quinta-feira, 11 de junho de 2009

CONVENTO DE IPOJUCA - MAIS OBRAS DE ARTE - OS INCÊNDIOSS

5. PINTURAS ANTIGAS NO INTERIOR DO CONVENTO

No interior do Convento, existem ainda quadros antigos, [de autores anônimos] de épocas diversas. O claustro conserva quatro painéis de um só autor, provavelmente da segundametade do século XVIII [hoje se encontram no refeitório]. Representam as seguintes cenasreproduzidas em vários conventos franciscanos:
1º) o chamado milagre da mula, realizado por intercessão de Santo Antônio; 2º) S. Francisco de Assis ressuscitando o recém-falecido D. Pedro Dias, bispo da cidade de Rodrigo; 3º) 0 martírio dos primeiros missionários franciscanos, SS. Bernardo, Pedro, Acúrsio, Adjuto e Odon, degolados em 1220 pelos maometanos em Marrocos; 4º) o martírio do bem-aventurado João do Prado, em 1631, morto a fogo, flexa e espada.
À entrada do refeitório, vêm-se dois quadros menores, de Nossa Senhora e S. José, que antigamente encimavam a cômoda da sacristia. Datam de meados do século passado [século XIX], e foram provavelmentecolocados por Frei Antônio da Rainha dos Anjos, quando da restauração da sacritia, entre 1850 e 1852 [quando a sacristia era por trás da Capela-Mor].
No refeitório figura em tamanho grande a Última Ceia, trabalho bem conservado, que remonta ao século XVIII.” [1]


7. O PRIMEIRO INCÊNDIO DA IGREJA DO CONVENTO –

Em 31 de dezembro de 1834, o Bispo de Pernambuco Dom João Marques Perdigão esteve em Visita Pastoral à Freguesia de Ipojuca. Foi hospedado no Convento. Em seus diário – Itinerário das visitas do Bispo de Pernambuco, ele registrou também a visita ao convento:

“Dia 31 [de dezembro de 1944] - Saí de Nazaré pelas cinco horas da manhã e me dirigi à Freguesia de Ipojuca, onde cheguei pelas oito horas da mesma manhã [viajando a cavalo]. Fui recebido com aplausos e, debaixo do pálio, conduzido à [primitiva] Matriz., onde, cantado o Te Deum, ouvi missa e fui hospedado no Convento dos Franciscanos.”

“Dia 1º de janeiro [de 1835] – Celebrei pontificalmente na Festa do Santo Cristo pelas onze horas e de tarde conduzi o Santíssimo Sacramrento em solene procissão, durante a qual pegou fogo na capela do mesmo Santo Cristo, por cujo motivo, as mulheres choraram e, repentinamente, correu todo o povo à igreja e, depois de apagado o fogo, [o povo] bradou em altas vozes, dando vivas às imagens, e assistindo ao sermão, Te Deum e fogo artificial que acabou pelas 11 horas [da noite].”
“Dia 2 [de janeiro de 1935] – Pelas 10 hora abri a Visita, praticadas as cerimônias de costume, sendo os responsórios cantados pelos Religiosos Franciscanos. O Sacrário e mais utensílios estão decentes. Fui segunda vez recebido debaixo do pálio, e fiz prática do costume, e depois crismei mais de 200 pessoas, e finalizei o ato fazendo oração ao St.º Cristo, tido em grande veneração pelos povos desta e outras Freguesias...”
“Dia 4 [de janeiro de 1835[ - Ouvi missa, por estar doente dos olhos, e, depois, crismei quase 400 pessoas e, no fim desta ação, visitei o Santo Cristo.” [2]
“Desde as primitivas peregrinações à Terra Santa até as do Ano Santo e as romarias regionais, a Santa Sé concede abundantes indulgências aos peregrinos, e privilégios especiais aos sacerdotes. O santuário ipojucano mereceu esta distinção em 1936.” [3]


8. O SEGUNDO INCÊNDIO – Um século depois daquele primeiro incêndio, outro de grande proporções destruiu a Capela do Bom Jesus, a Igreja e pequena parte do Convento. Por sorte, ou melhor dizendo, por disposição da Divina Providência, o Convento escapou da destruição.
Para se entender mais exatamente o acontecido, temos que retornar ao tempo.
“Ipojuca não tinha luz elétrica continuada.A eletricidade era através de um gerador que era desligado a meia-noite. Em quase todas as casas tinha-se candeeiro a querosene. Não havia água encanada. A água era coletada na cacimba do Vigário, cuja construção foi feita pelo Pe. Firmino [...era tio-bisavô do Autor]; na cacimba de Seu Isaias [...feita pelo bisavô de Ivo e cunhado do Pe. Firmino] e na cacimba em Montevidéu.. As estradas eram de barro e não havia calçamento.

A igreja de Santo Cristo não tinha a forma que hoje possui. Onde hoje está a imagem de Santo Cristo [altar-mor], existia o altar-mor, todo trabalhado a canivete, de madeira cedro em estilo lembrando o gótico, tendo ao centro a imagem do Coração de Jesus, ladeado por dois anjos, e, ao lado dos anjos, as imagens de São Francisco e de Santo Antônio. Todas as imagens em madeira.
Os altares laterais também em madeira trabalhada, sobressaiam da parede cujo nicho que abrigava as imagens estava dentro das grossas paredes continham as imagens de Nossa senhora [da Conceição] no degrau superior e, no inferior, Santa Inês; à esquerda, no mesmo estilo, no degrau superior, São José, e, no inferior, São Luiz [Gonzaga].
Atrás do altar-mor eram guardadas as garrafas de azeite de mamona para a lamparina do e flores artificiais em papel crepon que, ao serem feitas, tinham sido mergulhas em cera derretida, material altamente inflamável. Não existiam flores de plástico naquela época.
A Capela do Senhor Santo Cristo ficava onde hoje está a capela do Coração de Jesus, portanto, junto à sala dos votos, onde está o Senhor Morto.” [4]

“Às 10 e meia da noite do dia 1 de março de 1935, devastador incêndio invadiu o Convento e o Sanuário. Correram todos os ipojucanos. As labaredas, bem altas, lambiam as paredes do templo. A fumaça sufocava. O calor era intensíssimo. Era, entretanto, preciso salvar a imagem do milagroso santo Cristo.
Alguns heróis anônimos derramaram água sobre as vestes e investiram, resolutos, para o interior do templo.Do tamanho natural de um homem, a imagem aguardava, apenas, os seus salvadores. O altar-mor era uma coluna de fogo. E toda a igreja era uma fornalha ardente. Mas a imagem do Senhor Santo Cristo nada sofreu em conseqüência do incêndio.” [5]
O historiador ipojucano Ivo d´Almeida relata em seu livro inédito Ipojuca – de uma Lenda à Verdade:
“Muito embora tenha se afirmado que fora o senhor Francisco Barreto, esposo de Dora Dulce, Professora paroquial [...] que deram o alarme sobre o incêndio, foi Dorino o primeiro a gritar alertando sobre o que estava acontecendo. [...] Um grito na rua não é nada, comparado com o alarme vindo logo da casa de D. Dulce [...], pessoa de destaque na cidade; por isso esqueceram de dorino, apenas um barbeiro, o primeiro que alertou sobre o incêndio.
As primeiras pessoas que chegaram ao convento foram: Dorino, que lá já estava; Seu Ferreira [...Isaias], Chico Samuel, Zé de Franco e Mário Feijó. Tocaram a campainha na portaria ainda hoje existente, incessantemente.
Frei Clementino veio do claustro, olhou-os pela janela do primeiro andar [a primeira por sobre a atual secretaria paroquial], junto ao cruzeiro, sem ainda perceber o desastre que estava por vir, e recusou-se a abrir a porta, talvez pensando se tratar de uma brincadeira de mau gosto ; afinal era a sexta-feira que antecedia o sábado de Zé Pereira, ou seja, o Carnaval”.[6]
“Após chamar incessantemente na portaria sem ser atendido, Zé de Franco trouxe um machado e quebrou o cadeado do portão que fica no lado direito, ao lado da casa dos romeiros [hoje portão da garagem], e o vitral [da nave da igreja] adentrando no interior do Convento. O fogo já consumia o altar-mor e parte do forro. Nesse momento, Chico Samuel, sozinho, tirou a imagem [do Senhor Santo Cristo] com a cruz que era encaixada na parede [da Capela do Bom Jesus] e correu para fora já ajudado pelos companheiros. [...Seu Ferreira ou Elias] correu à frente e abriu a retranca de ferro da porta principal. Ao abrir a porta, e antes que toda a cruz passasse, o altar-mor, ardendo em chamas, desabou. Na ânsia de retirar a imagem de Santo Cristo que já estava toda pipocada, pelo calor, foi quebrada uma das imagens que estavam no altar. Essas imagens eram feitas de gesso e tecido. Eram elas: ao pé da cruz: Nossa Senhora das Dores, ladeada por Maria Madalena e São João Evangelista.
Quando a imagem do Senhor Santo Cristo saiu, já havia uma multidão à porta do Convento. Imediatamente a multidão carregou-a até a calçada da Matriz (antiga igreja do Livramento] , onde Virgínia [apelidada Pinta], uma senhora que era Filha de Maria, forrou uma toalha branca e lá ficou depositado”.[7]

“A terrível e tenebrosa noite terminara às cinco horas da manhã do sábado, véspera do Carnaval de 1935, a capela-mor, a parte interna do convento [próxima à igreja, bem entendido], estavam reduzidas a cinzas e escombros por todos os lados. Neste ano não houve Carnaval em Ipojuca, só luto, esperança e resolução de reconstruir no menor espaço de tempo o maior orgulho dos verdadeiramente cristãos ipojucanos: o Santuário do Senhor Santo Cristo”.[8]
“Toda a cidade acordada. Das casas, crianças, jovens e adultos levavam água. O sino badalava sem parar. Da usina Salgado vinha caminhão com tonéis de água, o mesmo acontecendo com a usina ipojuca, na época usina Bandeira. Os homens posicionavam como uma esteira rolante por onde , em cujas mãos passavam as latas de água. Das paredes estouros ouviam-se provenientes da pedras de calcáreo de que elas eram feitas.
Os frades na época eram: Frei Venâncio, vigário; Frei Clementino; Frei Alfredo e os Irmãos religiosos Frei Manoel e Frei Ângelo.
Os impossibilitados em combater o incêndio choravam e rezavam. Grupos religiosos, homens, mulheres e crianças se revezavam entre o combate ao fogo e as orações junto à imagem [do Senhor santo Cristo] toda pipocada pelo calor na calçada da Matriz. Frei Clementino ajoelhado no meio da rua, de braços abertos cantava:
Senhor deus, misericórdia!
Senhor deus,
Pela vossa paixão e morte,
Misericórdia!
Senhor Deus,
Pelas dores de vossa Mãe Maria santíssima,
Misericórdia!
(...) [9]

“O fogo ameaçava destruir todo o Convento. Precisava combate-lo. Os cinco acima citados Zé de Franco, Isaias, Roque, Maurício] e mais Dorino se revezavam em isolar o fogo e isso se fez cortando a cumeeira que era de parabu, uma madeira da Mata-Atlântica não mais reencontrada. Frei Venâncio ao escrever sobre esta tragédia, deveria ter visto ou ser alertado que um homem estava serrando a cumeeira, e esse primeiro homem foi seu Roque, que era um dos carpinteiros da cidade e fora rendido posteriormente pelos cinco já citados.
Subia-se pelo sino, corria-se pelo telhado com água para molhar esses heróis anônimos para que o fogo também não os consumisse. Durante este trabalho, Antônio Maurício despencou do telhado, junto à porta da sacristia, passa por um buraco já feito pelo fogo e cai no chão. Nada sofre. Um arranhão sequer. O susto não teve tempo de se instalar, rasga apenas a calça que é substituída de imediato por uma de Francisco Barreto. Milagre? Não sei. No entanto maior foi ter a coberta da sala dos milagres, que era de zinco, se derreter e não ter nenhuma deformação nas peças de cera que a sala possuía e ainda hoje possue.”[10]


“O povo reconstruiu o Convento liderados por Frei Venâncio Vileke, toda areia, pedra e madeira foram carregadas pelo povo. A areia tirada do rio Ipojuca, as pedras da antiga igreja de São Roque [o que não é verdade, pois nunca houve igreja de S. Roque; as pedra foram as das ruínas da antiga matriz.] e cal, eram transformadas em alicerce para o novo Santuário, e madeira que foi doada pelo engenho Maranhão. O engenheiro responsável foi o Dr. Carlos Fest. O encarregado da construção foi o Dr. Renato Souza Leão, dono do Engenho Maranhão. O mestre de carpina foi Philippe dos Santos; o mestre pedreiro foi Domingos Gonçalves; o mestre marmorista foi Antônio Pedro de Alcântara e o mestre pintor foi Armando Ferreira dos Santos. Estes por serem mestres ou doutores foram lembrados e quem pegou no pesado, suor derramado por amor e devoção a Santo Cristo, foram esquecidos. Agora não mais!” [11]
Quem eram esses heróis anônimos? Ivo d’Almeida aponta-os resumidamente, depois de dizer o papel que cada um desempenhou durante o incêndio: Dorino, Chico Samuel, Zé de Franco, Estácio, Seu Roque, Maurício, Mário Feijó, Isaias (chamado também Seu Ferreira, pai de ivo, na época com 21 anos). “Excetuando Isaias, todos já falecidos.” [12]
Outros que tiveram participação ativa: Dona Belinha ( avó de Ivo,na época com 49 anos), Leonor (ou Nonô, tia de Ivo, na época com 17 anos)
Isaias (ou Seu Ferreira) e Leonor (ou Nonô), “ambos vivos e em perfeita lucidez”. [13]
“A reconstrução do telhado foi feita pelo mestre Pituta, Eugênio, Antônio Gomes, Manuel Florentino e e Joça, tudo feito a machado e enxó. Os pedreiros foram José Mariano, Pedrinho, nosso primo, filho de Pedro Alexandrino de Sousa ; Estácio e Zé de Lima”.[14]
[1] WILLEKE, Frei Venâncio -, OFM, Convento de Stº Cristo de Ipojuca, Separata da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Vol. 13 – Rio de Janeiro, 1956, p. 69 a 70..

[2] Id. ibd. nota 11 ao Cap. XII, p. 89. Conf. também Itinerário das Visitas do Bispo de Pernambuco, Revista do Instituto Histórico Geográfico do Brasil, LV, Parte I, pp. 27 e 28.
[3] Id. ibd. nota 1 ao Cap XII, p. 88.
[4] Conf. D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, pp 37 e ss. .
[5] PIO, Fernando Pio, O Convento de Santo Antônio do Recife e as Fundações franciscanas em Pernambuco, Recife, 1939, p. 68 – 70.
[6] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, p. 38.
[7] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, p. 40 – 41.
[8] D´ALMEIDA, Ivo -, p. 42
[9] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, p. 41.
[10] D’ ALMEIDA, Ivo -, op. cit. p. 41.
[11] D’ ALMEIDA, Ivo -, Ipojuca -de uma Lenda à Verdade, pp. 44 – 45.
[12] D’ ALMEIDA, Ivo -, p. 45.
[13] D’ ALMEIDA, Ivo -, p. 37.
[14] D’ ALMEIDA, Ivo -, p. 45.

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