quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CONVENTO DAS NEVES DE OLINDA

A CAPELA CAPITULAR DO CONVENTO DE NOSSA SENHORA DAS NEVES DE OLINDA
Na década de 30 Frei Matias Teves voltava a Olinda como Professor de Filosofia. Possivelmete dessa época são os seus escritos sobre o Convento de Olinda: história, arquitetura, pinturas, azulejos...


CAMPA SEPULCRAL DO
CAPITÃO FRANCISCO
DO REGO BARROS E ESPOSA
PATRONOS DA CAPELA



Desta vez, vamos transmitir o que ele nos legou sobre a “Capela Capitular” ou, como é mais conhecida, a “Capela do Capítulo”.
É uma pequena capela, único resto do primitivo Convento. Com azulejps de duas cores com desenhos geométricos; no fundo, entre duas janelas, destaca-se o altar de Nossa Senhora, ladeada de São Francisco e de santo Antônio. As obras de talha, em parte estragadas, em parte renovadas no mesmo estilo, revelam o desejo dos religiosos de zelar as obras antigas e, por outro lado, a falta de recursos, porque  “a verba solicitada por Frei Matias” (destaque nosso) há poucos anos, e obtida do Governo, não era suficiente para levar a termo o trabalhão iniciado de restauração.

Dignos de nota são ainda os painéis do teto, assim como a lápide de mármore em frente ao altar que, desde o ano de 1656 tem guardado os restos mortais do patrono da Capela: Capitão Francisco do Rego Barros e de sua esposa Dona Arcanja da Silveira. Além dos dizeres alusivos, o epitáfio ostenta em relevo o seu brasão d´darmas.

Até aqui o que devemos a Frei Matias Teves. Na mesma década de trinta, como catedrático da Escola de Belas Artes de Pernambuco (ele foi um dos fundadores) recebeu muitas veze o encargo de pedir auxílio financeiro ao Presidente Getúlio Vargas, para não ver a Escola fechar as portas. Em 1940 vai pessoalmente ao Rio para angariar recursos da Presidência para a  Escola de BelasArtes. Estava, pois tarimbado para conseguir verba para o seu querido Convento de Olinda.

 Aqui, gostaríamos de emitir uma opinião sobre o costume de adotar patronos para as obras de arte dos Conventos.

Os religiosos não contavam com meios financeiros para a coservação do patrimônio artístico. Recorriam a benfeitores ricos que patrocinavam um altar ou uma capela, como legado, obtendo o direito de sepultura com lápide, recebendo, os benefícios espirituais garantidos pelo Direito da Igreja e da Ordem.

Muitas vezes, porém, os herdeiros não cumpriam suas obrigações, caindo muitos legados no esquecimento.

Temos o exemplo de Ipojuca: o benfeitor Francisco Dias Delgado (doador do terreno para a construção do Convento) e sua Esposa D. Catarina Moreno fizeram doação ao Convento de Ipojuca de muitas léguas de terra, com gado vacum, em Porto de Galinhas e Oiteiro de Maracaípe para manutenção do Convento, especialmente da sustentação do culto à imagem milagrosa do Senhor Santo Cristo. Os herdeiros se negaram a realizar a vontade dos doadores e os frades perderam tudo.

Até os terrenos do Convento extramuros foram roubados pelo dono de um Engenho vizinho.

Em uma informação ministrada ao Governo civil pelo Guardião Frei Jerônimo do Patrocínio de S. José, consta o seguinte: os terrenos extramuros doados aos frades por Francisco Dias Delgado, com seus marcos, esteve sempre na posse dos religiosos até o ano de 1822. "Tendo o senhor do Engenho naquele tempo, Joaquim Pedro do Rego de levantar outro Engenho anexo às nossas terras, denominado Bom Jesus da Conceição Nova, - escreve ao Governador o mesmo Frei jerônimo - pediu em confiança, os títulos de nossas trerras ao prelado atual, que era naquele tempo o padre pregador Frei Antônio de Santa Margarida, o qual lh´os deu, como ele mesmo confessou perante testemunhas. E tendo de entregar o Convento a outro Guardião, e , com ele, os títulos das terras, este (Joaquim  Pedro do Rego) foi protelando com desculpas, que afinal nem àquele nem a outro algum Guardião, os entregou mais, e subrepticiamente as anexou ao seu Engenho Conceição Nova, que é hoje dos herdeiros da viúva de Domingos Costa do Engenho Emboasica, esbulhado, dese modo, ao Convento o direito de suas terras. Afirmo estas circunstâncias ouvidas, não só por ser notórias, como mesmo por me ter  contado o mesmo Frei Margarida, no ano de 1826, mais ou menos". 

Se o Convento ainda fosse possuidor dessas terras, hoje poderia reparti-las  com os pobres como gostaria de fazê-lo.

Frei Fulgêncio (soube isto de um grande amigo dele advogado), vigário de mão cheia em Ipojuca na década de 50, conseguiu boa soma de dinheiro na Alemanha, para a construção de casas para os pobres de Ipoojuca. Não chegou a levantar uma única casa. A razão: o usineiro da Usina Salgado que também era Prefeito, não cedeu um palmo de terra para o projeto do Vigário. O dinheiro foi devolvido aos doadores.

Nossa Senhora do Oiteiro passou ao Patrimônio Diocesano.

Já os Currais de São Miguel, foi doação feita ao Patrimônio do Padroeiro da Paróquia e ainda hoje rende em benefício  da Paróquia de Nossa Senhora do Ó (!), embora sua administração tenha sido confiada ao Vigário de Ipojuca.

Voltando à Capela do Capílulo, e pensando em outras riquezas arquitetônicas do Convento, poderíamos perguntar de onde vinha tanto dinheiro para essas obras que hoje admiramos.

Quem nos vai responder é a escritora Sylvia Tigre de Hollanda Cavalcanti, no livro, fruto de sua pesquisa e texto:  O Azulejo na Arquitetura Religiosa de Pernambuco - Séculos XVII e XVIII (São Paulo, 2006, Metalivros), quando, à página 16, escreve: “O grande repertório do acervo de azulejos é o Nordeste, com destaque para Pernambuco e Bahia. Dora Alcântara* associa os círculos econômicos nordestino à profusão dos nossos azulejos, A região era mesmo próspera e rica nos séculos em que a arte se propagou” (pg. 16).



 PEDRA SEPULCRAL NO CLAUSTRO DO CONVENTO






Mas, não se pode explicar tudo pela riqueza de Pernambuco e Bahia. Dora Alcântara, acrescenta ainda três fatores: o social, o político e o geográfico.

Os templos pernambucanos são beneficiados pelo fator social: o surto de ufanismo, a renovação do sentimento religioso católico. Mas não bastava isso: a riqueza advinda da cana de açúcar e o propósito dos senhores de engenho de manter sempre boas relações com a Igreja Católica “de marcante presença na sociedade daquela época foi fundamental para o recebimento pelas Ordens religiosas, de grandes doações financeiras, heranças em testamento etc. Os recursos se refletiam no embelezamento dos templos religiosos como o ouro que tanto enriquece as talhas da igrejas e capelas, na imaginária e nas pinturas e, claro, Também na azulejaria” (p. 17).

Já na Bahia predominou o fator político. Capital da Colônia desde 1763, esteve em liderança durante todo o período de expansão da arte de azulejaria. Claro que isto beneficia sobejamente os patrimônios históricos e artísticos baianos, em quantidade e qualidade, opina Dora Alcântara.
Quanto ao fator geográfico, "ele foi determinante não apenas nos dois Estados já referidos, como em todos os outros que dispunham de porto marítimo (do Pará ao Rio de Janeiro)  e que, em maior ou menor escala, têm os bens culturais acrescidos em valor e beleza pelos azulejos portuguêses.
É, em parte, pela dificuldade de transporte de um material frágil (que
teria de ser levado em lombo de animais) que a cidade de São Paulo
não tem nada de azulejaria religiosa. Em todo o Estado do mesmo
nome existe apenas no convento franciscano de Itanhaém, no litoral
norte. De outra parte, volta o fator econômico, porque o poderio
financeiro do  Estado só ocorreria muito depois.
Noutro Estado, Minas Gerais, que enriqueceu a partir da sexta
década do século XVIII, com a descoberta do ouro, só há uma igreja -
a de Nossa senhora do Carmo, em Ouro Preto - que ostenta alguns
painéis azulejares.
Contribuiu também, neste caso, o fato de lá não existirem as Ordens
Religiosas, que eram as grandes demandantes da azulejaria: a
Franciscana, em primeiro lugar, a Beneditina e a Carmelita."
E conclui a autora:
"Portanto, dentre tudo o que a sempre desprestigiada Região Nordeste tem para orgulhar-se se encontra, indubitavelmente, todo o valioso acervo da azulejaria religiosa portuguesa do Brasil ” (p. 17).




CONVENTO DE NOSSA SENHORA DAS NEVES DE OLINDA




* Dora Monteiro e Silva de - Patrimônio Azulejar Brasileiro: Aspcto Histórico e de Conservação. Azulejo, Documento da nossa Cultura. Brasília: Monumenta  BID / Ministério de Cultura, 2001, p. 28.

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