Igreja e escola antigas
A 15 de novembro de 2011 ocorrerá o 85º aniversário da fundação da Missão Permanente de Frei Casimiro Brochtrup no Bairro de Santo Amaro, no Recife.
Quem foi Frei Casimiro? Qual a importância dele para a Ordem dos Frades Menores? O que o Nordeste brasiliro deve a esse humilde franciscano, especialmente os bairros de Santo Amaro e de Campo Grande no Recife?
Quem foi Frei Casimiro? Qual a importância dele para a Ordem dos Frades Menores? O que o Nordeste brasiliro deve a esse humilde franciscano, especialmente os bairros de Santo Amaro e de Campo Grande no Recife?
Queremos, nesta postagem e em outras que virão, ajudar a reflexão dos que exercem o pastoreio junto aos pobres de Santo Amaro e Campo Grande, seara fecundada pelo suor e sangue de um santo missionário conhecido como:
Lançamento da primeira pedra da igreja de São Sebastião: Ao fundo, Frei Casimiro, ao seu lado Frei Matias Teves, à esquerda Frei Roberto Toelle; ao centro o Vigário da Piedade ( Santo Amaro) Pe. João Olímpio ao lado de outros padres.
Frei Casimiro Brochtrup nasceu aos 10 de março de 1868, na zona rural da pequena cidade de Lüdingenhausen, na Westfália (Alemanha). Era de uma família pobre e sinceramente religiosa. Os pais, Bernardo e Gertrudes Brochtrup, primavam em transmitir aos filhos os ensinamentos da Igreja Católica, e eram os primeiros a praticá‑los. Recebeu na pia batismal o nome de Hermano.
Freqüentou a escola pública do lugar. Fez, depois, o curso pedagógico para exercer o magistério. Foi professor até se decidir a entrar na vida religiosa. Um fato contribuiu para isto: a experiência junto a um companheiro de caserna que sofria de tuberculose, no período em que, pela Lei, teve de prestar o serviço militar. O biógrafo dele, seu confrade Fr. Matias Teves, registra, como manifestação de seu bom caráter, a fidelidade com que cumpria todos os deveres militares e a caridade para com o colega de quartel. Tendo assistido aquele companheiro doente como enfermeiro, e lhe prestado todo conforto espiritual até aos últimos instantes de vida, sentiu o jovem Hermano como a vida é transitória e que devia empregá‑la a serviço de uma causa maior.
Sob o impulso da graça de Deus, não foi difícil ao moço romper com os laços mais ternos, deixar a família e os queridos alunos, para internar‑se no Colégio Seráfico dos franciscanos. Foi admitido e tomou o hábito no dia 7 de janeiro de 1894, com o nome religioso de Frei Casimiro. Tinha 26 anos de idade. Recebeu um curso especial, uma vez que a Província Franciscana da Santa Cruz da Saxônia (Alemanha), encarregada pelo Governo Geral da Ordem de empreender a obra de Restauração das Províncias Franciscanas do Brasil, depois dos veementes apelos do Ministro Provincial brasileiro, Fr. Antônio Camilo de Lellis, arregimentava seus jovens para a nova missão nos Trópicos.Fr. Casimiro emitiu os votos temporários aos 8 de janeiro de 1895.
A PROVA DA CRUZ
A febre amarela que assolou os Estados da Bahia e de Pernambuco foi a prova da cruz pela qual passou Província Franciscana de Santo Antônio.
Os documentos históricos dão conta de que foram 14 as vidas ceifadas de jovens frades, entre 20 e 30 e poucos anos, nove na Bahia e cinco em Pernambuco.
Fr. Casimiro fez um relatório do que se passou no convento do Recife naquele ano de 1896. Escolhido como enfermeiro dos confrades atacados pela febre amarela teve que interromper os estudos; ele viveu a caridade em grau heróico. Já dera ele provas disso, ainda no estado leigo, quando fazia o serviço militar e cuidara do companheiro tuberculoso em último grau, sem o abandonar até o fim. Seu relato sobre os dias da peste, muito mais do que um documento da trágica epidemia, vale como um testemunho da fé e da esperança que alentavam os frades no inesperado da provação. A febre amarela foi, não há negar, a prova de fogo dos primórdios da Restauração. E a Escola da Caridade em que a graça de Deus forjou o Apóstolo dos Mocambos.
Não podemos deixar de lado, no relatório de Fr. Casimiro, o que ele escreveu sobre um dos maiores benfeitores dos frades, o industrial Dr. Carlos Alberto de Menezes, da fábrica de tecidos de Camaragibe, no Recife. Este homem vai exercer sobre o jovem frade uma influência tão forte que levará o futuro missionário à opção radical pelos pobres na Missão Permanente junto aos operários do Recife.
Dr. Carlos Alberto de Menezes, em sua Fábrica de Camaragibe, concretizara uma organização de trabalho, fundado no espírito de associação e em que se tinha em vista melhorar a situação dos trabalhadores.
Frei Casimiro escreve que várias vezes ia visitar sua sepultura, “ não para pedir por sua redenção, pois já desde muito terá sido agraciado com a visão beatífica, mas antes para lhe agradecer e pedir-lhe a sua intercessão”.
O tempo da febre amarela no Recife com o repouso de Fr. Casimiro em Camaragibe, foi a ocasião em que a Providência Divina lançou no coração do jovem franciscano as sementes de sua opção radical pelos pobres, especialmente pelos operários; e em que a Missão Permanente em Santo Amaro e Campo Grande, no Recife, sem perder a substância e as raízes seráficas, nutrirse‑á da inspiração “meneziana” do complexo industrial de Camaragibe.
A EXPERIÊNCIA BAIANA EM PLATAFORMA
Cessada a fase mais aguda da epidemia da febre amarela, voltou aos estudos. Antes de tudo sempre se notava nele a piedade e profunda humildade, que jamais procurava a si mesmo; nem falava de seus trabalhos, feitos com tantos sacrifícios.
Sua profissão perpétua foi celebrada em Salvador a 31 de janeiro de 1898; a ordenação sacerdotal ocorreu também lá aos 19 de novembro de 1899. Foi logo nomeado professor do Colégio Seráfico que acabava de ser fundado no Convento de S. Francisco, em Salvador. Em 1904 foi nomeado Definidor pelo 1° Capítulo da Província restaurada, continuando a residir na sede do Provincialado, na Capital baiana até 1906, quando foi transferido para Penedo (AL).
Em Salvador se dedicou ele aos pobres de Plataforma, um dos alagados mais miseráveis da Capital. Era um bairro só de operários, que vegetavam em condições de extrema miséria, em volta de uma grande fábrica de tecidos.
Entretanto, Fr. Casimiro não esmoreceu. Verificou desde logo, um fato que grandemente intensificou o seu zelo: população quase completamente abandonada, assim mesmo vivia neles um forte sentimento religioso, embora malsinado, mas que os fez aceitar, com satisfação, os cuidados que o missionário lhes dispensava.
Diante de sua caridade operativa, os mais indiferentes se sentiam tocados, todos estimavam e veneravam aquele homem apostólico que, por amor a eles, deixava todas as comodidades para partilhar com eles a sua pobreza, o desconforto das suas vivendas, se tornasse semelhante a eles em todos os setores da sua vida.
Plataforma, seria realmente uma “plataforma” para vôos mais audazes do Bom Samaritano e Profeta dos marginalizados. E as visitas domiciliares, indo de casebre em casebre, sobretudo quando se tratava de confortar os doentes. Andava a pé pelos lugares mais perigosos, o que não deixava de preocupar a quantos temiam pela sua vida. Para chegar a Plataforma, só para ganhar tempo, atravessava com toda naturalidade quase um quilômetro de ponte de ferro sem corrimão, por onde o trem cortava o braço de mar. Enfrentava sol e chuva, de dia ou de noite, para cuidar daquelas ovelhinhas desgarradas. Que alegria para o povo ter de novo, com a chegada de Fr. Casimiro, a capelania bem tratada e cheia de gente para o catecismo, a preparação aos sacramentos, as orações, a santa missa!
Plataforma constituiu‑lhe o primeiro ensaio na sua vida dedicada aos operários abandonados. Outros, a Providência ia entregar aos seus cuidados aumentando‑lhe o campo de ação e preparando‑o para a sua obra principal.
A vocação missionária de Fr. Casimiro não podia prendê‑lo a Plataforma. Sua fama logo se espalhou e choviam os pedidos de assistência em outras localidades. Estando em Salvador, acompanhou o grande e virtuoso missionário Dom Amando nas Missões Populares. A Providência Divina o colocava, assim, ao lado de um mestre com quem Fr. Casimiro foi introduzido no segredo das Missões ao nosso povo. Pregou santas Missões em Periperi, Escada, Mares, na Bahia.
Mas os Superiores já estavam pensando em transferi‑lo para Penedo. Isto se deu em janeiro de 1906. As sementes plantadas por Fr. Casimiro nos alagados de Plataforma continuaram aos cuidados dos franciscanos da Bahia. O campo missionário, cultivado por Fr. Casimiro e seus companheiros, vai rebentar, 30 anos após, em frutos de promissor apostolado social, animado pelo dinamismo pastoral de Fr. Hildebrando Kruthaup. A 10 de janeiro de 1937, foi fundado um Posto Médico em Itapagipe, e a sede da União Operária de São Francisco, que se queria dedicar ao Apostolado entre o operariado.
JUNTO AOS OPERÃRIOS DE PENEDO
No dia 2 de novembro de 1904, falecera em Penedo o velho Fr. Antônio de S. Camilo de Lellis, "Idealizador da Restauração" da Província Franciscana de S. Antônio. O grande Convento estava sendo recuperado com trabalhos ingentes. Aquela casa de Nossa Senhora dos Anjos tivera seus dias de glória nos tempos coloniais. O povo queria, como ainda hoje, muito bem aos franciscanos. E lá embaixo se espraiava o São Francisco, "o rio da unidade nacional". Cidade já por esse título franciscana, Penedo aguardava com ansiedade o restabelecimento da vida religiosa no belo edifício quase vazio e em perigo de desmoronar.
Podemos imaginar o quanto deve ter custado a Fr. Casimìro a transferência para Penedo. Com tanto amor se encontrava no trabalho de Plataforma, onde, dentro de curto espaço de tempo, já havia conseguido grandes resultados.
Na Congregação Capitular de 25 de janeiro de 1906 foi nomeado Superior deste Convento o Definidor Fr. Casimiro Brochtrup. Em vez de refugiar-se no claustro para, como Superior, cuidar da Casa que devia estar a exigir grandes reparos, como vinha acontecendo com os demais conventos coloniais, Frei Casimiro, sem se descuidar da restauração e conservação do mesmo, se atirou logo no campo de sua preferência: foi ao encontro dos operários que, em grande número, trabalhavam nas duas fábricas de tecido que funcionavam do outro lado do Rio S. Francisco.
Como em Plataforma, Frei Casimiro procurou adaptar os horários da casa e do seu ministério à realidade do meio operário. Tal atitude é uma lição de plena atualidade para todos nós hoje! Quantas vezes nos agendamos mais em vista de atender as classes mais favorecidas! "São elas que nos procuram", desculpamo‑nos. Acusamo‑nos por nossas próprias bocas! Se a preferência de Fr. Casimiro era pelos pobres, a palavra "preferência" já está a dizer que ele não excluía os ricos ou remediados. O convento estava aberto para todos. Mas ele teve que enfrentar, em Penedo, as incompreensões farisaicas de uns membros da Ordem Terceira, a "Venerável". Vivendo os Irmãos da antiga Ordem III desorganizados, foi fundada uma nova na Igreja do convento. O Superior Fr. Peregrino, que precedera a Fr. Casimiro, tentara, sem resultado, afastar da Ordem Terceira os irmãos que eram inscritos na Maçonaria. A solução imediata encontrada por Fr. Casimiro foi fundar outra no convento. E a instalou a 4 de outubro de 1906. Frei Casimiro procedeu a uma reforma da Ordem Terceira, renovando-a e revitalizando.
Em todas as vicissitudes, sua opção de Bom Samaritano pelos excluídos, colocava a Lei do Amor acima do amor da Lei eclesiástica
Frei Casimiro se demorou em Penedo por espaço de 16 meses, ali deixado as marcas de sua atividade pastoral. Conseguiu ele a elevação considerável do nível de vida espiritual. Aumentou sensivelmente a freqüência ao Catecismo. Além disso, incansável no confessionário e no púlpito, ele não se descuidava dos enfermos que viviam nas choupanas.
O Capítulo Provincial de 18 de julho de 1907 transferiu Frei Casimiro como Guardião do Convento do Recife.
FIRMA-SE MAIS E MAIS SUA OPÇÃO PELOS POBRES
Foge ao propósito deste trabalho entrar em pormenores sobre a atuação de Fr. Casimiro como Guardião do Convento de Santo Antônio do Recife, para onde ele foi, transferido de Penedo, por determinação do Capítulo Provincial celebrado a 18 de julho de 1907.' Ele deu continuidade aos trabalhos de restauração do monumento, pois tanto o convento como a igreja estavam necessitando de urgentes serviços de conservação e adaptação para acolher a comunidade e os hóspedes que não faltavam.
Mas o que lhe absorvia mais as energias era a cura d'almas. A seu exemplo, toda a comunidade do convento do Recife se voltava para o bem espiritual dos que freqüentavam a igreja, e procuravam os frades na portaria do convento pedindo sua assistência nos hospitais, colégios, casas religiosas e em suas residências, fossem mansões ou mocambos. Os doentes mereciam um cuidado especial. Sobretudo os do Hospital Santa Águeda, cuja situação era trágica. Morriam cerca de 600 doentes por ano. Mas, na epidemia de 1907, ano em que Fr. Casimiro assumiu o cargo de Superior do convento, o número de falecimentos aumentou consideravelmente. Quase todos foram sacramentados
Os franciscanos do Convento de Santo Antônio do Recife, assumindo a capelania do Hospital Santa Águeda, ou, simplesmente, sendo chamados aos bexiguentos, se achavam expostos ao contágio, sabiam do risco, mas não fugiam ao dever de caridade e de oficio.
A cargo do incansável Guardião Frei Casimiro, se avolumavam inúmeros os retiros, desobrigas e missões populares. Os bispos o chamavam para acompanhá‑los na visitas pastorais. Em toda parte, sempre se podia contar com ele, principalmente quando se tratava de enfrentar a insalubridade dos mangues nos bairros mais periféricos do Recife.
No Capítulo Provincial de outubro de 1910, Fr. Casimiro foi eleito mais uma vez Definidor (fora‑o a primeira vez no triênio de 1904‑1907, quando residia na sede da Província, em Salvador). Isto significava uma grande responsabilidade a mais, a do Governo Provincial, cerceando‑lhe, a serviço dos irmãos, muitos planos missionários. Mas deixaram‑no como missionário popular, que era o maior ideal de sua vida de frade. Continuava morando no Recife. Foi um tempo muito rico como preparação para a futura Missão Permanente de Fr. Casimiro nos mangues do Recife.
NA ZONA DA MATA: PRIMEIRA EXPERIENCIA DE PÁROCO
A missão de Fr. Casimiro em Sirinhaém foi marcada pelas cruzes da incompreensão por parte do pessoal da cidade. Aliás, desde o início, que ele percebeu que o espírito religioso do povo estava em um nível muito baixo, sobretudo em decorrência do vigário anterior.
.A verdade é que Fr. Casimiro usou de todos os meios de que era capaz para atrair o povo da cidade. Mas o resultado aparente deixava muito a desejar.
O que porém, foi mais grave, foi o conflito com os membros do Apostolado da Oração, conflito esse que exigiu a intervenção do próprio Bispo, D. João Joffely. Em vista disso, Fr. Casimiro teve de enfrentar a hostilidade do povo de Sirinhaém. Diante de tudo isso, o Sr. Bispo pediu a Fr. Casimiro esperar que Deus mudasse o espírito do povo.. Muitos, porém, reconheceram sua culpa e protestaram contra as calúnias de que o Vigário fora vítima.
Mas uma coisa confortava Fr. Casimiro, que não se entregava ao desânimo: a receptividade nas povoações melhorava sempre mais. As ovelhas dispersas da periferia atendiam melhor à voz do Pastor e do Bom Samaritano que estava ali para ajudá-las e fortificá‑las.
A primeira experiência de Fr. Casimiro como Vigário, aparentemente pode não ter sido muito bem sucedida. Mas, com certeza., representa um enriquecimento para a personalidade do missionário, e deixou frutos para a posteridade. As escolas criadas por Fr. Casimiro e que tantos benefícios trouxeram por longos anos à população de Sirinhaém, ainda hoje são lembradas com saudade pelos mais velhos. Foram os primeiros ensaios da obra social que ele iria desenvolver mais tarde em Santo Amaro e Campo Grande. Mas, em janeiro de 1918, foi ele transferido.
Voltou posteriormente, como Vigário, à Zona da Mata, em maio de 1924, transferido do Recife para Ipojuca, a fim de administrar, provisoriamente, a Paróquia de São Miguel. Mas só, por alguns meses, pois, já em agosto, voltava da Alemanha o Guardião e Vigário que ele substituíra, Fr. Estanislau Cleven. Nunca é demais lembrar a opção radical de Fr. Casimiro de não mais rever a terra natal e a família, para que Deus abençoasse o seu apostolado entre os pobres do Brasil. Com prazer ficava no lugar daqueles que voltavam à Europa para rever os entes queridos.
Foge ao propósito deste trabalho entrar em pormenores sobre a atuação de Fr. Casimiro como Guardião do Convento de Santo Antônio do Recife, para onde ele foi, transferido de Penedo, por determinação do Capítulo Provincial celebrado a 18 de julho de 1907.' Ele deu continuidade aos trabalhos de restauração do monumento, pois tanto o convento como a igreja estavam necessitando de urgentes serviços de conservação e adaptação para acolher a comunidade e os hóspedes que não faltavam.
Mas o que lhe absorvia mais as energias era a cura d'almas. A seu exemplo, toda a comunidade do convento do Recife se voltava para o bem espiritual dos que freqüentavam a igreja, e procuravam os frades na portaria do convento pedindo sua assistência nos hospitais, colégios, casas religiosas e em suas residências, fossem mansões ou mocambos. Os doentes mereciam um cuidado especial. Sobretudo os do Hospital Santa Águeda, cuja situação era trágica. Morriam cerca de 600 doentes por ano. Mas, na epidemia de 1907, ano em que Fr. Casimiro assumiu o cargo de Superior do convento, o número de falecimentos aumentou consideravelmente. Quase todos foram sacramentados
Os franciscanos do Convento de Santo Antônio do Recife, assumindo a capelania do Hospital Santa Águeda, ou, simplesmente, sendo chamados aos bexiguentos, se achavam expostos ao contágio, sabiam do risco, mas não fugiam ao dever de caridade e de oficio.
A cargo do incansável Guardião Frei Casimiro, se avolumavam inúmeros os retiros, desobrigas e missões populares. Os bispos o chamavam para acompanhá‑los na visitas pastorais. Em toda parte, sempre se podia contar com ele, principalmente quando se tratava de enfrentar a insalubridade dos mangues nos bairros mais periféricos do Recife.
No Capítulo Provincial de outubro de 1910, Fr. Casimiro foi eleito mais uma vez Definidor (fora‑o a primeira vez no triênio de 1904‑1907, quando residia na sede da Província, em Salvador). Isto significava uma grande responsabilidade a mais, a do Governo Provincial, cerceando‑lhe, a serviço dos irmãos, muitos planos missionários. Mas deixaram‑no como missionário popular, que era o maior ideal de sua vida de frade. Continuava morando no Recife. Foi um tempo muito rico como preparação para a futura Missão Permanente de Fr. Casimiro nos mangues do Recife.
NA ZONA DA MATA: PRIMEIRA EXPERIENCIA DE PÁROCO
A missão de Fr. Casimiro em Sirinhaém foi marcada pelas cruzes da incompreensão por parte do pessoal da cidade. Aliás, desde o início, que ele percebeu que o espírito religioso do povo estava em um nível muito baixo, sobretudo em decorrência do vigário anterior.
.A verdade é que Fr. Casimiro usou de todos os meios de que era capaz para atrair o povo da cidade. Mas o resultado aparente deixava muito a desejar.
O que porém, foi mais grave, foi o conflito com os membros do Apostolado da Oração, conflito esse que exigiu a intervenção do próprio Bispo, D. João Joffely. Em vista disso, Fr. Casimiro teve de enfrentar a hostilidade do povo de Sirinhaém. Diante de tudo isso, o Sr. Bispo pediu a Fr. Casimiro esperar que Deus mudasse o espírito do povo.. Muitos, porém, reconheceram sua culpa e protestaram contra as calúnias de que o Vigário fora vítima.
Mas uma coisa confortava Fr. Casimiro, que não se entregava ao desânimo: a receptividade nas povoações melhorava sempre mais. As ovelhas dispersas da periferia atendiam melhor à voz do Pastor e do Bom Samaritano que estava ali para ajudá-las e fortificá‑las.
A primeira experiência de Fr. Casimiro como Vigário, aparentemente pode não ter sido muito bem sucedida. Mas, com certeza., representa um enriquecimento para a personalidade do missionário, e deixou frutos para a posteridade. As escolas criadas por Fr. Casimiro e que tantos benefícios trouxeram por longos anos à população de Sirinhaém, ainda hoje são lembradas com saudade pelos mais velhos. Foram os primeiros ensaios da obra social que ele iria desenvolver mais tarde em Santo Amaro e Campo Grande. Mas, em janeiro de 1918, foi ele transferido.
Voltou posteriormente, como Vigário, à Zona da Mata, em maio de 1924, transferido do Recife para Ipojuca, a fim de administrar, provisoriamente, a Paróquia de São Miguel. Mas só, por alguns meses, pois, já em agosto, voltava da Alemanha o Guardião e Vigário que ele substituíra, Fr. Estanislau Cleven. Nunca é demais lembrar a opção radical de Fr. Casimiro de não mais rever a terra natal e a família, para que Deus abençoasse o seu apostolado entre os pobres do Brasil. Com prazer ficava no lugar daqueles que voltavam à Europa para rever os entes queridos.
O MISSIONÁRIO FREI CASIMIRO
É de lembrar que de toda a vida de Fr. Casimiro ressalta que ele era, antes de tudo, um missionário voltado para o povo. De Fr. Casimiro podemos dizer, sem receio de exagerar, que ele queria um bem todo especial ao povo. Nisto há o toque do Bom Samaritano, que vai além do dever da estrita caridade e justiça (para estar bem com Deus e com os homens) e presta ao desvalido aquela solidariedade humana que, por ser tão humana, foi mais cristã. Não pregava apenas por dever e obediência. Toda a sua vida revela um carisma especial: o carinho paternal e até maternal para com os sem vez e sem voz.
Desde a sua saída de Sirinhaém, que ele se dedicou às missões populares nos Estados de Pernambuco, Alagoas, Ceará, e ocasionalmente no Maranhão
O Profeta dos Pobres e dos Operários já está todo presente aí na ação do Bom Pastor do povo nordestino.
Apesar de ter pedido ao Capítulo Provincial para ficar desobrigado de todas as Missões e Visitas Pastorais, a fim de se dedicar inteiramente à "Missão Permanente" do Recife, é impressionante como ainda aceitava continuamente Missões, acompanhava Visitas Pastorais e pregava retiros.
Tudo isto, sem falar nos casamentos, batizados, pregações quaresmais e outros atos religiosos que fazem parte do dia a dia de um vigário.
No Capítulo de 1929, Frei Casimiro continua na comunidade do Recife, como Missionário, junto com Frei Roberto Toelle. Daí em diante, permanece no Convento do Recife, até a sua morte no dia 25 de maio de 1944. Além de outros períodos em que tinha estado no Convento do Recife, os últimos 18 anos de sua vida. Um período bastante longo e importante, porque foi aí, justamente, que desabrocharam as suas qualidades missionárias, como um franciscano que, em seu esforço apostólico e missionário, anteciparia, profeticamente, aquela opção preferencial pelos pobres, que a Igreja latino-americana faria , algumas décadas mais tarde.
Quando vemos a coragem, a decisão e a tenacidade dessa busca de consagração ao serviço dos marginalizados e mais abandonados, não podemos ter nenhuma dúvida de que a atitude de Frei Casimiro não só foi, exemplarmente, franciscana e eclesial para os seus contemporâneos, mas também foi profética. Sua mística de um trabalho entre os pobres levou‑a à compreensão e, sobretudo, à decisão evangélica de que é preciso fazer alguma coisa e o quanto for, humanamente, possível, pelos pobres, para testemunhar, assim, o amor de Deus para com eles; mas isso não basta. E preciso estar com eles, conviver com eles, enquanto isso for possível, para mostrar‑lhes que estaremos sempre ao lado deles e preocupados com a sua causa. Frei Casimiro compreendeu, em seu impulso missionário, que, para o seu trabalho ter credibilidade aos olhos dos pobres, era preciso empenhar a sua pessoa na causa evangélica e social dos pobres. Foi isso que fez Frei Casimiro, não só o Missionário dos pobres entre os mocambos do Recife, mas também um profeta, que só o futuro poderia descobrir em suas dimensões reais.
DAS MISSÕES POPULARES AOS MOCAMBOS DO RECIFE
Com a experiência de Plataforma, na Bahia, e de Penedo, em Alagoas, Fr. Casimiro estava preparado para o maior desafio: o encontro com os empobrecidos do Recife. O Capítulo Provincial (de 18 de julho de 1907) nomeou Fr. Casimiro como Guardião do Convento de Santo Antônio do Recife.
A Fr. Casimiro, como aos outros Restauradores da Província franciscana de Santo Antônio, não pôde ter passado despercebido o empenho da Igreja em Olinda e Recife pelo Catolicismo Social, tendo à frente Leigos do quilate de Carlos Alberto de Menezes, Pierre Collier, Luís Cavalcanti Lacerda de Almeida, Joaquim da Silva Cabral, Custódio José da Silva Pessoa, Luís Correia de Brito, Dr. Manuel Neto, Carneiro Campello, Dr. Albino Meira, Eduardo Dubeux, Dr. Landelino Câmara, Dr. Manuel Gomes de Mattos e outros, alguns deles industriais, tentando implantar a Doutrina Social da Igreja, já antes da Rerum Novarum (1891) de Leão XIII nos Complexos Industriais de Camaragibe, Paulista, Goiana
Frei Casimiro acreditava na força dos pequenos, que Deus se serve dos fracos para realizar maravilhas. Ele vai aos empobrecidos, cheio de esperança. Alimenta a utopia franciscana de um mundo de irmãos e irmãs. Se o mal estava tão perto, é que também as causas não estavam tão longe. Mais do que nos pobres, elas estavam na própria sociedade que precisava de conversão. Alguém tinha de botar o dedo nas chagas.. Não bastava apontar o desmantelo. Era preciso fazer como São Francisco, ir ao encontro dos leprosos. Frei Casimiro não era um sonhador. Sua utopia se inspirava na Sabedoria que vem do Alto e repousa sobre os que têm os pés no chão.
O PLANO DE FREI CASIMIRO E SUA INSPIRAÇÃO EVANGÉLICA
Desde a sua saída de Sirinhaém, que ele se dedicou às missões populares nos Estados de Pernambuco, Alagoas, Ceará, e ocasionalmente no Maranhão
O Profeta dos Pobres e dos Operários já está todo presente aí na ação do Bom Pastor do povo nordestino.
Apesar de ter pedido ao Capítulo Provincial para ficar desobrigado de todas as Missões e Visitas Pastorais, a fim de se dedicar inteiramente à "Missão Permanente" do Recife, é impressionante como ainda aceitava continuamente Missões, acompanhava Visitas Pastorais e pregava retiros.
Tudo isto, sem falar nos casamentos, batizados, pregações quaresmais e outros atos religiosos que fazem parte do dia a dia de um vigário.
No Capítulo de 1929, Frei Casimiro continua na comunidade do Recife, como Missionário, junto com Frei Roberto Toelle. Daí em diante, permanece no Convento do Recife, até a sua morte no dia 25 de maio de 1944. Além de outros períodos em que tinha estado no Convento do Recife, os últimos 18 anos de sua vida. Um período bastante longo e importante, porque foi aí, justamente, que desabrocharam as suas qualidades missionárias, como um franciscano que, em seu esforço apostólico e missionário, anteciparia, profeticamente, aquela opção preferencial pelos pobres, que a Igreja latino-americana faria , algumas décadas mais tarde.
Quando vemos a coragem, a decisão e a tenacidade dessa busca de consagração ao serviço dos marginalizados e mais abandonados, não podemos ter nenhuma dúvida de que a atitude de Frei Casimiro não só foi, exemplarmente, franciscana e eclesial para os seus contemporâneos, mas também foi profética. Sua mística de um trabalho entre os pobres levou‑a à compreensão e, sobretudo, à decisão evangélica de que é preciso fazer alguma coisa e o quanto for, humanamente, possível, pelos pobres, para testemunhar, assim, o amor de Deus para com eles; mas isso não basta. E preciso estar com eles, conviver com eles, enquanto isso for possível, para mostrar‑lhes que estaremos sempre ao lado deles e preocupados com a sua causa. Frei Casimiro compreendeu, em seu impulso missionário, que, para o seu trabalho ter credibilidade aos olhos dos pobres, era preciso empenhar a sua pessoa na causa evangélica e social dos pobres. Foi isso que fez Frei Casimiro, não só o Missionário dos pobres entre os mocambos do Recife, mas também um profeta, que só o futuro poderia descobrir em suas dimensões reais.
DAS MISSÕES POPULARES AOS MOCAMBOS DO RECIFE
Com a experiência de Plataforma, na Bahia, e de Penedo, em Alagoas, Fr. Casimiro estava preparado para o maior desafio: o encontro com os empobrecidos do Recife. O Capítulo Provincial (de 18 de julho de 1907) nomeou Fr. Casimiro como Guardião do Convento de Santo Antônio do Recife.
A Fr. Casimiro, como aos outros Restauradores da Província franciscana de Santo Antônio, não pôde ter passado despercebido o empenho da Igreja em Olinda e Recife pelo Catolicismo Social, tendo à frente Leigos do quilate de Carlos Alberto de Menezes, Pierre Collier, Luís Cavalcanti Lacerda de Almeida, Joaquim da Silva Cabral, Custódio José da Silva Pessoa, Luís Correia de Brito, Dr. Manuel Neto, Carneiro Campello, Dr. Albino Meira, Eduardo Dubeux, Dr. Landelino Câmara, Dr. Manuel Gomes de Mattos e outros, alguns deles industriais, tentando implantar a Doutrina Social da Igreja, já antes da Rerum Novarum (1891) de Leão XIII nos Complexos Industriais de Camaragibe, Paulista, Goiana
Frei Casimiro acreditava na força dos pequenos, que Deus se serve dos fracos para realizar maravilhas. Ele vai aos empobrecidos, cheio de esperança. Alimenta a utopia franciscana de um mundo de irmãos e irmãs. Se o mal estava tão perto, é que também as causas não estavam tão longe. Mais do que nos pobres, elas estavam na própria sociedade que precisava de conversão. Alguém tinha de botar o dedo nas chagas.. Não bastava apontar o desmantelo. Era preciso fazer como São Francisco, ir ao encontro dos leprosos. Frei Casimiro não era um sonhador. Sua utopia se inspirava na Sabedoria que vem do Alto e repousa sobre os que têm os pés no chão.
O PLANO DE FREI CASIMIRO E SUA INSPIRAÇÃO EVANGÉLICA
Em Frei Casimiro havia, no fundo, a inspiração franciscana de colocar‑se a serviço dos excluídos. O Movimento Franciscano, bebido no Evangelho era sua motivação maior, carregada do absoluto e da radicalidade da Encarnação do VERBO que “armou entre nós a sua tenda”, foi buscar nos leprosos a sua primeira efetivação apostólica "ad extra". E quando refletimos sobre o contexto mundial de Igreja na segunda metade do século XIX, melhor entendemos a opção assumida pela Província Franciscana da Santa Cruz da Saxônia de investir missionariamente no Brasil.
A presença junto aos setores mais carentes da sociedade era uma coisa muito natural, sobretudo para os religiosos alemães, oriundos de um Igreja então perseguida. Vêm, por exemplo, dispostos a se dedicarem à evangelização dos índios do Sul da Bahia, o que seria o ponto de partida para a obra restauradora. Mas sabiam que a política indigenista do Governo se opunha ,em muitos pontos, ao ideal cristão de fraternidade.
Os franciscanos restauradores vieram para trabalhar de preferência entre as camadas mais pobres de nossa população, onde o contingente negro sempre foi considerável. Optaram pelas paróquias mais difíceis e enjeitadas, como, por exemplo, a de Ipojuca (PE), que lhes foi entregue com uma "apresentação" do Sr. Arcebispo mais ou menos nestes termos: "Estou‑lhes entregando a pior freguesia da Diocese ".
A inspiração evangélica de levar a Boa‑Nova aos pobres nunca abandonou os frades restauradores. E entre os pobres, sobretudo das nossas Capitais e da Zona da Mata, onde a raça negra ainda hoje constitui, talvez, a maioria! A preferência, todavia, de Fr. Casimiro pelos operários, a ponto de deixar tudo por esta causa, era alguma coisa de incomum. Ele era criativo e não se contentava com a rotina.
De acordo com o espírito franciscano, essa adesão não é cega, mas iluminada pela fé e pela caridade. Razão por que nunca perdeu aquele missionário a capacidade de dialogar com os legítimos Superiores, chegando a discordar dos seus pontos de vista, com todo respeito e humildade, mas sem faltar com a verdade, mesmo que isso lhe trouxesse momentos amargos e até traumas que ele superava pela fé, como foi o caso de desentendimentos com o próprio Dom Miguel Valverde, Arcebispo de Olinda e Recife.
De maneira intuitiva, já previa o nosso Missionário o êxodo rural que faria inchar as metrópoles, atirando milhares de filhos e filhas de Deus na mais absoluta precariedade de condições, na lama dos mangues e alagados e nas encostas das barreiras periféricas. Mas o impulso era, sobretudo, de uma espiritualidade em que não era possível a dicotomia entre fé e vida.
Com toda confiança, Frei Casimiro escreveu, expondo o seu projeto ao Ministro Provincial, que o conhecia muito bem, Fr. Eduardo Heberhold. Este ficou encantado com a idéia, dando‑lhe desde logo todo o seu apoio. Mas aconselhou a Fr. Casimiro a dirigir o pedido ao Capítulo Provincial, que iria ser convocado dentro em breve.
É de salientar que se tratava de uma idéia nova e fora dos moldes comuns, pois envolvia destacar um frade para dedicar-se totalmente a uma atividade, fora do convento, a serviço de uma Missão, que praticamente o isentaria da jurisdição do Guardião do Convento.
Contando, porém com o apoio do Ministro Provincial Fr. Eduardo Herberhold, que como ex-missionário conhecia profundamente o problema em questão, o requerimento de Fr. .Casimiro foi aprovado por unanimidade!.
UM NOVO CAMPO DE TRABALHO
A presença junto aos setores mais carentes da sociedade era uma coisa muito natural, sobretudo para os religiosos alemães, oriundos de um Igreja então perseguida. Vêm, por exemplo, dispostos a se dedicarem à evangelização dos índios do Sul da Bahia, o que seria o ponto de partida para a obra restauradora. Mas sabiam que a política indigenista do Governo se opunha ,em muitos pontos, ao ideal cristão de fraternidade.
Os franciscanos restauradores vieram para trabalhar de preferência entre as camadas mais pobres de nossa população, onde o contingente negro sempre foi considerável. Optaram pelas paróquias mais difíceis e enjeitadas, como, por exemplo, a de Ipojuca (PE), que lhes foi entregue com uma "apresentação" do Sr. Arcebispo mais ou menos nestes termos: "Estou‑lhes entregando a pior freguesia da Diocese ".
A inspiração evangélica de levar a Boa‑Nova aos pobres nunca abandonou os frades restauradores. E entre os pobres, sobretudo das nossas Capitais e da Zona da Mata, onde a raça negra ainda hoje constitui, talvez, a maioria! A preferência, todavia, de Fr. Casimiro pelos operários, a ponto de deixar tudo por esta causa, era alguma coisa de incomum. Ele era criativo e não se contentava com a rotina.
De acordo com o espírito franciscano, essa adesão não é cega, mas iluminada pela fé e pela caridade. Razão por que nunca perdeu aquele missionário a capacidade de dialogar com os legítimos Superiores, chegando a discordar dos seus pontos de vista, com todo respeito e humildade, mas sem faltar com a verdade, mesmo que isso lhe trouxesse momentos amargos e até traumas que ele superava pela fé, como foi o caso de desentendimentos com o próprio Dom Miguel Valverde, Arcebispo de Olinda e Recife.
De maneira intuitiva, já previa o nosso Missionário o êxodo rural que faria inchar as metrópoles, atirando milhares de filhos e filhas de Deus na mais absoluta precariedade de condições, na lama dos mangues e alagados e nas encostas das barreiras periféricas. Mas o impulso era, sobretudo, de uma espiritualidade em que não era possível a dicotomia entre fé e vida.
Com toda confiança, Frei Casimiro escreveu, expondo o seu projeto ao Ministro Provincial, que o conhecia muito bem, Fr. Eduardo Heberhold. Este ficou encantado com a idéia, dando‑lhe desde logo todo o seu apoio. Mas aconselhou a Fr. Casimiro a dirigir o pedido ao Capítulo Provincial, que iria ser convocado dentro em breve.
É de salientar que se tratava de uma idéia nova e fora dos moldes comuns, pois envolvia destacar um frade para dedicar-se totalmente a uma atividade, fora do convento, a serviço de uma Missão, que praticamente o isentaria da jurisdição do Guardião do Convento.
Contando, porém com o apoio do Ministro Provincial Fr. Eduardo Herberhold, que como ex-missionário conhecia profundamente o problema em questão, o requerimento de Fr. .Casimiro foi aprovado por unanimidade!.
UM NOVO CAMPO DE TRABALHO
Não foi fácil para Frei Casimiro, podemos imaginar, a escolha do campo de sua "Missão Permanente". A preferência pelo Sítio de Macaxeira, no bairro de Santo Amaro (não havia ruas, mas pequenos sítios particulares, de um lado e de outro da linha férrea, hoje Av. Norte ), foi motivada não só por ser uma das áreas de maior miséria material e espiritual do Recife, mas também por ser um bairro proletário e se achar perto da Fábrica de Tecidos Tacaruna. A um cenário de pobreza e de miséria se foram afeiçoando diariamente os franciscanos do Convento de Santo Antônio.
Mas, de início, Frei Casimiro teve de enfrentar dificuldades e incompreensões, até mesmo do Arcebispo de Olinda –Recife.
Em outubro de 1926, por ocasião da festa de S. Francisco em Canindé, CE, Fr. Casimiro, que para lá se dirigira juntamente com o Arcebispo de Fortaleza a quem ajudara na Visita Pastoral, encontrou‑se com o novo M. Provincial Fr. Cornélio Neises. Ele lhe perguntou sobre a nova missão no Recife que o Capítulo Provincial lhe havia confiado, se o Arcebispo D. Miguel Valverde já estava ciente de tudo. Fr. Casimiro explicou‑lhe os desentendimentos havidos com o Arcebispo. E o Ministro Provincial prometeu-lhe de pessoalmente tratar do problema com D. Miguel Valverde, como realmente o fez. E este entendeu-se com Frei Casimiro, a quem deu sua aprovação, não sem um certo ressentimento da desavença passada.
Sempre, porém, haverá, de ambos os lados, a colaboração necessária. Prevalecia o bem do Povo de Deus sobre os interesses pessoais. Eram dois temperamentos fortes que por vezes se chocavam, mas havia o respeito mútuo, com dignidade. Vê‑se que o Sr. Arcebispo não simpatizava com o frade. E Fr. Casimiro, por sua vez, esperava da Autoridade religiosa um apoio que não fosse apenas jurídico. Gostaria que D. Miguel fosse como um Dom Leme. Mas estava nos planos da Providência que nem tudo corresse como os dois queriam, para que a vaidade humana não eivasse a seara divina.
A "MISSÃO PERMANENTE" NA MACAXEIRA
Mas, de início, Frei Casimiro teve de enfrentar dificuldades e incompreensões, até mesmo do Arcebispo de Olinda –Recife.
Em outubro de 1926, por ocasião da festa de S. Francisco em Canindé, CE, Fr. Casimiro, que para lá se dirigira juntamente com o Arcebispo de Fortaleza a quem ajudara na Visita Pastoral, encontrou‑se com o novo M. Provincial Fr. Cornélio Neises. Ele lhe perguntou sobre a nova missão no Recife que o Capítulo Provincial lhe havia confiado, se o Arcebispo D. Miguel Valverde já estava ciente de tudo. Fr. Casimiro explicou‑lhe os desentendimentos havidos com o Arcebispo. E o Ministro Provincial prometeu-lhe de pessoalmente tratar do problema com D. Miguel Valverde, como realmente o fez. E este entendeu-se com Frei Casimiro, a quem deu sua aprovação, não sem um certo ressentimento da desavença passada.
Sempre, porém, haverá, de ambos os lados, a colaboração necessária. Prevalecia o bem do Povo de Deus sobre os interesses pessoais. Eram dois temperamentos fortes que por vezes se chocavam, mas havia o respeito mútuo, com dignidade. Vê‑se que o Sr. Arcebispo não simpatizava com o frade. E Fr. Casimiro, por sua vez, esperava da Autoridade religiosa um apoio que não fosse apenas jurídico. Gostaria que D. Miguel fosse como um Dom Leme. Mas estava nos planos da Providência que nem tudo corresse como os dois queriam, para que a vaidade humana não eivasse a seara divina.
A "MISSÃO PERMANENTE" NA MACAXEIRA
Fotos: Matriz de S. Sebastião e Escola Frei Casimiro após a reforma e o tamarindo secular, sob o qual Frei Casimiro celebrou a primeira misssa no Sítio Macaxeira.
Frei Casimiro celebrou a primeira missa em Macaxeira, no dia 15 de novembro de 1926. Era o dia da celebração festiva de S. Sebastião, fato que vinha ocorrendo desde o tempo da gripe espanhola, no ano de 1917, quando o povo fizera uma promessa a S. Sebastião, tendo logo declinado a doença. Pelo fato de a Missa ter sido celebrada debaixo de uma “tamarina”, deu-se-lhe o nome de Festa da Tamarina.
Estava inaugurada a Missão Permanente, sem publicidade, sem a presença dos irmãos de hábito, nem mesmo do Vigário, que chegou depois. Estava sendo plantada a semente de um trabalho comunitário que, a partir da evangelização, haveria de transformar o bairro numa quase‑cidade. Quando, já falecido Fr. Casimiro, seu grande amigo e benfeitor, o Governador Agamenon Magalhães e o Prefeito do Recife inauguravam a "Rua Frei Casimiro" ao lado da Matriz de S. Sebastião, na Avenida Norte. O nome do humilde filho de S. Francisco passou a fazer parte do mapa da Capital pernambucana. Mas há muito vinha gravado no coração daquele povo que ele amou e por quem deu a própria vida.
A escolha desse campo de trabalho deveu-se, de modo especial, ao fato de ser uma das áreas de maior miséria que os frades estavam acostumados a observar no percurso entre os conventos de Olinda e do Recife e quando iam dar assistência aos "lázaros" do leprosário de Santo Amaro. Além de ser um bairro operário junto à fábrica de tecidos Tacaruna.
Campo Grande, unido a Santo Amaro pela ponte do rio Maduro (depois separado pelo canal da Tacaruna e pela Avenida Agamenon Magalhães) entrava, pelos mesmos motivos, desde o começo, no plano de evangelização de Frei Casimiro. A proximidade do centro do Recife facilitar‑lhe‑ia sobremaneira o trabalho. A criação de escolas, artesanato, posto médico ganharia muito com a facilidade de acesso àqueles subúrbios. Também a comunicação com as autoridades governamentais a quem Fr. Casimiro iria desafiar, no melhor sentido da palavra, a investirem naqueles sítios e ilhas abandonadas (Sítio da Macaxeira, Sítio do Céu, Campo da Tacaruna, Ilha de Janeiro, Ilha de Santa Teresinha, Ilha dos Ratos..) e também o recurso aos benfeitores que Deus haveria de suscitar, seriam grandemente facilitados pela proximidade do comércio e do centro administrativo da Cidade. O transporte mais barato seria o bonde. mas Fr. Casimiro se locomovia sempre a pé.
Vemos neste fato a sensibilidade do Vigário e de Fr. Casimiro em ouvir o povo. A própria escolha da festa popular em honra de S. Sebastião, em data não litúrgica, para a inauguração da Missão e a preferência pelo nome do Santo Mártir, e não de Santo Amaro ou de um santo franciscano, o como padroeiro, já revelam como Fr. Casimiro era aberto ao sentir dos moradores do lugar. Outro, sem esta visão, teria passado muito simplesmente por cima do querer do povo.
TRIRULAÇÕES DO MISSIONÁRIO
No dia 19 de dezembro [de 1928], Frei Casimiro deu início aos trabalhos dos alicerces, que no dia da festa de S. Sebastião já estavam prontos. Foi então colocada festivamente a primeira pedra. Foi dada a bênção pelo próprio Frei Casimiro, por estar impedido o Arcebispo.
Já nesse momento começaram as atribulações para Frei Casimiro, sobretudo por hostilidades, que chegavam a envolver o próprio Vigário da Piedade. Além disso surgiram embaraços em torno da licença, que Frei Casimiro não tinha pedido por escrito.
Na bênção da primeira pedra apresentaram‑se muitos convidados, representantes do Sr. Arcebispo, dos Padres Jesuítas, Lazaristas e alguns sacerdotes seculares, bem como Fr. Roberto, do Convento de Santo Antônio, e Fr. Matias, do Convento de Olinda.
A igreja ficou pronta para o culto, a 7 de setembro A bênção foi oficiada nessa data, pelo Ministro Provincial Frei Cornélio Neises, em vista da ausência do Arcebispo. Aliás, relata Frei Casimiro, que o Arcebispo não mostrava nenhum interesse pela obra.
Ao mesmo tempo Frei Casimiro atacou o problema da escola para crianças pobres e de outras obras sociais. De modo especial se fazia sentir a necessidade de uma escola, pois, não havia ali escola oficial. Abriu ele duas escolas em fevereiro de 1927, seguindo-se pouco tempo depois uma terceira escola. É bem verdade que tais escolas funcionavam em “palhoças”, mas atendiam a uma necessidade impreterível de toda uma população de menores abandonados.. Com isso, Frei Casimiro lutava com todo o vigor para mudar a situação de miséria em que se encontravam as famílias operárias de nossas periferias.
Até 1930, as escolas funcionavam, como já acenamos, em palhoça e numa casa coberta de zinco. Só Deus sabe as dificuldades que Fr. Casimiro teve que enfrentar para conseguir professores, superar a evasão escolar, conseguir material didático, alimento para as crianças, médico, remédios e muitas outras coisas. Quantas humilhações teve de enfrentar, principalmente por parte daqueles que mais deviam ajudar, como os homens do Governo! Ele esmolava de porta em porta para os seus pobres. Mas sabia exigir também dos responsáveis pelo Estado o cumprimento de suas obrigações para com aqueles a quem deviam servir por oficio.
AVALIANDO O PROCESSO EDUCATIVO
No início, os resultados não eram animadores. Sobretudo, a indisciplina dos meninos era chocante aos olhos de Frei Casimiro. Mas não se pense que ele era adepto de uma disciplina repressiva. Dentro da cultura de sua época, não seria concebível a ausência de castigos. Mas uma coisa era a emenda com o fim de levar o aluno à responsabilidade, e outra era a punição militar e descaridosa. Tanto isto é verdade que ele teve de dispensar um professor por excesso de severidade:
Creio que Fr. Casimiro não estava de acordo com castigos físicos, muito comuns na época. Escutei de pessoas que o conheceram de perto, que ele era alegre e amável. Alguns anos mais tarde teve que dispensar uma professora, que se oferecera para ensinar gratuitamente e que ensinava muito bem, porque tinha o defeito tão desagradável de castigar fisicamente as crianças, e o fazia com freqüência.
Outra dificuldade era a falta da assiduidade por parte dos alunos e a mania de mudar constantemente de escolas por qualquer motivo.
.
DESENVOLVIMENTO DA OBRA SOCIAL
Havendo aumentado enormemente o número de matrículas em 1933, até a sala de visitas do Grupo teve que ser transformada em sala de aula. Só no Jardim de Infância eram 150 crianças. Em 1934 as matrículas subiram para 720. Mais de 600 não perdiam as aulas. As professoras, de própria iniciativa, dirigiram um "memorandum" ao Governo solicitando serem aceitas como professoras do Estado, equiparadas àquela categoria. Nada conseguiram. Fr. Casimiro não era pessoa grata. Por demais havia censurado a inatividade do Governo!
Veio ainda a questão do imposto sobre o jogo do bicho, que foi legalizado, em beneficio das Obras de Instrução. Frei Casimiro era de opinião que o jogo do bicho viciava particularmente as mulheres, e até crianças. Diariamente jogam, dizia ele, perdendo o que não podem perder porque lhes faz falta no sustento da família. Mas o vício leva‑os a não se compadecerem nem das crianças, que passam fome.
Frei Casimiro se animou a pedir ao Secretário uma subvenção especial para as escolas da Macaxeira. Mas nada conseguiu ele.
Realmente, muitas dessas coisas não se vêem e nem se contam. Mas Fr. Casimiro as deixou registradas em suas Crônicas, redigidas sem nenhuma pretensão literária nem para exaltação pessoal, com o fim de salvar a memória de um trabalho que ele considerava "de Deus". Morreu sem poder aprimorá‑las um pouco, como certamente gostaria de fazê‑lo, confiando esse trabalho a algum confrade mais treinado nos mistérios da Língua Portuguesa.
Foi o Dr. Agamenon Magalhães, o grande amigo de Fr. Casimiro, que fez reverter a perseguição às Obras Sociais Franciscanas em colaboração irrestrita ao grande "Apóstolo dos Mocambos", como assim o denominou.
Uma coisa é certa: Fr. Casimiro não adulava ninguém, não prestava homenagem a políticos no poder. Nem mesmo seu amigo, o Interventor Agamenon Magalhães, teve o nome ou o da esposa afixado a qualquer obra de Santo Amaro.
UM NOVO BAIRRO DE OPERÁRIOS: CAMPO GRANDE
“O campo é grande, mas os operários são poucos” (Lc. 10,2)
Vendo seu trabalho consolidado em Santo Amaro, e tendo conseguido dos superiores um coadjutor para a Macaxeira, Fr. Casimiro se voltou para o bairro vizinho, Campo Grande. Cortado pela Estrada de Belém, com uma capelinha dedicada a Nossa Senhora do Bom Parto, o bairro fazia parte da Paróquia de Nossa Senhora de Belém, com sede na Encruzilhada. Habitado por gente de classe média e muitos pobres que vegetavam nas favelas dentro dos mangues, Campo Grande sempre atraiu o interesse de Fr. Casimiro, que o visitava com freqüência. Conhecia a situação de abandono material e, sobretudo, espiritual, em que se achava aquela gente, muitos dos quais viviam do salário como operários da Fábrica de Tecidos Tacaruna, ao Norte. Em volta da fábrica, no limite com o bairro de Salgadinho, a favela se estendia por todos os lados, separada apenas pelos manguesais das favelas de Santo Amaro que iam até a estrada que ligava o Recife a Olinda, pelo Nascente. O bairro de Campo Grande é um dos mais aprazíveis do Recife. Ao tempo de Fr. Casimiro era um pomar. Raras as casas que não tivessem um sítio. Ninguém comprava nem vendia mangas, carambolas, jambos róseos e brancos, abacates. As mangas de Campo Grande ainda hoje competem com as de Itamaracá. Mas era também o bairro dos mangues. Aí os pobres catavam o caranguejo, o camarão, o siri. Nem precisavam sair de casa. "Casa" é uma maneira de dizer. Os mocambos nasciam dos mangues como se fossem um produto natural dos manguesais.
. Fr. Casimiro amava o povo e sabia admirar sua capacidade de sobreviver em meio às intempéries e às privações materiais. Sabia como eram belas as noites de maio na igreja e nas palhoças. Como o nascimento de uma criança confraternizava toda a rua e o dia do batizado era aquela festa, tendo‑se de fazer vistas grossas à incontinência verbal dos que chegavam tocados pela cana na cerimônia do santo batismo. A condição de favelados era esquecida diante do recém-nascido.
A MISSÃO EM CAMPO GRANDE
Frei Casimiro, embora sediado em Santo Amaro, nunca se descuidou de Campo Grande, sobretudo da assistência religiosa aos doentes, que ele visitava de casa em casa, de mocambo em mocambo. Sentiu, porém que Deus o estava convocando para uma "Missão Permanente" ali, como o tinha chamado para a Macaxeira. Nos estatutos da "Liga Patriótica" a obra social por ele fundada em 1930, consta no Capítulo I, Artigo 1°
A "Liga Patriótica" é uma sociedade religiosa e de caridade, cujo fim é fornecer aos operários o conhecimento da religião, facilitar‑lhes a prática religiosa e auxiliá‑los por todos os meios possíveis, especialmente a instrução e educação dos filhos.
Lemos no Artigo 2°:
Para realizar seus fins ela se propõe: 1 ° ‑ construir igrejas ou capelas nos bairros proletários mais populosos do Recife e manter nestas igrejas culto regular; 2 ° manter junto a estas igrejas escolas práticas paroquiais com ensino da religião.
A "Missão Permanente" de Campo Grande era, portanto, a expansão natural e inevitável do zelo apostólico que transformara Santo Amaro. A Província Franciscana de Santo Antônio assumiu como missão dela mesma, aquilo que Fr. Casimiro ia realizando. Nunca o deixou sozinho, como se aquele trabalho fosse um gosto dele que se não devia contrariar. Fr. Casimiro também jamais se sentiu desvinculado da Província e do seu Convento do Recife, embora, praticamente morasse inserido em seu campo de trabalho, num quartinho muito incômodo, pegado com a capela.
Fr. Casimiro logo procurou construir a igreja e escolas para as crianças, dando ênfase especial à catequese. 0 novo Interventor Dr. Agamenon Magalhães que, compreendendo o alcance social da ação de Fr. Casimiro, aplaudiu a sua obra, ajudando largamente, facilitando as suas empresas e sempre pronto a colaborar numa obra que confinava com as suas intenções de melhorar as condições de vida dos pobres, principalmente dos operários.
Já fiz ver que Fr. Casimiro não se portava com subserviência diante da Autoridade, fosse eclesiástica, fosse civil. Ele achava que sua obra era um serviço à Pátria (daí o nome de "Liga Patriótica" que deu à instituição). Para ele, o que o Governo dava não era esmola mas obrigação, um direito dos pequenos.
Frei Casimiro acompanhava com todo interesse o que o Estado fazia ou deixava de fazer em âmbito social, máxime, no da Educação.
Para Fr. Casimiro o governo “revolucionário” era a continuação dos vícios do regime anterior. Daí a sua decepção com a "Revolução de 30". Os pobres continuariam relegados? Os operários à margem da Doutrina Social da Igreja? Hoje em dia, de tanto se falar em Direitos Humanos, muitos já não acreditam mais neles. No tempo de Fr. Casimiro, em termos de Igreja, parece que andavam bastante esquecidos os princípios das grandes Encíclicas sociais dos Papas. Mas, aqui e ali, vozes e gestos proféticos tentavam levar à prática o que Leão XIII e Pio XI ensinavam como dimensão essencial do próprio Evangelho. É lamentável que entre os temas do III° Congresso Eucarístico Nacional, celebrado no Recife de 3 a 7 de setembro de 1939, a Questão Social tenha sido posta, praticamente, de lado. O mundo operário foi contemplado em palestras e celebrações de cunho moralista e estritamente espirituais, em que as grande Encíclicas Rerum Novarum e Quadragesimo Anno vêm citadas mais para apaziguar operários e patrões, que para levar a ambas as classes as graves exigências sociais do mundo do trabalho.
A escolha desse campo de trabalho deveu-se, de modo especial, ao fato de ser uma das áreas de maior miséria que os frades estavam acostumados a observar no percurso entre os conventos de Olinda e do Recife e quando iam dar assistência aos "lázaros" do leprosário de Santo Amaro. Além de ser um bairro operário junto à fábrica de tecidos Tacaruna.
Campo Grande, unido a Santo Amaro pela ponte do rio Maduro (depois separado pelo canal da Tacaruna e pela Avenida Agamenon Magalhães) entrava, pelos mesmos motivos, desde o começo, no plano de evangelização de Frei Casimiro. A proximidade do centro do Recife facilitar‑lhe‑ia sobremaneira o trabalho. A criação de escolas, artesanato, posto médico ganharia muito com a facilidade de acesso àqueles subúrbios. Também a comunicação com as autoridades governamentais a quem Fr. Casimiro iria desafiar, no melhor sentido da palavra, a investirem naqueles sítios e ilhas abandonadas (Sítio da Macaxeira, Sítio do Céu, Campo da Tacaruna, Ilha de Janeiro, Ilha de Santa Teresinha, Ilha dos Ratos..) e também o recurso aos benfeitores que Deus haveria de suscitar, seriam grandemente facilitados pela proximidade do comércio e do centro administrativo da Cidade. O transporte mais barato seria o bonde. mas Fr. Casimiro se locomovia sempre a pé.
Vemos neste fato a sensibilidade do Vigário e de Fr. Casimiro em ouvir o povo. A própria escolha da festa popular em honra de S. Sebastião, em data não litúrgica, para a inauguração da Missão e a preferência pelo nome do Santo Mártir, e não de Santo Amaro ou de um santo franciscano, o como padroeiro, já revelam como Fr. Casimiro era aberto ao sentir dos moradores do lugar. Outro, sem esta visão, teria passado muito simplesmente por cima do querer do povo.
TRIRULAÇÕES DO MISSIONÁRIO
No dia 19 de dezembro [de 1928], Frei Casimiro deu início aos trabalhos dos alicerces, que no dia da festa de S. Sebastião já estavam prontos. Foi então colocada festivamente a primeira pedra. Foi dada a bênção pelo próprio Frei Casimiro, por estar impedido o Arcebispo.
Já nesse momento começaram as atribulações para Frei Casimiro, sobretudo por hostilidades, que chegavam a envolver o próprio Vigário da Piedade. Além disso surgiram embaraços em torno da licença, que Frei Casimiro não tinha pedido por escrito.
Na bênção da primeira pedra apresentaram‑se muitos convidados, representantes do Sr. Arcebispo, dos Padres Jesuítas, Lazaristas e alguns sacerdotes seculares, bem como Fr. Roberto, do Convento de Santo Antônio, e Fr. Matias, do Convento de Olinda.
A igreja ficou pronta para o culto, a 7 de setembro A bênção foi oficiada nessa data, pelo Ministro Provincial Frei Cornélio Neises, em vista da ausência do Arcebispo. Aliás, relata Frei Casimiro, que o Arcebispo não mostrava nenhum interesse pela obra.
Ao mesmo tempo Frei Casimiro atacou o problema da escola para crianças pobres e de outras obras sociais. De modo especial se fazia sentir a necessidade de uma escola, pois, não havia ali escola oficial. Abriu ele duas escolas em fevereiro de 1927, seguindo-se pouco tempo depois uma terceira escola. É bem verdade que tais escolas funcionavam em “palhoças”, mas atendiam a uma necessidade impreterível de toda uma população de menores abandonados.. Com isso, Frei Casimiro lutava com todo o vigor para mudar a situação de miséria em que se encontravam as famílias operárias de nossas periferias.
Até 1930, as escolas funcionavam, como já acenamos, em palhoça e numa casa coberta de zinco. Só Deus sabe as dificuldades que Fr. Casimiro teve que enfrentar para conseguir professores, superar a evasão escolar, conseguir material didático, alimento para as crianças, médico, remédios e muitas outras coisas. Quantas humilhações teve de enfrentar, principalmente por parte daqueles que mais deviam ajudar, como os homens do Governo! Ele esmolava de porta em porta para os seus pobres. Mas sabia exigir também dos responsáveis pelo Estado o cumprimento de suas obrigações para com aqueles a quem deviam servir por oficio.
AVALIANDO O PROCESSO EDUCATIVO
No início, os resultados não eram animadores. Sobretudo, a indisciplina dos meninos era chocante aos olhos de Frei Casimiro. Mas não se pense que ele era adepto de uma disciplina repressiva. Dentro da cultura de sua época, não seria concebível a ausência de castigos. Mas uma coisa era a emenda com o fim de levar o aluno à responsabilidade, e outra era a punição militar e descaridosa. Tanto isto é verdade que ele teve de dispensar um professor por excesso de severidade:
Creio que Fr. Casimiro não estava de acordo com castigos físicos, muito comuns na época. Escutei de pessoas que o conheceram de perto, que ele era alegre e amável. Alguns anos mais tarde teve que dispensar uma professora, que se oferecera para ensinar gratuitamente e que ensinava muito bem, porque tinha o defeito tão desagradável de castigar fisicamente as crianças, e o fazia com freqüência.
Outra dificuldade era a falta da assiduidade por parte dos alunos e a mania de mudar constantemente de escolas por qualquer motivo.
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DESENVOLVIMENTO DA OBRA SOCIAL
Havendo aumentado enormemente o número de matrículas em 1933, até a sala de visitas do Grupo teve que ser transformada em sala de aula. Só no Jardim de Infância eram 150 crianças. Em 1934 as matrículas subiram para 720. Mais de 600 não perdiam as aulas. As professoras, de própria iniciativa, dirigiram um "memorandum" ao Governo solicitando serem aceitas como professoras do Estado, equiparadas àquela categoria. Nada conseguiram. Fr. Casimiro não era pessoa grata. Por demais havia censurado a inatividade do Governo!
Veio ainda a questão do imposto sobre o jogo do bicho, que foi legalizado, em beneficio das Obras de Instrução. Frei Casimiro era de opinião que o jogo do bicho viciava particularmente as mulheres, e até crianças. Diariamente jogam, dizia ele, perdendo o que não podem perder porque lhes faz falta no sustento da família. Mas o vício leva‑os a não se compadecerem nem das crianças, que passam fome.
Frei Casimiro se animou a pedir ao Secretário uma subvenção especial para as escolas da Macaxeira. Mas nada conseguiu ele.
Realmente, muitas dessas coisas não se vêem e nem se contam. Mas Fr. Casimiro as deixou registradas em suas Crônicas, redigidas sem nenhuma pretensão literária nem para exaltação pessoal, com o fim de salvar a memória de um trabalho que ele considerava "de Deus". Morreu sem poder aprimorá‑las um pouco, como certamente gostaria de fazê‑lo, confiando esse trabalho a algum confrade mais treinado nos mistérios da Língua Portuguesa.
Foi o Dr. Agamenon Magalhães, o grande amigo de Fr. Casimiro, que fez reverter a perseguição às Obras Sociais Franciscanas em colaboração irrestrita ao grande "Apóstolo dos Mocambos", como assim o denominou.
Uma coisa é certa: Fr. Casimiro não adulava ninguém, não prestava homenagem a políticos no poder. Nem mesmo seu amigo, o Interventor Agamenon Magalhães, teve o nome ou o da esposa afixado a qualquer obra de Santo Amaro.
UM NOVO BAIRRO DE OPERÁRIOS: CAMPO GRANDE
“O campo é grande, mas os operários são poucos” (Lc. 10,2)
Vendo seu trabalho consolidado em Santo Amaro, e tendo conseguido dos superiores um coadjutor para a Macaxeira, Fr. Casimiro se voltou para o bairro vizinho, Campo Grande. Cortado pela Estrada de Belém, com uma capelinha dedicada a Nossa Senhora do Bom Parto, o bairro fazia parte da Paróquia de Nossa Senhora de Belém, com sede na Encruzilhada. Habitado por gente de classe média e muitos pobres que vegetavam nas favelas dentro dos mangues, Campo Grande sempre atraiu o interesse de Fr. Casimiro, que o visitava com freqüência. Conhecia a situação de abandono material e, sobretudo, espiritual, em que se achava aquela gente, muitos dos quais viviam do salário como operários da Fábrica de Tecidos Tacaruna, ao Norte. Em volta da fábrica, no limite com o bairro de Salgadinho, a favela se estendia por todos os lados, separada apenas pelos manguesais das favelas de Santo Amaro que iam até a estrada que ligava o Recife a Olinda, pelo Nascente. O bairro de Campo Grande é um dos mais aprazíveis do Recife. Ao tempo de Fr. Casimiro era um pomar. Raras as casas que não tivessem um sítio. Ninguém comprava nem vendia mangas, carambolas, jambos róseos e brancos, abacates. As mangas de Campo Grande ainda hoje competem com as de Itamaracá. Mas era também o bairro dos mangues. Aí os pobres catavam o caranguejo, o camarão, o siri. Nem precisavam sair de casa. "Casa" é uma maneira de dizer. Os mocambos nasciam dos mangues como se fossem um produto natural dos manguesais.
. Fr. Casimiro amava o povo e sabia admirar sua capacidade de sobreviver em meio às intempéries e às privações materiais. Sabia como eram belas as noites de maio na igreja e nas palhoças. Como o nascimento de uma criança confraternizava toda a rua e o dia do batizado era aquela festa, tendo‑se de fazer vistas grossas à incontinência verbal dos que chegavam tocados pela cana na cerimônia do santo batismo. A condição de favelados era esquecida diante do recém-nascido.
A MISSÃO EM CAMPO GRANDE
Frei Casimiro, embora sediado em Santo Amaro, nunca se descuidou de Campo Grande, sobretudo da assistência religiosa aos doentes, que ele visitava de casa em casa, de mocambo em mocambo. Sentiu, porém que Deus o estava convocando para uma "Missão Permanente" ali, como o tinha chamado para a Macaxeira. Nos estatutos da "Liga Patriótica" a obra social por ele fundada em 1930, consta no Capítulo I, Artigo 1°
A "Liga Patriótica" é uma sociedade religiosa e de caridade, cujo fim é fornecer aos operários o conhecimento da religião, facilitar‑lhes a prática religiosa e auxiliá‑los por todos os meios possíveis, especialmente a instrução e educação dos filhos.
Lemos no Artigo 2°:
Para realizar seus fins ela se propõe: 1 ° ‑ construir igrejas ou capelas nos bairros proletários mais populosos do Recife e manter nestas igrejas culto regular; 2 ° manter junto a estas igrejas escolas práticas paroquiais com ensino da religião.
A "Missão Permanente" de Campo Grande era, portanto, a expansão natural e inevitável do zelo apostólico que transformara Santo Amaro. A Província Franciscana de Santo Antônio assumiu como missão dela mesma, aquilo que Fr. Casimiro ia realizando. Nunca o deixou sozinho, como se aquele trabalho fosse um gosto dele que se não devia contrariar. Fr. Casimiro também jamais se sentiu desvinculado da Província e do seu Convento do Recife, embora, praticamente morasse inserido em seu campo de trabalho, num quartinho muito incômodo, pegado com a capela.
Fr. Casimiro logo procurou construir a igreja e escolas para as crianças, dando ênfase especial à catequese. 0 novo Interventor Dr. Agamenon Magalhães que, compreendendo o alcance social da ação de Fr. Casimiro, aplaudiu a sua obra, ajudando largamente, facilitando as suas empresas e sempre pronto a colaborar numa obra que confinava com as suas intenções de melhorar as condições de vida dos pobres, principalmente dos operários.
Já fiz ver que Fr. Casimiro não se portava com subserviência diante da Autoridade, fosse eclesiástica, fosse civil. Ele achava que sua obra era um serviço à Pátria (daí o nome de "Liga Patriótica" que deu à instituição). Para ele, o que o Governo dava não era esmola mas obrigação, um direito dos pequenos.
Frei Casimiro acompanhava com todo interesse o que o Estado fazia ou deixava de fazer em âmbito social, máxime, no da Educação.
Para Fr. Casimiro o governo “revolucionário” era a continuação dos vícios do regime anterior. Daí a sua decepção com a "Revolução de 30". Os pobres continuariam relegados? Os operários à margem da Doutrina Social da Igreja? Hoje em dia, de tanto se falar em Direitos Humanos, muitos já não acreditam mais neles. No tempo de Fr. Casimiro, em termos de Igreja, parece que andavam bastante esquecidos os princípios das grandes Encíclicas sociais dos Papas. Mas, aqui e ali, vozes e gestos proféticos tentavam levar à prática o que Leão XIII e Pio XI ensinavam como dimensão essencial do próprio Evangelho. É lamentável que entre os temas do III° Congresso Eucarístico Nacional, celebrado no Recife de 3 a 7 de setembro de 1939, a Questão Social tenha sido posta, praticamente, de lado. O mundo operário foi contemplado em palestras e celebrações de cunho moralista e estritamente espirituais, em que as grande Encíclicas Rerum Novarum e Quadragesimo Anno vêm citadas mais para apaziguar operários e patrões, que para levar a ambas as classes as graves exigências sociais do mundo do trabalho.
Dom Helder Câmara, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Olinda e Recife, na celebração eucarística na Igreja do Bom Parto em Campoi Grande: uma voz em defesa dos que não tinham vez nem voz.
Concelebrantes: o Pe. Hernani Pinheiro, coordenador da Pastoral (à esquerda) e Frei José Milton, OFM, Vigário de Campo Grande (à direita).
Concelebrantes: o Pe. Hernani Pinheiro, coordenador da Pastoral (à esquerda) e Frei José Milton, OFM, Vigário de Campo Grande (à direita).
Achava Frei Casimiro que , urgia entrar em ação no novo campo de trabalho, onde os operários esperavam por ele. Fr. Casimiro não era um carismático da Doutrina Social da Igreja e dos Direitos Humanos. Sabemos que, para isso não lhe faltavam dotes de inteligência e aptidão profissional, como professor que foi dos jovens franciscanos e, sobretudo, pela sua experiência missionária entre os operários. O que lhe constituía mesmo o ideal e compunha a dimensão mais profunda do seu apostolado era, sem dúvida, a “salvação das almas”. Mas ele não podia ficar indiferente aos problemas sociais que, às mais das vezes, estavam na raiz dos outros males.
Fr. Casimiro conseguiu trazer como auxiliares de sua atividade missionária as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. para o serviço dos pobres e cuidado especial das famílias. A sua chegada constituiu uma bênção para aquela população.
É de notar a preferência de Fr. Casimiro por aquela Congregação missionária brasileira, fundada em 1928 por Dm Francisco de Campos Barreto, Bispo de Campinas, SP, com a Madre Maria Villac, natural daquela cidade. Outro talvez optasse por uma das muitas Congregações de origem européia que já desenvolviam entre nós um trabalho educacional de inegável mérito. Certamente descobrira nessas Irmãs pobres maior afinidade com a ação missionária que, como franciscano, vinha desenvolvendo naquela área do Recife.Foi a pedido de Fr. Casimiro que a recém‑fundada Congregação das Missionarias de Jesus Crucificado se estabeleceu em Campo Grande, aos 21 de junho de 1936.
No mês de março de 1939, Fr. Casimiro fundou o Grupo Escolar São José de Campo Grande. No ano seguinte já se matriculavam 406 alunos. Havia Jardim de Infância e Corte e Costura e Bordado para as meninas maiores. A Escola ou Gruo Escolar S. José foi, sob a administração de Fr. Francisco Solano Szcepanek, OFM,' após a morte de Fr. Casimiro, transformado em Colégio S. José. Hoje é a "Casa Santa Clara", da Pequena Família Franciscana (Instituto Secular).
A preocupação com a construção da Igreja de N. Senhora do Bom Parto em Campo Grande, estava ligada à convicção de Frei Casimiro de que, trazer as crianças para a igreja, era um passo para a aproximação também dos pais.
A construção da igreja já foi concretizada em vista de uma futura paróquia. A Paróquia de Nossa Senhora do Bom Parto será criada, na realidade, aos 2 de julho de 1952, passando a capelinha, até então filial da Matriz de Belém, a Matriz autônoma.
Fr. Casimiro tratou depois, de construir uma capela junto ao Grupo S. José. Pensava Fr. Casimiro assim influir sobre os pais dos alunos e a população adjacente.
UM SONHO DE FREI CASIMIRO SE TORNA REALIDADE
Fr. Casimiro conseguiu trazer como auxiliares de sua atividade missionária as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. para o serviço dos pobres e cuidado especial das famílias. A sua chegada constituiu uma bênção para aquela população.
É de notar a preferência de Fr. Casimiro por aquela Congregação missionária brasileira, fundada em 1928 por Dm Francisco de Campos Barreto, Bispo de Campinas, SP, com a Madre Maria Villac, natural daquela cidade. Outro talvez optasse por uma das muitas Congregações de origem européia que já desenvolviam entre nós um trabalho educacional de inegável mérito. Certamente descobrira nessas Irmãs pobres maior afinidade com a ação missionária que, como franciscano, vinha desenvolvendo naquela área do Recife.Foi a pedido de Fr. Casimiro que a recém‑fundada Congregação das Missionarias de Jesus Crucificado se estabeleceu em Campo Grande, aos 21 de junho de 1936.
No mês de março de 1939, Fr. Casimiro fundou o Grupo Escolar São José de Campo Grande. No ano seguinte já se matriculavam 406 alunos. Havia Jardim de Infância e Corte e Costura e Bordado para as meninas maiores. A Escola ou Gruo Escolar S. José foi, sob a administração de Fr. Francisco Solano Szcepanek, OFM,' após a morte de Fr. Casimiro, transformado em Colégio S. José. Hoje é a "Casa Santa Clara", da Pequena Família Franciscana (Instituto Secular).
A preocupação com a construção da Igreja de N. Senhora do Bom Parto em Campo Grande, estava ligada à convicção de Frei Casimiro de que, trazer as crianças para a igreja, era um passo para a aproximação também dos pais.
A construção da igreja já foi concretizada em vista de uma futura paróquia. A Paróquia de Nossa Senhora do Bom Parto será criada, na realidade, aos 2 de julho de 1952, passando a capelinha, até então filial da Matriz de Belém, a Matriz autônoma.
Fr. Casimiro tratou depois, de construir uma capela junto ao Grupo S. José. Pensava Fr. Casimiro assim influir sobre os pais dos alunos e a população adjacente.
UM SONHO DE FREI CASIMIRO SE TORNA REALIDADE
O sonho de Fr. Casimiro sempre fora o de ver os pobres de Santo Amaro e Campo Grande morando em habitações dignas, como o afirmava o próprio idealizador da “Liga Contra os Mocambos”, o Interventor Agamenon Magalhães, de quem Frei Casimiro era confessor e conselheiro em assuntos de consciência. Quando, em visita às obras de Fr. Casimiro, teve a inspiração de lutar contra os mocambos, e lhe manifestou o desejo de começar logo as obras de moradias dignas para o povo, Frei Casimiro lhe sugeriu: - Por que não começa aqui? - E foi precisamente em Santo Amaro que Agamenon inaugurou a primeira delas: a "Vila das Cozinheiras".
O novo Vigário de Campo Grande, inspirado no exemplo daquele missionário e na caridade do Mons. Gilberto Carneiro Leão para com os pobres da paróquia a quem sucedia por disposição dos seus Superiores Maiores, não titubeou em entrar na luta que a Arquidiocese de Olinda e Recife travava, de maneira pacífica mas resoluta, em prol das populações totalmente inseguras no seu direito universalmente reconhecido de ter uma casa para morar.
A revista Tempo e Presença do “Centro Ecumênico de Informação” (CEI), sediado no Rio de Janeiro, publicava em agosto de 1977, uma nota que resume todo sofrimento e toda esperança daquele povo:
AMEAÇA DE EXPULSÃO NO RECIFE
"Vinte mil moradores da Ilha de Joaneiro, aglomerado pobre de um bairro de Recife, segundo frei José Milton Coelho, pároco do bairro, estão ameaçados de remoção, não só por causa das inundações periódicas do rio Capibaribe, como principalmente por especuladores imobiliários que “não se preocupam com os moradores que lá vivem há cerca de 30, 40 e até 50 anos”. A população da ilha, segundo frei José, “mora em cerca de 4 mil mocambos e é formada por operários, pequenos funcionários e lavadeiras”. Os mais antigos “chegaram quando o local ainda era um viveiro de peixes e foram conquistando o mangue com a força do trabalho, carregando terra em latas. Das palafitas para os aterros, foi sendo formada a ilha”. Os moradores estão elaborando um abaixo-assinado ao Presidente Geisel, reivindicando o direito de aforamento." ( ESP - 3-8-77 ).[1]
Mas a luta tinha de ser mesmo era pela posse da terra.
2.
[1] Tempo e Presença, Centro Ecumênico de Informação ( CEI), Rio de Janeiro, agosto de 1977, N° 129, p. 10.
A revista Tempo e Presença do “Centro Ecumênico de Informação” (CEI), sediado no Rio de Janeiro, publicava em agosto de 1977, uma nota que resume todo sofrimento e toda esperança daquele povo:
AMEAÇA DE EXPULSÃO NO RECIFE
"Vinte mil moradores da Ilha de Joaneiro, aglomerado pobre de um bairro de Recife, segundo frei José Milton Coelho, pároco do bairro, estão ameaçados de remoção, não só por causa das inundações periódicas do rio Capibaribe, como principalmente por especuladores imobiliários que “não se preocupam com os moradores que lá vivem há cerca de 30, 40 e até 50 anos”. A população da ilha, segundo frei José, “mora em cerca de 4 mil mocambos e é formada por operários, pequenos funcionários e lavadeiras”. Os mais antigos “chegaram quando o local ainda era um viveiro de peixes e foram conquistando o mangue com a força do trabalho, carregando terra em latas. Das palafitas para os aterros, foi sendo formada a ilha”. Os moradores estão elaborando um abaixo-assinado ao Presidente Geisel, reivindicando o direito de aforamento." ( ESP - 3-8-77 ).[1]
Mas a luta tinha de ser mesmo era pela posse da terra.
2.
[1] Tempo e Presença, Centro Ecumênico de Informação ( CEI), Rio de Janeiro, agosto de 1977, N° 129, p. 10.
O INTERDITO PROIBITÓRIO
O Meritíssimo Dr. José Foerster, então Juiz da Primeira Vara dos Feitos da Fazenda Estadual ao conceder, no dia 16 de abril de 1979,[1] em Liminar, o “Interdito Proibitório”, impetrado, a 19 de junho 1978, contra o Estado de Pernambuco, o “Serviço Social Agamenon Magalhães” e a COHAB-PE pelos advogados Dr. Eduardo Chaves Pandolfi e Dra. Maria de Fátima de Figueiredo Lemos [2], em nome dos moradores da Ilha de Joaneiro, em vista do Decreto n° 4.560, de 22 de junho de 1977, do Governador Francisco de Moura Cavalcanti, que declarava de “utilidade pública” a área “para fins de desapropriação”. [3]
A concessão da Liminar foi nestes termos:
“Assim, EXCLUÍDA a área onde a COHAB-PE construiu a sua sede, indenizando os seus ocupantes, conforme comprovação nos autos, CONCEDO aos autores, moradores das referidas ruas, cujas casas e casebres são designados na inicial, inclusive com indicação numérica, para que os Réus: ESTADO E PERNAMBUCO, SERVIÇO SOCIAL AGAMENON MAGALHÃES e COHAB-PE se abstenham de ameaças e violências contra os mesmos e suas respectivas posses através de seus prepostos, sob pena, cada um, da multa diária de Cr$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros), até que se encontre uma solução JUSTA, PACÍFICA e HUMANA para os postulantes, e ao invés de resolver-se um problema social, não se crie outro de maiores proporções. Expeçam-se os competentes
MANDADOS PROIBITÓRIOS.
Recife, 16 de abril de 1979.
JOSÉ FOERSTER
Juiz de Direito da Primeira Vara da Fazenda Estadual.” [4]
[1] Apud Diario de Pernambuco; Recife, edição de 18 de abril de 1979, p. A-10.
[2] Apud Diario de Pernambuco; edição de 3 de março de 1978, p. A-5; apud Jornal do Commercio, Recife, edição de 20 de junho de 1978, Caderno 1, pp. 1 e 12; Diario de Pernambuco, Recife, edição de 20 de junho de 1978, p. A-5.
[3] Cf. Estado de Pernambuco - Diário Oficial, edição de 23 de junho de 1977, n° 117, p. 02: “Poder Executivo - Decreto n° 4560 de 22 de junho de 1977”; Cf. Arquivo Paroquial de Campo Grande, Recife, I Livro de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Parto, junho de 1977, junho de 1978, abril de 1879. Cf. Diario de Pernambuco , Recife, edição de 20 de janeiro de 1978, p. A-7; e edição de 20 de junho de 1978, p. A-5; Jornal do Commercio, Recife, edição de 20 de junho de 1978, Caderno 1, p. 12.
[4] Cf. no “Forum Paula Batista, Rua do Imperador, Bairro S. Antônio, Recife: no Juízo de Direito da Fazenda Estadual, 3° Ofício, Processo N° 1.055, Volumes I, II e III. As citações aqui estampadas são das fls. 23 e 24 do despacho do Juiz Dr. José Foerster, no Volume III, do aludido processo.
A concessão da Liminar foi nestes termos:
“Assim, EXCLUÍDA a área onde a COHAB-PE construiu a sua sede, indenizando os seus ocupantes, conforme comprovação nos autos, CONCEDO aos autores, moradores das referidas ruas, cujas casas e casebres são designados na inicial, inclusive com indicação numérica, para que os Réus: ESTADO E PERNAMBUCO, SERVIÇO SOCIAL AGAMENON MAGALHÃES e COHAB-PE se abstenham de ameaças e violências contra os mesmos e suas respectivas posses através de seus prepostos, sob pena, cada um, da multa diária de Cr$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros), até que se encontre uma solução JUSTA, PACÍFICA e HUMANA para os postulantes, e ao invés de resolver-se um problema social, não se crie outro de maiores proporções. Expeçam-se os competentes
MANDADOS PROIBITÓRIOS.
Recife, 16 de abril de 1979.
JOSÉ FOERSTER
Juiz de Direito da Primeira Vara da Fazenda Estadual.” [4]
[1] Apud Diario de Pernambuco; Recife, edição de 18 de abril de 1979, p. A-10.
[2] Apud Diario de Pernambuco; edição de 3 de março de 1978, p. A-5; apud Jornal do Commercio, Recife, edição de 20 de junho de 1978, Caderno 1, pp. 1 e 12; Diario de Pernambuco, Recife, edição de 20 de junho de 1978, p. A-5.
[3] Cf. Estado de Pernambuco - Diário Oficial, edição de 23 de junho de 1977, n° 117, p. 02: “Poder Executivo - Decreto n° 4560 de 22 de junho de 1977”; Cf. Arquivo Paroquial de Campo Grande, Recife, I Livro de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Parto, junho de 1977, junho de 1978, abril de 1879. Cf. Diario de Pernambuco , Recife, edição de 20 de janeiro de 1978, p. A-7; e edição de 20 de junho de 1978, p. A-5; Jornal do Commercio, Recife, edição de 20 de junho de 1978, Caderno 1, p. 12.
[4] Cf. no “Forum Paula Batista, Rua do Imperador, Bairro S. Antônio, Recife: no Juízo de Direito da Fazenda Estadual, 3° Ofício, Processo N° 1.055, Volumes I, II e III. As citações aqui estampadas são das fls. 23 e 24 do despacho do Juiz Dr. José Foerster, no Volume III, do aludido processo.
Vale explicar que o terreno onde se ergueu a sede da Secretaria de Habitação, ficou fora do Interdito porque os que lá moravam não acreditaram na possibilidade de um dia vir a ser seus donos e, pressionados pelos agentes do Governo, concordaram com as indenizações.
O “Interdito Proibitório” foi concedido não em simples liminar de cautelar, mas em liminar em ação especial ou, com outras palavras, liminar antecipatória, equivalente, - se bem interpreto - à manutenção de posse. E nunca foi revogada.
Por aí se vê o senso de justiça radical de que era dotado aquele grande magistrado, o qual Pernambuco um dia ainda haverá de reconhecer como um dos seus mais ilustres filhos. De formação católica, foi coerente com a sua fé, ao reconhecer o direito dos pequenos esmagados pela prepotência do Estado. O Dr. José Foerster faleceu repentinamente em sua fazenda, em Sanharó / PE, a 29 de janeiro de 1984, como me informou sua esposa e ex-aluna a Ex.ma Sr.a Prof.a D. Valdete Sobreira Foerster.
O “Interdito Proibitório” foi concedido não em simples liminar de cautelar, mas em liminar em ação especial ou, com outras palavras, liminar antecipatória, equivalente, - se bem interpreto - à manutenção de posse. E nunca foi revogada.
Por aí se vê o senso de justiça radical de que era dotado aquele grande magistrado, o qual Pernambuco um dia ainda haverá de reconhecer como um dos seus mais ilustres filhos. De formação católica, foi coerente com a sua fé, ao reconhecer o direito dos pequenos esmagados pela prepotência do Estado. O Dr. José Foerster faleceu repentinamente em sua fazenda, em Sanharó / PE, a 29 de janeiro de 1984, como me informou sua esposa e ex-aluna a Ex.ma Sr.a Prof.a D. Valdete Sobreira Foerster.
Fr. José Milton de Azevedo Coelho, OFM, com as lideranças da Ilha de Joaneiro; sentada, a seu lado, a Irmã Célia, Missionária de Jesus Crucificado (1977), na sede do “Vulcão”:
O “PROJETO PONTE DO MADURO”
O Governdor Miguel Arraes e o Deputado edro Eurico inspecionam o Projeto Ponte do Maduro
Justiça seja feita ao Governador Marco Antônio Maciel que, ao assumir a chefia do Estado, optou pela solução politico-administrativa para o problema da Ilha, abandonando a batalha judicial em que o Governo não poderia sair-se bem. Isto foi assunto de breve conversa entre ele e Vigário de Campo Grande, quando o Governador aguardava a hora da missa que costumava assistir na igreja do Convento de Santo Antônio. Manifestou o desejo de encontrar-se com os representantes da comunidade em questão. Foi marcada uma reunião em Palácio da qual resultou a proposta de um plano habitacional que beneficiaria não só a Ilha de Joaneiro, mas também a do Chié, em Campo Grande e a de Santa Teresinha e outras de Santo Amaro. O Governador estava também agindo em coerência com o seu plano de “Administração Participativa”. [1]
Frei Beda na Paraiba dá apoio a Frei Anastácio na luta pelos direitos do homem dom campo
O Informativo “Habitação”, órgão da COHAB-PE, em seu numero de fevereiro de 1981, já podia publicar reportagem sobre a festa da entrega ao Secretário de Habitação José Jorge, pelos moradores das áreas a serem beneficiadas, do “Projeto Ponte do Maduro”, montado pela equipe técnica do “Centro de Pesquisa e Ação Social” do Dr. Aécio Gomes de Matos, contratado pelo Estado, após licitação, com a colaboração dos moradores, trabalho realizado dentro do melhor espírito democrático. “A elaboração desse tipo de trabalho é caracterizada pela sistemática de deixar a cargo das próprias comunidades a identificação e prioridades das suas reivindicações”. [2] Somente em maio de 1982 a Secretaria comunicava o início das obras , dizendo que “o programa já tem assegurado 280 milhões de cruzeiros”, a serem gastos na sua execução”.[3] Mas só no dia 11 de abril de 1984 é que foi feita a entrega do projeto para análise e aprovação do BNH. Isto se deu em sessão magna no auditório da Secretaria de Habitação, ocasião em que, conforme a Imprensa noticiou, foram distribuídas a 298 famílias um total de 135 milhões de Cruzeiros - parcelas do “Promorar” - para reformas em suas residências. [4]
A transferência de terras da União para o Estado aconteceu a 21 de setembro daquele ano, conforma noticiaram os Meios de Comunicação Social, quando o governador Roberto Magalhães assinou solenemente a documentação do repasse diante dos representantes das áreas a serem contempladas com o Projeto “Ponte do Maduro”. O Diario de Pernambuco publicava no dia seguinte:
FAVELADOS RECEBEM TÍTULOS DE TERRA
A partir de hoje, homens, mulheres e crianças que vivem em áreas de favelas, nas proximidades do edifício sede da Companhia de Habitação Popular do Estado de Pernambuco (Cohab-PE) chamadas Ilha de Joaneiro, Chié, Ilha de Santa Teresinha e Santo Amaro, podem estar certos de que ninguém os expulsará de suas casas”, disse o governador Roberto Magalhães, ontem, durante assinatura de transferência de terras da União para o Governo do Estado.
O objetivo final dessa transação é o repasse dessas terras pela Cohab-PE para os que residem ali, dando a todos os moradores os títulos de posse das propriedades. A Secretaria de Habitação fará o ordenamento dos lotes, obras de drenagem e urbanização numa área de 400 mil metros quadrados, beneficiando cerca de oito mil famílias, que logo após receberão totalmente legalizados seus títulos de propriedade.
Melhorias - Existe ainda um projeto dependente de aprovação do Banco Nacional de Habitação (BNH), de empréstimos aos moradores para realizarem melhorias em suas casas.
O governador do Estado informou que na Ilha de Joaneiro, onde alguns moradores já obtiveram recursos, os trabalhos de urbanização e de reformas de casas já alcançaram excelentes resultados. Ele disse que seu Governo tem um compromisso solene e irrevogável com o povo pernambucano, sobretudo com a população mais carente.
Na ocasião o secretário Admaldo Matos de Assis, de Habitação, falou sobre as atividades desenvolvidas por órgãos habitacionais de Pernambuco, nos últimos 18 meses [...]. Admaldo Matos lembrou ainda que o Projeto Ponte do Maduro [...] é de caráter prioritário e afirmou que a concessão de terras da União é um passo vital para a manutenção das famílias na área que ocupam há muitos anos. Em seguida assinaram os atos de transferência o gerente regional do BNH em Pernambuco, Dourival Carvalho; o delegado do Serviço do Patrimônio da União, Napoleão Ivo, e o secretário Admaldo Matos, na presença de outras autoridades e de moradores das áreas beneficiadas com a doação. ( Grifos nossos ). [5]
[1] Cf. “Institucionalização da Administração Participativa - Texto parcial do documento produzido pela equipe do Governador Marco Antônio Maciel, Recife, 1979.
[2] Cf. Habitação, Ano VI - N° 5, Recife/PE, fevereiro / 81, pp. 1 e 8.
[3] Cf. Diario de Pernambuco, 8 de maio de 1982, p. A-10.
[4] Cf. Diario de Pernambuco, 12 de abril de 1984, a reportagem: “Projeto beneficia famílias carentes”.
[5] Diario de Pernambuco, sábado, 22 de setembro de 1984.
A transferência de terras da União para o Estado aconteceu a 21 de setembro daquele ano, conforma noticiaram os Meios de Comunicação Social, quando o governador Roberto Magalhães assinou solenemente a documentação do repasse diante dos representantes das áreas a serem contempladas com o Projeto “Ponte do Maduro”. O Diario de Pernambuco publicava no dia seguinte:
FAVELADOS RECEBEM TÍTULOS DE TERRA
A partir de hoje, homens, mulheres e crianças que vivem em áreas de favelas, nas proximidades do edifício sede da Companhia de Habitação Popular do Estado de Pernambuco (Cohab-PE) chamadas Ilha de Joaneiro, Chié, Ilha de Santa Teresinha e Santo Amaro, podem estar certos de que ninguém os expulsará de suas casas”, disse o governador Roberto Magalhães, ontem, durante assinatura de transferência de terras da União para o Governo do Estado.
O objetivo final dessa transação é o repasse dessas terras pela Cohab-PE para os que residem ali, dando a todos os moradores os títulos de posse das propriedades. A Secretaria de Habitação fará o ordenamento dos lotes, obras de drenagem e urbanização numa área de 400 mil metros quadrados, beneficiando cerca de oito mil famílias, que logo após receberão totalmente legalizados seus títulos de propriedade.
Melhorias - Existe ainda um projeto dependente de aprovação do Banco Nacional de Habitação (BNH), de empréstimos aos moradores para realizarem melhorias em suas casas.
O governador do Estado informou que na Ilha de Joaneiro, onde alguns moradores já obtiveram recursos, os trabalhos de urbanização e de reformas de casas já alcançaram excelentes resultados. Ele disse que seu Governo tem um compromisso solene e irrevogável com o povo pernambucano, sobretudo com a população mais carente.
Na ocasião o secretário Admaldo Matos de Assis, de Habitação, falou sobre as atividades desenvolvidas por órgãos habitacionais de Pernambuco, nos últimos 18 meses [...]. Admaldo Matos lembrou ainda que o Projeto Ponte do Maduro [...] é de caráter prioritário e afirmou que a concessão de terras da União é um passo vital para a manutenção das famílias na área que ocupam há muitos anos. Em seguida assinaram os atos de transferência o gerente regional do BNH em Pernambuco, Dourival Carvalho; o delegado do Serviço do Patrimônio da União, Napoleão Ivo, e o secretário Admaldo Matos, na presença de outras autoridades e de moradores das áreas beneficiadas com a doação. ( Grifos nossos ). [5]
[1] Cf. “Institucionalização da Administração Participativa - Texto parcial do documento produzido pela equipe do Governador Marco Antônio Maciel, Recife, 1979.
[2] Cf. Habitação, Ano VI - N° 5, Recife/PE, fevereiro / 81, pp. 1 e 8.
[3] Cf. Diario de Pernambuco, 8 de maio de 1982, p. A-10.
[4] Cf. Diario de Pernambuco, 12 de abril de 1984, a reportagem: “Projeto beneficia famílias carentes”.
[5] Diario de Pernambuco, sábado, 22 de setembro de 1984.
Moradores da Ilha de Joaneiro, Chié, Santa Teresinha e Santo Amaro, fazem entrega ao Secretário de Habitação José Jorge do projeto "Madurinho", que prevê ações em favor de 6.000 famílias (cerca de 30 mil pessoas). O investimento previsto pelo Governo através da Secretaria de Habitação com financiamento do BNH é da ordem de 685 milhoes de Cruzeiros. O Governador Marco Maciel se empenhará pela efetivação do Projeto.
As primeiras casinhas do Projeto “Ponte do Maduro” foram construídas pela paróquia de Nossa Senhora do Bom Parto com recursos da “Aktionskreis Pater Beda” e mão-de-obra de voluntários da Ilha. Os primeiros beneficiados foram doentes que viviam em extrema pobreza e passaram a ser os donos das novas casas em alvenaria. Várias famílias começaram a fazer os consertos de suas moradias com empréstimos (sem juros nem correção monetária) liberados pela Paróquia, graças as ajudas enviadas da Alemanha por Fr. Beda. Não esperamos pelas vias burocráticas. Urgia darmos o exemplo de ação imediata e ajudar os tímidos a criarem coragem.
A preocupação em edificar a Igreja de “pedras vivas” levava os Padres a deixarem para depois as igrejas em alvenaria. Mais tarde foram percebendo ser tão absurdo Igreja sem igrejas, quanto igrejas sem Igreja.
Os Deputados de então, Roberto Freire e Manoel Gilberto, levaram à Assembléia Legislativa o problema da marginalização do povo da Ilha de Joaneiro e protestaram contra a violência policial que custava milhões ao Govêno Moura Cavalcanti. Quanto à desapropriação da área que motivou a ação do povo contra o Estado, um deles assim se expressou: O Governador foi de encontro até aos tecnocratas, pois ao aprovar o processo de desapropriação da Ilha de Janeiro, chocou-se com a orientação da FIDEM.[1](Grifo do autor).
Bem informados se achavam os deputados pernambucanos sobre as prioridades do “Plano de Desenvolvimento Integrado” (PDI) da Região Metropolitana do Recife (RMR) até o ano 2 000.
O Vigário de Campo Grande já havia consultado o grosso volume que se encontrava na sede da FIDEM, no Edifício do Círculo Católico, à Rua Riachuelo, graças a colaboração que lhe proporcionou o ex-confrade Dr. Dário Mendes da Rocha, então da cúpula da FIDEM, hoje Desembargador aposentado. Foi na sede daquele órgão que o Vigário tomou conhecimento do PIP (Programação de Investimentos Públicos) para os anos de 1981 a 1983 para consolidar a programação dos diversos órgãos executores (URB, DNER, Prefeituras, etc.) da Região Metropolitana do Recife. Ficou sabendo que, a partir daquele documento, se procurava viabilizar as ações que nele estão previstas, os seus financiamentos, etc. Tomou conhecimento, “grosso modo”, dos recursos orçamentários do Estado, dos recursos a Fundo Perdido, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano (FUDU), do fundo gerenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano (ENDU), de recursos gerados pela Empresa Brsileira de Transportes Urbanos (EBTU), recursos estes passados por aqueles órgãos à FIDEM, a fundo perdido. E os recursos de outras fontes: do Banco Nacional de Habitação ( BNH ), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD).
Despertou o máximo interesse do Vigário de Campo Grande o “Projeto FNDU - 02/80”, na sua “Parte I : Habitação e Urbanismo”. Aí, o “Projeto / Ação 1: Adequação da Estrutura Urbana dos Assentamentos Sub-Normais”, que apresentava, sob a numeração 1.1: Legitimação da posse da terra, a que se destinavam orçamentariamente recursos na ordem de 160 milhões.
Outra amostra que mereceu atenção especial do Vigário de Nossa Senhora do Bom Parto foi o que se referia, na Parte II, ao Saneamento Ambiental : o Projeto / Ação 5: Melhoria das Condições Ambientais. Isto tocava muito de perto aos bairros de Campo Grande e de Santo Amaro. Lia-se na alínea 5.1: Projeto de Melhoria das Condições Ambientais dos Núcleos Sub-Normais e Alagados. Para esse projeto, destinava-se, no cronograma do Convênio FNDU - 002 / 80, a quantia de 10 milhões.
Valeu, aquela visita, como uma verdadeira aula de cidadania. E o vigário se perguntava: Será que a Arquidiocese de Olinda e Recife está sabendo destas coisas? Se está, por que ainda não existe uma comissão dedicando-se ao estudo do “Plano de Desenvolvimento Integrado” (PDI) da Região Metropolitano do Recife? Será que ainda não perceberam que a especulação imobiliária, as remoções, a super-valorização do solo urbano, as ocupações aparentemente “legítimas” de terrenos, que tudo isso tem a sua fonte no conhecimento do que se projeta, em termos governamentais, para as áreas que hoje estão em conflito? Que esse Plano de Desenvolvimento vem sendo executado quase que matematicamente dentro do cronograma estatal? Que, por exemplo, a construção do Terminal Rodoviário do Curado, tão longe do Centro do Recife, está relacionada à transferência do Centro Administrativo para as proximidades de São Lourenço da Mata? Isto já estava previsto no PDI. Na época em que visitei a FIDEM, já estavam sendo feitas desapropriações em vista da descentralização do Centro Administrativo. Por que será que a Igreja chegou tão tarde, na maioria das vilas da COHAB, a ponto de ter dificuldades em encontrar um lugar para construir um templo?
Os Deputados de então, Roberto Freire e Manoel Gilberto, levaram à Assembléia Legislativa o problema da marginalização do povo da Ilha de Joaneiro e protestaram contra a violência policial que custava milhões ao Govêno Moura Cavalcanti. Quanto à desapropriação da área que motivou a ação do povo contra o Estado, um deles assim se expressou: O Governador foi de encontro até aos tecnocratas, pois ao aprovar o processo de desapropriação da Ilha de Janeiro, chocou-se com a orientação da FIDEM.[1](Grifo do autor).
Bem informados se achavam os deputados pernambucanos sobre as prioridades do “Plano de Desenvolvimento Integrado” (PDI) da Região Metropolitana do Recife (RMR) até o ano 2 000.
O Vigário de Campo Grande já havia consultado o grosso volume que se encontrava na sede da FIDEM, no Edifício do Círculo Católico, à Rua Riachuelo, graças a colaboração que lhe proporcionou o ex-confrade Dr. Dário Mendes da Rocha, então da cúpula da FIDEM, hoje Desembargador aposentado. Foi na sede daquele órgão que o Vigário tomou conhecimento do PIP (Programação de Investimentos Públicos) para os anos de 1981 a 1983 para consolidar a programação dos diversos órgãos executores (URB, DNER, Prefeituras, etc.) da Região Metropolitana do Recife. Ficou sabendo que, a partir daquele documento, se procurava viabilizar as ações que nele estão previstas, os seus financiamentos, etc. Tomou conhecimento, “grosso modo”, dos recursos orçamentários do Estado, dos recursos a Fundo Perdido, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano (FUDU), do fundo gerenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano (ENDU), de recursos gerados pela Empresa Brsileira de Transportes Urbanos (EBTU), recursos estes passados por aqueles órgãos à FIDEM, a fundo perdido. E os recursos de outras fontes: do Banco Nacional de Habitação ( BNH ), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD).
Despertou o máximo interesse do Vigário de Campo Grande o “Projeto FNDU - 02/80”, na sua “Parte I : Habitação e Urbanismo”. Aí, o “Projeto / Ação 1: Adequação da Estrutura Urbana dos Assentamentos Sub-Normais”, que apresentava, sob a numeração 1.1: Legitimação da posse da terra, a que se destinavam orçamentariamente recursos na ordem de 160 milhões.
Outra amostra que mereceu atenção especial do Vigário de Nossa Senhora do Bom Parto foi o que se referia, na Parte II, ao Saneamento Ambiental : o Projeto / Ação 5: Melhoria das Condições Ambientais. Isto tocava muito de perto aos bairros de Campo Grande e de Santo Amaro. Lia-se na alínea 5.1: Projeto de Melhoria das Condições Ambientais dos Núcleos Sub-Normais e Alagados. Para esse projeto, destinava-se, no cronograma do Convênio FNDU - 002 / 80, a quantia de 10 milhões.
Valeu, aquela visita, como uma verdadeira aula de cidadania. E o vigário se perguntava: Será que a Arquidiocese de Olinda e Recife está sabendo destas coisas? Se está, por que ainda não existe uma comissão dedicando-se ao estudo do “Plano de Desenvolvimento Integrado” (PDI) da Região Metropolitano do Recife? Será que ainda não perceberam que a especulação imobiliária, as remoções, a super-valorização do solo urbano, as ocupações aparentemente “legítimas” de terrenos, que tudo isso tem a sua fonte no conhecimento do que se projeta, em termos governamentais, para as áreas que hoje estão em conflito? Que esse Plano de Desenvolvimento vem sendo executado quase que matematicamente dentro do cronograma estatal? Que, por exemplo, a construção do Terminal Rodoviário do Curado, tão longe do Centro do Recife, está relacionada à transferência do Centro Administrativo para as proximidades de São Lourenço da Mata? Isto já estava previsto no PDI. Na época em que visitei a FIDEM, já estavam sendo feitas desapropriações em vista da descentralização do Centro Administrativo. Por que será que a Igreja chegou tão tarde, na maioria das vilas da COHAB, a ponto de ter dificuldades em encontrar um lugar para construir um templo?
Quando chegou à Paróquia de Campo Grande como Vigário, em 1976, tratou logo de restaurar os Centros fundados pelo Padre Gilberto Carneiro Leão, todos eles bastante prejudicados pelas últimas cheias. Ao tomar conhecimento, na FIDEM, do que acima vem exposto, cuideou de levantar na Saramandaia o Centro S. José em local que ficasse à margem da futura avenida que mais cedo ou mais tarde haveria de acompanhar o Canal do Arruda. Dirigiu ofício ao Dr. Laudo Bernardes, Superintendente da FIDEM, solicitando ortofotocartas de todo o território da Paróquia, para ter em mãos um instrumento de trabalho que poderia ajudar bastante na identificação das áreas ditas sub-normais. De fato, foram úteis ao levantamento que se levpou a efeito quando da Assembléia Arquidiocesana de 1982.
[1] Diario de Pernambuco, Recife, 8-3-1978, A-3.
Muitos conflitos também teriam sido resolvidos nas áreas de remoção sem tanto desgaste, se padres e agentes pastorais, estivessem adrede preparados por um conhecimento sério do PDI. Não se pode prescindir da participação das Universidades nesse processo, criando-se uma parceria saudável aos envolvidos e altamente pedagógica para toda a comunidade.
Foi por este motivo – e com esta preocupação – que o autor de Frei Casimiro, o Apóstolo dos Mocambos decidiu incluir, no trabalho sobre a Obra Missionária e Social de Frei Casimiro Brochtrup, o Capítulo: UM SONHO DE FREI CASIMIRO SE TORNA REALIDADE.
Frei Casimiro "não o viu concretizado, mas mediante toda a sua atividade missionária-social, lançou as pequeninas sementes que, aqui e ali, medraram e deram frutos. O seu amor à causa dos pequenos e excluídos foi incentivo para que outros lutassem (como ele lutou) pelos menos afortunados. De fato: outros o seguiram”... (Do jornalista e poeta Marcelino Cantalice, em correspondência ao Autor).
Foi por este motivo – e com esta preocupação – que o autor de Frei Casimiro, o Apóstolo dos Mocambos decidiu incluir, no trabalho sobre a Obra Missionária e Social de Frei Casimiro Brochtrup, o Capítulo: UM SONHO DE FREI CASIMIRO SE TORNA REALIDADE.
Frei Casimiro "não o viu concretizado, mas mediante toda a sua atividade missionária-social, lançou as pequeninas sementes que, aqui e ali, medraram e deram frutos. O seu amor à causa dos pequenos e excluídos foi incentivo para que outros lutassem (como ele lutou) pelos menos afortunados. De fato: outros o seguiram”... (Do jornalista e poeta Marcelino Cantalice, em correspondência ao Autor).
EPÍLOGO
Os Apóstolos dos Pobres do Recife, ao tempo de Frei Casimiro, são, por admirável coincidência, tão unânimes nos objetivos e até nos métodos ‑ substancialmente idênticos que parecem ter saído de uma mesma escola. Os quatro fizeram sua opção preferencial petos pobres numa época em que prevalecia a caridade entendida como gesto de dar alguma coisa ‑ esmola ‑ aos mais carentes, embora os Congressos Católicos, a Ação Católica e os Círculos Operários propusessem a linha de ação não assistencialista, de acordo com as Encíclicas sociais dos últimos Papas. Padre Machado, Padre Venâncio, Padre Costa Carvalho, Padre Guedes e Frei Casimiro intentam verdadeira promoção humana no sentido mais moderno da expressão consagrada após o Vaticano II: "do homem todo e de todos os homens". Tornam‑se pobres com os pobres.
Frei Casimiro vai ainda mais longe: converte‑se ao lugar social dos marginalizados!
Até certo ponto, já tentam "trabalhar com os pobres e não para os pobres".
Sem querer absolutizar minha opinião, ouso dizer que são tanto mais modernos neste propósito, quanto mais assimilaram o ideal rocio‑religioso do líder católico do Recife, Dr. Carlos Alberto de Menezes, inspirado nos princípios da Rerum Novarum.
Como Simão Pedro, no Mar da Galiléia, Fr. Casimiro não trabalhava, sozinho, na pescaria do Senhor. Sabia dos companheiros da outra barca. Como bom franciscano, conhecia ele o epíteto que já fora dado à sua Ordem de "Segunda Barca".
Ainda mais que, nas águas do Senhor, conforme Merton, " homem algum é uma ilha."
Seria muito interessante estudar o que tinham em comum os homens de seus que atuaram no Recife mais ou menos na mesma época, como Padre Machado, Padre Venâncio, Fr. Casimiro, Padre Costa Carvalho, Côn. Sidrônio Vanderley e Padre Guedes‑ só para citar alguns ‑, e o que lhes era mais peculiar no seu modo de ser e agir, uma vez que trabalhavam para o mesmo fim, com métodos diferentes, é verdade, mas imbuídos da mesma vontade de salvar.
Não podíamos tratar de Fr. Casimiro, sem dizer o que ele devia ao seu tempo, ao seu meio. Ao correr da pena (ou do teclado), tecemos também várias considerações sobre outros apóstolos dos pobres do Recife. Falamos de algumas de suas realizações. Mas seria fora de propósito nos determos ainda, mesmo que em largas pinceladas, naqueles santos homens, mais ou menos contemporâneos do Missionário Franciscano. Cada um deles está a merecer estudiosos que, a partir do que já se escreveu, nos ofereçam obras mais apreciativas que biográficas, em torno desses heróis do ministério sacerdotal na Igreja de Olinda e Recife.
Foi mais um, ao lado do Pe. Machado e do Pe. Venâncio, aos quais veio juntar‑se, mais tarde, o Padre Jose Ayrton Guedes, a fazer uma opção pelos pobres de nossas periferias menos geográficas que sociais, mostrando que, em cada época, a Igreja de Cristo tem os santos que ela merece. Pe. Machado, que se apresentava como o homem dos 3 Pês ‑ Padre, Preto e Pobre ‑ cuidando das crianças e das prostitutas do bairro do Recife velho, junto ao Forte do Brum; Pe. Venâncio, entre os pobres dos Coelhos e da Ilha do Leite e já tendo iniciado, próximo ao Cais José Mariano, a sonhada "Universidade do Povo" para a classe operária; Fr. Casimiro, entre os operários dos mocambos de Santo Amaro e Campo Grande; Pe. Guedes, no meio da população carente dos Peixinhos (Olinda), obra que ainda hoje dirige com seus 95 anos de idade!' Cada um com o seu carisma. Em muitas coisas, igualzinhos. Em outras, bem diferentes. Numa coisa estiveram, em perfeita sintonia: no amor a Jesus Cristo presente nos pobres e no seguimento do Cristo pobre e servidor de todos.
Os Apóstolos dos Pobres do Recife, ao tempo de Frei Casimiro, são, por admirável coincidência, tão unânimes nos objetivos e até nos métodos ‑ substancialmente idênticos que parecem ter saído de uma mesma escola. Os quatro fizeram sua opção preferencial petos pobres numa época em que prevalecia a caridade entendida como gesto de dar alguma coisa ‑ esmola ‑ aos mais carentes, embora os Congressos Católicos, a Ação Católica e os Círculos Operários propusessem a linha de ação não assistencialista, de acordo com as Encíclicas sociais dos últimos Papas. Padre Machado, Padre Venâncio, Padre Costa Carvalho, Padre Guedes e Frei Casimiro intentam verdadeira promoção humana no sentido mais moderno da expressão consagrada após o Vaticano II: "do homem todo e de todos os homens". Tornam‑se pobres com os pobres.
Frei Casimiro vai ainda mais longe: converte‑se ao lugar social dos marginalizados!
Até certo ponto, já tentam "trabalhar com os pobres e não para os pobres".
Sem querer absolutizar minha opinião, ouso dizer que são tanto mais modernos neste propósito, quanto mais assimilaram o ideal rocio‑religioso do líder católico do Recife, Dr. Carlos Alberto de Menezes, inspirado nos princípios da Rerum Novarum.
Como Simão Pedro, no Mar da Galiléia, Fr. Casimiro não trabalhava, sozinho, na pescaria do Senhor. Sabia dos companheiros da outra barca. Como bom franciscano, conhecia ele o epíteto que já fora dado à sua Ordem de "Segunda Barca".
Ainda mais que, nas águas do Senhor, conforme Merton, " homem algum é uma ilha."
Seria muito interessante estudar o que tinham em comum os homens de seus que atuaram no Recife mais ou menos na mesma época, como Padre Machado, Padre Venâncio, Fr. Casimiro, Padre Costa Carvalho, Côn. Sidrônio Vanderley e Padre Guedes‑ só para citar alguns ‑, e o que lhes era mais peculiar no seu modo de ser e agir, uma vez que trabalhavam para o mesmo fim, com métodos diferentes, é verdade, mas imbuídos da mesma vontade de salvar.
Não podíamos tratar de Fr. Casimiro, sem dizer o que ele devia ao seu tempo, ao seu meio. Ao correr da pena (ou do teclado), tecemos também várias considerações sobre outros apóstolos dos pobres do Recife. Falamos de algumas de suas realizações. Mas seria fora de propósito nos determos ainda, mesmo que em largas pinceladas, naqueles santos homens, mais ou menos contemporâneos do Missionário Franciscano. Cada um deles está a merecer estudiosos que, a partir do que já se escreveu, nos ofereçam obras mais apreciativas que biográficas, em torno desses heróis do ministério sacerdotal na Igreja de Olinda e Recife.
Foi mais um, ao lado do Pe. Machado e do Pe. Venâncio, aos quais veio juntar‑se, mais tarde, o Padre Jose Ayrton Guedes, a fazer uma opção pelos pobres de nossas periferias menos geográficas que sociais, mostrando que, em cada época, a Igreja de Cristo tem os santos que ela merece. Pe. Machado, que se apresentava como o homem dos 3 Pês ‑ Padre, Preto e Pobre ‑ cuidando das crianças e das prostitutas do bairro do Recife velho, junto ao Forte do Brum; Pe. Venâncio, entre os pobres dos Coelhos e da Ilha do Leite e já tendo iniciado, próximo ao Cais José Mariano, a sonhada "Universidade do Povo" para a classe operária; Fr. Casimiro, entre os operários dos mocambos de Santo Amaro e Campo Grande; Pe. Guedes, no meio da população carente dos Peixinhos (Olinda), obra que ainda hoje dirige com seus 95 anos de idade!' Cada um com o seu carisma. Em muitas coisas, igualzinhos. Em outras, bem diferentes. Numa coisa estiveram, em perfeita sintonia: no amor a Jesus Cristo presente nos pobres e no seguimento do Cristo pobre e servidor de todos.
Frei Casimiro de Assis hoje no mundo Espiritual trabalha na cura de diversos doentes do plano físico na corrente conhecida no Espiritualismo como Simirombas. É uma corrente Crística voltada para cura. Logo será divulgada por essa corrente sua oração para aqueles que dentro do seu merecimento necessitem da cura do mau que lhes aflige.
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