O Colégio Seráfico de SANTO ANTÔNIO de
Ipuarana (lagoa seca /PB) -1939 – 1971.
I. As primeiras tentativas vocacionais
O mais grave desafio que se apresentava aos Restauradores da Província Franciscana de Santo Antônio foi, sem dúvida, o das vocações franciscanas. Desde o reconhecimento pela Santa Sé, em 1901, da autonomia da Província Franciscana de Santo Antônio restaurada, que se faziam tentativas vocacionais. As três primeiras décadas (1901 – 1939) desse renascimento foram marcadas pela busca de vocações brasileiras.
Houve várias experiências de abertura de um “Colégio Seráfico”:
1. O Colégio Seráfico de Salvador / BA (a 4 de fevereiro de 1900).
2. O Colégio Seráfico de S. Cristóvão / SE, para onde foi transferido o de Salvador a 15 de fevereiro de 1903.
3. O Colégio Seráfico de Olinda, em 1904, foi também de curta duração; pouco tempo depois foi transferido com seus professores Frei Pascoal Reuss e Frei Ciríaco Hielscher para a Colônia de Blumenau, no Estado de Santa Catarina.
3. O Colégio Seráfico de Vila de São Francisco, no Recôncavo baiano, para onde foi mudado em 1908, o de S. Cristóvão.
II. A partir de 1929 houve fundações vocacionais de maior porte, como o Colégio Seráfico de S. Antônio, com curso ginasial (João Pessoa, 1929-1940) e o Colégio Apostólico Diocesano-Seráfico de Canindé / CE, a partir de 1923 ao qual se agregou o Juvenato S. José para formação dos Irmãos leigos franciscanos(transferido para Penedo em 1970). Em vésperas de completar 70 anos, fechou as portas o Colégio Diocesano-Seráfico, como aconteceu a tantos outros seminários do Brasil. Anexo ao Convento franciscano funcionou uma escola Apostólica para enviar alunos a Ipuarana.
As Escolas com curso primário: Escola Apostólica de São Pedro Gonçalves (João Pessoa, 1941-1960); a Escola Apostólica Dom Frei Eduardo (Paripe /BA, 1940-1942); a Escola Apostólica Frei Camilo de Lelis (Penedo/AL, 1943-1845); a Escola Apostólica de S. José (Tianguá /CE, 1940-1960); a Escola Apostólica de Canindé; a Escola Apostólica de S. Boaventura (Triunfo / PE, 1947-1960).
III. O Colégio Seráfico de Santo Antônio de Ipuarana
A solução definitiva para o problema vocacional da Província Franciscana de Santo Antônio só viria com a fundação de um grande seminário.
O Congresso Definitorial de janeiro de 1939 criara uma comissão integrada pelo Ministro Provincial Frei Humberto Triffterer, Frei Matias Teves e Frei Norberto Holl para estudar o plano de ação. No dia 4 de agosto de 1939 Frei Pedro Westwemann e Frei Matias se deslocavam para Lagoa Seca quase sem esperança e “quase unicamente movidos pela responsabilidade”, como escreve Frei Pedro em sua crônica. “Grande foi a surpresa – diz Frei Pedro - de encontrarem um local ótimo, com todas as condições desejadas, no lugarejo de Lagoa Seca, à época também chamado de Ipauarana. Em 26 de setembro de 1939 era realizada a compra do terreno por 9 contos de réis (correspondendo à metade do preço, porque um dos proprietários renunciara à sua parte em benefício dos frades)” . Frei Pedro foi a pessoa escolhida para dirigir os trabalhos de construção. Ele mesmo elaborou um, anteprojeto, que foi desenvolvido por um arquiteto do Recife, , Heitor Maia Filho. A 28 de novembro de 1939, uma Terça-feira, Frei Pedro e Frei Lamberto [Hoetting, falecido na Alemanha a 16-2-1978, com 48 anos de vida religiosa] mudaram-se para o local a fim de dar início aos trabalhos, e a eles associou-se, no mês de janeiro, Frei Manfredo, estes três constituindo a primeira comunidade franciscana de Ipuarana.
Surgia, assim, o Colégio Seráfico de Santo Antônio, em Ipuarana (ou Ipauarana, hoje, Lagoa Seca / PB), nas proximidades de Campina Grande, numa das colinas mais bonitas da Serra da Borborema. A 28 de janeiro de 1940 – em plena Guerra – o Senhor Arcebispo da Paraíba, Dom Moisés Coelho, procedia à Bênção da primeira Pedra, com a presença do Clero de Campina Grande, do representante do Interventor Federal Argemiro de Figueiredo, do Prefeito de Campina Grande, Bento Figueiredo, e de uma multidão de moradores de Lagoa Seca e dos sítios vizinhos.
Em 22 de março de 1941, a construção já estava em condições de abrigar os primeiros alunos, não os do Curso Secundário, a que era destinado, mas sim de duas classes preparatórias, num total de 19 meninos, sob os cuidados de Frei Gervásio Michels [falecido em Canindé, a 5-12-1994, com 57 anos de sacerdócio] e Frei Artur (e foi assim que o primeiro dos ipuaranenses vivos [Fr. Artur] a ocupar seu posto foi também o último a não abandoná-lo – ali permanecendo até o dia de hoje [...]. No final do ano, 11 destes alunos foram promovidos ao 1º Ano Secundário (entre eles , Simão Arruda – o “Frei Felício” -, primeiro aluno na matricula - e João Poluca, o “Frei Roberto”). Aí, nordestinos de todos os rincões, se preparavam para a entrada na Ordem Franciscana.
Quase 1.500 alunos passaram por Ipuarana nos 30 anos de sua existência como seminário. Destes, apenas 72 chegaram ao sacerdócio; 30 perseveraram na Ordem, dos quais 5 já faleceram; 11 se ordenaram para o clero diocesano (padres seculares) dos quais um é Bispo; um é beneditino.[1]
Mas não se pode fugir à eterna e indefectível pergunta: Por que o Seminário de Ipuarana teve que fechar? [...] É bom lembrar que, a essa altura, todas as Escolas Apostólicas já haviam sido extintas: Triunfo, Tianguá, João Pessoa.
E muitos seminários seculares e de outras Ordens religiosas também já haviam fechado. Não existiam mais fontes param fornecer inquilinos para Ipuarana., nem Ipuarana possuía um sistema de recrutamento próprio, resultando daí que foram aceitos candidatos sem uma melhor seleção e preparo, só com o objetivo de se chegar a um número razoável. Boa parte dos frades, sobretudo os mais novos, já não acreditavam mais em seu sistema vocacional.
A Direção da província, depois de debater a situação com os educadores, ainda pediu o parecer por escrito de cada um. Todos foram unânimes em que, ao menos por enquanto, não tinha sentido o Seminário de Ipuarana continuar funcionando. Na opinião dos últimos professores, os alunos estavam sendo antes prejudicados que favorecidos pelo ambiente do Colégio. E o Definitório, de 3 de dezembro de 1971, resolveu fechar por algum tempo o Seminário e “instituir uma Comissão Especial para estudar o que fazer , no futuro, com o Colégio Seráfico, excluída a possibilidade de deixá-lo sem aproveitamento”.
Hoje a prova mais importante de que Ipuarana continua viva pode ser encontrada no bom número de seus ex-alunos que continuam atuando e dando o seu testemunho da vocação religiosa, como frades e sacerdotes na Província de Sto. Antônio.
“Mas nem seus ex-padres deixam de contar pontos para Ipuarana, seja pelo tempo em que trabalharam como sacerdotes e religiosos (não raro eles foram bons sacerdotes e religiosos – e o bem que foi realizado ninguém pode apagar), seja como os demais ex-alunos, quando por sua vida profissional e familiar dão em seu ambiente um testemunho de fé cristã e franciscanismo.[2] Concluindo – escreve Frei Hugo - podemos afirmar que o seminário de Ipuarana representou para a Província de Santo Antônio um marco de singular importância em sua obra de restauração”.[3]
O atual Guardião de Ipuarana, Fr. Osmar da Silva, tem cuidado, com um zelo admirável e muito bom gosto, do Convento e do antigo Colégio, adaptando-os, de maneira prática e harmoniosa, à nova realidade de Centro de Treinamento. É um prazer hospedar-se em Ipuarana!
Frei José Milton de Azevedo Coelho, OFM
BIBLIOGRAFIA:
Ipuarana (lagoa seca /PB) -1939 – 1971.
I. As primeiras tentativas vocacionais
O mais grave desafio que se apresentava aos Restauradores da Província Franciscana de Santo Antônio foi, sem dúvida, o das vocações franciscanas. Desde o reconhecimento pela Santa Sé, em 1901, da autonomia da Província Franciscana de Santo Antônio restaurada, que se faziam tentativas vocacionais. As três primeiras décadas (1901 – 1939) desse renascimento foram marcadas pela busca de vocações brasileiras.
Houve várias experiências de abertura de um “Colégio Seráfico”:
1. O Colégio Seráfico de Salvador / BA (a 4 de fevereiro de 1900).
2. O Colégio Seráfico de S. Cristóvão / SE, para onde foi transferido o de Salvador a 15 de fevereiro de 1903.
3. O Colégio Seráfico de Olinda, em 1904, foi também de curta duração; pouco tempo depois foi transferido com seus professores Frei Pascoal Reuss e Frei Ciríaco Hielscher para a Colônia de Blumenau, no Estado de Santa Catarina.
3. O Colégio Seráfico de Vila de São Francisco, no Recôncavo baiano, para onde foi mudado em 1908, o de S. Cristóvão.
II. A partir de 1929 houve fundações vocacionais de maior porte, como o Colégio Seráfico de S. Antônio, com curso ginasial (João Pessoa, 1929-1940) e o Colégio Apostólico Diocesano-Seráfico de Canindé / CE, a partir de 1923 ao qual se agregou o Juvenato S. José para formação dos Irmãos leigos franciscanos(transferido para Penedo em 1970). Em vésperas de completar 70 anos, fechou as portas o Colégio Diocesano-Seráfico, como aconteceu a tantos outros seminários do Brasil. Anexo ao Convento franciscano funcionou uma escola Apostólica para enviar alunos a Ipuarana.
As Escolas com curso primário: Escola Apostólica de São Pedro Gonçalves (João Pessoa, 1941-1960); a Escola Apostólica Dom Frei Eduardo (Paripe /BA, 1940-1942); a Escola Apostólica Frei Camilo de Lelis (Penedo/AL, 1943-1845); a Escola Apostólica de S. José (Tianguá /CE, 1940-1960); a Escola Apostólica de Canindé; a Escola Apostólica de S. Boaventura (Triunfo / PE, 1947-1960).
III. O Colégio Seráfico de Santo Antônio de Ipuarana
A solução definitiva para o problema vocacional da Província Franciscana de Santo Antônio só viria com a fundação de um grande seminário.
O Congresso Definitorial de janeiro de 1939 criara uma comissão integrada pelo Ministro Provincial Frei Humberto Triffterer, Frei Matias Teves e Frei Norberto Holl para estudar o plano de ação. No dia 4 de agosto de 1939 Frei Pedro Westwemann e Frei Matias se deslocavam para Lagoa Seca quase sem esperança e “quase unicamente movidos pela responsabilidade”, como escreve Frei Pedro em sua crônica. “Grande foi a surpresa – diz Frei Pedro - de encontrarem um local ótimo, com todas as condições desejadas, no lugarejo de Lagoa Seca, à época também chamado de Ipauarana. Em 26 de setembro de 1939 era realizada a compra do terreno por 9 contos de réis (correspondendo à metade do preço, porque um dos proprietários renunciara à sua parte em benefício dos frades)” . Frei Pedro foi a pessoa escolhida para dirigir os trabalhos de construção. Ele mesmo elaborou um, anteprojeto, que foi desenvolvido por um arquiteto do Recife, , Heitor Maia Filho. A 28 de novembro de 1939, uma Terça-feira, Frei Pedro e Frei Lamberto [Hoetting, falecido na Alemanha a 16-2-1978, com 48 anos de vida religiosa] mudaram-se para o local a fim de dar início aos trabalhos, e a eles associou-se, no mês de janeiro, Frei Manfredo, estes três constituindo a primeira comunidade franciscana de Ipuarana.
Surgia, assim, o Colégio Seráfico de Santo Antônio, em Ipuarana (ou Ipauarana, hoje, Lagoa Seca / PB), nas proximidades de Campina Grande, numa das colinas mais bonitas da Serra da Borborema. A 28 de janeiro de 1940 – em plena Guerra – o Senhor Arcebispo da Paraíba, Dom Moisés Coelho, procedia à Bênção da primeira Pedra, com a presença do Clero de Campina Grande, do representante do Interventor Federal Argemiro de Figueiredo, do Prefeito de Campina Grande, Bento Figueiredo, e de uma multidão de moradores de Lagoa Seca e dos sítios vizinhos.
Em 22 de março de 1941, a construção já estava em condições de abrigar os primeiros alunos, não os do Curso Secundário, a que era destinado, mas sim de duas classes preparatórias, num total de 19 meninos, sob os cuidados de Frei Gervásio Michels [falecido em Canindé, a 5-12-1994, com 57 anos de sacerdócio] e Frei Artur (e foi assim que o primeiro dos ipuaranenses vivos [Fr. Artur] a ocupar seu posto foi também o último a não abandoná-lo – ali permanecendo até o dia de hoje [...]. No final do ano, 11 destes alunos foram promovidos ao 1º Ano Secundário (entre eles , Simão Arruda – o “Frei Felício” -, primeiro aluno na matricula - e João Poluca, o “Frei Roberto”). Aí, nordestinos de todos os rincões, se preparavam para a entrada na Ordem Franciscana.
Quase 1.500 alunos passaram por Ipuarana nos 30 anos de sua existência como seminário. Destes, apenas 72 chegaram ao sacerdócio; 30 perseveraram na Ordem, dos quais 5 já faleceram; 11 se ordenaram para o clero diocesano (padres seculares) dos quais um é Bispo; um é beneditino.[1]
Mas não se pode fugir à eterna e indefectível pergunta: Por que o Seminário de Ipuarana teve que fechar? [...] É bom lembrar que, a essa altura, todas as Escolas Apostólicas já haviam sido extintas: Triunfo, Tianguá, João Pessoa.
E muitos seminários seculares e de outras Ordens religiosas também já haviam fechado. Não existiam mais fontes param fornecer inquilinos para Ipuarana., nem Ipuarana possuía um sistema de recrutamento próprio, resultando daí que foram aceitos candidatos sem uma melhor seleção e preparo, só com o objetivo de se chegar a um número razoável. Boa parte dos frades, sobretudo os mais novos, já não acreditavam mais em seu sistema vocacional.
A Direção da província, depois de debater a situação com os educadores, ainda pediu o parecer por escrito de cada um. Todos foram unânimes em que, ao menos por enquanto, não tinha sentido o Seminário de Ipuarana continuar funcionando. Na opinião dos últimos professores, os alunos estavam sendo antes prejudicados que favorecidos pelo ambiente do Colégio. E o Definitório, de 3 de dezembro de 1971, resolveu fechar por algum tempo o Seminário e “instituir uma Comissão Especial para estudar o que fazer , no futuro, com o Colégio Seráfico, excluída a possibilidade de deixá-lo sem aproveitamento”.
Hoje a prova mais importante de que Ipuarana continua viva pode ser encontrada no bom número de seus ex-alunos que continuam atuando e dando o seu testemunho da vocação religiosa, como frades e sacerdotes na Província de Sto. Antônio.
“Mas nem seus ex-padres deixam de contar pontos para Ipuarana, seja pelo tempo em que trabalharam como sacerdotes e religiosos (não raro eles foram bons sacerdotes e religiosos – e o bem que foi realizado ninguém pode apagar), seja como os demais ex-alunos, quando por sua vida profissional e familiar dão em seu ambiente um testemunho de fé cristã e franciscanismo.[2] Concluindo – escreve Frei Hugo - podemos afirmar que o seminário de Ipuarana representou para a Província de Santo Antônio um marco de singular importância em sua obra de restauração”.[3]
O atual Guardião de Ipuarana, Fr. Osmar da Silva, tem cuidado, com um zelo admirável e muito bom gosto, do Convento e do antigo Colégio, adaptando-os, de maneira prática e harmoniosa, à nova realidade de Centro de Treinamento. É um prazer hospedar-se em Ipuarana!
Frei José Milton de Azevedo Coelho, OFM
BIBLIOGRAFIA:
Cf. PEREIRA, Carlos Almeida -, Ipuarana 2000, - Refazendo uma Caminhada , Lagoa Seca / PB, - Belém / PA, 1999, p. 79 - 81
- Cf. PEREIRA, Carlos Almeida -, op. ci. pp. 68 – 75..
-FRAGOSO, Fr. Hugo -, OFM, op. cit. p. 194.
- Cf. PEREIRA, Carlos Almeida -, op. ci. pp. 68 – 75..
-FRAGOSO, Fr. Hugo -, OFM, op. cit. p. 194.
Apud FRAGOSO, Fr. Hugo -, OFM, Uma contribuição para a história vocacional da Província Franciscana de Santo Antônio, apud: AZZI, Riolando - (Organizador),Vida Religiosa no Brasil – Enfoques Históricos”, Edições Paulinas, São Paulo, 1983, p. 180.
Cf. I Livro de Crônica do Convento de Nossa Senhora das Neves, de Olinda, 1904, p. 2.
Cf. I Livro de Crônica do Convento de Nossa Senhora das Neves, de Olinda, 1904, p. 2.
Parabéns
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