terça-feira, 1 de junho de 2010

SANTO ANTÔNIO E OS MÁRTIRES DE MARROCOS

Mártires de Marrocos, azulejos do Convento Santo Antônio do Recife. Acima, detalhe.















Aproxima-se o dia de Santo Antônio. Sabemos que antes de entrar na Ordem Franciscana, ele era religioso dos Cônegos de Santo Agostinho, primeiro em sua terra natal, Lisboa, depois em Coimbra, onde conheceu os primeiros franciscanos que foram para Portugal e que tinham um pequeno Convento em Olivais, nos arredores de Coimbra. Chamava-se Dom Fernando. Mas, a partir do testemunho dos Mártires de Marrocos que ele conheceu e que deram a sua vida por Cristo, obtendo a palma do martírio, resolveu se passar para a Ordem Franciscana, ou Ordem dos Frades Menores fundada por São Francisco de Assis. Foi aí que recebeu o nome de Frei Antônio. Antônio de Lisboa, como querem os portugueses; Antônio de Pádua, como preferem os italianos. O certo é que o Papa, a quem se dirigiram os devotos de Portugal e da Itália, para que resolvesse qual nome assentava melhor ao Santo, conforme reza uma tradição, assim se pronunciou: -Santo Antônio não é só de Padua ou de Lisboa, é Santo do Mundo Inteiro. E assim a ladainha de Santo Antônio ganhava mais uma invocação: Santo do Mundo Inteiro, rogai por nós!"


Tanto em Portugal, como no Brasil, os Mártires de Marrocos ganharam seus devotos, e a iconografia, lá e cá, se enriqueceu com obras de arte em que figuram em azulejos, telas a óleo e esculturas, os Martires de Marrocos ou Ceuta.




Mártires de Marrocos, tela a óleo do Convento de Santa Maria dos Anjos, em Penedo / Alagoas. Acima, detalhe.









MÁRTIRES DE MARROCOS



Anotações do e-mail de Enos Omena a Frei José Milton anexas às as imagens:
· 1) Painel de azulejo do conjunto de silhares do Convento Franciscano do Recife/Pernambuco - Rua do Imperador, localizado na recepção do convento, tendo como tema iconográfico "OS MÁRTIRES DE MARROCOS", conforme detalhe na tarja com as inscrições;
· Comentário de Frei José Milton: Nosso historiador Francscano Frei Bonifácio MüllEr, OFM, de saudosa memória, em seu livro: Convento Santo Antônio do Recife, 1606 - 1956, edição do Provincialado Franciscano, Recife, 1956, escreve sobre os azulejos do Convento: “Hoje em dia custa a entender que o cronista Jaboatão, descrevendo os Conventos da Província, não tenha tratado, mais por extenso, dos azulejos que emprestam tanto realce às paredes do claustro e da igreja. E deve ter sido no seu tempo, Isto é, entre 1735 e 1750 que chegaram do Reino.
· [...] Podemos tomar por certo que foram especialmente encomendados os painé de São Francisco do claustro do Convento de Olinda, assim comom os de santo Antônio da igreja do Convento do Recife e os da sacristia de ambos os lados do lavatório que se referem à história s da chamada “Coroa Setráfica” ou “Coroa Franciscana” (pgs. 35 – 36).
· [...] Na Portaria existem 3 painéis (em azulejo) que representam os Mártires de Ceuta (Marrocos) cujas relíquias, depositadas no Consistório (1220) de Sta. Cruz em Coimbra, incitaram em S. Antônio o desejo de deixar esse Convento, para ser missionário ou mártir na África. Resolveu trocar a roupeta de Agostinho Regrante pelo burel de São Francisco, passando do Convento da Sta. Cruz para o Convento dos Oilivais, perto de Coimbra.
· Os dois outros painéis da Portaria, lembram os Mártires do Japão (1597) e os de Gorcum (Holanda) em 1572; a legenda diz: Mártires de Genebra visando a procedência dos calvinistas.”
· Continua Enos Omena:
· “Origem: Portuguesa;
· Datação: século XVIII;
· Tècnica: azulejaria;
· Autoria da Obra de Pintura: desconhecida; não tenho certeza;
· Documentação fotográfica, tendo como autoria e créditos Elpídio suassuna;
· Banco de imagem pertencente à Enos Omena.”.




2) No e-mail a Fr. José Milton, diz Enos: “Painel de pintura do Convento Franciscano de Nossa Senhora dos Anjos em Penedo / Alagoas, localizado no corredor da via sacra do convento. Estarei encaminhando as fotos do amanhã, pois tenho que digitalizá-las ainda.
· Origem: provavelmente sua fatura seja de Pernambuco /Brasil.”

Comentário de Frei José Milton: No livro acima citado sobre o Convento de Santo Antônio do Recife, escreve Frei Bonifácio sobre as pinturas do Convento:
“Não nos foi possível encontrar nenhuma assinatura de artista, tão pouco conseguimos identificar algum dos autores. Apenas verificamos que de alguns quadros deste Convento encontramos cópias mais ou menos iguais, em outras Casas de nossa Província. Vez por outra aparece uma citação latina no alto do quadro, ao passo que ao pé da composição aparece, às mais das vezes, uma ligeira explicação do assunto em português, com referência à Chronica Seraphica, obra rara hoje em dia, cujo título completo é o seguinte:
Vida Del Glorioso Patriarca San Francisco y de SUS primeiros discípulos. Dedicada ao Excellentissimo Senõr Don Antonio Alvarez de Tledo y Bermont, Duque de Alva, etc. Escrita por El R. P. Fr. Damian Cornejo, Colegial que fuedel Mayor de San Pedro ye San Pablo em La Univerdidadd de Alcalá, Lector Jubilado, Ex-Custódia de La Província de Castella da regular Observancia, Examinador Synodal de este Arzeebispado. Y Cronista General de seu Ordem. Ano 1721. Com Privilégio. Em Madrid: em La Imprenta de La Viuda de Juan Garcia Infanzon.
Está dividida essa obra em 4 partes, todas impressas e Madrid, saindo do prelo a 1ª em 1721, a 2ª em 1727, a 3 ª em 1734; e a 4ª em 1698 [sic]. Encontra-se a obra completa na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Em nossos quadros, pintados a óleo sobre madeira, as citações da Crônica Seráfica são dadas em português, às vezes até cobrindo outra citação anterior. Dada a publicação da Crônica entre 1698 e 1734, os qadros seiam pintados na primeira metadade do século XVIII. É de lamentar que a inclemência do tempo, ao lado de certo descaso, tenhaprejudicado o efeito” (Frei Bonifácio Müller, obra citada, páginas 43 – 44).
Frei Bonifácio localiza e descreve brevemente cada quadro do convento. E termina assim:
“Os quadros do claustro superior são menos numerosos e mais pobres que os do térreo. O mais importante é o dos Mártires de Marros, invocados como padroeiros contra sezões [= malárias] e outras febres”.
O fato de haver hoje, no claustro do Convento de Santa Maria dos Anjos de Penedo / Alagoas, um quadro dos Mártires de Marrocos, com os mesmos dizeres invocados como padroeiros contra sezões e outras febres, leva-me a concluir que se trata do mesmo quadro do Convento do Recife, que foi mandado para o Convento de Penedo, cidade às margens do Rio São Francisco, sujeita a sezões e outra febres, com a intenção talvez de valerem os santos mártires à população atingida por alguma epidemia. E lá ficou até hoje, tendo sido restaurado por Enos Omena. Este, inteligentemente, percebeu que a origem do quadro “é provavelmente de Pernanmbuco.”
Gostaria de acrescentar que a transferência do quadro dos Mártires de Marrocos para Penedo, só pode ter acontecido depois de 1956, ano da publicação do livro de frei Bonifácio que localiza o quadro no claustro superior do Convento do Recife.
Enos Omenas continua:
"Datação: século XVIII;
· Tècnica: pintura poligromada à têmpera sobre madeira de cedro;
· Autoria da Obra de Pintura: desconhecida;
· Documentação fotográfica, tendo como autoria e créditos Enos Omena;
· Banco de Imagem pertencente à Enos Omena.
ENOS OMENA RIBEIRO (Conservador / Restaurador e Historiador de Arte Colonial/ Iconógrafo)Um grande abraço, com atenção, Enos Omena.””
Fr. José Milton acrescenta:
São Francisco tentou aproximar-se dos muçulmanos de Marrocos, mas adoeceu gravemente na Espanha e teve que voltar à Itália. Mas “não se deu por vencido. Em seu lugar, no outono de 1219, mandou [a Marrocos] cinco frades italianos: Bernardo da Calvi de Narne, que conhecia bem a língua árabe; Pietro de San Gemignano, da Toscana; Ottone de Stroncone, da Úmbria, Accursio e Adiuto. [...] No dia 16 de janeiro de 1220, foram flagelads até o sangue, arrastados por cavalos pelas ruas da cidade e, finalmente decapitados. Naquela ocasião encontrava-se em Marrakech Dom Pedro, irmão de Afonso, Rei de Portugal. Havia deixado sua terra devido a desentendimentos com o irmão e colocara-se a serviço do Sultão de Marrocos. Apesar de ser cristão, foi nomeado general do exército marroquino, porque era muito hábil. [...] Dom Pedro pediu ao Sultão, quase como graça, os corpos dilacerados dos Mártires. Tinha em mentel evá-los a Portugal para que pudessem ter um sepultamento digno. [...] Num dia não registrado, em abril de 1220, todos os sinos de Coimbra soaram festivamente: os corpos dos cinco Mártires Franciscanos chegavam para ser sepultados na igreja do Mosteoro da Sana Cruz, junto às sepulturas dos Reis de Portugal. [...] O monge Fernando convivia, então, por assim dizer, com os Santos Mártires sepultados na igreja do seu Mosteiro. [...] Queria servir a Jesus Cristo como eles, em pobreza e alegria e, até, conquistar a palma do martírio. [...] Foi assim que Fernando deixou os Agostinianos e ingressou nos Franciscano de Olivais, nos arredores de Coimbra. Ali vestiu o hábito de frade menor e recebeu o nome de Antônio.” (Veja em: Giovanni M. Colasanti, Antônio de Pádua, um Santo também para Você, Paulinas, 1998, páginas 17 – 22).












MÁRTIRES DE MARROCOS EM TRAVESSÔ - PORTUGAL


Tornou-se conhecido como um grande pregador com grande zelo e eloquência. Santo António viajou pela Itália pela sua Ordem e assumiu varias posições administrativas. De 1222 a 1224, Santo António pregou contra os Cátaros. De 1224 a 1227, confrontou-se com os hereges Albigenses. O Papa Gregório IX deu-lhe ordem para por de lado todas os seus outros deveres, continuando a sua pregação. Santo António fixou-se então em Pádua, reformou a cidade, acabou com a prisão de devedores e ajudou os pobres. Costa nos Anais da Comuna que, graças a sua intervenção, caiu por terra uma lei que tornava praticamente escravos os devedores. Em 1231 exausto, foi tentar recuperar-se em Campossanpietro. Quando voltou a Pádua, não conseguiu recuperar, acabando por vir a falecer no convento das "Pobre Clarissas" em Arcella, em 13 de Junho de 1931.Santo António foi chamado o "Trabalhador Maravilha" pelos seus inúmeros milagres. Pregava para multidões à chuva e todos os que assistiam ficavam secos a despeito do forte aguaceiro. Foi saudado como um traumatologista após ter curado a perna de um homem, que tinha sido seccionada e fez outro homem voltar a vida para testemunhar em uma audiência de assassinato, onde um inocente estava sendo considerado culpado.À hora da sua morte, aparece-lhe o Menino Jesus na sua cela de Camposampiero.Santo António é o padroeiro de Pádua, Lisboa, Split, Paderborn, Hil-Desheim e dos casais. É um santo popular para encontrar itens perdidos. Em Portugal e no Brasil é o Santo casamenteiro, sendo invocado pelas moças solteiras para encontrar um noivo. O "dia dos namorados" no Brasil é celebrado na véspera da sua festa, ou seja, no dia 12 de Junho.Faleceu no dia 13-06-1231 em Arcella, nos arredores de Pádua. Foi canonizado em 30-05-1232 pelo Papa Gregório IX em Espoleto,Úmbria, Itália.Foi indicado Doutor da Igreja em 16-01-1946 por Pio XII com o título de "Doutor Evangélico". Na arte litúrgica da igreja ele é representado como um Franciscano com com o Menino Jesus ao colo.O Milagre dos Peixes : Santo António faz um sermão aos peixes, no rio Marecchia, pois os homens heréticos de Rimini não o queriam ouvir. Ao ver Santo António pregar aos peixes, os homens arrependeram-se e dirigiram-se para junto do Santo, ouvindo o seu sermão.O Milagre do Jumento: Um herege não acreditava que Cristo, de facto, estava presente na Eucaristia, Santo António diz ao homem que o seu jumento era menos teimoso, sendo mais fácil convencê-lo. Ao ver a Hóstia, o jumento ajoelha-se.Em 1236 aconteceu a transladação do corpo de Santo António. Foi possível encontrar a língua do Santo perfeitamente rosada no corpo, já em decomposição. A sua língua ficou como relíquia, lembrando que aquela língua anunciou a palavra de Deus ao mundo.

2 comentários:

  1. mais uma vez te parabenizo, pelo seu trabalho.att: marineide, déa

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  2. Frei Milton, com alegria encontrei este seu blog e parabenizo-o. O Senhor menciona a tela dos Mártires de Marrocos. Lembro-me da existência no Convento de uma tela também semelhante "Divina Pastora ". A minha consulta ao senhor é se essa tela da Divina Pastora onde Nossa senhora estava com o menino Jesus no jardim tem algumas coisa haver com o Claustro do nosso convento. Onde seria Hortus Conclusos? Jardim da Virgem? E se nas suas pesquisas encontrou indícios da existência de uma fonte também nesse Claustro. Ficarei muito agradecido de merecer do senhor uma resposta. Francisco Alberto Sales (Casa do Penedo). Email: fundcasadopenedo@yahoo.com.br

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