sábado, 11 de julho de 2009

PÁGINA DA PRESENÇA HOLANDESA EM IPOJUCA


[A placa acima se acha afixada
no muro anexo à igreja do Convento]

CARTA DE D. VAN HOOGSTRATEN
Dirigida à Companhia na Holanda,
Escrita na Fortaleza van der Dussen,
a 18 de junho de 1645, pela manhã às 7 horas.

"Agora mesmo passou aqui o rio o marinheiro Siveminen, um daqueles que estavam trabalhando num barco no porto de Salgado. Ele relata como ontem de tarde às 5 horas tinha chegado junto aos barcos uns 100 Portugueses, todos armados de fuzil e com grande alvoroço atacaram os barcos; disse mais o marinheiro não ter certeza, se mataram alguém, porque ele salvou-se.
O tenente Jacó Flemmingh, aquartelado em Ipojuca, como afirma o mesmo marinheiro, se tinha retirado de Ipojuca ontem pela manhã, sem me ter avisado da chegada do inimigo. Mas espero que ninguém do meu povo esteja ferido nem morto. V.V.S.S. saibam, que eu tenho um só um soldado de patente inferior, que está adoentado e tenho também um só arqueiro, e além disso, nem eu, nem os soldados têm coisa alguma para comer. Isso com toda a pressa, porque os marinheiros não queriam esperar. De V.V.S.S. criado submisso (assin.). D. Van Hoogstraten.
O marinheiro que relatou o sobredito, vai com esta carta.
Aviso secreto que veio no dia 13 de Junho e nos dias seguintes:
Um certo padre tinha avisado fulano de prevenir-se, porque tinha notícia certa que tropas da Bahia tinham passado o rio de S. Francisco para expulsar os holandeses, e que um grande número de portugueses se preparava para se juntar com eles. O padre foi convidado a apresentar-se para saber se tinha certeza disso. Veio e declarou ter certeza que as tropas já estavam na mata, esperando somente até que os portugueses estivessem prontos. Declarou mais que alguns levavam documentos, pelos quais prometem fidelidade ao rei de Portugal e pegarem em armas. Disse mais que tal documento já era assinado por muitos, porém forçados.
16 de junho: o mesmo padre avisou fulano ... Interrogado por que motivo ele nos denunciava tudo isso, respondeu que agora estavam satisfeitos e que ninguém foi molestado pela sua religião. E disse que mais, que ele era natural daqui mesmo e que suas irmãs, seus irmãos e todos os amigos estavam aqui morando abastadamente, e por este motim seriam prejudicados, e pediu para todos nossa proteção. Disse que devia logo ser publicado pelos padres, que cada um voltasse para casa, e que íamos nos defender todos contra os inimigos e garantir a nossa proteção para evitar uma retirada comum dos Portugueses que temem um massacre geral. O Padre Manuel disse o mesmo, oferecendo-se para tal fim. Também os padres de Ipojuca, que ontem foram conduzidos para cá, solicitaram o mesmo, para evitar a retirada coletiva [grifo nosso].
Um certo negro, livre, vem denunciar.... Perguntado, se conhecia Henrique Dias, diz sim, que o conhecia quando era escravo do Sr. Stachouwer e que ele tinha um só braço, porque o outro tinha cortado o comandante Claes Thysen.
Jan Baerenz, mestre de um barco que tinha saído daqui para o Cabo de S. Agostinho com víveres para a fortaleza de lá, relata o seguinte: no dia 20 de junho: No dia 17.... indo para o seu barco, encontrou-se com Claes, um comerciante livre que lhe disse entre outras coisas, que uns 20 Holandeses estavam presos no convento de Ipojuca [destaque nosso]. Na fortaleza van der Dussen, aos 20 de junho de 1645 (assin.) A. Van Bullerstrate. Às onze horas da noite.
(Tradução de Fr. Menandro Rutten, OFM, de nacionalidade holandesa, falecido a o1-o4-1963 em João Pessoa / PB – Doc. do Arquivo Franciscano Provincial – Recife).

Um comentário:

  1. Amigo Frei Milton
    Esse episódio esta relatado com detalhes por vários cronistas da época e tudo começou com o assassinato de tres judeus após uma briga com Manoel de miranda, filho de Amador Araújo, dono do engenho Tabatinga. A história de Ipojuca é rica mas desprezada de quem por direito e obrigação deveria expô-la a todos os Ipojucanos.
    saudações do amigo ivo d'Almeida

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