sexta-feira, 10 de julho de 2009

GUERRA HOLANDESA - CALABAR

CALABAR: TRAIDOR OU HERÓI?

O historiador português Veríssimo Serrão recorda que a biografia de João Fernandes Vieira
(...) se mantém coberta de sombras e que se tornou uma personagem quase lendária da Restauração no Brasiol. Nascido ao redor de 1610 na Ilha da Madeira era mulato e de origem humilde. Tendo emigrado para Pernambuco, ali exerceu pequenos mesteres até 1635, quando a proteção dos holandeses lhe fez adquirir alguns meios de fortuna. Pouco depois era senhor de cinco engenhos, exerceu o cargo de vereador de Maurícia e obteve a contratação dos dízimos sobre o pau-brasil e o açúca. (Veríssimo Serrão. História de Portugal, v. V, p. 111). [Da Internet].
E ainda:
“Afirma-se assim que era natural da Ilha da Madeira, com ascendência africana. No dizer de Oliveira Lima, "João Fernandes Vieira, apesar de ser de cor, governou Angola e Pernambuco" [O Movimento da Independência (1821-1822), Melhoramentos, 1922].
Ainda de acordo com Veríssimo Serrão:
(...) em 1642, aumentou os seus bens, e viu-se feito capitão de um Corpo de Ordenanças, continuando a beneficiar de empréstimos da Companhia para manter seus negócios. Ser-lhe-ia, portanto, mais fácil garantir a dependência financeira, em vez de obedecer a razões de ordem religiosa para hostilizar os holandeses, como o veio a fazer desde 1644. O seu comportamento posterior, assente em actos de coragem, mostra que Vieira sentiu o ideal da Restauração e o antepôs, com todos os riscos, ao valimento social que auferia em Pernambuco." (op. cit.)
Após a partida de Nassau, em 1644, passou a se opôr aos invasores, assumindo a liderança da insurreição de 1645, vindo a receber apoio de seu amigo, o frei Manuel Calado, que do seu púlpito convocou o povo à luta contra os hereges e redigiu "O Valeroso Lucideno (Lisboa, 1648)”.
Em 1645 foi o primeiro signatário do pacto então selado - no qual figura o vocábulo pátria pela primeira vez utilizado em terras brasileiras. Na função de Mestre-de-Campo, comandou o mais poderoso Terço do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Por seus feitos, foi aclamado Chefe Supremo da Revolução e Governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de Pernambuco”. (Da Internet).
Por obra de Matias, traiçoeira e covardemente tentou enganá-lo um primo que se passou para os holandeses com este fito. Mas morreu, vítima de uma bala, antes de conseguir apunhalar Calabar. Matias tenta novamente capturar Calabar, vivo ou morto. Envia-lhe outro que pretendeu se fazer passar por traidor e se meteu nas hostes flamengas, como que atraído pelo seu “bom exemplo” de Calabar.
Após a capitulação holandesa em Porto Calvo, foi Calabar entregue a Matias de Albuquerque. Este, violando o documento com as condições de guerra assinado por ele e pelo Comando Flamengo que houvesse troca de presos nenhum prisioneiro, após uma derrota, fosse humilhado, mas devolvido honradamente aos seus, julgou e condenou sumariamente a Calabar, não atendo ao seu pedido de apelação: “Callabar entregou-se, segundo os termos da proposta de Matias de Albuquerque, até a mercê de el-rey, isto é, até que o rei se pronunciasse sobre o seu destino. Mas Matias de Albuquerque se desdisse. Submeteu-o ao Conselho de Guerra, ali mesmo. Os seus juízes eram os seus próprios inimigos. [...] Calabar, assim, indefeso e julgado sumariamente pelos seus inimigos, em pleno campo de batalha, foi acorrentado à história como infame.”
A sua integra imediata aos luso-brasileiros contrariou profundamente a Picard, comandante da forças vencida (vencida, aliás por uma cilada para a qual se serviram os nossos de um traidor, cilada que por três dias os privou de alimentação e água e os fez capitularem). Picard não aceitou a entrega; morreriam todos ali. Mas Calabar interveio:
“Aceitai! – disse ele a Picard – Aceitai! Mais vale a vossa vida e a dos vossos soldados que a minha. Ele me humilharão, eles me enforcarão, eles me insultarão até depois de morto, mas eu ficarei satisfeito com este sacrifício, e serei o primeiro brasileiro que morre pela liberdade da Pátria.
Em seguida escreveu as seguintes linhas para serem lidas pelo Conselho Superior:
Vós, os holandeses, oferecestes ao Brasil, oferecestes ao meu amado Pernambuco, a liberdade. O destino não quis que assistisse à consumação de vossa oferta, com a adesão de todos os pernambucanos, de todos os brasileiros. Eles me chamam de traidor... Vós bem sabeis que um homem que se bater como eu, que recusou honras e proventos, não é traidor; e se houve traição, foi uma traição justificada pela nobreza do motivo. E demais, um homem tem direito de derramar o seu sangue pela causa que quiser. Derramei primeiramente meu sangue defendendo o interesse de Castela; errei; morrerei agora pela liberdade, que é a promessa dos holandeses.”
O tribunal militar forjado na hora para isto, não tinha autoridade para tanto. Calabar enfrentou destemidamente a morte violenta, aceitando os sacramentos da igreja da qual ele era filho, e fazendo um ato de confiança na misericórdia de Deus. Frei Cosme de São Damião o atendeu em confissão. “Frei Manoel Calado afirma ter sido ele esse sacerdote; contesta-lhe, porém a afirmação Fr. Jaboatão.”
Documento holandês, de 13 de abril de 1636, citado por Dr. José Antônio Gonçalves de Mello, revela que o Conselho Político da Companhia, em gratidão a Calabar pelos grandes serviços prestado aos flamengos, concedeu, a pedido de sua viúva, Bárbara Cardoso, uma pensão de 8 florins por mês aos 3 filhos do falecido esposo.


BIBLIOGRAFIA

MUELLER, Fr. Bonifácio, “Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil “– Edição comemorativa do Tricentenário – 1657 – 1957”, Volume I, Provincialado Franciscano, Recife / PE, 1957.

DANTAS, Leonardo – Silva, apud caderno “Pernambuco e-história,” fascículo 12, Diário de Pernambuco, Recife, Segunda-feira, 24 de setembro de 2007.

MUELLER, Fr. Bonifácio, “Os Conventos Franciscanos de Pernambuco na Invasão Holandesa,” apud “Revista Santo Antônio”, órgão da Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, Ano 7, N° 1, Recife, 1949.

JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria, “Novo Orbe Seráfico”, citado por Fr. Bonifácio Mueller, emobra citada.
MELLO, José Antônio Gonçalves de, “Tempo dos Flamengos”, Livraria JOSÉ OLYMPIO Editora, 1947.

CALADO, Fr. Manoel, “O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade”, I º Volume, Recife, 1942.

Herckmans, Elias, “Descrição Geral da Capítania da Paraíba”, transcrito e comentado por MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administração da Conquista, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004, pg. 64 e pg. 110, nota 5, para o citado ano de 1585,

MELLO, José Antônio Gonçalves de, “Administração da Conquista”, II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife / 2004.


COSTA, Craveiro, “História das Alagoas” (Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1983).

VERÍSSIMO, Serrão. “História de Portugal”, v. V, p. 111). [Da Internet].

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