segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

IPOJUCA ENGENHO TABATINGA



MARTÍRIO DO CAPELÃO
A vida nos engenhos daquela região canavieira da Mata Sul de Pernambuco, apesar dos sofrimentos trazidos sobretudo pela escravidão, tinha o seu lado alegre que fazia esquecer um pouco as agruras da opressão dos pequenos pelos que detinham o poder. A moagem era um tempo em que os senhores de engenho e os trabalhadores braçais usufruíam os benefícios da cana-de-açúcar. Todo mundo esperava com ansiedade a festa da botada. Os pobres viviam de barriga cheia, não faltava o caldo-de-cana, o mel-de-engenho, o alfinim, a rapadura. Muitos escravos, é bom lembrar, compravam a alforria com a venda dos produtos dos seus trabalhos, vantagens que perderam com a Lei Áurea, a 13 de maio de 1888. O abolicionista Joaquim Nabuco já temia que isso viesse a acontecer, se a Abolição não se fizesse acompanhar de uma legislação complementar que nunca veio.
Falávamos da alegria do tempo da moagem.
Pois bem:
[...] O invasor, porém, acabara com tudo aquilo.
[...] C0m a invasão holandesa, cessara a moagem em toda aquela rica zona açucareira de Sirinhaém, Rio Formoso, Cabo, Ipojuca. [...] Os engenhos ficaram parados e tristes. Os escravos sem trabalho. As casas-grandes assustadas e sem defesa. Os bois à toa pelo cercado ou destruindo as plantações. Os carros abandonados nos pátios. E os holandeses cometendo violências.
O Capelão do engenho, homem de bondade e de fé, poderia ter fugido à aproximação do estrangeiro, mas não quis fazê-lo.
Preferiu ficar com os seus fiéis [...]
Embora fossem os batavos de credo diferente [calvinistas radicais], o sacerdote, no dia seguinte, um domingo, logo de manhã, preparou-se para dizer a sua missa, ele próprio subindo a colina verde para tanger o sinosinho da Capela, chamando os trabalhadores.
No silênci0 da madrugada, o sino cantou alegremente, espalhando sons pelos campos desertos, engenhos parados, estradas abandonadas...
Acordando de brusco, o comandante holandês pulou do leito, mandou tocar a reunir. Era homem dsconfiado e mau. Aqueles toques de sino lhe pareceram, não convite religioso, porém sinal ao inimigo.
Os oficiais concordaram e o exército ocupante formou em atitude de batalha, esperando ordens. O próprio comandante dirigiu-se à Capela para prender quem estivesse puxando a corda do campanário.
Lá encontrou apenas o Padre. Deu-lhe voz de prisão, disse-lhe ir mandar matá-lo como traidor.
O sacerdote, sereno, pediu somente deixassem-no celebrar a missa pela última vez.
E subiu ao altar.
Quando terminou, foi fusilado no pátio do engenho.
(Mário Sette, Terra Pernambucana, São Paulo, 9ª Edição, pags. 44-46).

Um comentário:

  1. Ronaldo Louro: Já tive nesse lugar varias vezes quando era criança e não sabia da riqueza histórica, hoje vejo que tudo isso vai se perde no tempo. por conta de uma mal politica do nosso pais que não dar valor a nossas origem, fica na memoria daqueles que tiveram o privilegio de conhecer a linda historia desse povo tão sofrido.

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