domingo, 31 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

OS ENGENHOS E A INSURREIÇÃO IPOJUCANA

Os Senhores de Engenho muitas vezes pareciam coniventes com o inimigo. Francisco Dias Delgado acolhia em sua casa chefes holandeses que por lá passavam de visita à região. É nos engenhos que se encontram os mentores da insurreição: Dias Delgado, Amador Araújo e muitos outros. Em 1645 o Convento é retomado aos holandeses e entregue de volta aos franciscanos.
O Engenho Tabatinga, que havia sido palco de morte (o capelão fora trucidado ao tocar chamada para a missa) se torna centro de reação ao inimigo. Ainda hoje podemos ver as ruínas da primitiva Capela de Santa Luzia, do tempo dos flamengos.. A Inssureição Ipojucana merece um Capítulo à parte.

ENGENHO CAMELA CAPELA

Engenhos de Ipojuca

Escreve Pereira da Costa: “Neste ano [1654], segundo um escrito holandês, o distrito da Vila de Marim de Olinda constava da povoações e paróquias de Santo Antônio do Cabo, Ipojuca, Jaboatão e S. Lourenço, em cujo termo se contavam 67 engenhos de açúcar, sendo 20 de fogo morto e 17 moentes e correntes, notando-se entre os confiscados pelo invasor 5 que ainda não tinham sido vendidos.” [1]

A sorte dos engenhos pertencentes à Companhia das Índias Ocidentais após a Guerra Holandesa: “Neste ano [1721], confiscou o Governo Holandês os abandonados engenhos por seus donos, expatriados, errantes, cujo número atingiu quarenta e seis, e, alienando-os imediatamente, variaram os preços das vendas de tais propriedades de 13.500 a 70.000 florins, pagáveis em prestações a determinados prazos.

Os engenhos confiscados e vendidos ficavam: na Várzea, os de Dr. Carlos Francisco, Luís Ramires e Ambrósio Machado; em Muribeca, os engenhos Novo, Santo André, e Guararapes; no Cabo, o Engenho Velho, Guerra, Jurissaca e Garapu; em Goiana, o engenho Novo e um pertencente a Manuel Pacheco; em Beberibe, o Engenho Velho, que tomou o nome holandês de Eenkalchoven; em Jaboatão, os engenhos Jaboatão e Gurjaú; em Ipojuca, os de São Paulo, Tabatinga e Salgado; e mais os seguintes sem menção das suas situações, mas conhecidíssimos, e alguns dos quais ainda existentes: Maciape, Três Paus,Tracunhãem de Cima, Espírito Santo, Santo Antônio, Bom Jesus, N. S. da Conceição, do Meio, Santos Cosme e Damião, Santa Cruz, Novo, Maranhão, Bertioga, Pirapama, Rio Formoso, Itaperussu, Marabara, , S. José, S. João, N. S. da Paz, Martapagipe, Sapupema, S.Jerônimo [Camela?], Ilhetas, N. S. da Palma, Santa Ana e N. S. da França .” [2]

ENGENHO DE CATARINA CAMELA
Escreve Sebastião Galvão:

“Camêlla – Povoação – Situada a 27 kilms distante da Villa de Ipojuca, nada tem de notável. Possue uma capella dedicada a N.. S. da Conceição.”

“Camêlla – Eng. do mun. de Ipojuca, em cujas terras fica o povoadinho anteriormente mencionado. Foi fundado antes da invasão hollandesa, por Jeronymo Atayde, casado com D. Catharina Camêlla, que ficando viúva o [i]engenho passou a ser conhecido pelo seu sobrenome. “
( GALVÃO , Sebastião de Vasconcellos, Dicionário Corográfico, Histótico e Estatístico de Pernambuco, Volume I, 2ª Edição, Governo de Pernambuco – CEPE, Recife, 2006, pg. 145.)
Comentário: Jeronymo Atayde, fundador do Engenho Camela, não é o homônimo D. Jerônimo de Ataíde, conde de Athonguia, do Conselho de Sua Majestade Imperial, Governador e Capitão General do Estado do Brasil, ou seja, o Governador Geral (de 1654-1657), com sede na Bahia ( Confira Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, Vol. I, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife, 1983, p. 214). Por ocasião da Guerra Holandesa o fundador do Engenho Camela já era falecido e sua viúva administratava o Engenho que passou a ter o seu nome, ao passo que o Governador Geral exerce o seu mandado a partir de 1654, ano do término da Guerra holandesa.
Em suas “Notas do que se passou na minha visagem, desde 15 de Dezembro de 1641 até 24 de Janeiro do ano seguinte de 1642”, registra o Sr. Adriaen van Bullestrate, ecarregado por um Alto e Secreto Conselho de visitar “as regiões do sul desta conquista”, escreve a 29 de dezembro de 1641:

“Em Serinhaém está vago o engenho de ... [não indica] que pertenceu à viúva de Jerônimo de Ataíde, que se retirou; ali ainda está vago o engenho Araquara, do qual era proprietário Vicente Campelo, que se retirou. Deste e do outro, deve-se dispor oportunamente para venda”. [3]
Pode ser o Engenho Camela, pois era situado nos limites de IIpojuca com Sirinháem.
Escreve José Antônio Gonçalves de Lello: “Jerônimo de Ataíde de Albuquerque (já falecido em 1635 era casado com Catarina Camelo: A. J. V. Borges da Fonseca, Nobiliarquia Pernambucana cit. I p.32 e II p. 422. Era ela proprietártia do Engenho Jaguaré, confiscado por ela se ter retirado.” [4]

No “inventário, na medida do possível, de todos os engenhos situados ao Sul do rio da Jangada até o rio Uma, feito pelo Conselheiro Schott”, nos deparamos, entre os engenhos da Freguesia de Sirinhém, com “o engenho São Jertônimo, situado em Taserusu, cerca de duas milhas distantes da cidade, ao sul do rio. Pertence a Dona Catarina Camela, que fugiu com Albuquerque; tem cerca de uma milha de terra com poucas várzeas e muitos montes. Mói com água e pode anualmente produzir 3.000 a 4.000 arrobas de açúcar e paga de recognição 2 arrobas por mil. A casa de purgar e a casa das caldeiras são de taipa mas estão muito arruinadas e nelas nada foi encontrado para a companhia.” [5]

Também aqui parece tratar-se do mesmo engenho que deu origem ao povoado de Camela.

A CAPELA DE CAMELA
Sebastião Galvão escreveu por volta de 1908 que o povoado de Camela possuía uma capela dedicada a N. Senhora da Conceição. Não encontramos outra fonte histórica que confirme esta afirmação. Ainda hoje é a igreja de Santo Antônio o único templo católico de Camela Há duas datas na fachada do mesmo: 1907 -1968. A primeira data deve ser de uma restauração; a segunda, conforme os paroquianos,foi a de uma ampliação promovida pelo Prefeito de Ipojuca que aumentou bastante as dimensões do templo. Em 2008, o Vigário Frei Carlos Alberto, realizou melhoramentos que muito agradaram o povo de Camela, deixando a Capela mais alegre e espaçosa (foram gastos na reforma cerca de R$7.000,00 (sete mil reais).

[1] COSTA, Francisco Augusto Pereira da, Anais Pernambucanos, Vol 3, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife. 1983, p. 81.
[2] COSTA, Francisco Augusto Pereira da, Anais Pernambucanos, Vol 3, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, Recife. 1983, pp.79-80..
[3] MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administraçãp da Conquista ,II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, CEPE, Recife, 2004, pg. 157).
[4] Cfr. MELLO, José Antônio Gonçalves de, Administraçãp da Conquista ,II, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, CEPE, Recife, 2004, p. 193, nota 35.
[5] MELLO, José Antônio Gonçalves de, A Economia Açucareira, I, 2ª Edição, Governo de Pernambuco, CEPE, Recife, 2004, p. 69

O QUE NOS CONTA A TRADIÇÃO
Transcrevemos o que a equipe encarregada dos festejos de Santo Antônio em 2005 elaborou sobre a história da capela de Santo Antônio de Camela:
“Dona Quitéria Albuquerque Cavalcanti dos Santos, nascida em Camela no dia 20 de agosto de 1918, hoje com 86 anos, é uma figura histórica do nosso Distrito.

Quando adolescente, rezava fascinada aos pés de Santo Antônio, sendo uma devota inconteste. De família religiosa, Dona Quitéria nos conta, com sabedoria, como se deu a chegada da imagem de Santo Antônio em Camela.

Reza a lenda que moradores do lugar encontraram uma imagem de Santo Antônio na cachoeira do Engenho São Pedro. A imagem mede aproximadamente, 40 cm, evidenciando o Menino Jesus no braço de Santo Antônio, que é atualmente guardada como relíquia.

Dona Catarina Camella, dona do Engenho Camelinha [ainda hoje existente], mandou construir um nicho para guardar sua imagem. Sempre ao amanhecer, Dona Catarina, piedosíssima, fazia suas orações para o Santo e, por diversas vezes, a imagem não mais estava lá no nicho. Santo Antônio voltava para a cachoeira onde foi encontrado por diversos moradores.

Um dia, Dona Catarina fez uma promessa ao Santo: se ele ficasse no nicho, ela iria chamar a população para construir uma igreja para ele nun lugar de destaque em Camela. E assim ele atendeu seu pedido. Quando ela chegou ao nicho na manhã seguinte, lá estava a imagem de Santo Antônio.

Exercendo influência moral e espiritual perante a comunidade, sendo extremamente fervorosa e muito ligada à Igreja, chamou as pessoas para construírem a capela de santo Antônio de Camela com as pedras da própria cachoeira. Os povoadores do lugar começaram a carregar as pedras na cabeça para edificar a Capela e assim cumprir a promessa feita pela devota Catarina de Camella: poporcionar aos devotos um local ideal para devoção dos fiéis.

As manifestações recebidas pelo povo católico da época foram além da sua expectativa e logo se edificou a igreja de santo Antônio de Camela”.