Manuscrito com letra de de Frei Cosme de S. Damião: Petição dirigida ao Governo da Província, renunciando ao direto de participar ativamente do Capítulo de 1657
Já postamos, ao tratar da Guerra Holandesa, a dramática retirada dos nossos, de Sirinhaém para Alagoa do Sul, chefiados Por Frei Cosme de São Damião.
M. de Oliveira Lima diz como Matias de Albuquerque e sua gente prosseguiu a retirada para Alagoa do Sul, após destruir as fortificações de Porto Calvo:
“[...] o animoso chefe pernambucano continuou a sua sombria retirada com um punhado de soldados fatigados e descoroçoados e os incansáveis auxiliares de Camarão e Henrique Dias, ele próprio exausto de uma guerra cotidiana e que durava havia cinco anos. Na sua vanguarda, levava sete a oito mil pernambucanos que fugiam ao domínio estrangeiro, deixando propriedades, amigos, a quietação do lar e os suaves eflúvios do solo natal. Passaram todos torturas no doloroso caminhar do exílio, por entre as florestas densas, sob as chuvas torrenciais da estação, tendo que cruzar rios caudalosos; foram inúmeras as horas de fome, as horas de desalento, as horas de medo, enquanto lhes ia no encalço Artichofski com seus soldados bêbados de glória, farejando o roubo dos carros que comboiava Matias. O oficial polaco parou todavia em Peripueira, onde levantou uma fortaleza.
Entretanto os pernambucanos acoutavam-se na Alagoa do Sul esperando aí o tão falado auxílio da Espanha, que chegou afinal sob a forma de mil e setecentos soldados castelhanos e doze canhões, vindos numa esquadra que trazia a bordo o novo Governador Geral do Brasil D. Pedro da Silva. O reforço era comandado por D. Luiz de Rojas e Borja, das nobres casa ducais de Gandia e Lerma [...]. À Espanha era na verdade impossível mandar à America socorro mais numeroso.” [1]
É BOM CONHECERMOS ALAGOA DO SUL
"Patrimônio Histórico
O Centro histórico de Marechal Deodoro começou a ser construído em 1660. Nele conservam-se resquícios da colonização portuguesa no Estado de Alagoas. São prédios de arquitetura religiosa, do estilo barroco, que dão valor cultural inestimável às ruas do município.
[...] A primeira capital de Alagoas guarda em todos os pontos uma mostra da forte religiosidade que imperava na época pelo considerável número de igrejas. Do ponto que vai desde a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, seguindo pela igreja de Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora do Amparo, Igreja de Santa Maria Madalena até o Convento e Ordem Terceira de São Francisco, as construções estão dispostas de tal maneira, que formam uma espécie de “polígono sacro”. No século XVIII as ruas que ligavam os templos foram consideradas como as principais da cidade, e atraíam os moradores das redondezas para as grandes festas e procissões durante a Semana Santa.
É impossível entrar em Marechal Deodoro e não sair mais rico culturalmente, a magia expressa em suas construções é tão forte, que a sensação que se tem ao vê-las, é de ter voltado ao passado.
Igreja Santa Maria Madalena / Convento de São Francisco
O início da construção da igreja e convento foi em 1684, apesar de dois anos antes dessa data já terem chegado na cidade os primeiros membros da Ordem Franciscana. Em 1689 foi terminada a capela-mor, depois disso, as obras foram paralisadas durante 30 anos, e apenas em 1723, a primeira missa celebrada nesta igreja aconteceu na Semana Santa do ano de 1662. Mas sua obra só foi totalizada em 1793.
Sua fachada apresenta adereços em formas de plantas, confeccionados em pedra calcária; pardieiras emolduradas nas janelas do coro; a janela central apresenta um óculo que favorece a ventilação. A Capela-mor, concluída em 1689 tem teto em caixotões e, a Capela profunda tem retábulo, que é uma estrutura em pedra ou talha de madeira que se eleva na parte posterior de um altar. Este trabalho é único em todo Nordeste brasileiro. Sob o coro existe um painel de Santa Clara de Assis, pintado pelo artista plástico pernambucano José Eloy, em 1817.
No altar existe uma imagem de Cristo Crucificado, um exemplar da escola Jansenista, raríssimo. Em todo o Brasil, além desse de Marechal Deodoro, existe apenas mais um, na Bahia.
A imponência da construção se destacou diante da singeleza do casario circundante. A composição do conjunto arquitetônico é impressionante mesmo depois de alguns séculos, porque apesar da ação do tempo, a beleza e suntuosidade da construção impressionam.
A Igreja da Ordem 1ª de São Francisco, ou Igreja de Santa Maria Madalena apresentava internamente uma extraordinária suntuosidade. No convento o pátio interno tem ares de tempos medievais, por conta das colunas que sustentam os arcos em alvenaria com três cantos. Na parte superior do prédio funciona o Museu de Arte Sacra de Alagoas, que reúne todo o acervo religioso do município.
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco – anexa a Igreja de Santa Maria Madalena foi construída durante o século XVIII, possui fachada de estilo Rococó. Uma porta única, feita em folha almofada, dá acesso ao templo que tem mais três janelas de adorno.
Igreja do Senhor do Bonfim."
UM POUCO DA HISTÓRIA
"Os primeiros relatos de povoação em Marechal Deodoro [nome da cidade hoje] datam de 1522, com a expedição de Cristóvão Jackes enviada por D. João III e, posteriormente, em 1535, com a expedição de Duarte Coelho. Contudo, somente em 1591 é que foi registrada a primeira doação da sesmaria. Marechal Deodoro surgiu em 1611 como Vila Madalena. Depois, teve o nome de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul e mais tarde, simplesmente, Alagoas, antiga capital da Província. Em 1663, o povoado foi atacado pelos holandeses que torturaram parte da população e incendiaram cerca de 100 casas. Na luta contra os invasores, Alagoas abrigou Matias de Albuquerque com 10 mil fugitivos e Felipe Camarão, com outros 4 mil. Em 12 de abril de 1636, foi elevada à categoria de vila, e no ano de 1706, foi elevada à comarca. Posteriormente, em 16 de setembro de 1817, foi elevada à categoria de capitania e desmembrando-se da capitania de Pernambuco, foi elevada à categoria de sede da nova capitania da qual foi o seu primeiro governador Sebastião Francisco de Mello Póvoas, passando à categoria de cidade pela lei de 8 de março de1823. Em 1838, Agostinho da Silva Neves assumiu a presidência e decidiu mudar a Tesouraria da Fazenda de Marechal Deodoro para Maceió. A decisão provocou polêmica, obrigando Silva Neves a de Pernambuco e da Bahia para garantir a ordem pública . Em 9 de renunciar. O presidente deposto seguiu para Maceió e solicitou tropas e em 9 de dezembro de 1839 foi sancionada pela Assembléia Legislativa lei, transferindo a metrópole de Alagoas para Maceió. "
“Logo o Pe. Custódio tratou de levantar um recolhimento de palha e ramagens, onde passou alguns meses com seu secretário Frei João Batista e mais alguns poucos, ao passo que os outros seguiram viagem em direção dos conventos nas partes da Bahia, visto que o lugar não comportava muitos relgiosos, já por falta de agasalho, já por falta de sustento.
Em fins de dezembro do mesmo ano de 1635 veio alojar-se na mesma localidade o General espanhol D. Luiz de Roxas com o socorro esperado de Castela e Portugal.
Resolveu o General marchar para as partes de Pernambuco no dia 6 de janeiro de 1636, em companhia do Pe. Custódio, seu secretário Frei João Batista e mais outro, Frei Manuel das Neves. Em 15 de janeiro chegaram ao Porto Calvo, onde esperavam encontrar-se com o inimigo. Não encontrando o holandês neste lugar, foram adiante. Dois dias depois apareceu o exército holandês com 1.500 soldados. O que o Pe. Custódio havia previsto e predito, aconteceu: o General Luís de Roxas foi atingido por uma bala nas costas, e caiu do cavalo, morto. Os nossos foram vencidos, e feitos prisioneiros o Pe. Custódio com os dois companheiros.” [2]
[1] LIMA, M. de Oliveira, Pernambuco - seu desenvolvimento histórico, 2ª Edição, Governo de Pernaambuco,Recife, 1975, pg. 78.
[2] MUELLER, Frei Bonifácio – ofm, apud Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, edição comemorativa do Tricentenário da criação da Província, edição do Provincialado Franciscano, Recife / PE, 1957, pp. 100 – 101.
Igreja do Convento Franciscanao de Santa Maria Madalena em Lagoa do Sul, hoje a Cidade de Marechal Deodoro / Al
Frei Cosme de São Damião foi preso, não podendo realizar seu desejo de visitar três Casas da Ordem que estavam situadas em regiões tomadas pelo inimigo: a da Paraíba, a de Igaraçu e a de Ipojuca ( Conf. Fr Jaboatão,m II, P. 184).
Relata Fr. Bonifácio (obra citada, página 101 – 102):
“Cabeça dos demais, o Padre Custódio devia ser julgado no Recife. No Conselho alguns votaram pela forca; algum outro, porém, lembrava o degredo para Serra Leoa na África, onde a morte seria mais certa que a vida. Este foi o parecer que prevaleceu, e achou aprovação do Supremo Conselho do Altíssimo. Mas com tal resolução começou a odisséia do Padre Custódio. Partiu uma nau de pilhagem com o padre a bordo. Mas não houve meio de atracar na Serra Leoa, nem em qualquer outra parte da África. Quase 6 meses a nau esteve balançando, à mercê das correntes e dos ventos contrários. Sobreveio o temido mal da costa, chamado de “Loanda”, atacando boca e gengiva dos navegantes. Não quis perder o Servo de Deus tão boa ocasião de praticar a caridade, servindo-lhes de enfermeiro, aplicando-lhes o remédio com suas mãos. Com isso, os próprios hereges reconheciam na pessoa do frade um amigo; sobretudo o Capitão ficou comovido, a ponto de repartir com ele sua mesa. Convencidos de que naquelas plagas o mal não curava de vez, e que os mantimentos iam-se ultimando, após 7 meses de ausência, resolveram voltar a Pernambuco.
De volta, no Recife, relataram aos do Governo tudo que havia acontecido na viagem, de modo especial a caridosa conduta do degredado Frei Cosme. Este foi chamado à presença do Conselho que lhe declarou que davam a sentença por cumprida e que, em breve, seria restituído a seus confrades. De fato, certo dia foi desembarcado na praia de Itapoá, 5 léguas distante da cidade da Bahia. (Dizem as Memórias [Diárias do Donatário Duarte de Albuqurque Coelho] em Ilhéus, o que parece engano).”
Pensam uns que o Pe. Custódio chegou à Bahia em fins de 1636; um atestado da Câmara Eclesiástica, com data de 3 de janeiro de 1637, vem justifica tal conjetura.
Podemos imaginar a surpresa geral que causou o aparecimento do padre na comunidade; parecia um morto ressuscitado. Seu substituto, Frei Manuel Batista de Óbidos, eleito na sua longa ausência, logo se prontificou a entregar o cargo a quem, por direito, pertencia. Coagido pelas circunstâncias do tempo, [Frei Cosme) reassumiu o governo da Custódia até 1639.
Antes do Capítulo de 1657 [ano da elevação da Custódia a Província] , [Frei Cosme] lavrou um Memorandum aos eleitores que bem caracteriza esse homem benemérito.”
O tal Memorandum já foi objeto de postagem em nosso Blog (“De Frei Cosme de São Damião, um manuscrito inédito” a 24 de maio de 2010)
Pediu para que o Governo da Província o dispensasse de participar ativamente do Capítulo no qual, por direito poderia votar e ser votado, em vista de sua quase invalidez, devido (sabemos nós) ao martírio pelo qual tinha passado.
A autenticidade deste documernto foi reconhecida, em 15 de outubro de 1660 pelos confrades que viram nele uma peça importante para o seu processo de canonização que deveria ser aberto. É o que concluímos pelo que escreve Frei Jaboatão, quando trata dos milagres atribuídos ao Servo de Deus Frei Cosme de São Damião. Segundo Frei Jaboatão, o processo de beatificação de Fr. Cosme foi aberto na Bahia aos 8 de julho de 1670 (Novo Orbe Seráfico, Parte II. Páginas 206 – 230). Confira o que sobre isto postamos a 24 de maio de 210.
Frei Cosme de São Damião ainda chegou a assinar as atas do Capítulo de 1657.
A Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil que a ele tanto deve, não poderia levar adiante a causa de sua canonização?
E o que fazer com a de tantos outros que lavaram com o seu sangue as terras do NE brasileiro?
“Algumas vezes assisti no Arraial de Pernambuco, estando em guerra viva entre os soldados. Depois disto, vindo com o Padre Custódio Frei Cosme de São Damião e seu secretário Frei João Batista para as partes donde assistia nossa infantaria, nos tomaram os holandeses na campanha, tratando-nos com grandes rigores, despindo-nos e ameaçando-nos de morte; perto de um mês com soldados de guarda noite e dia; depois foram enviados às fortalezas de Pernambuco, onde ficamos uns dias, padecendo fome e sede; dividiram-nos, cada qual em outro vaso de guerra, onde passamos presos 7 meses. Afinal fomos enviados para os Estados da Holanda para nos sentenciaram; para nos livrar, e voltar a Portugal, foi serviço”.
Parabéns Frei Milton pela divulgação do antigo Convento Franciscano de Santa Maria Madalena, hoje museu de arte sacra. Um grande abraço e parabéns pelo blog.
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