; seu confrade de Maasdam, André Bonders, tinha, ao contrário, a fama de ser um bom Padre.. E no entanto foi o primeiro que foi coroado pelo martírio: o segundo cairá de maneira vergonhosa, e não se levantará mais desta queda. Julgamentos imcompreensíveis da Sabedoria de Deus!
La Mark, mesmo sendo sanguinário, desejava mais ainda que as vítimas caíssem na apostasia. Ele mandou que elas comparecessem diante de si; tentou-as de toda a forma, provocou-lhes mesmo para uma discussão teológica, da qual Leonardo Véchel e Nicolau Pieck saíram vencedores sem dificuldade. Furioso pela sua derrota, mais furioso ainda por causa da intervenção do Conde d’Orange, La Marck deu enfim a ordem fatal.
Os condenados foram então conduzidos para um prédio dependente de um mosteiro recentemente pilhado e incendiado. Este prédio, único que tinha ficado de pé, tinha em seu interrior dois postes de diferente tamanho. Um pouco curtos para tantos condenados, mas suficientes. Os preparativos foram rapidamente feitos. Jogaram-se cordas sobre os postes, puseram uma escada , despojaram quase completamente as vítimas. Nicolau Pieck foi o primeiro a ser chamado; ele subiu, e passou por si mesmo a cabeça na corda; e enquanto sufocava, continuou a exortar seus companheiros, e sua palavra só cessou com sua vida.
Os carrascos creram então que o momento era propício para obter alguma apostasia; já na prisão um cônego e um Padre de Bonders tinham fraquejado. Os perseguidores prometeram a vida salva, pressionaram os hesitantes: mais dois cedem, o Padre Guilherme e o jovem Irmão Henrique. Os outros, aflitos com esta quedas, mais firmes até o fim, sofreram todos os suplícios. Logo 18 corpos balançavam no vazio; o décimo nono, Jacques Lacops, foi enforcado na barra mais alta da escada, pois não havia mais lugar nos postes.
No dia seguinte, cêdo, foi permitido ao povo insultar os cadáveres; fizeram-no de modo tão abundante quanto covarde. Pouco mais tarde, os carrascos retornavam. Atacaram as vítimas inertes, transpassando-as, cortando-as em pedaços. A um cortaram o nariz, a outro a lingua ou a orelha, ou outra parte do corpo e, fixando estes pedaços nos seus chapéus, nos seus cintos ou nas suas lanças, percorreram a cidade em triunfo.
Depois de meio-dia, um católico de Gorcum comprou a pêso de ouro a permissão de sepultar os mártires; mas ele não teve o direito de cumprir por si próprio este piedoso dever. Os Gueux fizeram isto: à noite, cavaram duas fossas sob os dois postes; cortaram as cordas a golpes de sabre. Os corpos dos santos mártires tombaram em desordem e foram cobertos de terra.
Mas a glória viria para eles. Desde que isto foi possível, estes corpos foram solenemente levados para Bruxelas. O Papa Clamente X beatificou os 19 mártires em 1675, e Pio IX, em 1866, os inscreveu no Catálogo dos Santos".

(Extraído de Moreau, SJ, Les Saints et Saintes de Dieu).