NOTA PRÉVIA:
CARTA DE D. VAN HOOGSTRATEN Dirigida à Companhia na Holanda,Escrita na Fortaleza van der Dussen,a 18 de junho de 1645, pela manhã às 7 horas.
"Agora mesmo passou aqui o rio o marinheiro Siveminen, um daqueles que estavam trabalhando num barco no porto de Salgado. Ele relata como ontem de tarde às 5 horas tinha chegado junto aos barcos uns 100 Portugueses, todos armados de fuzil e com grande alvoroço atacaram os barcos; disse mais o marinheiro não ter certeza, se mataram alguém, porque ele salvou-se.O tenente Jacó Flemmingh, aquartelado em Ipojuca, como afirma o mesmo marinheiro, se tinha retirado de Ipojuca ontem pela manhã, sem me ter avisado da chegada do inimigo. Mas espero que ninguém do meu povo esteja ferido nem morto. V.V.S.S. saibam, que eu tenho um só um soldado de patente inferior, que está adoentado e tenho também um só arqueiro, e além disso, nem eu, nem os soldados têm coisa alguma para comer. Isso com toda a pressa, porque os marinheiros não queriam esperar. De V.V.S.S. criado submisso (assin.). D. Van Hoogstraten.O marinheiro que relatou o sobredito, vai com esta carta.Aviso secreto que veio no dia 13 de Junho e nos dias seguintes:Um certo padre tinha avisado fulano de prevenir-se, porque tinha notícia certa que tropas da Bahia tinham passado o rio de S. Francisco para expulsar os holandeses, e que um grande número de portugueses se preparava para se juntar com eles. O padre foi convidado a apresentar-se para saber se tinha certeza disso. Veio e declarou ter certeza que as tropas já estavam na mata, esperando somente até que os portugueses estivessem prontos. Declarou mais que alguns levavam documentos, pelos quais prometem fidelidade ao rei de Portugal e pegarem em armas. Disse mais que tal documento já era assinado por muitos, porém forçados.16 de junho: o mesmo padre avisou fulano ... Interrogado por que motivo ele nos denunciava tudo isso, respondeu que agora estavam satisfeitos e que ninguém foi molestado pela sua religião. E disse que mais, que ele era natural daqui mesmo e que suas irmãs, seus irmãos e todos os amigos estavam aqui morando abastadamente, e por este motim seriam prejudicados, e pediu para todos nossa proteção. Disse que devia logo ser publicado pelos padres, que cada um voltasse para casa, e que íamos nos defender todos contra os inimigos e garantir a nossa proteção para evitar uma retirada comum dos Portugueses que temem um massacre geral. O Padre Manuel disse o mesmo, oferecendo-se para tal fim. Também os padres de Ipojuca, que ontem foram conduzidos para cá, solicitaram o mesmo, para evitar a retirada coletiva [grifo nosso].Um certo negro, livre, vem denunciar.... Perguntado, se conhecia Henrique Dias, diz sim, que o conhecia quando era escravo do Sr. Stachouwer e que ele tinha um só braço, porque o outro tinha cortado o comandante Claes Thysen.Jan Baerenz, mestre de um barco que tinha saído daqui para o Cabo de S. Agostinho com víveres para a fortaleza de lá, relata o seguinte: no dia 20 de junho: No dia 17.... indo para o seu barco, encontrou-se com Claes, um comerciante livre que lhe disse entre outras coisas, que uns 20 Holandeses estavam presos no convento de Ipojuca [destaque nosso]. Na fortaleza van der Dussen, aos 20 de junho de 1645 (assin.) A. Van Bullerstrate. Às onze horas da noite.(Tradução de Fr. Menandro Rutten, OFM, de nacionalidade holandesa, falecido a o1-o4-1963 em João Pessoa / PB – Doc. do Arquivo Franciscano Provincial – Recife).
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CARTA DE D. VAN HOOGSTRATEN Dirigida à Companhia na Holanda,Escrita na Fortaleza van der Dussen,a 18 de junho de 1645, pela manhã às 7 horas.
"Agora mesmo passou aqui o rio o marinheiro Siveminen, um daqueles que estavam trabalhando num barco no porto de Salgado. Ele relata como ontem de tarde às 5 horas tinha chegado junto aos barcos uns 100 Portugueses, todos armados de fuzil e com grande alvoroço atacaram os barcos; disse mais o marinheiro não ter certeza, se mataram alguém, porque ele salvou-se.O tenente Jacó Flemmingh, aquartelado em Ipojuca, como afirma o mesmo marinheiro, se tinha retirado de Ipojuca ontem pela manhã, sem me ter avisado da chegada do inimigo. Mas espero que ninguém do meu povo esteja ferido nem morto. V.V.S.S. saibam, que eu tenho um só um soldado de patente inferior, que está adoentado e tenho também um só arqueiro, e além disso, nem eu, nem os soldados têm coisa alguma para comer. Isso com toda a pressa, porque os marinheiros não queriam esperar. De V.V.S.S. criado submisso (assin.). D. Van Hoogstraten.O marinheiro que relatou o sobredito, vai com esta carta.Aviso secreto que veio no dia 13 de Junho e nos dias seguintes:Um certo padre tinha avisado fulano de prevenir-se, porque tinha notícia certa que tropas da Bahia tinham passado o rio de S. Francisco para expulsar os holandeses, e que um grande número de portugueses se preparava para se juntar com eles. O padre foi convidado a apresentar-se para saber se tinha certeza disso. Veio e declarou ter certeza que as tropas já estavam na mata, esperando somente até que os portugueses estivessem prontos. Declarou mais que alguns levavam documentos, pelos quais prometem fidelidade ao rei de Portugal e pegarem em armas. Disse mais que tal documento já era assinado por muitos, porém forçados.16 de junho: o mesmo padre avisou fulano ... Interrogado por que motivo ele nos denunciava tudo isso, respondeu que agora estavam satisfeitos e que ninguém foi molestado pela sua religião. E disse que mais, que ele era natural daqui mesmo e que suas irmãs, seus irmãos e todos os amigos estavam aqui morando abastadamente, e por este motim seriam prejudicados, e pediu para todos nossa proteção. Disse que devia logo ser publicado pelos padres, que cada um voltasse para casa, e que íamos nos defender todos contra os inimigos e garantir a nossa proteção para evitar uma retirada comum dos Portugueses que temem um massacre geral. O Padre Manuel disse o mesmo, oferecendo-se para tal fim. Também os padres de Ipojuca, que ontem foram conduzidos para cá, solicitaram o mesmo, para evitar a retirada coletiva [grifo nosso].Um certo negro, livre, vem denunciar.... Perguntado, se conhecia Henrique Dias, diz sim, que o conhecia quando era escravo do Sr. Stachouwer e que ele tinha um só braço, porque o outro tinha cortado o comandante Claes Thysen.Jan Baerenz, mestre de um barco que tinha saído daqui para o Cabo de S. Agostinho com víveres para a fortaleza de lá, relata o seguinte: no dia 20 de junho: No dia 17.... indo para o seu barco, encontrou-se com Claes, um comerciante livre que lhe disse entre outras coisas, que uns 20 Holandeses estavam presos no convento de Ipojuca [destaque nosso]. Na fortaleza van der Dussen, aos 20 de junho de 1645 (assin.) A. Van Bullerstrate. Às onze horas da noite.(Tradução de Fr. Menandro Rutten, OFM, de nacionalidade holandesa, falecido a o1-o4-1963 em João Pessoa / PB – Doc. do Arquivo Franciscano Provincial – Recife).
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COMENTÁRIO DE FREI JOSÉ MILTON
O documento traduzido por Frei Menandro revela a tensão reinante entre os holandeses diante do que eles consideravam uma reação organizada pelos portugueses (entenda-se pernambucanos), prestes a explodir. Daí o empenho do Governo holandês em evitar toda e qualquer comunicação dos dominados com as autoridades civis ou eclesiásticas fora da conquista. Vê-se que estavam de olhos na Bahia de onde poderia vir o socorro contra os batavos.
OS FRANCISDCANOS MÁRTIRES DOS HOLANDESES
O documento traduzido por Frei Menandro revela a tensão reinante entre os holandeses diante do que eles consideravam uma reação organizada pelos portugueses (entenda-se pernambucanos), prestes a explodir. Daí o empenho do Governo holandês em evitar toda e qualquer comunicação dos dominados com as autoridades civis ou eclesiásticas fora da conquista. Vê-se que estavam de olhos na Bahia de onde poderia vir o socorro contra os batavos.
OS FRANCISDCANOS MÁRTIRES DOS HOLANDESES
A TOMADA DE OLINDA Aos 16 der fevereiro de 1630 Olinda caiu nas mãos dos holandeses.Matias de Albuquerque tratou se entrincheirar com seus homens e os frades de modo a não permitir a passagem ao inimigo à vila de Olinda. Depois de três tentativas, sendo sempre repelidos, descobriram uma passagem que os levou ao Colégio dos Jesuítas, pouco acima do Convento Franciscano. Lá, o Capitão Salvador de Azevedo, com apenas 22 soldados, resistiu o quanto pôde aos invasores que se apossaram do Colégio e içaram a bandeira holandesa na torre da igreja. Baseado em Frei Jaboatão, escreve Frei Bonifácio Mueller: “De meio-dia até às 4 horas da tarde, travaram-se lutas em diversos pontos da Vila. Quem podia fugir, fugiu levando o que podia carregar no momento. Ao pobre Matias de Albuquerque, dos 2000 soldados, na maior parte recrutas bisonhos, ficaram-lhe 20 homens, com os quais resolveu acudir ao povoado do Recife, deixando Olinda entregue ao inimigo invasor que viera com uma força de 7000 soldados treinados no combate.” O General Matias de Albuquerque, sobre a participação dos franciscanos na luta, passou uma certidão que Frei Jaboatão transcreveu:“Certifico que vindo no mês de fevereiro do ano 1630 sobre o porto e Vila desta Capitania de Pernambuco uma mui poderosa armada holandesa, o Padre Custódio [Frei Antônio dos Anjos] com muitos Religiosos da sua ordem, acudiram à praia, às trincheiras e baluartes, onde assistiram até de todo serem rendidos...” Poderia ter acrescentado: “entre eles o Pe. Definidor Frei Luís da Anunciação. Apesar dos 70 anos, não vacilou de enfrentar todos os perigos. Logo duas balas inimigas atingiram-lhe o peito, e nem cuidava de se por a salvo; pelo contrário, com essas feridas ainda mais se animava na peleja, desde que lhe não custaram a vida.” Sobre o incêndio de Olinda, à revelia do Alto Comando da Holanda que instruíra os chefes da esquadra destinada à Pernambuco, que, “tomada a ´cidade´ [de Olinda] [...], fortificassem os seus pontos mais altos, e, especialmente o Convento dos Jesuítas devido _a sua situação. E com pé firme aí, poderia a esquadra iniciar novos ataques: o Rio de janeiro, em primeiro lugar (´julgamos tal cidade no sul tão aproveitável e útil à Companhia, como a cidade de Pernambuco (i. é, Olinda) no Norte´”. A intenção era de conquistar também a Paraíba ( o que logo vai acontecer) e a Bahia (novas tentativas sem resultado). Estava bem claro para os pernambucanos que o projeto de ocupação holandesa era definitivo e visava a todo o país. Isto nos ajuda a compreender a resistência heróica ao inimigo durante 24 anos.Em 1631, “levados por motivos estratégicos, os holandeses tocaram fogo na Villa, nas igrejas e nos conventos de Olinda [...]. Em boa hora, um grupo de índios corajosos saíram de suas estâncias vizinhas, no empenho de atalhar o fogo no Colégio e no Convento...” Mas antes de incendiarem o convento procederam à demolição do mesmo: “A 17 de novembro de 1631, começou a demolição dos edifícios, transportando-os mais tarde para o Povo (Recife) o material aproveitável. Foi a vila de Olinda despejada no dia 24 de novembro (do mesmo ano), sendo barbaramente entregues às chamas todas as casas que não foram pelos proprietários resgatadas pelas somas que arbitrou o inimigo.” É o que escreve Richshoffer, citado por Fr. Bonifácio. Frei Jaboatão dá a entender que não foram levados só por motivos estratégicos mas também por ódio à religião católica, sobretudo em relação ao Convento Franciscano, “como cabeça de todos, e alvo da fúria e do ódio dos inimigos hereges”. “No mesmo ano [1631], houve Capítulo, no qual foi eleito como Custódio Frei Simão de Santo Antônio, e como Guardião do Convento de Olinda saiu eleito Fr. Manuel dos Anjos, que se alojou no convento todo pilhado e, em parte, pelo menos, destruído; ele e mais alguns religiosos que, no dizer do cronista [Jaboatão], ´por mais devotos e maior espírito e fortaleza de ânimo, se não queriam nem podiam apartar da Casa e sombra de Nossa Senhora das Neves´” OS MÁRTIRES – Em 1633 houve Capítulo no Convento de Ipojuca. Saiu eleito o Guardião do Convento de Olinda Frei Francisco da Esperança, “tão destemido como o seu antecessor.” Certamente depositavam nele alguma esperança de restaurar o Convento de Nossa Senhoras das Neves, em escombros depois do incêndio.“Mas no ano seguinte de 1634, chegaram os holandeses do Recife e, de assalto, invadiram o convento. Encontraram na Capela-mor um pobre Irmão Leigo, Fr. Francisco Auzança, que estava em oração. Sem respeitar o lugar, mataram aí mesmo o religioso com um tiro de arcabuz e golpes de alabardas. O Guardião Fr. Francisco da Esperança foi levado preso às cadeias do Recife, e daí foi embarcado [degredado] para a Holanda. Na sua ausência, congregaram-se os frades dispersos no mesmo convento de Olinda, e como estivessem sem Prelado Maior, por estar preso também o Custódio Frei Cosme de S. Damião, elegeram outro Superior, que foi Fr. Jerônimo de Santa Catarina, restabelecendo, quanto possível, a vida comum. Apenas três anos viveram sossegados, pois já em 1639 chegaram de novo os soldados flamengos, encontrando 12 religiosos reunidos. Estes e mais alguns outros que lhes caíram nas mãos pelo caminho, foram presos e levados à ilha de Itamaracá, e daí desterrados para as Índias de Castela [Antilhas].” Entre eles, sabemos pelo relato de Fr. Jaboatão , se encontrava também Frei Francisco da Esperança, que, no exílio, terminou os seus dias. Aliás, poucos escaparam, como veremos adiante.Deste ano [1639] em diante, não fizeram mais outra tentativa de ocupar a Casa de N. S. das Neves, de modo que até à Restauração em 1654, o convento de Olinda ficou abandonado.”
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FONTES:
MUELLER, Fr. Bonifácio, Os Conventos Franciscanos de Pernambuco na Invasão Holandesa, apud Revista Santo Antônio, órgão da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, Ano 7, N° 1, Recife, 1949, p. 180.JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria, Novo Orbe Seráfico, citado por Fr. Bonifácio Mueller, apudop. cit. pg. 180. MUELLER, Fr. Bonifácio, apud Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil – Edição comemorativa do Tricentenário – 1657 – 1957”, Volume I, Provincialado Franciscano, Recife / PE, 1957, pgs. 87 – 88.Conf. MELLO, José Antônio Gonçalves de, Tempo dos Flamengos, Livraria JOSÉ OLYMPIO Editora, 1947, pg. 47.MUELLER, Fr. Bonifácio, Os Conventos Franciscanos de Pernambuco na Invasão Holandesa, apud Revista Santo Antônio, órgão da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, Ano 7, N° 1, Recife, 1949, p. 180.MUELLER, Fr. Bonifácio, Apud Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil – Edição comemorativa do Tricentenário – 1657 – 1957”, Volume I, Provincialado Franciscano, Recife / PE, 1957, pgs. 89.MUELLER, Fr. Bonifácio, Os Conventos Franciscanos de Pernambuco na Invasão Holandesa, apud Revista Santo Antônio, órgão da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, Ano 7, N° 1, Recife, 1949, p. 181.
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