A CAPELA CAPITULAR DO CONVENTO DE NOSSA SENHORA DAS NEVES DE OLINDA
Na década de 30 Frei Matias Teves voltava a Olinda como Professor de Filosofia. Possivelmete dessa época são os seus escritos sobre o Convento de Olinda: história, arquitetura, pinturas, azulejos...
Desta vez, vamos transmitir o que ele nos legou sobre a “Capela Capitular” ou, como é mais conhecida, a “Capela do Capítulo”.
É uma pequena capela, único resto do primitivo Convento. Com azulejps de duas cores com desenhos geométricos; no fundo, entre duas janelas, destaca-se o altar de Nossa Senhora, ladeada de São Francisco e de santo Antônio. As obras de talha, em parte estragadas, em parte renovadas no mesmo estilo, revelam o desejo dos religiosos de zelar as obras antigas e, por outro lado, a falta de recursos, porque “a verba solicitada por Frei Matias” (destaque nosso) há poucos anos, e obtida do Governo, não era suficiente para levar a termo o trabalhão iniciado de restauração.
Dignos de nota são ainda os painéis do teto, assim como a lápide de mármore em frente ao altar que, desde o ano de 1656 tem guardado os restos mortais do patrono da Capela: Capitão Francisco do Rego Barros e de sua esposa Dona Arcanja da Silveira. Além dos dizeres alusivos, o epitáfio ostenta em relevo o seu brasão d´darmas.
Até aqui o que devemos a Frei Matias Teves. Na mesma década de trinta, como catedrático da Escola de Belas Artes de Pernambuco (ele foi um dos fundadores) recebeu muitas veze o encargo de pedir auxílio financeiro ao Presidente Getúlio Vargas, para não ver a Escola fechar as portas. Em 1940 vai pessoalmente ao Rio para angariar recursos da Presidência para a Escola de BelasArtes. Estava, pois tarimbado para conseguir verba para o seu querido Convento de Olinda.
Aqui, gostaríamos de emitir uma opinião sobre o costume de adotar patronos para as obras de arte dos Conventos.
Os religiosos não contavam com meios financeiros para a coservação do patrimônio artístico. Recorriam a benfeitores ricos que patrocinavam um altar ou uma capela, como legado, obtendo o direito de sepultura com lápide, recebendo, os benefícios espirituais garantidos pelo Direito da Igreja e da Ordem.
Temos o exemplo de Ipojuca: o benfeitor Francisco Dias Delgado (doador do terreno para Não seria a imagem primitiva de Nossa Senhora das Neves? Veja que tem a cabeças descoberta com os cabelos grandes, os traços indígenas são evidentes. Pelo estilo, deve remontar ao século XVI. Consta que a a imagm primitiva foi obra dos índios que aqui tinham o seu seminário (colégio) e a veneravam com cantos e músicas (procure isto em Frei Jaboatão).
a construção do Convento) e sua Esposa D. Catarina Moreno fizeram doação ao Convento de Ipojuca de muitas léguas de terra, com gado vacum, em Porto de Galinhas e Oiteiro de Maracaípe para manutenção do Convento, especialmente da sustentação do culto à imagem milagrosa do Senhor Santo Cristo. Os herdeiros se negaram a realizar a vontade dos doadores e os frades perderam tudo.
Até o terreno do Convento extramuros foi roubado pelo dono de um Engenho vizinho que mudou a posição dos marcos e nunca devolveu a escritura que um Guardião ingenuamente lhe confiara, acreditando que iria servir para confirmar os limites, sobre os quais haveria a dúvidas.
Se o Convento ainda fosse possuidor dessas terras, hoje poderia reparti-las do com os pobres como gostaria de fazê-lo.
Frei Fulgêncio (soube isto de um grande amigo dele advogado), vigário de mão cheia em Ipojuca na década de 50, conseguiu boa soma de dinheiro na Alemnha, para a construção de casa para os pobres de Ipoojuca. Não chegou a levantar uma única casa. A razão: o usineiro da Usina Salgado que também era Prefeito, não cedeu um palmo de terra para o projeto do Vigário. O dinheiro foi devolvido aos doadores.
Nossa Senhora do Oiteiro passou ao Patrimônio Diocesano.
Já os Currais de São Miguel, foi doação feita ao Patrimônio do Padroeiro da Paróquia e ainda hoje rende em benefício da Paróquia de Nossa Senhora do Ó (!), embora sua administração tenha sido confiada ao Vigário de Ipojuca.
Voltando à Capela do Capílulo, e pensando em outras riquezas arquitetônicas do Convento, poderíamos perguntar de onde vinha tanto dinheiro para essas obras que hoje admiramos.
Quem nos vai responder é a escritora Sylvia Tigre de Hollanda Cavalcanti, no livro, fruto de sua pesquisa e texto: O Azulejo na Arquitetura Religiosa de Pernambuco - Séculos XVII e XVIII (São Paulo, 2006, Metalivros), quando, à página 16, escreve: “O grande repertório do acervo de azulejos é o Nordeste, com destaque para Pernambuco e Bahia. Dora Alcântara associa os círculos econômicos nordestino à profusão dos nossos azulejos, A região era mesmo próspera e rica nos séculos em que a arte se propagou” (pg. 16).
Mas, não se pode explicar tudo pela riqueza de Pernambuco e Bahia. Dora Alcântara, acrescenta ainda três fatores: o social, o político e o geográfico.
Os templos pernambucanos são beneficiados pelo fator social: o surto de ufanismo, a renovação do sentimento religioso católico. Mas não batava isso: a riqueza advinda da cana de açúcar e o propósito dos senhores de engenho de manter sempre boas relações o com a Igreja Católica “de marcante presença na sociedade daquela época foi fundamental para o recebimento pelas Ordens religiosas, de grandes doações financeiras, heranças em testamento etc. Os recursos se refletiam no embelezamento dos templos religiosos como o ouro que tanto enriquece as talhas da igrejas e capelas, na imaginária e nas pinturas e, claro, Também na azulejaria” (p. 17).
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