quarta-feira, 24 de junho de 2009

SÃO JOÃO EM IPOJUCA



SÃO JOÃO, ÓLEO SOBRE TELA


Hoje é dia de São João.

Olhando pela janela,
Lembro o óleo sobre tela
Do “São João em Ipojuca”
De Frei Tarcísio, tão lindo!

Tempo ido... tempo vindo...

As sandálias franciscanas
Se gastaram, foram embora.
Mas a saudade inda mora
Nas ladeiras seculares.

E no óleo sobre tela,
O Zé Cláudio que o diga,
Para os meus e teus olhares
O tempo veio e parou.

Se hoje canto esta cantiga,
É que o óleo sobre tela
O Zé Claudio preservou.

Ipojuca, 24 de junho de 2009.
Frei José Milton, O. F. M.

terça-feira, 23 de junho de 2009


Capela de Santo Antônio de Camela

segunda-feira, 15 de junho de 2009

ESCRAVOS DE IPOJUCA I

OS ESCRAVOS NA FREGUESIA DE IPOJUCA / PE– Encontra-se, no arquivo do Convento de Ipojuca, a capa de um antigo livro paroquial que assim se intitula: “24 – A, Freguezia de São Miguel de ipojuca Livro de Assentos dos filhos de mulher escrava, nascidos da dacta da Lei de 28 de Setembro, Anno 1881 – N.º 2 (1881-1887).
Onde estará o Livro? Provavelmente no Arquivo Paroquial.
O que é certo é que Ipojuca era um dos Municípios com maior número de escravos em Pernambuco.
Documentos holandeses se referem à falta de escravos durante a Guerra, pois muitos morreram, muitos fugiram. Os judeus se aproveitavam da situação de carência para traficar escravos por somas fabulosas, inflacionando o mercado. Vejamos:
No Documento 4 (Texto), de dezembro de1641 a24 de janeiro de 1642:
- A 17n de janeiro de 1642, em Santo Antônio do Cabo:
- “Com João Paes Cabral falei da mesma maneira que com os antecedentes; disse que nesta safra nada podia pagar pois que lhe tinham morrido negros avaliados em mais de 18.000 florins, pelo que não podia moer. Prometeu, depois de ser exortado, cumprir o seu compromisso.” [1]
- A 18 do mesmo (mês de janeiro de 1642, em Ipojuca, depois de visitar o Convento de Santo Antônio:
- “Ali, como em outros lugares, ouvi gerais queixas dos senhores de engenho, sobre a falta de negros, -por ter morrido grande número deles, de tal modo que todos os engenhos dificilmente poderão começar ou continuar a trabalhar. A maior parte dos senhores de engenho queixa-se de que os negros que aqui desembarcaram são comprados em leilões pelos judeus do Recife, aos quais, se quiserem comprá-los, têm de oferecer altos preços, o que não lhes é possível fazer. Dizem, ainda, que os Judeus, sabendo que os senhores de engenho têm necessidade deles, valorizam-nos tanto que lhes parece melhor não fazer trabalhar os engenhos do que adquiri-los a tão altos preços. Comprometeram-se a fazer uma exposição desses fatos para que pudessem ser tomadas providências a respeito.” [2]
É bom ter em mente que muitos negros fugiram para os Palmares, onde fundaram sua República.

[1] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004, pg. 150.
[2] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004, pg. 152.

sábado, 13 de junho de 2009

PARÓQUIA DE S. MIGUEL DE IPOJUCA

AS CAPELAS
Sebastião Galvão enumera as seguintes capelas ou templos da Freguesia de Ipojuca:

De Santo Antônio, do Convento Franciscano do mesmo nome (e não de São Francisco como o chama Sebastião Galvão; hoje, Santuário do Senhor Santo Cristo), de Nossa Senhora da Conceição de Camela ( engano; deveria ter dito “de Santo Antônio de Camela); do Senhor Bom Jesus, no Cemitério de Ipojuca; do Senhor do Bonfim, no Engenho Salgado [hoje: Nossa Senhora de Nazaré e São João Batista); de Nossa Senhora das Mercês, no Engenho Mercês; de Nossa Senhora da Penha, no Engenho Maranhão; de Nossa Senhora da Conceição, no Engenho Genipapo; de São Tomé, no Engenho Pindoba; de Nossa Senhora da Conceição, nos Engenhos Caeté, Utinga de Baixo, Sibiró de Santa Cruz, do Cavalcante e Fernandes; dos Santos Cosme e Damião, no Engenho Tapera; de Santo Antônio, no Engenho Caetés; de Jesus, Maria, José, no Engenho Saco; de Nossa Senhora da Coceição, nos Engenhos Água Fria, Penderama e Cachoeira; da Piedade, no Engenho Bom Fim; de Nossa Senhora do Desterro, no Engenho Matas do Ipojuca; de Nossa Senhora do Rosário, no Engenho do Meio; de Nossa Senhora da Ajuda, no Engenho Utinga; de Sant´Ana nos Engenhos Arendepe e Arimbu; de Nossa Senhora da Guia, no Engenho Boassica; de Nossa Senhora da Estrela, no Engenho Ilha do Álvaro; de São José, “do pequeno povoado de Gaipió”; de Sant´Ana, de Serrambi; de Nossa Senhora de Maracaípe (hoje, de São Francisco, em ruínas); Nossa Senhora do Outeiro, no Porto de Galinhas.

Na sede hoje contamos com a Capela de São Francisco e, brevemente, com a de Santa Clara no Campo do Avião.

Na década de 1980 temos a lista abaixo das Capelas confiadas aos franciscanos:

IGREJAS E CAPELAS SOB OS CUIDADOS DOS FRANCISCANOS

O 1º Livro de Crônica do Convento de Ipojuca apresenta uma lista das igrejas e capelas aos cuidados dos frades:

Matriz de São Miguel: (e Na. Sra. do Livramento)
Santuário do Santo Cristo: (Santo Antônio)
Igreja de . Sra. do Ó: (ou da Expectação)
Capela Sra. dos Oiteiros: (Na. Sra. da Conceição)

Capela da Usina Salgado: (N. Sra. de Nazaré e S. João) :



Capela da Usina Ipojuca: (N. Sra. da Conceição)
Capela de Camela (S. Antônio)
Capela do Engenho Maranhão: (Na. Sra. da Penha)
Engenho Pará: (Na. Sra. das Vitórias)
Engenho Gaipió: (São José)
Engenho Belém: (Na. Sra. da Conceição)
Engenho Bonfim: (Nosso Senhor do Bonfim)
Capela do Engenho Pindoba: (São Tomé)
Engenho Fernandes: (Na. Sra., da Conceição)
Engenho Sibirozinho: (Sagrada Família)
Engenho Cachoeira: (Na. Sra. da Conceição)
Capela do Engenho Água Fria: (Na. Sra. da Conceição)
Engenho Arimbi: (Sant’Ana)
Capela do Engenho Tapera: (Cosme e Damião)
Capela do Engenho Penderama: (N. Sra. da Conceição)
Capela do Engenho Ilha das Mercês: (Sra. das Mercês)
Capela da Praia do Cupe: (São Sebastião)
Capela da Praia de Maracahype: (S. Francisco de Assis)
Capela do Cemitério de Na. Sra. do Ó:
Capela do Engenho Jundiá: (Escada)
Engenho Esmeralda (Escada)

Falta a esta lista a Capela de Santa Luzia do Engenho Tabatinga e aCapela de Nossa Senhoras do Desterro de Porto de Galinhas.


A Capela de Santa Luzia é célebre pelo martírio de seu Capelão por obra dos holandeses e por ser um dos focos da reação libertária, tendo à frente seu proprietário Amador Araújo:

A PARÓQUIA DE S. MIGUEL DE IPOJUCA

ANTIGUIDADE DA PARÓQUIA


Ipojuca é uma das mais antigas freguesias da Capitania de Pernambuco. [1] Documentadamente, consta sua existência em 1589. “... a 24 de janeiro de 1594 já era falecido o vigário Gaspar Neto”[2] , o primeiro vigário da Paróquia de que temos conhecimento.
“Em um auto [Denunciações de Pernambuco, do Santo Ofício] de 09 de janeiro de 1594, lê-se: freguesia de São Miguel, em Pojuca além do Cabo cuja anexa é a capela de St.ª Luzia na Fazenda de Pero Dias da Fonseca, ou seja, o engenho Tabatinga.” [3]
O Padre Paulo Roiz de Távora, em documento de 08 de fevereiro de 1594, consta como vigário de São Miguel de Ipojuca ou Pojuca (o segundo), a qual tinha anexa a capela filial de Santa Luzia de Tabatinga, com um capelão, o Padre Cosme Neto, nela residente. [4]
“A paróquia de Ipojuca estendia-se pelo menos de Tabatinga e da aldeia de N. S.ª da Escada até a aldeia de Uma (limites de Alagoas) , esta, também chamada de S. Miguel de Iguna. A aldeia deN. S.ª da Escada foi fundada logo depois de 1589, pelos padres jesuítas, enquanto a aldeia de Uma, já em fins de 1593, era curada pelos franciscanos.” [5] A povoação de Ipojuca, sede da Paróquia ou Freguesia de São Miguel, era, de há muito, familiar aos franciscanos, pois estava no seu itinerário das Missões.
E Frei Venâncio adianta: “... nada impede que mais ou menos pelos anos de 1580 tenha sido criada a paróquia de São Miguel de Ipojuca.” [6]
Com base nesse informe, a Paróquia comemorou em 1980 o seu 4º Centenário, como veremos adiante.
PADROEIRO – É o Arcanjo São Miguel, celebrado a 29 de setembro, juntamente com os Arcanjos Gabriel e Rafael. São os três Arcanjos cujos nomes significam:
-Miguel, “quem como Deus?”;
-Gabriel, “força de Deus“ ou “aquele que está diante de Deus” ;
-Rafael, “Deus cura” ou “medicina de Deus”.
O Arcanjo São Miguel foi constituído por Deus como “guarda e protetor da nação israelita, como se lê no profeta Daniel: Surgirá Miguel, o grande Príncipe, que guardará o teu povo (Dan 10, 13-21 E 12,1).
É, portanto, “o Anjo da Guarda do Povo, é o chefe do exército celeste, que combate ao seu lado até à vitória definitiva”, como diz Frei Carlos Alberto Breis (Beto) na apresentação do programa da festa de 2004.
A Festa deste ano de 2006, preparada pelo Vigário Frei Wellington Reis e sua equipe, teve como tema: Com a proteção de São Miguel, levanta-te e vem para o meio!
O tema retoma o espírito da Campanha da fraternidade / 2006: é um convite a nos colocar ao lado dos pequenos e marginalizados, especialmente ao lado das pessoas especiais.
Frei Wellington Reis, OFM, é o atual vigário da paróquia de São Miguel. Os demais frades da Comunidade Franciscana de Ipojuca são os seus colaboradores mais próximos na evangelização do nosso povo,
O tema de 2007: São Miguel, ajuda-nos a defender a vida.
“O tema da festa deste anos (2007), sugerido em Assembléia Pastoral, traz consigo uma sintonia com o tema e lema da Campanha da Fraternidade deste ano: Vida e Missão neste chão. Defender a Vida, duas palavras fundamentais do tema (da Festa ) deste ano sintonizam-se também com a mensagem bíblica da figura do Arcanjo Miguel.” [7]

A Matriz de São Miguel – a primitiva Matriz, segundo Ivo d´Almeida, historiador ipojucano, em seu livro inédito DE UMA LENDA À VERDADE, foi destruída por um incêndio em 1814 e parcialmente reconstruída em 1857 (pg. 23). Depois ruiu totalmente. Ficava na parte mais alta da cidade, onde hoje se encontra o cemitério.
A partir de então, a Matriz passou a funcionar na igreja de Nossa Senhora do Livramento dos Homens Pardos (provavelmente dos “escravos libertos”), para onde foi levada a antiga imagem de São Miguel. É um pouco mais acima do Convento, entre este e a primitiva Matriz.
Havia ainda a igreja do Rosário, provavelmente “dos homens pretos” , uma vez que, conforme o costume do tempo, próximo à igreja do Livramento, se erguia a do Rosário dos escravos. Ficava “no mesmo lado da igreja do Livramento, no local logo mais acima onde hoje está localizada a COMPESA. Sua principal festa era a de São Benedito. Essa igreja desmoronou há muito tempo, bem antes da Matriz de São Miguel se incendiar em 1814. Da construção ficou apenas o cruzeiro que passou a servir de local para orações dos [pretos] devotos de São Benedito... e com o tempo passou a ser utilizado por todas as pessoas que não queriam ou não podiam ir ao cemitério mas queriam reverencias os mortos com orações, velas acesas e flores em finados” [8]. Não sabemos de quando é a igreja do Livramento. Segundo Ivo d´Almeida é muito antiga, pois em 1814 passou a servir de Matriz.
Muitos atos religiosos são celebrados na igreja de Santo Antônio, do Convento do mesmo nome, conhecida também como igreja do Senhor Santo Cristo, por abrigar a milagrosa imagem do Crucificado que aí é venerada desde 04 de novembro de 1663.

Uma igreja de S. Roque? - Segundo uma tradição de ipojuca, endossada por Ivo d`Almeida, havia mais uma igreja: a S. Roque, incendiada por volta de 1800; dela nada teria restado, pois “suas pedras foram levadas para o Convento pela população quando da reconstrução da igreja após o incêndio de 1935, e hoje estão incorporadas às paredes do Convento de Santo Antônio de Ipojuca.” [9]

Frei Venâncio Willeke desconhece a existência dessa igreja e cita Frei Jaboatão, segundo o qual havia no Convento os Terciários, dos quais o primeiro Comissário foi nomeado na Congregação de 16 de junho de 1703, que tinham por titular o Glorioso S. Roque, cuja imagem se achava no altar do Senhor Santo Cristo (na Capela lateral do Bom Jesus), sem que lhe construíssem capela própria (“sem até agora fazerem capela”)[10]. Não havia Ordem Terceira em Ipojuca antes daquela nomeação. Quando Frei Jaboatão se refere a Francisco Dias Delgado como “ nossos irmãos da confraternidade”, “não significa ter este pertencido à Ordem Terceira, mas ao número dos benfeitores filiados à Ordem Primeira.” [11]
Não se sabe de onde veio a tradição de uma igreja de São Roque em Ipojuca, quando Frei Jaboatão, em meados do século XVIII, já dizia que os devotos de São Roque tinham uma imagem (que hoje se encontra na igreja do Convento), mas que nunca lhe construíram uma capela.
No entanto, não deixa de merecer a atenção dos historiadores a possibiliade de uma igreja de São Roque, pois a memória do povo geralmente tem algum fundamento na realidade. Do lado direito do cemitério de Ipojuca ateria havido um nicho de S. Roque e o bairro tem o seu nome. Este autor visitou aquela área neste mês de outubro de 2007. Conversando com os moradores mais antigos, constatou não existir nenhuma tradição sobre uma capela ou nicho de São Roque naquelas redondezas. Indo pelo beco, à direita do cemitério, chega-se ao chamado Bairro de S. Roque, muito escarpado, vendo-se, mais abaixo, uma puxada em alvenaria da casa em anexo, que, segundo o dono, era onde os paroquianos, anos atrás, pensavam em construir uma Capela em honra de S. Roque. Não sabiam dizer também porque o bairro se chamava de S. Roque.

[1] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 12.
[2] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, obra citada, p. 13..
[3] Id. ibd. p. 13.
[4] Id. Ibd. p. 13.
[5] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 13 (cfr. também p. 84, nota 17 ao Cap. IV.
[5] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 13 (cfr. também p. 84, nota 17 ao Cap. IV.
[6] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 12.

[7] Programa da Festa de São Miguel de 2007.
[8] Cfr. D´ALMEIDA, Ivo -, DE UMA LENDA À VERDADE, Copyright 2005, pp. 23 a .24.
[9] D´ALMEIDA, Ivo -, DE UMA LENDA À VERDADE, Copyright 2005, p .24.
[10] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pp. 42 a 43.
[11] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 42.
II. PARÓQUIA DE SÃO MIGUEL DE IPOJUCA


A igreja de Nossa Senhora do Livramento dos Homens Pardos é conhecida, atualmente como Matriz de S. Miguel.





Escreve Sebastião Galvão:- “IPOJUCA –– Povoação - Sede da Freguesia de São Miguel do Ipojuca, mas não é a cabeça do mun., que é a villa de Nossa Senhora do Ó, d´onde aquela dista 6 kilometros e 11 do litoral.”
Mais adiante explicaremos essa anomalia: a precariedade tos títulos de vila e de povoação, dependendo da política.

ANO DA FUNDAÇÃO

Ainda Sebastião Galvão:
“IPOJUCA – História – Em 1881 o vigario da freg. Firmino d´Araujo Figueiredo informou ao bispo D. José da Silva Barros que fora creada em 1596, mas não diz em virtude de que acto, sendo certo que em 1608 era vigário o padre Sebastião Rodrigues.” (GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos, Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, Edição fac-similar, Governo de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Recife, 2006, Volume I, 2.a Edição, p. 313).
- “Povoação muito antiga; diz a tradição que foi fundada no fim do século XVI pelas famílias Cavalcanti, Rolim, Lacerda, Accioly, Moura e outras. Certo, porém, é que no princípio do século XVII já estava ereta em Freguesia, porque, já povoada, tinha merecimento para tal classificação. É notável esta povoação pela derrota que experimentaram os partidários de Domingos José Martins, em 1817. [...] Está plantada na base e encosta de uma colina; consta de 150 fogos, pouco mais ou menos; edificação irregular, Apresentando vestígios da antiguidade local. Na extremidade oriental da colina, onde finda a rua central, vê-se a antiga matriz de Ipojuca incendiada em 1814 e reconstruída em 1857, mas não acabada, , por Frei Sebastião de Messina; em um dos ângulos da rua SO está o Convento de S. Francisco, edificado em 1606 no alto do monte e em boa parte conservado, do qual foi o primeiro Guardião Frei Boaventura de São Thomaz, com um grande templo, onde, ao lado direito, há uma capelinha em que se vê a imagem do Senhor Santo Christo, tradicionalmente ali venerado pelos romeiros de diversos pontos; ao lado esquerdo da rua e ao NO, está a igreja de N. S. do Livramento que, há muitos anos, provisoriamente, tem servido de matriz; e, finalmente, no centro, e do mesmo lado, vê-se a igreja de N. S. do Rosário, desmoronada há muitos anos. Existe ahi um cemitério com 40m de frente e 50m de fundo, construído em 1869. Possue uma população de 700 almas , pouco mais ou menos.” [1]
Para compreensão do texto citado de Sebastião Galvão, é bom lembrar que a obra estava sendo escrita por volta de 1889 e foi reeditada na ortografia original, Daí entendermos porque diz o autor que Ipojuca ainda era povoação e Nossa Senhora do Ó já era Vila e sede do município Ó (realmente, o foi por pouco tempo e isto aconteceu várias vezes no século XIX, dependendo da política reinante); e porque registra o autor que a freguesia tinha, quando ele escrevia o seu Dicionário (1889), tão poucos habitantes (700 almas) e havia na povoação tão reduzido número de casas de moradia (159 fogos). Na época, Nossa Senhora do Ó já era Vila e sede do município, mas possuía apenas “umas 250 casas e, calculadamente, umas1500 almas”, com mais habitantes, portanto, que Ipojuca.[2] Escreve o Padre Manoel da Costa Honorato: “A Lei n.o 203, de 26 de julho de 1848 transferiu a sede desta freguesia para a capela filial de Nossa Senhora do Ó. A Lei n.o 225, de 30 de agosto do mesmo ano deu novos limites à freguesia. A Lei n.o 236, de 22 de maio de 1849 transferiu a sede da freguesia para a povoação do seu nome [Ipojuca], revogando a Lei n.o 303 supra. A Lei n.o 238 de 26 de maio de 1949 revogou a lei n.o 225 e de a esta freguesia os mesmos limites que dantes tinha.”[3] Quanto a “Nossa Senhora do Ó de Ipojuca” (como também era conhecida), escreve o mesmo Pe. Honorato no final do verbete dedicado àquela povoação: “Finalmente, a Lei n.o 499, de 29 de maio de 1821 elevou-a de povoação à categoria de Vila...” [4]

Vejamos o que escreve o maior conhecedor da história de Nossa Senhora do Ó: “De 1846 a 1891, durante 45 anos, a sede do Município oscilou entre São Miguel de Ipojuca e Nossa Senhora do Ó de Ipojuca. O combate final deu-se em 1891, quando as tropas da polícia de Pernambuco, aliada aos jagunços dos Senhores de Engenho, derrotam na Rua da Batalha as tropas da polícia de Nossa Senhora do Ó, comandadas pelo Sargento José Jerônimo, que eram independentes de Pernambuco e do Brasil (grifo nosso).
Naquela derrota perde-se Desde sempre e para sempre ou até quando o desejo de uma parcela ou de todo povo em pensar que era possível ao povo brasileiro viver independente do sistema econômico mundial, pelo menos naquelas circunstâncias.” [5]

Por decisão do Sr. Arcebispo de Olinda e Recife D. José Cardoso Sobrinho, foi criada, aos 26 de outubro de 2005, a Paróquia de Nossa Senhora do Ó, desmembrada da de São Miguel de Ipojuca.

- A CRIAÇÃO DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DO Ó

Afinal os filhos de Nossa Senhora do Ó viram realizado o sonho de terem a sua terra como sede de uma freguesia. Foi criada a 30 de outubro de 2005 a Paróquia de Nossa Senhora do Ó, desmembrada da Paróquia de São Miguel de Ipojuca. O Decreto de Ereção Canônica acha-se transcrito no Livro de Crônica do Convento de Ipojuca. [6]
Frei Francisco Robério Ferreira de Souza, OFM, Administrador Paroquial de São Miguel de Ipojuca, concelebrou na Eucaristia de instalação da paróquia de Nossa Senhora dom Ó. Quanto aos limites, patrimônio e outros assuntos relacionados com a nova Paróquia, estão relatados, nos competentes livros paroquiais.
[1] GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos, Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, Edição fac-similar, Governo de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Recife, 2006, Volume I, 2.a Edição, p. 316.
[2] GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos, Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, Edição fac-similar, Governo de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Recife, 2006, Volume I, 2.a Edição, p. 402.
[3] HONORATO, Manoel da Costa, Dicionário Topográfico, Estatístico e Histórico da Província de Pernambuco, Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educação e Cultura, 2.a Edição, Recife, 1979, p. 58.
[4] HONORATO, Manoel da Costa, Dicionário Topográfico, Estatístico e Histórico da Província de Pernambuco, Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educação e Cultura, 2.a Edição, Recife, 1979, p. 76.
[5] SOUSA LEÃO, Antônio Geraldo de, A Geografia e a História de Ipojuca: Aqui Começa, Nossa Senhora do Ó – Ipojuca, 2004, p. 33.
[6] Segundo Livro de Crônica do Convento de S. Antônio de Ipojuca, pp. 88 v. a 89 v..

PROVÍNCIA FRANCISCANA DE SANTO ANTÔNIO

CONSPECTO HISTÓRICO DA PROVÍNCIA FRANCISCANA DE SANTO ANTÔNIO DO BRASIL

" De 1500 a 1583, aportaram no Brasil nove grupos esporádicos de missionários tantoportugueses como espanhóis e italianos. Exercendo o apostolado entre Pernambuco e Santa Catarina, não lograram estabelecer‑se, embora, até 1549. representassem a única Ordem Religiosa da extensa colônia. Nem a fundação da Primeira Custódia partiu, em princípio, dos frades menores portugueses, pois a iniciativa se deve a Jorge de Albuquerque, governador de Pernambuco, é a Dóna Maria da Rosa, terceira franciscana regular de Olinda, os quais pediram a Felipe 11 a vinda dos frades menores, depois de indeferido idêntico requerimento pela Província de Santo Antonio de Portugal. El‑Rei insistiu no mesmo sentido com o Ministro Geral, Frei Francisco Gonzaga. Este, presidindo ao Capítulo da Província de Santo Antonio, em Lisboa, a 13 de março de 1584, e apresentando o pedido vindo de Pernambuco, encontrou resistência; assim mesmo decretou a fundação da Custódia brasileira de Santo Antonio e nomeou, na mesma data, o primeiro custódio Frei Melquior de Santa Catarina.
A 12 de abril de 1585 chegaram a Olinda os oito fundadores da Custódia, ocupando a 4 de outubro do mesmo ano, o Convento de Nossa Senhora das Neves, que D. Maria da Rosa lhes doara. A atividade principal dos franciscanos desenvolveu‑se na catequese dos índios das seguintes missões: Olinda (duas), itamaracá, Itapissuma Ponta de Pedras, Siri, Tracunhaém, Una ou Iguna, em Pernambuco; Porto de Pedras, em Algoas; Almagra, Guirajibe, Joane, Mangue. Praia, Santo Agostinho, Jacoca, Assunção, Piragibe, e outros três centros missionários na Paraíba cujos nomes não são conhecidos e com os quais estavam anexas outras 16 ou 18 aldeias.
Por volta de 1619, o Prefeito Apôstolico Antônio Teixeira Cabral confiou as missões ao clero secular. Atesta Frei Vicente do Salvador, como ex-missionário. que os franciscanos, entre 1585 a 1619, batizaram 52 mil índios.
Em 1624, vários missionários de Olinda acompanharam a Frei Cristóvão Severim de Lisboa para o Maranhão, ajudando na catequese durante alguns anos, e introduzindo os dez missionários recém‑‑chegados‑
Até 1647, a Custódia de Olinda ficou dependendo da Província mãe, cabendo a esta, até 1614, a eleição dos superiores e a solução dos assuntos de maior importância, enquanto o custódio do Brasil reunia periodicamente a chamada junta. A 14 de outubro de 1614, o custódio Frei Vicente do Salvador presidiu ao primeiro Capítulo, no Convento de Olinda, cabendo aos Capitulares as eleições para todos os cargos, exceto o do Custódio, que era eleito em Lisboa.
O Papa Inocêncio X, a 18 de abril de a 1647, conferiu autonomia à Custódia de Santo Antonio, separando‑a da Província Portuguesa, e Alexandre VII, a 24 de agosto de 1657, a elevou a categoria de Província.
Neste intervalo de tempo, a maior parte dos conventos foram fundados entre a Bahia e São Paulo, emconsequência da invasão holandesa em Pernambuco (1630 ‑1654). Além do curso filosófico ‑ teológico criado em Olinda (1596), havia outros em Salvador e no Rio de Janeiro.
O primeiro Capítulo Provincial, em 5 de novembro de 1659, reuniu os nove conventos findados entre São Paulo e o Espírito Santo, formando a nova custódia da Imaculada Conceição, a qual recebeu foros de província autônoma em 1675.
Continuaram a pertencer à Província de Santo Antonio os Conventos de Olinda (1585), Salvador (1587), Igaraçu (1588), Paraiba (1589), Ipojuca e Recife (1606), São Francisco do Conde (Sergipe do Conde 1629), Siri~ (1639), Paraguaçu (1669) Cairu (1650), São Cristóvão (Sergipe Del‑Rei 1657), Penedo e Alagoas (1660), e o hospício da Boa Viagem (Salvador 1710). O governo Colonial não consentiu na fundação de outros conventos, apesar de vários pedidos como por exemplo da parte de Natal, Aquirás, Oeiras, etc. Até na região das missões, não podia haver conventos se não hospícios para dois ou três religiosos.
Após longa interrupção, a Província reintroduziu a catequese entre os silvícolas, em 1679, fundada, no correr dos tempos, nas seguintes missões: Itapicuru de Cima, Massacará, Saí, Jacobina, Juazeiro, Rodelas, Camamu, Massarandupio, Jermnoaba, Pambu, Curral dos Bois, Aracapá, Piaqui, Cata e Salitre na Bahia; Alagoas e Palmar, em Alagoas; Una, Caripós, Zorobaté, Unhunhu, Pontal, Aricobe e Pajeú, em Pernambuco. Cariris, na Paraíba. Como última foi extinta a missão de Saí, em 1864. Faltam notícias a respeito do resultado surtido na catequese fi‑anciscana.
Os Frades Menores salientaram‑se também como missionários volantes; exerciam o sagrado ministério, durante os longos peditórios sertão a dentro, percorrendo até o Ceará e o Piaui, desobrigando os fiéis e alistando muitos à Ordem Terceira. A todos os conventos achavam‑se agregadas fraternidades terciárias, com vida religiosa acentuada.
Dutante o século XVIII, vários conventos mantiveram grátis as chamadas aulas de gramática para meninos pobres, até que o governo, em 1785, substituiu os mestres franciscanos por professores leigos. As casas de estudos filosóficos e teológicos eram as de Olinda , Recife, Salvador e, temporariamente, Paraiba. Os noviciados funcionavam em Igaraçu e Paraguagu para as vocações brasileiras e portuguesas.
Os franciscanos da custódia se haviam regido pelos estatutos e regulamentos missionários aprovados pela Província mãe. O 1° Capítulo Provincial de 1659 estabeleceu a elaboração de estatutos Provinciais próprios, os quais, ao que parece, nunca se puseram em prática devido a discórdias internas; até que, em 1705, entraram em vigor os estatutos compilados par Frei Cosme do Espírito Santo. Naquela ocasião, a Província alcançara de Inocêncio XI o privilégio de receber os visitadores escolhidos de entre os seus próprios filhos, extinguindo destarte as pertubações até então experimentadas (1688). O mesmo Papa transferiu o provincialado de Olinda para Salvador, entrando o respectivo breve em vigor em 1691, por ocasião do capítulo celebrado na Bahia Em 1941, a Cúría Geral de Roma aprovou a transferência de Salvador para Recife.
No tempo da constituição da Custódia em Província, um decreto régio estabeleceu que não houvesse mais de 200 frades na Província. Não obstante, os superiores ultrapassaram este número, de maneira que no ano de 1739 havia já 420 frades (361 sacerdotes e clérigos e mais 99 irmãos).
Dai, outro decreto régio de 25 de maiode 1740 proibiu recerber noviços até que, por morte, o número ficasse reduzido a 400. No entanto, por uma notável arte de interpretação, foi possível que, no ano 1764 se contasse quase 470 professos na Província.
Mas em 30 de janeiro de 1764, sob a responsabilidade de Pombal, foi publicado o decreto régio, segundo o qual ficou estritamente proibida a admissão de noviços durante 14 anos. Se bem que, com autoridade régia, fossem recebidos, algumas vezes, noviços em maior número. Havia a 6 de maio de 1801 apenas 158 religiosos; em virtude de novas concessões, o número, pôde ser aumentado até 1845 a 227 religiosos.
No mesmo ano de 1845, um decreto de Pedro II proibiu a admissão de noviços à Ordem sem licença especial do Governo, decreto esse interpretado a 19 de maio de 1855 no sentido de que ficava absolutamente proibido admitir noviços "até que uma concordata tivesse sido celebrada entre o Império do Brasil e a Santa Sé". Como esta condição nunca se realizasse o número de religiosos diminuia depressa.
Por decreto da Congregação dos Bispos e Religiosos de 27 de março de 1886, abolido o privilégio de isenção, os sobreviventes das Ordens foram sujeitos à autoridade dos Bispos.
Já desde 1886 o último o Ministro Provincial, Frei Antônio de São Camilo de Lelis Carvalho, havia insistido junto ao Ministro Geral em que a Província fase restaurada por confrades da Europa. Assim aconteceu que aos 12 de dezembro de 1889, fosse confiada à Província Saxônica da Santa Cruz a assim chamada Missão da Bahia.
Aos 27 de dezembro de 1892, os novos confrades da Europa chegaram ao Convento São Francisco de Salvador (Bahia), tendo sido realizada a 2 de março de 1893 a Congregação Capitular dos antigos e novos frades, quando ficou decretada e iniciada a reforma e renovação da Província de Santo Antônio.
Finalmente aos 14 de setembro de 1901, o Vigário Geral da Ordem, Padre Davi Fleming, publicou o decreto pelo qual a antiga Província ressurgiu "dos mortos": Das suas casas, 14 foram restauradas pouco a pouco e 5 entregues (Paraíba, Igaraçu, Alagoas, Paraguaçu e Boa Viagem).
Outras casas foram fundadas, a saber: Pesqueira (1902), Igreja Nova (1905), João Pessoa (São Pedro, 1911), outra na mesma cidade (Rosário 1920), Canindé (1922), Fortaleza (1929),Aracaju (1934) Itajuipe (1935), Campo Formoso (1938), Mossoró (1941), Campina Grande (1944), Maceió (1964) e João Pessoa (Cruz das Armas ‑ 1967).
Acrescentaram‑se, além das casas acima mencionadas, o Colégio de Bardel (Alemanha) em 1921, o Colégio Seráfico de Ipuarana em 1940 e as escolas apostólicas de Tianguá (1940) e de Triunfo (1944, inaugurada em 1947)).
No ano de 1951 fundou‑se a Residência de Santo Antônio, em Brotas (Salvador), ao lado da casa de Retiro de São Francisco, construída e dirigida pelos nossos confrades.
No ano de 1960, obtida a aprovação da Cúria Romana e com o consentimento da Província da Saxônia, foi fundada emMettingen (Alemanha) mais uma residência nossa com a finalidade de abrir uma Escola Vocacional para adultos.
No ano de 1951, precedida a convenção entre a nossa Província e a província da Saxônia, um decreto da Cúria Geral desmembrou do território da Província os Estados do Piauí e do Maranhão, confiando-os à Província da Saxônia.
De 1907 até 1956 a Província administrou a Prelazia de Santarém (Estado do Pará). Neste tempo ela fundou 6 casas, a saber: Santarém, (1907), Monte Alegre (1910), Alenquer (1930), o Ginásio Dom Amando (Santarém ‑ 1944), entregue à outra administração em 1951 e Oriximiná (1948).
Num Congresso do Definitório Geral em 1956, o Comissariado de Santarém foi dividido em dois Comissariados, o de Santarém, entregue à Província do Sagrado Coração de Jesus da América do Noite e o de Óbidos, com as casas de Óbidos, Alenquer e Otíximiná, entregue à nossa Província a qual ainda abriu uma casa em Belém do Pará (1965).
Também cessa Missão entre os índios Mimdumcu no rio Cururu, fundada em 1911, foi entregue ao Comissário de Santarém em 1961, continuando ali dois Missionários nossos: Frei Plácido e Frei Edmundo, na catequese daquela tribo, tendo a Província iniciada outra Missão entrre os Tiryó em 1960, na Prelazia de Óbidos, elevada a residiência a 28 de dezembmro de 1964.
Por vários motivos se fecharam as casas de João Pessoa ‑ Cruz das Armas (1973), Tianguá (1973) , Igreja Nova (1975) e João Pessoa ‑ São Pedro (1976).
Desde as Capítulo de 1979, São Francisco do Conde, com as Paróquias de Madre de Deus e Candeias, peru= ao Convento Regional de Salvador. Em 1980, o convento e a paróquia de Oriximiná foram entregues aos PP da S.V. D.; em 1982 entregaram‑se ao Bispo Diocesano de Ilhéus o convento e a paróquia de Itajuipe.
Com a criação da Vice-Província de São Benedito da Amazônia, em 1990, as casas de Óbidos e Alenquer passaram a pertencer à Vice‑Província, permanecendo porém sob nossos cuidados a Missão dos Tíryó e a Casa de apoio em Belém.
Em 1988 foi aberta a nova Casa de Noviciado em Sitio Cruz, na Diocese de Garanhums ‑ PE.
Em agosto de 2000 o Congresso Definitorial aprova a volta da Casa de Noviciado para Ipojuca.
Em 30 de abril de 2005 a Paróquia de Nossa senhora das Dores, em Triunfo, passou a ser administrada pelo clero diocesano. Os frades continuam residindo no Convento de São Boaventura, dando assistência pastoral e espiritual à Paróquia. Já no dia 31 de maio do mesmo ano a Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, em São Cristóvão, foi entregue à Arquidiocese de Aracaju e os frades também se retiraram daquela comunidade. Nos dois casos a comunidade reagiu pedindo a permanência dos frades."

(Do Catálogo da Província de Santo Antônio)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

IPOJUCA - OS HOLANDESES E A POLUIÇÃO AMBIENTAL

POLUIÇÂO AMBIENTAL
POBLEMA SECULAR

O Município de Ipojuca conta hoje com uma Secretaria de Ciência-tecnologia-e meio ambiente (SECTMA).
O problema não vem só do aquecimento global..
Quando o Brasil estava sob o domínio espanhol o Rei já tomava providências para que não se poluíssem os rios da Zona da Mata de Pernambuco.
Vejamos o que nos dizem alguns relatórios holandeses:
No Documento 4 (pgs. 147 – 190), estampado por Dr. José Antônio Gonçalves de Mello em sua obra Administração da Conquista [1] “notas do que se passou na minha viagem, desde 15 [sic] de Dezembro de 1641 até 24 de janeiro do ano seguinte de 1642”, se registra:

“A 18 do mesmo mês [dezembro] ao amanhecer, cavalguei para Ipojuca [...] (pg. 151)


“Ali também recebi queixas de que alguns engenhos lançavam o bagaço aos rios, com o que conspurcavam as águas. Soube que ao tempo do Rei de Espanha foram dadas ordens a este respeito e mesmo que alguns moradores ainda têm cópia dos editais. Determinei ao Escolteto Hol procurasse os ditos editais e no-los enviasse para ser resolvido o que conviesse ao caso [...] (pg. 152).
Dr. José Antônio nos remete à Nota 12 de fim de texto (Documento 4):
“Interessante referência ao início da poluição dos rios da zona da mata pernambucana pela indústria açucareira, que viria a agravar-se no século XIX com os engenhos centrais e as usinas. Em 4 de março de 1644 foi publicado edital proibindo lançar-se nos leitos e embocaduras dos rios quaisquer imundícies: ARA, OWIC 70, dag.notule da data acima.”
Já que o assunto é poluição mesmo Documento 4 (pgs. 147 – 190), na visita a Santo Antônio do Cabo [Cabo de Santo Agostinho], se registra a 17 de dezembro de 1641:
“A 17 viajei para Santo Antônio do Cabo... (pg. 148) [...] Entendi-me com Martinus de Coutre sobre prestações vencidas da compra de seu engenho (p. 149). [...] Também alguns senhores de engenho e moradores de Santo Antônio [do Cabo] se quixaram de que a água ou rio ali era conspurcado por outros senhores de engenho, que nele jogavam o bagaço [de cana], o que era causa de muitas doenças. Ordenei a [não indica] que redigisse um edital proibindo o abuso, para ser apresentado para exame a S. Ex.a e ao Alto Conselho” [2] (p. 150).


[1] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004, pp. 148 - 152).
[2] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004,
E a Nota 17 a este trecho nos remete à mesma Nota 12.

IPOJUCA ENGENHOS DA REGIÃO

Santo Antônio dos Montes (Engenho Velho) – Com a palavra agora o historiador Fernando Pio, em seu escrito “A Caminho da Histórica Ipojuca”, no livro Resumo Historico do Convento de Santo Antonio e do Santuario do Senhor Santo Christo de Ipojuca, edição comemorativa do Jubileu do Santuário *1663 – 1938), organizado por Frei Venâncio Willeke, Ipojuca, 1938, pp.16-17:
“ Interessante a lenda que nos refere Jaboatão no seu Novo Orbe Seráfico a respeito desta igrejinha: conta-nos o cronista franciscano que a milagrosa imagem de Santo Antônio, ali venerada, fora encontrada em plena mata. Não existindo, ainda, naquela época, capela ou igreja no engenho, levaram a imagem para a capelinha de São José, nas imediações da cidade do Cabo. Qual não foi a surpresa, entretanto, no dia seguinte, ao constatarem, que a imagem já não se encontrava no altar em que fora colocada. E onde estava a imagem? Em plena mata, no mesmo local em que vivia anteriormente.... Pela segunda vez repuzeram-na em seu altar na igrejinha de São José. Novamente a imagem desapareceu. E voltou ao seu pouso primitivo. Uma terceira tentativa ainda foi experimentada. Novo insucesso. Compreenderam, assim, os moradores do engenho que o santo havia escolhido por habitação de sua imagem aquele local e, deste modo, apressaram-se a levantar, sem demora, a sua capelinha. E esta é a igrejinha que avistamos com o sugestivo título de Santo Antônio dos Montes do Engenho Velho. ”
Mas vamos um pouco adiante na narrativa de Fernando Pio. Santo Antônio dos Montes do Engenho Velho é um engenho muito ligado a história do célebre Frei Cosme de São Damião, e. portanto, ao Convento de ipojuca:
“Foi neste engenho que antes de abraçar a vida franciscana viveu durante sete anos o piedoso Frei Cosme de São Damião.
Filho de colonos portugueses, dedicou-se, na mocidade, à vida agrícola e, conforme nos refere Jaboatão, do campo à casa de purgar Cosme Manuel, o mancebo, pelo seu bom gênio officioso e devoto já demonstrava a piedosa vocação religiosa que o faria amanhã o estimado frade franciscano.
Até há poucos anos, existia neste referido engenho um retrato a óleo de Fr. Cosme de São Damião.”
Falando sobre este engenho a uma paroquiana de Ipojuca, ela me contou que o tal engenho fica em Ponte dos Carvalhos, e que, quando criança, foi com seus pais visitar a Capela do Engenho, levados pela devoção a Santo tão milagroso, que escolhera aquele lugar para morar.
Segundo Josias, fica no Cabo de Santo Agostinho, após a Destilaria do Cabo, sentido Recife (lado esquerdo).


Jurissaca –Este engenho ficava no Município do Cabo. Vem do início do século XVII, conforme Fernando Pio. Num alto, mais à frente encontram-se as ruínas de uma capelinha dedicada a São Gonçalo, célebre pelo fato de alguns restauradores pernanbucanos terem promovido aí as primeiros reuniões com o fito de expulsar os invasores holandeses. Na época em que Fernando Pio redigiu este escrito, a capelinha não podia ser vista da estrada, pois se erguia no meio da mata. Será que ainda existe em nossos dias? De acordo com Sebastião Galvão, o dito engenho pertencia a João Paes Barreto, tinha uma capela sob a invocação de São João Batista instituída primitivamente em1626. João Paes Barreto foi o fidalgo português que se destacou entre os colonizadores das terras do Cabo de Santo Agostinho e da Vila de Santo Antônio do Cabo. Veio para Pernambuco ainda bem jovem e solteiro em 1557. Casou-se com Dona Inês Guardez de Andrade, filha do rico colono Francisco Carvalho de Andrade. “De posse das doações de grandes lotes de terra, fundou ele um engenho a que deu o nome de Madre de Deus, situado em uma légua de terra, - à margem do rio Arassuagipe nos brejos do Cabo de Santo Agostinho – e sucessivamente os de Jurissaca, Algodoais, Trapiche, Guerra, Ilha e Santo Estêvão. Em 28 de outubro de 1580, instituiu João Paes Barreto um morgado [...] conhecido depois por Morgado dos Paes ou do Cabo. O engenho Madre de Deus veio a chamar-se também Engenho Velho.
Algodoais – Engenho sem expressa histórica, segundo Fernando Pio merendo ser lembrado por guardar em sua capela um altar “lembrando o gótico”, (!) que pertenceu ao Santuário do Santo Cristo de Ipojuca e que, depois do incêndio deste templo, foi para ali transferido, como doação do Rev. Frei Venâncio, Guardião do Convento de ipojuca”. Deve ter sido um dos altares de madeira construído pelos frades alemães restauradores, como os que vemos na fotos da igreja incendiada. Segundo Sebastião Galvão, era um engenho “no Município do Cabo, fundado por Miguel Paes antes da invasão holandesa, fica ao Sul as sede e tem uma capela dedicada a S. Francisco”.[1] À época da referida doação aquele engenho pertececeria à Freguesia de São Miguel de Ipojuca? Outra pergunta: e como explicar o altar tipo “gótico” que ainda hoje se vê na capela restaurada do Engenho Penderama? Certamente foi para lá após o incêndio da igreja do Convento. Das duas uma: ou Fernando Pio se enganou ao dar como destino daquele altar a capela de Algodoais e não a de Penderama, ou esta última teria merecido também um dos altares da igreja do Senhor Santo Cristo. Fica, porém, um problema a ser resolvido, pois consta que todos os altares da igreja do Convento foram destruídos pelo incêndio. Defendo a hipótese que seriam os antigos altares (não mais os primitivos) que os alemães encontraram e dele se desfizeram para dar lugar aos novos, góticos, que vemos nas fotos de antes do incêndio. Mas é, de qualquer forma, estranho que fossem altares “góticos” e não barrocos como deveriam ser, e como, por sinal, o é o altar-mor da Matriz de Miguel, que fora do Convento para lá, como reza outra tradição.
[1] GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos, Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, Edição fac-similar, Governo de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Recife, 2006, Volume I, 2.a Edição, p. 20.

ENGENHOS DE IPOJUCA E OS HOLANDESES

POLUIÇÂO AMBIENTAL
POBLEMA SECULAR

O Município de Ipojuca conta hoje com uma Secretaria de Ciência-tecnologia-e meio ambiente (SECTMA).
O problema não vem só do aquecimento global..
Quando o Brasil estava sob o domínio espanhol o Rei já tomava providências para que não se poluíssem os rios da Zona da Mata de Pernambuco.
Vejamos o que nos dizem alguns relatórios holandeses:
No Documento 4 (pgs. 147 – 190), estampado por Dr. José Antônio Gonçalves de Mello em sua obra Administração da Conquista [1] “notas do que se passou na minha viagem, desde 15 [sic] de Dezembro de 1641 até 24 de janeiro do ano seguinte de 1642”, se registra:

“A 18 do mesmo mês [dezembro] ao amanhecer, cavalguei para Ipojuca [...] (pg. 151)


“Ali também recebi queixas de que alguns engenhos lançavam o bagaço aos rios, com o que conspurcavam as águas. Soube que ao tempo do Rei de Espanha foram dadas ordens a este respeito e mesmo que alguns moradores ainda têm cópia dos editais. Determinei ao Escolteto Hol procurasse os ditos editais e no-los enviasse para ser resolvido o que conviesse ao caso [...] (pg. 152).
Dr. José Antônio nos remete à Nota 12 de fim de texto (Documento 4):
“Interessante referência ao início da poluição dos rios da zona da mata pernambucana pela indústria açucareira, que viria a agravar-se no século XIX com os engenhos centrais e as usinas. Em 4 de março de 1644 foi publicado edital proibindo lançar-se nos leitos e embocaduras dos rios quaisquer imundícies: ARA, OWIC 70, dag.notule da data acima.”
Já que o assunto é poluição mesmo Documento 4 (pgs. 147 – 190), na visita a Santo Antônio do Cabo [Cabo de Santo Agostinho], se registra a 17 de dezembro de 1641:
“A 17 viajei para Santo Antônio do Cabo... (pg. 148) [...] Entendi-me com Martinus de Coutre sobre prestações vencidas da compra de seu engenho (p. 149). [...] Também alguns senhores de engenho e moradores de Santo Antônio [do Cabo] se quixaram de que a água ou rio ali era conspurcado por outros senhores de engenho, que nele jogavam o bagaço [de cana], o que era causa de muitas doenças. Ordenei a [não indica] que redigisse um edital proibindo o abuso, para ser apresentado para exame a S. Ex.a e ao Alto Conselho” [2] (p. 150).

[1] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004, pp. 148 - 152).
[2] Apud, Mello, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, Companhia Editora de Pernambuco – CEPE – Recife, 2004,
E a Nota 17 a este trecho nos remete à mesma Nota 12.

ENGENHOS DE IPÓJUCA E OS HOLANDESES

EGENHOS DA FREGUESIA DE IPOJUCA
CONFORME RELATÓRIO HOLANDÊS
DOS ANOS DE 1637 A 1639. Documento 5,[1]

Citemos alguns:

- Engenho Sibiró de Baixo, com invocação de São Paulo.
Pertencente a Francisco Soares Canha (sic). Engenho d´água. Em funcionamento (“moente”).
- Engenho Sibiró de Cima. De Manoel de Navalhas, ausente. Foi confiscado e vendido a João Carneiro de Mariz. Engenho movido a água. Funcionando.







ENGENHO MARANHÃO


-Engenho Maranhão. Confiscado. O seu dono, João Tenório, se passou para os holandeses, mas teve que compra-lo (!). É d´água e moente.

Foto do Engenho Maranhão, hojem em completo abandono:





- Engenho Coroaçu. Pertencente a Manoel Vaz Viseu que se passou para os holandeses. Era movido a água, em funcionamento.
- Engenho Bertioga. Foi confiscado e vendido a seu proprietário, João Tenório, que ficou do lado dos holandeses.
Estava em funcionamento, movido a água.
- Engenho Nossa Senhora do Rosário. Confiscado e vendido a João Carneiro de Mariz. É movido a água e está em funcionamento.
- Engenho Bom Jesus, chamado também Trapiche, a água e mo ente. Confiscado e vendido a Duarte Saraiva.
- Engenho Guerra, movido por bois, em funcionamento. Algumas partes deste engenho foram confiscadas e vendidas ao Sr. Hendrick Schilt.
- Engenho São João Salgado. Pertenceu a Cosme Dias, que reside entre os inimigos dos holandeses. Confiscado e vendido a Mateus da Costa. É de bois e estava parado.
- Engenho Pindoba. Pertenceu a Gaspar da Fonseca Carneiro e estava nas mãos de seu filho. É d´água e em funcionamento.
- Engenho Santa Luzia, confiscado e vendido a Amador Araújo. É d´água e moente.

EGENHOS DA FREGUESIA DE IPOJUCA
CONFORME RELATÓRIO HOLANDÊS
DE 4 DE ABRIL DE 1640. DOCUMENTO 6. [2]

- Engenho Cocaú. Pertenceu a Antônio Gonçalves da Paz. Foi confiscado. Acha-se destruído e ainda não foi vendido.
- Engenho da Guerra, pertencente a Jacobus Corderus e Baltasar Wijntgens. Engenho de bois. Em funcionamento.
- Engenho São João Salgado, agora pertencente a Duarte Saraiva.
- Engenho Aratangil, de Miguel Fernando de Sá. De água, moendo.
- Engenho Pantorra. , de Nicolas D´ Haen, L´Empereur & Cia. Inteiramente arruinado. Está sendo restaurado e replantado para moer no ano vindouro.
- Engenho Santa Luzia ou Tabatinga, ut supra.
[1] Apud MELL O, José Antônio Gonçalves de, A Economia Açucareira, I, 2.ª edição, Recife, 2004, pp. 83 ss.
[2] Apud MELL O, José Antônio Gonçalves de, A Economia Açucareira, I, 2.ª edição, Recife, 2004, pp.142 a 143,

PARÓQUIA DE S. MIGUEL DE IPOJUCA OS ENGENHOS DURANTE A OCUPAÇÃO HOLANDES

DO DOCUMENTO 4 DOS RELATÓRIOS HOLANDESES:
INVENTÁRIO DE TODOS OS ENGENHOS SITUADOS ENTRE O RIO DAS JANGADAS E O RIO UMA, EM PERNAMBUCO, FEITO PELO CONSELHEIRO WILLEN SCHOTT EM 1636. [1]
- Sobre o Engenho Tabatinga: “Engenho de Tabatinga, de Santa Luzia, pertencente a Cosme Dias da Fonseca, que fugiu, situado calculadamente duas milhas distante do Cabo. Mói com água e tem um belo açude. A casa de purgar e a casa das caldeiras são de alvenaria, mas muito velhas e começam a decair. Tem também cerca de uma milha e meia de terra com uma boa várzea, bem plantada com canavial, que anualmente pode produzir cerca de 5.000 a 6.000 arrobas de açúcar; as caldeiras e os tachos foram todos retirados.” [2]
- Sobre o Engenho dos Salgados: “... do mesmo Cosme Dias, situado uma milha e meia distante do antes citado engenho, tem cerca de uma milha de terra, na maioria várzeas, das quais se obtêm boas canas.. Mói com bois e tem duas moendas e, pela comodidade do rio Ipojuca, que corre bem perto, pode moer o ano inteiro. Tem fornecido 5.000 arrobas e paga de recognição 30 arrobas de açúcar branco e encaixado; a casa de purgar tem paredes de taipa, mas está totalmente destruída, como também as moendas; as caldeiras foram retiradas e escondidas.” [3]
- Sobre o Engenho São Paulo: “... situado um quarto de uma milha ao noroeste do acima mencionado dos Salgados. Pertence a várias pessoas, entre as quais Pedro da Grand, que como maior participante é o feitor-mor; os outros donos fugiram e alguns moram em Portugal. Em nome deles o citado da Grand obrigou-se a dar boa conta do engenho. Este mói com bois e tem 600 vaden de terra em quadra, parte da qual é plantada com cana, enquanto a outra parte consiste de pastos, mas não tem matas e por isso tem que comprar toda a amadeira, o que é muito oneroso. Pode anualmente fornecer 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar, e paga 2 por cento de recognição.” [4]
- Sobre o Engenho Bom Jesus: “... pertencente a Dona Isabela de Moura. Está situado perto do supra citado engenho e a um quarto de milha distante de São Miguel de Ipojuca. Tem uma moenda de água e uma de bois; a casa de purgar e a casa da proprietária estão totalmente desmoronadas, mas a casa na qual estão as moendas ainda é nova. Este engenho tem duas milhas de terra, com muitos vales e lindos canaviais, como também madeira pastos para os animais. Pode anualmente fazer 9.000 a 10.000 arrobas de açúcar e paga de recognição 30 arrobas de açúcar branco e encaixado. Na casa de purgar foram encontrados 172 formas, das quais alguma quebradas, as quais renderam 155 arrobas de açúcar mascavado, que foram encaixados em 14 caixas. Numa barraca cerca de uma milha e meia distante foram ainda encontradas 9 caixas de um particular que tinha fugido.” [5]
- Engenho Bertioga: “... situado a um quarto de milha distante do citado engenho Nossa Senhora da Conceição; pertence a Luís Lopes Tenório, que fugiu com Albuquerque; (...) pode anualmente fazer 3.000 a 4.000 arrobas de açúcar e paga 3 por cento de d recognição...” [6]
-Engenho Maranhão: “... situado meia milha distante do referido engenho Três Reis, pertencente a um certo castelhano João Tenório, que fugiu com Albuquerque (...). Mói co água e pode anualmente produzir 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar e paga 3 por cento de recognição...” [7]
- Engenho Pindoba: “... situado duas milhas distante de Ipojuca, pertencente aos órfãos de Gaspar da Fonseca, dos quais o filho mais velho se encontra aqui e as filhas estão num convento em Portugal. Tem uma moenda de água e outra de bois, um belo açude e cerca de meia milha de terra, na qual está uma várzea tão bem plantada que anualmente o engenho pode fornecer 3.000 a 4.000 arrobas de açúcar; paga a recognição de 50 arrobas de açúcar branco e 30 arrobas de açúcar mascavado encaixados. De uma barraca, situada em torno desse engenho, foram conduzidas para a Companhia 17 caixas de açúcar branco e mascavado,” [8]
[1] Apud MELL O, José Antônio Gonçalves de, A Economia Açucareira, I, 2.ª edição, Recife, 2004, pp. 47 ss.; sobre Ipojuca: pp. 61 ss.
[2] Id. Ibd. p. 61.
[3] Id. Ibd. p.61.
[4] Id. Ibd. p. 61. Vadem: “medida de comprimento: um vadem de Amsterdã = 1, 698 m; idem renano = 1.88 m.” Id. Ibd. pg. 61, nota (*).
[5] Id. Ibd. pp. 61 a 62.
[6] Id. Ibd.62.
[7] Id. Ibd. 63
[8] Id. Ibd. p. 64.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

IPOJUCA E O SANTUÁRIO DO SENHOR SANTO CRISTO

9. REENTRONIZAÇÃO DO SENHOR SANTO CRISTO


“Em 15 de agosto de 1935 a Capela-mor estava coberta, foi lançada a Primeira Pedra do Altar-mor e a 29 de agosto de 1937 foi concluído o Altar-mor onde repousa até hoje e por todos os tempo a imagem de Santo Cristo”.

“Na Primeira Pedra do altar-mor da reconstrução do convento consta a seguinte inscrição:
Louvado seja o Santíssimo nome de Jesus
No ano da Redenção de 1935, sendo sua Santidade Pio XI Sumo Pontífice da Igreja”.


“Dois anos de luta na reconstrução do templo. Até que no dia 29 de agosto de 1937 o Senhor Santo Cristo era reentronizado no seu altar bendito.
Para conhecermos a quantidade infinita de graças alcançadas pelos católicos através de súplicas feitas ao Senhor santo Cristo, bastará uma ligeira visita à sala dos milagres junto ao santuário. Ela nos patenteará a proteção dispensada pelo Senhor Santo Cristo de Ipojuca a todos aqueles que, com fé, lhe confiam os seus pedidos. Para melhores informações sobre o Convento franciscano e o santuário do Sr. Santo Cristo de Ipojuca procurar a obra de Fr. Venâncio Willeke “O Santuário do Senhor Santo Cristo de Ipojuca” [1]

“Desde a Festa do Senhor Santo Cristo em 01-01-1936, a imagem milagrosa ocupa o altar-mor, ficando na capela lateral [antiga Capela do Senhor Bom Jesus] a imagem do Sagrado Coração de Jesus.” [2]
Teria sido a partir de então que a igreja do Convento, como este, dedicada a Santo Antônio, passou a ser “Santuário do Senhor Santo Cristo”?
Escreve Maria de Ipojuca (Odete):
“Foram três anos de lutas renhidas, de combates acerbos. Mas, graças à colaboração de generosos benfeitores, já estão vencidos os obstáculos principais. [...] De todo o Brasil, associando-se a tão nobre obra, chegam as esmolas preciosas. Compreenderam ser o Santuário de Ipojuca, um Santuário Nacional!” [3]
Com certeza Frei Venâncio se valeu da ocasião para dar ao templo, o título que competia à Capela do Bom Jesus, no jubileu da mesma: 1663.
O título que ele deu ao livro já diz tudo: Convento de Santo Antônio e Santuário do Senhor Santo Cristo de Ipojuca.
Quais os trâmites legais que ele teria usado para isto não conhecemos. Não é simples mudar o orago de um templo quase (na época) quatro vezes centenário. Hoje, até o Convento de Santo Antônio é conhecido como Convento do Senhor Santo Cristo. Até a festa de Santo Antônio passou a segundo plano face à festa do Senhor Santo Cristo. O trezenário pasou a simples Tríduo e até a Missa festiva não é mais festiva que uma missa dominical!
Videant cônsules!

Resta dizer que, da antiga igreja, só foram poupados pelas chamas se 1935 as estalas do coro dos religiosos; “embora ficasse tostada a camada superior, pôde ser novamente aproveitada depois de limpa e envernizada”. [4]
“No recinto da igreja, a arte primitiva desapareceu por completo, devido aos estragos do fechamento temporário [o Convento ficou sem moradores no final do século XIX até à chegada dos frades restauradores da Saxônia] e do incêndio de 1935. As campas sepulcrais cederam lugar ao mosaico que Frei Eugênio colocou durante a sua segunda gestão de 1904 a 1907.” [5]

A FESTA DO SENHOR SANTO CRISTO

Escreve Frei Venâncio:
“A festa principal do Senhor Sant0o Cristo deve remontar aos primeiros anos da devoção ipojucana. [...] Sobre a solenidade máxima do santuário ipojucano, lemos a lacônica notícia: Celebra-se a festa do Sr. Sto. Cristo ao primeiro do ano, dia do nome de Jesus e deve ter tido lugar sem interrupção porque a crônica franciscana, tão parca em referir algo do santuário, não pôde deixar de noticiar o acontecimento verificado durante a gestão do guardião Frei José de Santa Maria: ´A 1º de janeiro de 1848, não pôde ser celebrada a festa tradicional, porque neste tempo tornou-se o convento quartel de tropas, houve tiroteio no mesmo convento e o Senhor Francisco do Rego Barros converteu-o também em prisão.´” [6]
Francisco do Rego Barros (Conde da Boa Vista) por duas vezes ocupou a presidência da Província de Pernambuco, segundo Pereira da Costa: “A primeira, de 2 de dezembro de 1838 a 3 de abril de 1841 [...]; a segunda, de 7 de dezembro de 1841 a 13 de abril de 1844 [...]. [7]
Sua intervenção em Ipojuca só pode ter acontecido durante a Revolução Praieira, quando ele exercia o cargo de Comandante Superior da Guarda Nacional no Recife.[8]

É sempre celebrada 1º de janeiro, com novenário aberto com o hasteamento da bandeira a 22 de dezembro.
Durante o Novenário toda a Comunidade Paroquial se mobiliza em ação missionária: visita aos doentes, às escolas, às periferias. Todas as noites há caminhada de um ponto da cidade para o Convento. Após a novena, há apresentação de danças folclóricas, pastoris de crianças e adultos, apresentações de corais, barracas...
No dia da festa:
O5h00: Alvorada festiva.
10h00: Missa Solene
16h00: Procissão e Missa de encerramento.

Serviços dos andores e altares:

Altares: Família responsável.
Andor de Santo Cristo: Devotos e devotas.
Andor de Nossa Senhora: Família responsável.
Andor de São Benedito: Devotos e devotas.

Quanto aos andores, vale lembrar a tradição sobre o de São Benedito. Escreve Fr. Venâncio:

“Fiel à tradição secular, Ipojuca festeja o santo preto a 31 de dezembro, véspera da solenidade do Sr. Santo Cristo, realizando-se dias antes a famosa festa de S. Benedito no vizinho engenho de Massangana, onde Joaquim Nabuco se apaixonou pelo ideal abolicionista.
Até o presente [1956], é a imagem de S. Benedito que abre o préstito nas grandes procissões de Ipojuca, preito de gratidão para com o humilde Irmão franciscano, cuja popularidade contribuiu de modo particular para irmanar as duas raças principais que hoje povoam o Brasil.” [9]


[1] PIO, Fernando Pio, O Convento de Santo Antônio do Recife e as Fundações franciscanas em Pernambuco, Recife, 1939, p. 69 -70.
[2] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, nota 14 ao Cap. XI, p. 88.
[3] Apud WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Resumo Histórico do Convento de Santo Antônio e do Santuario do Senhor Santo Christo de Ipojuca, edição commemorativa do Jubileu do Santuário : 1663 – 1938”, Ipojuca, Editores: Religiosos Franciscanos, Ipójuca, Pernambuco, 1938, p. 43.
[4] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, nota 14 ao Cap. XI, p. 66.
[5] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, nota 14 ao Cap. XI, p. 66.
[6] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, nota 14 ao Cap. XI, p. 40.
Conf. as notas 8 e 9 ao Cap. XII, à pg. 89 nos remetem a Jaboatão: Jab. , III, 511, 512.
[7] COSTA, F. A.. PEREIRA da, Dicionário Biográfico dePpernambucanos Célebres, p. 388.
[8] COSTA, F. A.. PEREIRA da, Dicionário Biográfico dePpernambucanos Célebres, p. 389.
[9] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 47.

CONVENTO DE IPOJUCA - MAIS OBRAS DE ARTE - OS INCÊNDIOSS

5. PINTURAS ANTIGAS NO INTERIOR DO CONVENTO

No interior do Convento, existem ainda quadros antigos, [de autores anônimos] de épocas diversas. O claustro conserva quatro painéis de um só autor, provavelmente da segundametade do século XVIII [hoje se encontram no refeitório]. Representam as seguintes cenasreproduzidas em vários conventos franciscanos:
1º) o chamado milagre da mula, realizado por intercessão de Santo Antônio; 2º) S. Francisco de Assis ressuscitando o recém-falecido D. Pedro Dias, bispo da cidade de Rodrigo; 3º) 0 martírio dos primeiros missionários franciscanos, SS. Bernardo, Pedro, Acúrsio, Adjuto e Odon, degolados em 1220 pelos maometanos em Marrocos; 4º) o martírio do bem-aventurado João do Prado, em 1631, morto a fogo, flexa e espada.
À entrada do refeitório, vêm-se dois quadros menores, de Nossa Senhora e S. José, que antigamente encimavam a cômoda da sacristia. Datam de meados do século passado [século XIX], e foram provavelmentecolocados por Frei Antônio da Rainha dos Anjos, quando da restauração da sacritia, entre 1850 e 1852 [quando a sacristia era por trás da Capela-Mor].
No refeitório figura em tamanho grande a Última Ceia, trabalho bem conservado, que remonta ao século XVIII.” [1]


7. O PRIMEIRO INCÊNDIO DA IGREJA DO CONVENTO –

Em 31 de dezembro de 1834, o Bispo de Pernambuco Dom João Marques Perdigão esteve em Visita Pastoral à Freguesia de Ipojuca. Foi hospedado no Convento. Em seus diário – Itinerário das visitas do Bispo de Pernambuco, ele registrou também a visita ao convento:

“Dia 31 [de dezembro de 1944] - Saí de Nazaré pelas cinco horas da manhã e me dirigi à Freguesia de Ipojuca, onde cheguei pelas oito horas da mesma manhã [viajando a cavalo]. Fui recebido com aplausos e, debaixo do pálio, conduzido à [primitiva] Matriz., onde, cantado o Te Deum, ouvi missa e fui hospedado no Convento dos Franciscanos.”

“Dia 1º de janeiro [de 1835] – Celebrei pontificalmente na Festa do Santo Cristo pelas onze horas e de tarde conduzi o Santíssimo Sacramrento em solene procissão, durante a qual pegou fogo na capela do mesmo Santo Cristo, por cujo motivo, as mulheres choraram e, repentinamente, correu todo o povo à igreja e, depois de apagado o fogo, [o povo] bradou em altas vozes, dando vivas às imagens, e assistindo ao sermão, Te Deum e fogo artificial que acabou pelas 11 horas [da noite].”
“Dia 2 [de janeiro de 1935] – Pelas 10 hora abri a Visita, praticadas as cerimônias de costume, sendo os responsórios cantados pelos Religiosos Franciscanos. O Sacrário e mais utensílios estão decentes. Fui segunda vez recebido debaixo do pálio, e fiz prática do costume, e depois crismei mais de 200 pessoas, e finalizei o ato fazendo oração ao St.º Cristo, tido em grande veneração pelos povos desta e outras Freguesias...”
“Dia 4 [de janeiro de 1835[ - Ouvi missa, por estar doente dos olhos, e, depois, crismei quase 400 pessoas e, no fim desta ação, visitei o Santo Cristo.” [2]
“Desde as primitivas peregrinações à Terra Santa até as do Ano Santo e as romarias regionais, a Santa Sé concede abundantes indulgências aos peregrinos, e privilégios especiais aos sacerdotes. O santuário ipojucano mereceu esta distinção em 1936.” [3]


8. O SEGUNDO INCÊNDIO – Um século depois daquele primeiro incêndio, outro de grande proporções destruiu a Capela do Bom Jesus, a Igreja e pequena parte do Convento. Por sorte, ou melhor dizendo, por disposição da Divina Providência, o Convento escapou da destruição.
Para se entender mais exatamente o acontecido, temos que retornar ao tempo.
“Ipojuca não tinha luz elétrica continuada.A eletricidade era através de um gerador que era desligado a meia-noite. Em quase todas as casas tinha-se candeeiro a querosene. Não havia água encanada. A água era coletada na cacimba do Vigário, cuja construção foi feita pelo Pe. Firmino [...era tio-bisavô do Autor]; na cacimba de Seu Isaias [...feita pelo bisavô de Ivo e cunhado do Pe. Firmino] e na cacimba em Montevidéu.. As estradas eram de barro e não havia calçamento.

A igreja de Santo Cristo não tinha a forma que hoje possui. Onde hoje está a imagem de Santo Cristo [altar-mor], existia o altar-mor, todo trabalhado a canivete, de madeira cedro em estilo lembrando o gótico, tendo ao centro a imagem do Coração de Jesus, ladeado por dois anjos, e, ao lado dos anjos, as imagens de São Francisco e de Santo Antônio. Todas as imagens em madeira.
Os altares laterais também em madeira trabalhada, sobressaiam da parede cujo nicho que abrigava as imagens estava dentro das grossas paredes continham as imagens de Nossa senhora [da Conceição] no degrau superior e, no inferior, Santa Inês; à esquerda, no mesmo estilo, no degrau superior, São José, e, no inferior, São Luiz [Gonzaga].
Atrás do altar-mor eram guardadas as garrafas de azeite de mamona para a lamparina do e flores artificiais em papel crepon que, ao serem feitas, tinham sido mergulhas em cera derretida, material altamente inflamável. Não existiam flores de plástico naquela época.
A Capela do Senhor Santo Cristo ficava onde hoje está a capela do Coração de Jesus, portanto, junto à sala dos votos, onde está o Senhor Morto.” [4]

“Às 10 e meia da noite do dia 1 de março de 1935, devastador incêndio invadiu o Convento e o Sanuário. Correram todos os ipojucanos. As labaredas, bem altas, lambiam as paredes do templo. A fumaça sufocava. O calor era intensíssimo. Era, entretanto, preciso salvar a imagem do milagroso santo Cristo.
Alguns heróis anônimos derramaram água sobre as vestes e investiram, resolutos, para o interior do templo.Do tamanho natural de um homem, a imagem aguardava, apenas, os seus salvadores. O altar-mor era uma coluna de fogo. E toda a igreja era uma fornalha ardente. Mas a imagem do Senhor Santo Cristo nada sofreu em conseqüência do incêndio.” [5]
O historiador ipojucano Ivo d´Almeida relata em seu livro inédito Ipojuca – de uma Lenda à Verdade:
“Muito embora tenha se afirmado que fora o senhor Francisco Barreto, esposo de Dora Dulce, Professora paroquial [...] que deram o alarme sobre o incêndio, foi Dorino o primeiro a gritar alertando sobre o que estava acontecendo. [...] Um grito na rua não é nada, comparado com o alarme vindo logo da casa de D. Dulce [...], pessoa de destaque na cidade; por isso esqueceram de dorino, apenas um barbeiro, o primeiro que alertou sobre o incêndio.
As primeiras pessoas que chegaram ao convento foram: Dorino, que lá já estava; Seu Ferreira [...Isaias], Chico Samuel, Zé de Franco e Mário Feijó. Tocaram a campainha na portaria ainda hoje existente, incessantemente.
Frei Clementino veio do claustro, olhou-os pela janela do primeiro andar [a primeira por sobre a atual secretaria paroquial], junto ao cruzeiro, sem ainda perceber o desastre que estava por vir, e recusou-se a abrir a porta, talvez pensando se tratar de uma brincadeira de mau gosto ; afinal era a sexta-feira que antecedia o sábado de Zé Pereira, ou seja, o Carnaval”.[6]
“Após chamar incessantemente na portaria sem ser atendido, Zé de Franco trouxe um machado e quebrou o cadeado do portão que fica no lado direito, ao lado da casa dos romeiros [hoje portão da garagem], e o vitral [da nave da igreja] adentrando no interior do Convento. O fogo já consumia o altar-mor e parte do forro. Nesse momento, Chico Samuel, sozinho, tirou a imagem [do Senhor Santo Cristo] com a cruz que era encaixada na parede [da Capela do Bom Jesus] e correu para fora já ajudado pelos companheiros. [...Seu Ferreira ou Elias] correu à frente e abriu a retranca de ferro da porta principal. Ao abrir a porta, e antes que toda a cruz passasse, o altar-mor, ardendo em chamas, desabou. Na ânsia de retirar a imagem de Santo Cristo que já estava toda pipocada, pelo calor, foi quebrada uma das imagens que estavam no altar. Essas imagens eram feitas de gesso e tecido. Eram elas: ao pé da cruz: Nossa Senhora das Dores, ladeada por Maria Madalena e São João Evangelista.
Quando a imagem do Senhor Santo Cristo saiu, já havia uma multidão à porta do Convento. Imediatamente a multidão carregou-a até a calçada da Matriz (antiga igreja do Livramento] , onde Virgínia [apelidada Pinta], uma senhora que era Filha de Maria, forrou uma toalha branca e lá ficou depositado”.[7]

“A terrível e tenebrosa noite terminara às cinco horas da manhã do sábado, véspera do Carnaval de 1935, a capela-mor, a parte interna do convento [próxima à igreja, bem entendido], estavam reduzidas a cinzas e escombros por todos os lados. Neste ano não houve Carnaval em Ipojuca, só luto, esperança e resolução de reconstruir no menor espaço de tempo o maior orgulho dos verdadeiramente cristãos ipojucanos: o Santuário do Senhor Santo Cristo”.[8]
“Toda a cidade acordada. Das casas, crianças, jovens e adultos levavam água. O sino badalava sem parar. Da usina Salgado vinha caminhão com tonéis de água, o mesmo acontecendo com a usina ipojuca, na época usina Bandeira. Os homens posicionavam como uma esteira rolante por onde , em cujas mãos passavam as latas de água. Das paredes estouros ouviam-se provenientes da pedras de calcáreo de que elas eram feitas.
Os frades na época eram: Frei Venâncio, vigário; Frei Clementino; Frei Alfredo e os Irmãos religiosos Frei Manoel e Frei Ângelo.
Os impossibilitados em combater o incêndio choravam e rezavam. Grupos religiosos, homens, mulheres e crianças se revezavam entre o combate ao fogo e as orações junto à imagem [do Senhor santo Cristo] toda pipocada pelo calor na calçada da Matriz. Frei Clementino ajoelhado no meio da rua, de braços abertos cantava:
Senhor deus, misericórdia!
Senhor deus,
Pela vossa paixão e morte,
Misericórdia!
Senhor Deus,
Pelas dores de vossa Mãe Maria santíssima,
Misericórdia!
(...) [9]

“O fogo ameaçava destruir todo o Convento. Precisava combate-lo. Os cinco acima citados Zé de Franco, Isaias, Roque, Maurício] e mais Dorino se revezavam em isolar o fogo e isso se fez cortando a cumeeira que era de parabu, uma madeira da Mata-Atlântica não mais reencontrada. Frei Venâncio ao escrever sobre esta tragédia, deveria ter visto ou ser alertado que um homem estava serrando a cumeeira, e esse primeiro homem foi seu Roque, que era um dos carpinteiros da cidade e fora rendido posteriormente pelos cinco já citados.
Subia-se pelo sino, corria-se pelo telhado com água para molhar esses heróis anônimos para que o fogo também não os consumisse. Durante este trabalho, Antônio Maurício despencou do telhado, junto à porta da sacristia, passa por um buraco já feito pelo fogo e cai no chão. Nada sofre. Um arranhão sequer. O susto não teve tempo de se instalar, rasga apenas a calça que é substituída de imediato por uma de Francisco Barreto. Milagre? Não sei. No entanto maior foi ter a coberta da sala dos milagres, que era de zinco, se derreter e não ter nenhuma deformação nas peças de cera que a sala possuía e ainda hoje possue.”[10]


“O povo reconstruiu o Convento liderados por Frei Venâncio Vileke, toda areia, pedra e madeira foram carregadas pelo povo. A areia tirada do rio Ipojuca, as pedras da antiga igreja de São Roque [o que não é verdade, pois nunca houve igreja de S. Roque; as pedra foram as das ruínas da antiga matriz.] e cal, eram transformadas em alicerce para o novo Santuário, e madeira que foi doada pelo engenho Maranhão. O engenheiro responsável foi o Dr. Carlos Fest. O encarregado da construção foi o Dr. Renato Souza Leão, dono do Engenho Maranhão. O mestre de carpina foi Philippe dos Santos; o mestre pedreiro foi Domingos Gonçalves; o mestre marmorista foi Antônio Pedro de Alcântara e o mestre pintor foi Armando Ferreira dos Santos. Estes por serem mestres ou doutores foram lembrados e quem pegou no pesado, suor derramado por amor e devoção a Santo Cristo, foram esquecidos. Agora não mais!” [11]
Quem eram esses heróis anônimos? Ivo d’Almeida aponta-os resumidamente, depois de dizer o papel que cada um desempenhou durante o incêndio: Dorino, Chico Samuel, Zé de Franco, Estácio, Seu Roque, Maurício, Mário Feijó, Isaias (chamado também Seu Ferreira, pai de ivo, na época com 21 anos). “Excetuando Isaias, todos já falecidos.” [12]
Outros que tiveram participação ativa: Dona Belinha ( avó de Ivo,na época com 49 anos), Leonor (ou Nonô, tia de Ivo, na época com 17 anos)
Isaias (ou Seu Ferreira) e Leonor (ou Nonô), “ambos vivos e em perfeita lucidez”. [13]
“A reconstrução do telhado foi feita pelo mestre Pituta, Eugênio, Antônio Gomes, Manuel Florentino e e Joça, tudo feito a machado e enxó. Os pedreiros foram José Mariano, Pedrinho, nosso primo, filho de Pedro Alexandrino de Sousa ; Estácio e Zé de Lima”.[14]
[1] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 69 a 70..

[2] Id. ibd. nota 11 ao Cap. XII, p. 89. Conf. também Itinerário das Visitas do Bispo de Pernambuco, Revista do Instituto Histórico Geográfico do Brasil, LV, Parte I, pp. 27 e 28.
[3] Id. ibd. nota 1 ao Cap XII, p. 88.
[4] Conf. D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, pp 37 e ss. .
[5] PIO, Fernando Pio, O Convento de Santo Antônio do Recife e as Fundações franciscanas em Pernambuco, Recife, 1939, p. 68 – 70.
[6] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, p. 38.
[7] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, p. 40 – 41.
[8] D´ALMEIDA, Ivo -, p. 42
[9] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, p. 41.
[10] D’ ALMEIDA, Ivo -, op. cit. p. 41.
[11] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, pp. 44 – 45.
[12] D’ ALMEIDA, Ivo -, p. 45.
[13] D’ ALMEIDA, Ivo -, p. 37.
[14] D’ ALMEIDA, Ivo -, p. 45.

CONVENTO DE IPOJUCA - HISTÓRIA E ESTÓRIA

2. A HISTÓRIA E A ESTÓRIA DO SENHOR SANTO CRISTO

- Origem do Culto ao Senhor Santo Cristo

Ipojuca tornou-se a terra de Santo Cristo em 1663, ano em que a imagem milagrosa deve ter vindo de Portugal.
“ [...] A devoção nascida no Calvário e reavivada por S. Francisco no Monte Alverne, encontrou um ninho caloroso na modesta igreja conventual de Ipojuca.Teatro de cenas bélicas durante a Guerra Holandesa, devia o Convento receber a recompensa pela atitude dos franciscanos” e também dos ipojucanos “na luta contra a heresia calvinista dos invasores.Enquanto os vencedores levantaram templos a N. S.ª dos Prazeres e a outros Santos, em Ipojuca o Sr. Santo Cristo escolheu o santuário onde seria adorado e invocado.
[...] Sobre a origem desta devoção e a vinda da imagem milagrosa, faltam-nos dados históricos. A crônica franciscana de Ipojuca limita-se a dois termos que descrevem as cerimônias de aposição da primeira pedra e de inauguração do santuário [ou capela lateral da igreja do convento].
[...] Contentemo-nos, pois, com os dados críticos e indubitáveis que Jaboatão transcreveu do cartório [arquivo] franciscano de Ipojuca”:
Trata-se, primeiro, do lançamento da primeira pedra no alicerce da capela do Bom Jesus. Foi no domingo 4 de novembro de 1663, em missa cantada pelos Religiosos Franciscanos. A pedra foi benzida pelo Guardião Frei Manuel da Presentação. Os que botaram a pedra embaixo foram o mesmo guardião e o Capitão Francisco Dias Delgado, doador da imagem, doador e patrono da Capela. A pedra foi assentada pelo pedreiro Pantaleão da Silva. Participaram da celebração os Padres seculares Antônio Pereira da Cunha e Francisco Martins Pereira.[1]
Com a palavra Frei Jaboatão:
- Em segundo lugar: “Decorridos 22 meses após o lançamento da primeira pedra, celebrou-se com toda a pompa a entronização da imagem milagrosa..” Era o dia 14 de setembro uma segunda-feira, de 1664), festa da Exaltação da Santa Cruz. “veiu em procissão da Matriz para este Convento, carregando o andor oito religiosos sacerdotes. Cantou a missa em a mesma Capela o Irmão Pregador Frei Bernardo da Encarnação, sendo Comissário provincial o Irmão Frei Aleixo da Madre de Deus, e pregou o Irmão Frei Daniel de São Francisco, Mestre de Teologia e padre da Província.”[2]
O Guardião do Convento não era mais Fr. Mateus da Apresentação, como escreve Frei Jaboatão, mas Frei Melchior dos Anjos (19-04-1664 a 08-08-1665). Aquele foi Guadião até 19 de abril de 1664 e retornou a 08 de agosto de 1665, quando Frei Melchior lhe passou o cargo que dele recebera.[3]
- AS LENDAS – A tradição oral e o folclore envolveram os fatos históricos de ricos detalhes. Difícil, porém, é a comprovação científica dos mesmos. Frei Jaboatão, criterioso como era, achou por bem relatar o que se contava de pais para filhos entre as famílias dos Albuquerques Maranhões, e, por que não dizer, do povo de Ipojuca. Deve haver na versão popular um fundo histórico, sem dúvida. Frei Venâncio afirma, com base em documentos, serem históricas as personagens relacionados com o que conta a lenda sobre a origem do culto e do Santuário (Capela) do Senhor Santo Cristo.[4]
O jovem frade leigo, Frei Antônio de Santa Maria, filho de Matias de Albuquerque Maranhão, professara neste convento de Ipojuca aos 29 de agosto de 1660. Era sobrinho do Capitão Francisco Dias Delgado, dono do Engenho Trapichre, vizinho do Convento. Fora encarregado de zelar pelo côro do Convento,onde havia, como era costume, um crucificado de frente para as estalas e de costas para o corpo da igreja (como se vê, ainda hoje, no Convento de santo Antônio do Recife e no de Salvador).
Vamos, agora, à tradição oral.
Ao espanar aquela imagem, estava ela tão estragada, que não resistiu ao espanador, desprendendo-se da cruz e espatifando-se no chão.
Receoso do castigo, Frei Antônio fugiu para a casa do tio, pedindo-lhe ajuda. Ora, Francisco Dias Delgado era e grande benfeitor dos frades. Prometeu ao Superior mandar vir do Reino uma imagem que substituísse a que ficara irrecuperável. Encarregou disto o seu procurador. Mas este, estando em Portugal, esqueceu a recomendação do Senhor do Engenho Trapiche e não cuidou de mandar fazer a imagem que lhe tinha sido pedida. Mas eis que, à véspera da viagem de volta, foi procurado por um desconhecido que lhe perguntou se não queria uma imagem do Senhor Santo Cristo. Era muito comum encomendas de imagens para a colônia brasileira. O procurador caiu em si e aceitou logo aquele Santo Cristo, embora reconhecendo ser grande demais para nicho em que ia se colocado.Ficou logo com a imagem, prometendo-lhe o vendedor comparecer ao navio no outro dia, em tempo de receber o pagamento ajustado. Só que não foi mais visto, por mais que aquele procurador fizesse para localizá-lo.
A lenda vai além do referido por Jaboatão. Conta-se que os ventos desviaram o navio da rota do Recife, para onde deveria ir, , aportando ao Porto das Galinhas, terras do Capitão Dias Delgado. Este examinou a imagem. Como era desproporcional ao nicho que a aguardava, resolveu fazer doação dela a outra igreja da região (a de Santo Antônio do Cabo? A de Nossa Senhora do Ó? – perguntamos nós). Preparou-se um carro–de-bois “a exemplo da arca- da-aliança” especial para transportar a imagem à igreja onde deveria ser entronizada. [5]
Mas os animais não obedeciam ao comando do carreiro. Só queriam tomar o caminho de Ipojuca. Avisado do ocorrido, Dias Delgado determinou que deixassem os bois livres para tomarem o rumo que desejassem. Os irracionais seguiram o caminho contrário, atravessando os canaviais, sem parar, até chegarem ao Convento dos frades. Dias Delgado resolve recolhê-la, provisoriamente, na matriz de São Miguel [ que ruiu no século XIX], prometendo aos frades providenciar outra imagem para o coro do convento. E toma a determinação de construir na igreja do Convento uma Capela lateral onde, de acordo com os frades, seria entronizada a imagem do Santo Cristo cuja fama de milagrosa se espalhara por toda parte. E às suas espensas logo se começa a construir o santuário que se denominou do Senhor Bom Jesus.
Escreve Fr. Venâncio: “Já que a fama dos milagres acompanha a imagem desde Portugal, interpreta-se também como maravilha o encontro da cruz” : teria sido uma dádiva da natureza: com pouco trabalho, se pôde fazer dela a cruz inteira, servindo o tronco de haste vertical e os dois galhos, de trave, de tal maneira tão ajustada, que, segundo Pereira da Costa, isso não se teria conseguido melhor se os braços da imagem fossem postiços, permitindo remanejamento. O que, de fato aconteceu, conforme a tradição, foi que a árvore se adaptou perfeitamente à imagem, sem que preciso fosse alterar em nada o original, que, pela sua grandeza é de uma bem disposta e perfeita imagem de homem.[6]
“Dias Delgado, o fundador da capela, não ficou como seu padroeiro, e nem constituiu para ela patrimônio algum, porque já o era do altar da Conceição da igreja do mesmo Convento, e assim permaneceu até o ano de 1700, quando em congregação dos padres foi a capela do Bom Jesus concedida a João de Novalhas, para sepultura sua e dos seus herdeiros com o ônus de cem mil réis anuais para o seu ornato, para o que encabeçou ele quatro mil cruzados no seu engenho e terras de Sibiró de Riba.” [7]

Voltando ao núcleo histórico, demos a palavra a Jaboatão: “É a cruz inteiriça, como fica dito e por novo exame ou revista que de presente se fez, por instância nossa, se acha ser assim.” [8]
De onde vem, perguntamos nós, que se tenha divulgado o mito de que a imagem do Senhor Santo Cristo de Ipojuca tenha características jansenistas ( o que consideramos pura fantasia) ? É de estranhar que nunca tenha sido feito este reparo pelas autoridades religiosas desde o século XVII até hoje, Se o fosse, certamente teria havido alguma advertência daqueles a quem cumpria o dever de preservar a ortodoxia do culto católico, e isto nunca aconteceu. Dom João Marques Perdigão, Bispo de Pernambuco, na Visita Pastoral à freguesia de Ipojuca (de 31 de dezembro de 1834 a 04 de janeiro de 1835) , destaca em seu diário o esplendor do seu culto e e a piedade dos romeiros que demandavam a ipojuca “desta e de outras freguesias”. Ele mesmo fez sua visita ao Senhor Santo Cristo e elogia a decência da igreja do Convento que o hospedou, como veremos adiante.
Consta que os jansenistas não aprovavam imagens de Cristo com os braços abertos, pois, para eles, isto significaria uma abertura muito grande para a salvação de todos. Os braços levantados de Cristo apontavam para o céu, destino apenas dos escolhidos. Não sabemos a quem atribuir este particular da doutrina jansenista. Sabemos que o padre holandês Cornélius Jansen, a partir da França no século XVII, embora se dizendo católico, investia contra o Papa e a Igreja romana, sendo combatido pelos jesuítas que o consideravam calvinistas camuflado. Condenado como herético pelo papa Urbano VI, Jansen espalhu sua doutrina pelo mundo católico criando em várias partes igrejas independentes. Sua doutrina se caracterizava pelo rigorismo extremo em questões de moral. Este moralismo, sim, passou sorrateiramente para pastores e fiéis, está presente na literatua ascética e moral de autores portugueses que o passaram para suas colônias. Deus era visto muito mais como Juiz implacável do que como Pai misericordioso e bom.
“A célebre imagem milagrosa do Sr. Santo Cristo apresenta o Crucificado no tamanho natural de um homem. A cabeça e o olhar erguidos para a esquerda, juntamente com a posição quase vertical dos braços, exprimem fielmente a súplica de Cristo agonizante [não do Cristo morto, acrescentamos nós].
Quanto à origem, não há fundamento histórico. Apenas inferimos que deve datar de época anterior a 1633, pois nesse ano houve proibição das imagens de tal feitio, em face da interpretação herético-jansenista de não haver Nosso Senhor morrido por todos os homens, o que seria significado pelos braços quase fechados do Crucificado”, escreve Frei Venâncio. [9]

Uma vez que sempre volta a pergunta dos visitantes do nosso Santuário sobre a feitura jansenista da imagem do Senhor Santo Cristo, vale a pena nos prolongarmos um pouco mais neste assunto.
O próprio Frei Venâncio deduz a possibilidade de ter sido a imagem talhada antes de 1633, ano em que foram proibidas as imagens de cunho jansenista.
Mas não diz que tenha sido influenciada pela heresia de Jansen. Poderiam ser assim interpretadas.
Vê-se que Frei Venâncio, pessoalmente, se inclina pela origem não jansenista da imagem, quando cita o que escreve sobre o Senhor Santo Cristo de Ipojuca o Ministro Orozimbo Nonato da Silva.[10]
Emitindo suas impressões sobre a nossa imagem, lembra o autor os célebres Crucificados no mesmo feitio como o da catedral de Soissons, a do palácio episcopal de Gand e outros mais. E conclui: “Não parece existir relação direta entre os Cristos de marfim de braços verticais e a doutrina jansenista.”
E a conclusão do próprio Frei Venâncio:
“Segundo expõe Cecile Jéglot, os escultores, querendo preparar imagens de uma só peça, se viam forçados a dar aos braços a posição vertical, sem que, entretanto, se deixassem influenciar pela heresia.” [11]
Enos Omena tem outra opinião: a tradição da ensamblagem ou ensambladura de Portugal (na França: ensemblagen) é milenar: vem dos Fenícios. É a técnica de esculpir uma imagem de madeira em várias parte que eram unidas por juntagem (ensamblagem). Foi o que aconteceu com a imagem do Senhor Santo Cristo de Ipojuca, igual (se bem que anterior) à do Santo Cristo do Convento Franciscano de Santa Maria Madalena em Marechal Deodoro (AL)
Isto poderia ser mais um argumento a favor da hipótese jansenista, pois o escultor não se via forçada a posicionar os braços ao modo jansenista, mas optara por ele, argumentou Fr. José Milton. Ao que Enos acrescentou: Mas havia já uma tradição, anterior as Jansen, de posicionar os braços de acordo com o formato do madeiro em T, em Y, em U ou V, e até em X (a Cruz de S. Tiago).
Sendo assim, a posição dos braços independem da heresia jansenista.
Quanto à exposição de Cecile Jéglot citado por Frei Venâncio, ela só poderia ser aplicada ás pequenas esculturas, pois dificilmente passaria pela cabeça de um esculto talhar uma tronco gigantesco. O artista do nosso Santo Cristo precisaria de um tronco de cedro de cerca de dois metros de altura por 1 m de diâmetro, para que os braços ficassem como estão, se a peça fosse inteiriça!

Já vimos que em maio de 1763, escrevia Fr. Jaboatão, ter sido a Cruz do Senhor Santo Cristo examinada por sua iniciativa e o exame revelou que ela se conservava como era originalmente de uma peça só.
Frei Venâncio diz que a Cruz não é mais a original:
“Ao ser feita a nova encarnação da imagem, em 1937, partiu-se a trave transversal da Cruz, deixando patente a emenda artificial.” [12]
“A Cruz primitiva que, segundo Jaboatão, era inteiriça, há muito deixou de existir.
O resplendor que realça a cabeça da imagem traz a inscrição: “ 1782 MANDOU FAZER O PADRE MARCOS GOUVEIA, S.G.” [13]
Para concluir esta parte, uma transcrição do historiador Padre Manuel Barbosa [14] sobre as numerosas invocações do Crucificado entre nós:
“Como enternece a alma católica procurar um bálsamo para mitigar as dores físicas e morais, invocando o Senhor Bom Jesus da Agonia, da Esperança, da Consolação, da Boa Sentença, do Bonfim, dos Navegantes, do Bom Caminho, dos Milagres, dos Pobres, dos Necessitados, dos Agonizante...dos Perdões, dos Remédios, da Cana Verde...”
E Frei Venâncio prossegue:
“Os mais célebres santuários brasileiros dedicados a N. Senhor Jesus Cristo são: Sr. do Bonfim e Sr. Bom Jesus da Lapa, Bahia; Sr. Santo Cristo de Ipojuca, Pernambuco; Sr. Bom Jesus de Matosinhos e Sr. Bom Jesus de Congonhas, Minas; Sr. Bom Jesus de Pirapora e Sr. Bom Jesus dos Perdões, São Paulo; Sr. Bom Jesus de Iguape em Santa Catarina. O santuário de Ipojuca é dos mais antigos.” [15]
Poderíamos acrescentar muitos outros, entre eles a imagem milagrosa Cristo das Necessidades, venerado numa capela laterai da igreja do convento franciscano de Sirinhaém : “intronizada em seu altar em 1775, 100 anos depois da do Senhor Santo Cristo de Ipojuca.[16]
Os jansenistas não conseguiram tirar da alma de nosso povo a ternura e a compaixão pelo Cristo Crucificado, “escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1Cor 1. 23).

3. O TETO DA IGREJA ANTES DO INCÊNDIO:

Escreve Frei Venâncio Willeke: “No corpo da igreja, figurava, até o incêndio de 1935, um painel enorme que, tomando todo o forro, representava São Francisco de Assis e S. Domingos de Gusmão, em prece diante do divino juiz, para demovê-lo do projeto de destruir o globo terrestre como castigo à corrupção geral, vendo os dois santos seus rogos apoiados pelas preces de Nossa Senhora.” [17]
Tudo isso foi totalmente destruído pelo incêndio de 1935.

4. O TETO DA IGREJA DEPOIS DO INCÊNDIO

Pinturas recentes a óleo: “Após o incêndio de 1935, impunha-se a difícil tarefa de adornar o Santuário de novas pinturas. Nada mais natural do que levar à tela as cenas histório-lendárias do próprio Santuário. Da tarefa se incumbiu, em 1942, o pintor franciscano Frei Tarcísio Jungwirth. Em seis quadros, recebe Jaboatão a ilustração dos fatos por ele contados, há 200 anos”. [18]
“As pinturas foram executadas a óleo e sobre lona. O espaçoso fôrro da igreja guarda os seguintes trabalhos: por cima do côro dos religiosos, aparecem em dois medalhões, o Irmão Franciscano Frei Antônio da Santa Maria, surpreso ante a queda do Crucificado; o mesmo Frei Antônio que fugira do Convento para valer-se do tio Francisco Dias Delgado, regressa com este, pedindo e obtendo o perdão do Padre Guardião.
Na outra extremidade do fôrro, é ilustrada a invenção [encontro] da cruz inteiriça, que se deu no engenho Trapiche, propriedade do capitão Francisco Dias Delgado.
No centro do fôrro, aparecem dois grandes quadros: o primeiro mostra na glória do céu a Santíssima Trindade, Nossa Senhora e S. Francisco; o segundo, separado do primeiro pelas nuvens do céu, recebe os raios que se desprendem do grupo superior, caindo sobre o Santuário de Ipojuca e sobre a procissão que se locomove para este, acompanhando o andor do Senhor Santo Cristo, no dia de sua solene intronização, a 14 de setembro de 1665.
Sobre o arco do antigo Santuário, aparece, em vistoso painel, o embarque da imagem milagrosa do Senhor Santo Cristo, no Pôrto de Lisboa.” [19]

[1] Conf. Id. Ibd. pp. 34 a 35. Conf. também op. cit. nota 1 ao Cap. X, p. 87.
[2] Conf. Id. Ibd. p. 35
[3] Conf. Id. ibd. nota 2 ao Cap. X, p.87. Conf. também a lista dos Superiores do Convento de Ipojuca, op. cit.. p. 78, N.º 27.
[4] Id. Ibd. p. 36.
[5] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 37. Na nota 10 da pg. 88, acrescenta Frei Venâncio: “I Reis 6,8: As lendas antigas incorporam a miude fatos da Sagrada Escritura, gozando de predileção o carro-de-bois com as particularidades acima descritas”.
[6] COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 511.
[7] COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 512..
[8] Apud WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg. 38. Conf. também COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 511 a 112.
[9] Apud WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pp. 67 – 68.
[10] SILVA, Orozimbo Nonato da, Impressões do Santuário do Senhor Santo Cristo de Ipojuca. Conf. WILLEKE, Frei Venâncio , OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 94, nota 5 ao Cap. XXII.
[11] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 68.
[12] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg. 38. Conf. também COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 94, nota 6.
[13] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg. 38. Corrigimos o ano da doação para 1782, pois nesta data de hoje (05-06-09). Conf. também COSTA, Francisco Augusto Pereira da -, Anais Pernambucanos, Tomo 3 (1635 – 1665), 2.ª Edição, Recife, 1983, p. 69.
[14] BARBOSA, Padre Manuel -, A Igreja no Brasil, p. 263.
[15] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg.88, nota 7 ao CapítuloXI.
[16] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pg. 40..E em nota 7 ao Cap.XII, à pg. 89, Fr. Venâncio indica a fonte sobre o Cristo de Sirinhaém: Jab., III, 511, 512.
[17] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 69.
[18] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 70. E na pg. 88, EM NOTA 8, localiza os fatos narrados no “Novo Orbe Seráfico” de Frei Antõnio de santa Maria Jaboatão: Jab. III, 494.
[19] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, pp. 70 a 71.